quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Códigos e Linguagens - Intertextualidades, por Estéfani Martins (v.6)

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Intertextualidades

“...escrever, pois, é sempre reescrever, não difere de citar. A citação, graças à confusão metonímica a que preside, é leitura e escrita, une o ato de leitura ao de escrita. Ler ou escrever é realizar um ato de citação.”
(Antoine Compagnon)

“Se todo texto é só uma série de citações anônimas, não susceptíveis de atribuições, por que então assinar um texto defendendo essa intertextualidade absoluta? Se o texto moderno, segundo Barthes, essa ‘citação sem aspas’, por que deveria ficar ligado a um nome, uma vez que esse nome não poderia, de modo algum, atestar ou indicar a origem?”
(Michel Schneider)

A intertextualidade, como a própria palavra já denuncia, é a relação estabelecida ou dialogicidade entre textos diferentes com o intuito de compor matéria “nova” a partir de conhecimento anterior, ou seja, texto novo a partir da íntegra ou de parte de outro pré-existente. Essa prática é inerente a qualquer produção linguística humana, visto que o homem produz linguagem a partir de referências, modelos e padrões que precedem a enunciação ou criação textual, os quais são em diversos sentidos formadores da experiência dos usuários de uma dada linguagem.
Dessa forma, é impossível afirmar que algum texto nasce alheio a referências constituintes e anteriores tanto na forma quanto no conteúdo, ou seja, não há de fato autonomia ou originalidade textual integral no tocante ao possível produção de um texto "inédito" em todas as suas peculiaridades linguísticas, estéticas e formais. Isso seria se não impossível, irrealizável, já que ele se tornaria incompreensível. Sobre essa questão, Juan Bordenave, bem define e amplia o debate quando afirma que “A intertextualidade tornou-se, hoje, um conceito operatório indispensável para a compreensão da literatura. Ele caracteriza o romance moderno como dialógico, isto é, como um tipo de texto em que as diversas vozes da sociedade estão presentes e se entrecruzam, relativizando o poder de uma única voz condutora. Mikhail Bakhtin compara a intertextualidade à língua, dizendo que esta ‘não é propriedade de algum indivíduo em particular, nem é, por outro lado, um objeto independente da existência dos indivíduos’. Exatamente no espaço dos intercâmbios, dos conflitos, das vozes que se propagam e se influenciam sem cessar situa-se a linguagem como processo social. A linguagem, em qualquer de suas manifestações, teria uma base relacional, interacional, ao processar-se entre os indivíduos de uma sociedade.”
Além disso, pode-se até dizer que a intertextualidade realiza-se também no exercício da leitura, porque parte das interações ou diálogos entre textos comunicados conscientemente ou não pelo autor de uma obra também podem ou não ser entendidas pelo leitor, visto que, para reconhecê-las, é fundamental o conhecimento do leitor sobre tais referências. Além disso, o leitor pode atribuir ao texto padrões de intertextualidade que mesmo o autor dele desconhece ou não percebe conscientemente, o que confere a qualquer forma de comunicação humana o título de obra sempre inacabada ou aberta, dependente do olhar temporal, espacial e circunstancial em relação ao outro e ao dinamismo entre o que se fala ou escreve e o que se ouve ou lê. Michel de Montaigne bem definiu essa relação no famoso aforismo: “A palavra é metade de quem a pronuncia e metade de quem a escuta.”
A intertextualidade está, portanto, presente tanto na produção como na recepção da vasta experiência cultural humana da qual somos ao mesmo tempo assunto, meio, emissor, receptor e analista. Tal multifacetado processo faz crer na onipresença dele próprio como formador de discursos e como auxiliar na interpretação deles, daí pode-se afirmar a existência de diálogos velados entre textos diferentes (intertextualidade implícita), os quais para serem percebidos exigem não só mais atenção quanto mais conhecimento dos interlocutores, tal como nos muitos momentos que indivíduos educados no Ocidente podem sem mesmo eles perceberem ser socráticos, cristãos, platônicos em suas próprias afirmações, indagações e formas de pensar. Por outro lado, há momentos que se quer declarar ou elucidar as intertextualidades que servem a inúmeras intenções (intertextualidade explícita), quando, por meio de citações, paráfrases, bricolagens, epígrafes, etc., são estabelecidos diálogos entre textos com o intuito de emprestar prestígio, autoridade, compreensão, erudição, etc., a uma enunciação de ideia, posicionamento,  narrativa, etc.
Eis a prática, por muitas vezes arte, de poemas serem precedidos de aforismos, de propagandas apropriarem-se de músicas famosas, de filmes dialogarem com outras películas, de obras de arte serem inspiradas em outras manifestações artísticas, de músicas serem feitas de outras, etc., ou seja, dos textos estabelecerem relações entre si, por serem construídos por uma rede de associações mútuas, constantes e inesgotáveis, daí emerge a clareza e a razoabilidade da afirmação da pensadora Julia Kristeva quando ela escreve que “...todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.”

Texto 01.


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Códigos e Linguagens - Figuras de linguagem, por Estéfani Martins (v.5)

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Figuras de linguagem
Por Estéfani Martins

"Em meus textos, quero chocar o leitor, não deixar que ele repouse na bengala dos lugares-comuns, das expressões acostumadas e domesticadas. Quero obrigá-lo a sentir uma novidade nas palavras!"
(João Guimarães Rosa)

“Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.”
(Mário Quintana)

As figuras de linguagem são criadas na maioria das vezes a partir da experiência cotidiana, pragmática e estética do homem com a língua e com o outro. Além disso, “linguagens auxiliares”, como a gestual, a de sinais, a das cores, etc., são fundamentais para a construção dessas sentenças. Daí ser possível inferir que a inventividade é imprescindível para a construção da maioria das figuras de linguagem, tanto no âmbito do uso literário delas quanto no uso cotidiano desses recursos.
Para tanto, a linguagem conotativa e o arranjo meticuloso e criativo das palavras constituem, muitas vezes, uma espécie de jogo de interpretação, em que, por várias razões, cooperam ou concorrem um locutor e um interlocutor inseridos num dado contexto de enunciação, influenciados por uma determinada e sempre distinta experiência cultural, e munidos de intenções próprias relativas àquela situação comunicativa. Importante também acrescentar que a interpretação de uma figura de linguagem emana das interações entre os contextos linguísticos, semânticos e situacionais em que ela ocorre. Além disso, é importante também lembrar que existem figuras de linguagem que são estruturais ou mesmo linguísticas, sem necessariamente serem fundadas na polifonia, idiossincrasia ou conotação, como é o caso da elipse e do zeugma.
Quanto ao uso desse tipo de recurso nas tipologias e gêneros textuais, é notória e facilmente observada a utilização de praticamente todas as figuras de linguagem em textos narrativos, injuntivos, descritivos e dialogais, por razões ligadas às liberdades estéticas constituintes dessas modalidades de texto; já no caso dos gêneros textuais expositivos e argumentativos, as figuras de linguagem apresentam-se de forma muitas vezes pontual, porque as exigências acerca da objetividade, clareza e informatividade, tão comuns em relação a essas tipologias, limitam sensivelmente o uso desses recursos. Embora textos argumentativos, como os sermões, possam fazer amplo uso de figuras, são casos relativamente raros dentro do universo dos textos exigidos em provas ou vestibulares.
Seguem algumas figuras de linguagem mais comumente presentes em vestibulares e, em especial, em provas das áreas de Códigos e Linguagens no Enem.


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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Artes - Linguagem da dança – conceitos, características e mixagens








Linguagem da dança – conceitos, características e mixagens

"A dança é uma expressão perpendicular de um desejo horizontal."
(George Bernard Shaw)

"Quando eu nasci eu já dançava.”
(Mario de Andrade)

“A dança, por sua vez, também possui vinculações étnicas, culturais e históricas, bem como relações de gênero a serem discutidas na escola.”
(Orientações curriculares do Ensino Médio - MEC)



A dança foi uma forma de arte muito valorizada na Antiguidade Clássica, já em outras sociedades teve uma função muito pragmática associada a tradições de fertilidade, cultos religiosos, etc. Caracteriza-se por movimentos corporais coreografados ou espontâneos e improvisados, quase sempre acompanhados de uma trilha musical que sugere a cadência, a intensidade e a expressividade dos movimentos em questão. Essa manifestação artística pode ainda ser vista como uma das muitas formas de organização da linguagem corporal.
A dança, como muitas artes, pode ser vista de formas muitos diferentes por distintas comunidades, de forma de entretenimento e socialização estritamente, como é o caso dos passos de dança em carnavais de rua como o de Olinda, a uma forma de transe coletivo motivado pelo movimento circular e ritmado de fiéis de algumas religiões, como é o caso do ritual associado a comunidades religiosas como o Santo Daime. Como expressão artística, a partir de uma ótica não pragmática, a dança admite escolas específicas que produzem formas diferentes de pensar os movimentos do corpo como forma de arte.

Redação-Códigos e Linguagens - 51 gêneros textuais (por Estéfani Martins) (v.6)

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51 gêneros textuais


As tipologias textuais ou protótipos textuais são mecanismos (ferramentas ou instrumentos) de construção textual e discursiva, os quais são produtos de capacidades e necessidades humanas usadas na interação com o meio, com o próprio íntimo e com o outro. Além disso, são formas de apreender, interferir e apresentar a realidade. Assim, mesmo timidamente, elas podem ser vistas desde tempos primordiais nas simples ações cotidianas de contar uma história; instruir ou ordenar; dialogar; expor um determinado conhecimento; descrever um desejo ou uma nova experiência sensorial; ou ainda defender um posicionamento ou uma visão de mundo; etc.

Quanto a questões técnicas, são sequências linguísticas, lógicas e estruturais com especificidades associadas às estruturas morfológicas mais comuns usadas no texto; a determinadas escolhas sintáticas; ao maior ou menor grau de subjetividade e conotação na linguagem empregada; a como são utilizados os verbos quanto ao modo, tempo e aspecto; ao uso das pessoas do discurso; etc.

Para essas formas elementares de expressão, foram dados os nomes de narração, injunção ou instrução, diálogo, exposição, descrição e argumentação, as quais, de certa forma, tentam exprimir a experiência humana com o texto (discurso). Tais tipos textuais organizam-se também em função da finalidade e das intenções pretendidas pelos seus usuários.

Pode-se também dizer sobre os tipos de texto que, separados ou puros, é muito difícil encontrá-los, pois é mais comum estarem misturados na maioria dos gêneros textuais com os quais é possível tomar contato em nosso cotidiano. Quanto a essa questão, é importante ressaltar que não há pureza na maioria dos textos produzidos pelo homem quanto à tipologia textual, mas, sim, predominância de uma em relação à outra.

Nesse sentido, alguns estudiosos definem essas relações de dominância como uma forma de nomear e hierarquizar a interação entre as tipologias textuais a partir de características substantivas (predominantes) e adjetivas (traços, recursos e ferramentas). Essas inúmeras possibilidades de interação entre as diferentes tipologias podem classificar um texto entre os mais variados gêneros textuais, são exemplos: a fábula, o conto, a dissertação, a carta, o manifesto, a crônica, a notícia, o artigo, o editorial, o sermão, etc.

Teoricamente, gêneros textuais são meios de se comunicar impostos pelas necessidades de interação social, econômica, estética e política do homem;  e produtos de inter-relações perceptíveis e estáveis entre as tipologias textuais. São criados a partir de processos históricos, sociais e coletivos, ainda que possam ser marcados por características e preferências individuais daqueles que os utilizam para se comunicar. São ferramentas de comunicação, portanto, moldáveis pelas escolhas individuais, mas também pelo processo histórico e de transformações culturais pelo qual toda sociedade, especialmente as mais industrializadas e modernas, passam com mais velocidade e intensidade.
Os gêneros textuais abarcam desde a simples correspondência informal enviada a um amigo até o ensaio escrito por um crítico de arte. Enfim, a diversidade de gêneros textuais que permeiam e definem as formas de comunicação humana, particularmente a escrita, multiplicaram-se nos últimos anos com o advento da internet e com as múltiplas fronteiras ultrapassadas ou ignoradas por produtores de textos e artistas menos preocupados com a pureza e a fôrma de um gênero textual e mais com a mensagem a ser comunicada, ou seja, na atualidade, tais modalidades textuais passaram mais frequentemente a ser eventos de fronteira e mais submetidos às necessidades de uma ideia ou conceito do que a uma exigência formal sobre como se comunicar, são exemplos a crônica, o micro conto, o hipertexto, etc.


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Códigos e Linguagens - Funções da linguagem (v.5)


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Funções da linguagem

“A linguagem é um jogo conjunto, de quem fala e de quem ouve, contra as forças da confusão.”
(Norbert Wiener)

O estudo da situação comunicativa e, especialmente, de suas implicações no estudo das funções da linguagem é fundamental para se entender as muitas intenções implícitas e explícitas no processo de produção textual oral ou escrita. Seguem definições e exemplos capazes de ampliar e clarear essa discussão.

A situação comunicativa

Uma situação comunicativa deve ser compreendida como a união de características extralinguísticas e intralinguísticas capazes de influenciar na transmissão de informações, sentimentos, ordens, etc., num determinado processo comunicativo estabelecido por meio do uso de uma ou mais linguagens. Entende-se por extralinguísticas as condições de realização do discurso que compreendem a finalidade dele, as características dos participantes, o conhecimento dos interlocutores sobre o assunto, o contexto histórico, as relações afetivas, sociais e culturais pré-existentes entre os interlocutores, etc. Sob outro ponto de vista, as intralinguísticas remetem ao domínio da norma padrão, à objetividade ou subjetividade da linguagem empregada, ao uso de recursos verbais e não verbais no discurso, etc. Como uma forma esquemática de se compreender tal processo, têm-se os chamados elementos da situação comunicativa detalhados abaixo.