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Figuras de linguagem
Por Estéfani Martins
"Em meus textos, quero chocar o leitor, não deixar que ele repouse
na bengala dos lugares-comuns, das expressões acostumadas e domesticadas. Quero
obrigá-lo a sentir uma novidade nas palavras!"
(João Guimarães Rosa)
“Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.”
(Mário Quintana)
As figuras de
linguagem são criadas na maioria das vezes a partir da experiência cotidiana,
pragmática e estética do homem com a língua e com o outro. Além disso,
“linguagens auxiliares”, como a gestual, a de sinais, a das cores, etc., são
fundamentais para a construção dessas sentenças. Daí ser possível inferir que a
inventividade é imprescindível para a construção da maioria das figuras de
linguagem, tanto no âmbito do uso literário delas quanto no uso cotidiano
desses recursos.
Para tanto, a
linguagem conotativa e o arranjo meticuloso e criativo das palavras constituem,
muitas vezes, uma espécie de jogo de interpretação, em que, por várias razões,
cooperam ou concorrem um locutor e um interlocutor inseridos num dado contexto
de enunciação, influenciados por uma determinada e sempre distinta experiência
cultural, e munidos de intenções próprias relativas àquela situação
comunicativa. Importante também acrescentar que a interpretação de uma figura
de linguagem emana das interações entre os contextos linguísticos, semânticos e
situacionais em que ela ocorre. Além disso, é importante também lembrar que
existem figuras de linguagem que são estruturais ou mesmo linguísticas, sem
necessariamente serem fundadas na polifonia, idiossincrasia ou conotação, como
é o caso da elipse e do zeugma.
Quanto ao uso
desse tipo de recurso nas tipologias e gêneros textuais, é notória e facilmente
observada a utilização de praticamente todas as figuras de linguagem em textos
narrativos, injuntivos, descritivos e dialogais, por razões ligadas às
liberdades estéticas constituintes dessas modalidades de texto; já no caso dos
gêneros textuais expositivos e argumentativos, as figuras de linguagem
apresentam-se de forma muitas vezes pontual, porque as exigências acerca da
objetividade, clareza e informatividade, tão comuns em relação a essas
tipologias, limitam sensivelmente o uso desses recursos. Embora textos
argumentativos, como os sermões, possam fazer amplo uso de figuras, são casos
relativamente raros dentro do universo dos textos exigidos em provas ou
vestibulares.
Seguem algumas
figuras de linguagem mais comumente presentes em vestibulares e, em especial,
em provas das áreas de Códigos e Linguagens no Enem.
1. Metáfora
Diferencia-se da
comparação metafórica apenas porque não tem termo comparador nem explicita a
característica comparada dos elementos entre os quais se estabeleceu
conotativamente uma determinada relação. Isso se deve ao intuito de produzir - por analogia comparação, semelhança - de forma mais polissêmica, ainda que mais velada, um meio de
expressar uma sensação, um pensamento ou uma emoção para as quais a linguagem
denotativa não é adequada ou não é capaz de comunicar.
Dessa forma, garante que o leitor ou ouvinte possa interferir no sentido da expressão em virtude de ela ser construída na perspectiva da polissemia (da multiplicidade do sentido ou polifonia) que é produto da interação entre as idiossincrasias do produtor e do receptor e da linguagem conotativa empregada na metáfora.
Dessa forma, garante que o leitor ou ouvinte possa interferir no sentido da expressão em virtude de ela ser construída na perspectiva da polissemia (da multiplicidade do sentido ou polifonia) que é produto da interação entre as idiossincrasias do produtor e do receptor e da linguagem conotativa empregada na metáfora.
Em outros momentos,
é identificada em expressões cotidianas, que pouco ou nada oferecem em relação
a possibilidades múltiplas de interpretação, ainda que um dia tenham sido
construídas com admissão de uma relação conotativa e nova entre dois elementos,
daí pode-se dizer que as metáforas são onipresentes na vida de quaisquer
falantes, como nos casos a seguir: “furo de reportagem”, “engolir um sapo”,
“distorcer palavras”, “arranhar a reputação”, etc.
Quando há uma
sucessão de metáforas com o intuito de construir um ensinamento, de explicar um
preceito moral, de ilustrar de forma mais simples um raciocínio complexo, etc.,
pode se dizer que foi construída uma alegoria, que quase sempre tem efeito mais
retórico do que estético. São exemplos o “mito da caverna” presente na “República
de Platão”; a alegoria da mulher vendada com uma balança em punho que
representa a justiça nos seus ideais associados à imparcialidade e à justeza de
suas decisões; etc. Exemplos:
1.1. “O mundo é um moinho.” (Cartola)
1.2. “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)
1.2. “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)
1.3. “Meu coração é um balde despejado.” (Fernando
Pessoa)
1.4. “Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta.”
(Luiz Gonzaga Jr.)
1.5. “Amar é mudar a alma de casa.” (Mario Quintana)
1.6. “Solidão é uma ilha com saudade de barco.” (Adriana
Falcão)
1.7. “A noite é luz sonhando.” (C. Drummond de Andrade)
1.8. “Um beijo seria uma borboleta afogada em mármore." (Cecília Meireles)
1.9.
Cultura
Cultura
O girino é o
peixinho do sapo
O silêncio é o
começo do papo
O bigode é a
antena do gato
O cavalo é pasto
do carrapato
O cabrito é o
cordeiro da cabra
O pecoço é a
barriga da cobra
O leitão é um
porquinho mais novo
A galinha é um
pouquinho do ovo
O desejo é o
começo do corpo
Engordar é a
tarefa do porco
A cegonha é a
girafa do ganso
O cachorro é um
lobo mais manso
O escuro é a
metade da zebra
As raízes são as
veias da seiva
O camelo é um
cavalo sem sede
Tartaruga por
dentro é parede
O potrinho é o
bezerro da égua
A batalha é o
começo da trégua
Papagaio é um
dragão miniatura
Bactérias num
meio é cultura. (Arnaldo Antunes)
1.10. Alegoria
"Antigamente, quando a harmonia ainda não reinava, como hoje, no corpo humano, e cada parte do corpo seguia seu próprio instinto e falava sua própria língua, todas as partes do corpo se indignaram ao perceber que tudo o que era obtido com o trabalho delas, no cumprimento de suas funções, ia para o estômago, que, tranquilo em meio a elas, apenas gozava dos prazeres que lhe proporcionavam. Então elas armaram uma conspiração: as mãos se recusaram a levar comida à boca; a boca recusou-se a recebê-la; os dentes, a mastigá-la. Enquanto, em seu ressentimento, as partes pretendiam domar o corpo pela fome, as próprias partes e todo o corpo caíram em estado de exaustão. Assim ficou evidente que o estômago não funcionava, e que a nutrição que ele recebia não era maior do que a que ele dava, fazendo retornar a todas as partes do corpo este sangue que faz nossa vida e nossa força, igualmente distribuído através das nossa veias, depois de ser elaborado a partir da digestão dos alimentos. Ao comparar essa sedição interna do corpo com a cólera da plebe contra os patrícios, ele apaziguou os espíritos." (Alegoria usada por Tito Lívio atribuída originalmente a Agripa Menenio Lanato em 494 a.C.)
"Antigamente, quando a harmonia ainda não reinava, como hoje, no corpo humano, e cada parte do corpo seguia seu próprio instinto e falava sua própria língua, todas as partes do corpo se indignaram ao perceber que tudo o que era obtido com o trabalho delas, no cumprimento de suas funções, ia para o estômago, que, tranquilo em meio a elas, apenas gozava dos prazeres que lhe proporcionavam. Então elas armaram uma conspiração: as mãos se recusaram a levar comida à boca; a boca recusou-se a recebê-la; os dentes, a mastigá-la. Enquanto, em seu ressentimento, as partes pretendiam domar o corpo pela fome, as próprias partes e todo o corpo caíram em estado de exaustão. Assim ficou evidente que o estômago não funcionava, e que a nutrição que ele recebia não era maior do que a que ele dava, fazendo retornar a todas as partes do corpo este sangue que faz nossa vida e nossa força, igualmente distribuído através das nossa veias, depois de ser elaborado a partir da digestão dos alimentos. Ao comparar essa sedição interna do corpo com a cólera da plebe contra os patrícios, ele apaziguou os espíritos." (Alegoria usada por Tito Lívio atribuída originalmente a Agripa Menenio Lanato em 494 a.C.)
2. Comparação metafórica ou símile
Consiste no uso de um termo comparador para estabelecer uma comparação conotativa, e frequentemente inusitada, incomum ou inesperada entre dois elementos de universos ( contextos, campos lexicais) diferentes ou mesmo pouco semelhantes, quando observados sob critérios que organizam e orientam o uso objetivo e denotativo da linguagem e do raciocínio. Exemplos:
2.1. O mundo é como um moinho.
2.2. “O amor queima como fogo.” (Luís de Camões)
2.3. Ele chorou que nem uma carpideira.
2.4.“Eu faço versos como quem chora/De desalento... de desencanto...” (Manuel Bandeira)
2.5. “Amava a natureza como um monge calmo a Cristo.” (Alberto Caeiro)
2.6. “Meu amor me ensinou a ser simples como um largo de igreja.” (Oswald de Andrade)
Observação: outros termos comparadores são assim como, tal, tal qual, qual, etc.
3. Metonímia ou sinédoque
É a substituição de um termo por outro em virtude de haver entre eles alguma relação ou associação que permita a um deles ser evocado pelo outro, enfim uma contiguidade conceitual ou de ideias.
É classificada pelo tipo de relação que associa um termo ou palavra à outra. Eis alguns casos mais comuns:
3.1. A parte pelo todo
Depois daquele furacão, muitas famílias ficaram sem teto.
3.2. O possuidor pelo possuído, ou vice-versa
Ir ao açougueiro.
3.3. O lugar pela coisa ou pelo produto
A população deve ir à Câmara protestar.
3.4. A causa pela consequência, ou vice-versa
Sócrates tomou a morte.
3.5. O continente pelo conteúdo
Bebi vários copos de água por causa do ar seco daquela região.
3.6. O instrumento pela causa ativa
Meu primo era muito bom de garfo, por isso morreu.
3.7. O sinal pela ideia significada
O trono esteve em perigo naqueles tempos.
3.8. O autor pela obra
Ler Torquato Neto.
Na minha casa, há um Carybé no canto da sala.
3.9.. A espécie pelo indivíduo
Na década de 1960, muitos duvidaram que o homem foi à Lua.
3.10. A coisa por seu símbolo
A cruz ainda é a maior religião do mundo.
3.11. A marca pelo produto
Ele saiu para comprar gilete, cotonetes e bombril, disseram que volta logo.
3.12. O singular pelo plural
O mineiro é desconfiado e hospitaleiro ao mesmo tempo, um paradoxo eterno.
4. Antonomásia
É um tipo de metonímia em que se substitui o nome de algo ou alguém para designá-lo por uma qualidade, atributo ou feito públicos que o diferenciam dos outros. Exemplos:
4.1. País do Futebol (Brasil), A Dama de Ferro (Margaret Thatcher), The Fab Four (The Beatles), o Poeta Negro (Cruz e Sousa), o Rei do Futebol (Pelé), O Rei Lagarto (Jim Morrison), um Nero (um homem cruel), um Romeu (um homem apaixonado), o pai da aviação (Santos Dumont), o herói sem nenhum caráter (Macunaíma), um traidor (Judas), o cavaleiro das trevas (Batman), o boca do inferno (Gregório de Matos), etc.
5. Perífrase
É o uso de uma peculiaridade ou particularidade no lugar de um nome próprio. Em linhas gerais, é uma expressão mais longa e desenvolvida que substitui termo mais curto e direto. A perífrase designa os seres, as coisas, os países, as instituições, etc., por meio de seus atributos, qualidades ou ações de forma a não substituir o termo original como se fosse outra forma de nomeá-lo, mas sim qualificá-lo. É um muito eficiente recurso coesivo que evita a repetição de uma palavra ao mesmo tempo em que fornece informações que podem enriquecer o texto. Exemplos:
5.1. O maior país da América do Sul tem uma dívida pública que faz jus ao seu tamanho. (Brasil)
5.2. O primeiro presidente eleito de forma legítima depois da Ditadura Militar morreu antes de tomar posse. (Tancredo Neves)
5.2. O primeiro presidente eleito de forma legítima depois da Ditadura Militar morreu antes de tomar posse. (Tancredo Neves)
5.3. Os portadores do mal de Lázaro sofrem preconceito até os dias atuais. (pessoas acometidas com o Mal de Hansen ou Lepra)
5.4. O autor de “Dom Casmurro” é o maior nome da prosa brasileira. (Machado de Assis)
6. Catacrese
Caracteriza-se pela nomeação de algum objeto ou ação, que não tenha vocábulo próprio, por aproximação, analogia, semelhança física ou material com outro (cabelo de milho, cabeça de alfinete, etc.); ou mesmo pelo desconhecimento do nome a ele conferido pela ciência (palato por céu da boca, panturrilha por barriga da perna, etc.); ou por uma espécie de abuso no emprego da palavra a ter o sentido estendido (sacar dinheiro no banco, encaixar uma ideia na cabeça, etc.). Por isso, a catacrese em muito se assemelha à metáfora, porém elas diferem pelo uso corrente, habitual e unívoco de sentido daquela, ou seja, pela incorporação corriqueira da catacrese à língua corrente. Exemplos:
6.1.Mão de pilão, pena de aço, andar a cavalo numa vassoura, prateleira cheia de livros, embarcar no trem, árvore genealógica, aterrissar no mar, amolar a paciência, folha de zinco, torrar a paciência, maçã do rosto, dente de alho, pé da página, dente do serrote, pescoço de garrafa, nariz do avião, marmelada de banana, etc.
6.2. “Redondos tomates de pele quase estalando.” (Clarice Lispector)
6.2. “Redondos tomates de pele quase estalando.” (Clarice Lispector)
7. Sinestesia
Consiste na utilização de duas percepções sensoriais ou mais combinadas em uma mesma sentença com o intuito de expor uma sensação, uma circunstância, uma situação, etc. A sinestesia foi extensamente usada por poetas simbolistas. Exemplos:
7.1. Cheiro gostoso, voz macia, voz aveludada, som claro, gosto áspero, perfume doce, olhar gelado, etc.
7.2. “Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas
Réquiem do Sol que a Dor da luz resume...” (Cruz e Sousa)
7.3. “Avista-se o grito das araras.” (Guimarães Rosa)
7.4. “Por uma única janela envidraçada, entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras.” (Clarice Lispector)
7.5. “Que gigante tentação enfeitada/Multi-cor, ultra-som...” (Jorge Du Peixe)
8. Antítese
É construída a partir do emprego de palavras ou ideias de sentido oposto na mesma expressão. Entretanto, apesar de serem opostas, as ideias são conciliáveis, verossímeis ou possíveis, no contexto dado pela situação comunicativa em questão, de apresentarem-se na mesma sentença. Foi um recurso estilístico intensamente usado por poetas barrocos. Exemplos:
8.1. Ela acendia uma vela para Deus e outra para o diabo.
8.2.
"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia;
"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia;
Depois da Luz se segue à noite escura;
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegrias.” (Gregório de Mattos)
8.3. “Já estou cheio de me sentir vazio, meu corpo é quente e estou sentindo frio.” (Renato Russo)
8.4. “Meus olhos andam cegos de te ver.” (Florbela Espanca)
8.5. “Era o porvir - em frente ao passado.” (Castro Alves)
8.6. “Museu de grandes novidades.” (Cazuza)
8.7. “Eu vi a cara da morte, e ela estava viva.” (Cazuza)
8.8. “O inferno nem é tão longe/Bem depois de onde nada se esconde/Mais perto do que distante” (Jorge Du Peixe)
8.9. “Ver mais claro no escuro.” (Tim Maia)
8.10. “Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
8.11.
“Só depois de muito tempo
“Só depois de muito tempo
Fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito
Mas ele me disse pouco...” (Edgard Scandurra, “Dias de Luta”)
8.12.
“Onde queres prazer sou o que dói
“Onde queres prazer sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói” (Caetano Veloso)
9. Paradoxo ou oxímoro
É uma antítese extremada a ponto de se fundirem dois opostos em uma só ideia, o que a torna absurda, ilógica, inverossímil ou inconciliável. Ou ainda como bem definiu Luís Fernando Veríssimo: “Se você tentou falhar e conseguiu, você descobriu o que é paradoxo.”. Exemplos:
9.1. Desespero da espera, voz do silêncio, inocente culpa, instante eterno, silêncio ensurdecedor, guerra pacífica, doce veneno, morto-vivo, etc.
9.2.
“Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que
“Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que
Alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim
Tão diferente...” (Renato Russo)
Tá tudo assim
Tão diferente...” (Renato Russo)
9.3.
“A explosiva descoberta
“A explosiva descoberta
Ainda me atordoa.
Estou cego e vejo.
Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade)
10. Eufemismo
É a expressão de ideias rudes, desagradáveis ou deselegantes, por meio de construções suaves e polidas. Exemplos:
10.1. Uma pequena e importante parcela da população é portadora de necessidades especiais. (doente, aleijado, etc.)
10.2. O deputado naquela ocasião foi severamente reprimido e ofendido pela plateia. (xingado)
10.3. O governante faltou com a verdade. (mentiu)
10.4. Ele apossou-se do alheio. (roubou)
10.5. Era um tumor que o deixava tão abatido. (câncer)
10.6. “Era uma estrela divina que ao firmamento voou!” (Álvares de Azevedo) (pessoa morta)
10.7. “Quando a indesejada da gente chegar.” (Manuel Bandeira) (morte)
10.8. “Verdades que esqueceram de acontecer.” (Mário Quintana) (mentira)
11. Disfemismo
É o contrário do eufemismo. Consiste no uso de termo rude, depreciativo, ridículo, sarcástico ou chulo, em vez de outro considerado neutro, por exemplo, “pintor de rodapé” no lugar de “pessoa baixa” ou “rolha de poço” no lugar de “pessoa obesa”. É importante salientar que ambas as figuras de linguagem têm uma forte dependência do tempo histórico, dos costumes e das transformações sociais para serem reconhecidas, porque expressões eufemísticas numa época podem ser consideradas disfemísticas em outra, tal como a expressão “negrinho” para se referir a pessoas de pele escura ou negra. Exemplos:
11.1. Morrer: "comer capim pela raiz", "vestir o paletó de madeira", "ir para a terra dos pés-juntos", "bater as botas", etc.
12. Hipérbole
É toda expressão caracterizada pelo exagero, pela generalização ou por ênfase extremada numa característica, consequência ou avaliação de uma pessoa, de um objeto ou mesmo de um acontecimento. Deve-se evitá-la em textos argumentativos de caráter científico ou acadêmico pela dificuldade que as hipérboles apresentam para serem comprovadas. Exemplos:
12.1. Lúcia morreu de tanto rir.
12.2. Falei a solução do problema mil vezes.
12.3. Ela gastou rios de dinheiro.
12.4. “Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva.“ (Machado de Assis)
12.5. “Todo sorriso é feito de mil prantos, toda vida se tece de mil mortes.” (Carlos de Laet)
12.6. “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)
12.7.
“Por você, eu dançaria tango no teto
“Por você, eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador.” (Frejat, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília)
13. Prosopopeia ou personificação
Caracteriza-se pela atribuição de características humanas ou animadas ao que é inumano ou inanimado. Essa é a essência da figura de linguagem caracterizada pela atribuição de capacidade de comunicação, de sentimentos, de características e de ações típicas dos seres humanos ou animados a seres ou objetos, os quais não podem, pensando-se no que é verossímil, desempenhar tais características. Exemplos:
13.1. “... os rios vão carregando as queixas do caminho.” (Raul Bopp)
13.2. “Um frio inteligente (...) percorria o jardim....” (Clarice Lispector)
13.3. “Outro retrato em branco e preto/A maltratar meu coração.” (Chico Buarque)
13.4. “O tempo passou na janela e só Carolina não viu.” (Chico Buarque)
13.5. “Já apertaram o botão da folia/Terreno de alegoria maior/E as avenidas já fervendo suadas...” (Jorge Du Peixe)
14. Zoomorfismo ou animalização
Caracteriza-se pela atribuição de características animais a seres humanos ou mesmo a comparação de seres humanos com animais. É uma figura de linguagem muito comumente usada no Naturalismo.
14.1. "Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio." (Graciliano Ramos, "Vidas Secas")
14.2. "O escândalo no cortiço assanhou a estalagem inteira, como um jato de água quente num formigueiro." (Aluísio de Azevedo, "O cortiço")
14.3. "Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo compras." (Aluísio de Azevedo, "O cortiço")
14.4. "...transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado." (Aluísio de Azevedo, "O cortiço")
14.5. "Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo." (Aluísio de Azevedo, "O cortiço")
15. Ironia
É a expressão em que se diz o oposto do que se pensa com a intenção de criticar ou ridicularizar uma ideia ou uma pessoa, ou seja, é uma forma intencional de dizer o contrário do que se pretendia exprimir. A ironia, muitas vezes, pode ser sarcástica ou depreciativa, além de ser extremamente dependente do contexto em que os interlocutores estão envolvidos, por isso é mais frequente na linguagem oral. Na escrita, é comum se empregar as aspas como forma de ressaltar o aspecto irônico de uma palavra. Exemplos:
15.1. O aluno foi reprovado em apenas 12 matérias.
15.2. Que belo presente de aniversário! Minha casa foi assaltada.
15.3. Aquele cliente foi sutil como um elefante.
15.4. “A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.” (Monteiro Lobato)
15.5. “Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor!” (Mário de Andrade)
15.6. “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.” (Machado de Assis, "Memórias Póstumas de Brás Cubas")
15.6. “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.” (Machado de Assis, "Memórias Póstumas de Brás Cubas")
16. Gradação
Ocorre quando há uma sequência ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax) de palavras - sinônimas ou não – que intensificam uma mesma ideia, ou seja, é a expressão progressiva do pensamento por meio de palavras. Normalmente são construídas em função de uma sucessão de adjetivos, advérbios, verbos ou substantivos. Exemplos:
16.1. Ele murmurou, falou, gritou e, por fim, esbravejou loucamente.
16.2. “Já se supunha um príncipe, um gênio, um deus, mas que caiu das alturas, rodopiou no ar e estatelou-se no abismo.” (Machado de Assis)
16.3. “O trigo...nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se.” (Padre Antônio Vieira)
16.4. “Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Monteiro Lobato)
17. Apóstrofe
Consiste na invocação ou no chamamento de alguém ou de algo que foi personificado, em função do objetivo de um discurso poético, sagrado, etc. Caracteriza-se pelo chamamento do interlocutor da mensagem, seja imaginário ou real. Para tanto, usa-se um vocativo. Exemplos:
17.1.
"Liberdade, Liberdade,
"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)
17.2.
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal.” (Fernando Pessoa)
17.3. “Deus! Deus! Onde estás que não responde? (Castro Alves)
18. Paronomásia
Consiste no emprego de palavras na mesma expressão com som e grafia semelhantes ou idênticos, porém com significação diferente. Exemplos:
18.1. O Brasil é um país de mandados e mandatos, estes, de corrupção, aqueles, de prisão.
18.2. Além dos migrantes, o Brasil deve preocupar-se com emigrantes que a cada dia saem do país a procura de melhores oportunidades no Japão, nos EUA, etc.
18.3. "Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias." (Padre Antonio Vieira)
Obs.: a paronímia é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita, ou seja, são parônimas. Exemplos: cavaleiro – cavalheiro, absolver – absorver, etc. Essa interação pode produzir muitos erros quando somada à desatenção do produtor de texto, como nos exemplos seguintes:
“É ponto passivo...” (pacífico)
“Discriminar a maconha...” (descriminalizar)
“A individualidade destrói qualquer sonho de propostas coletivas para a sociedade.” (individualismo)
Segue uma pequena lista de parônimos:
Comprimento = extensão
Cumprimento = saudação, ato de cumprir
Delatar = denunciar
Dilatar = retardar, estender
Descrição = representação
Discrição = reserva
Emigrante = o que sai do próprio país.
Imigrante = o que entra em país estranho.
Migrante = o que se desloca dentro de um mesmo país.
Emergir = vir à tona.
Imergir = mergulhar.
Flagrante = evidente, óbvio. Ato em que a pessoa é surpreendida.
Fragrante = perfumado, aromático.
Infligir = aplicar ou impor castigo.
Infringir = transgredir, violar (leis e regras).
Mandado = que deve ser, para ser feito.
Mandato = autorização, procuração.
Ratificar = validar, confirmar.
Retificar = emendar, corrigir.
Sortido = abastecido (variamente).
Surtido = do verbo surtir (resultar).
Soar = produzir som, ecoar.
Suar = transpirar.
Tráfego = trânsito, fluxo.
Tráfico = comércio ilegal.
19. Aliteração (consoantes), assonância (vogais) e eco
São repetições de fonemas de mesma natureza por razões de ordem estética e com o intuito de emprestar musicalidade a um texto ou maior ênfase a um grupo de palavras. Se usado de forma displicente ou inadvertida, especialmente em textos em prosa, pode ser visto como um vício de linguagem. Exemplos:
19.1. Ivo tardou em ver o trem, e nunca mais viu a uva. (Herbert Farias) aliteração
19.2. “A população deve tratar a corrupção com pressão política....” eco
19.3. “Atualmente, o Brasil vem passando por problemas, unicamente, ligados a desigualdade social, o que desmente a máxima popular que esse é essencialmente o país do futuro.” eco
19.4. “Brilham com brilhos sinistros.” (Eugénio de Castro) assonância
19.5.
“Sou Ana, da cama
“Sou Ana, da cama
Da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.” (Chico Buarque) assonância
19.6. “Quando eu morrer, não quero choro nem vela/Quero uma fita amarela gravada com o nome dela” (Noel Rosa) eco
20. Onomatopeia
É a imitação do som natural de seres animados e inanimados, de processos, de fenômenos de qualquer natureza, etc. Exemplos:
20.1. Tique-taque, toc-toc, tilintar, reco-reco, teco-teco, buá, beep, tssss, pum, tico-tico, bem-te-vi, ploft, bam, miau, atchim, chuá-chuá, zunzunzum, etc.
20.2. “E, no bramido daquele mar, os muitos sons se dissociavam – grugulejos de redemoinhos, sussurros de remansos, chupões de panelas, chapes de encontros de ondas...” (Guimarães Rosa)
21. Elipse
Consiste na omissão de um ou mais termos de uma oração, ou mesmo de uma oração inteira, que podem ser facilmente subentendidos no contexto. Exemplos:
21.1. “Na rua, tanto barulho que ficamos ensurdecidos.”
21.2. Empreste-me essa folha.
21.3. Como estávamos exaustos, preferi encurtar nossa viagem.
22. Zeugma
É um tipo de elipse em que se omite um termo anteriormente enunciado. Exemplos:
22.1. Eu vi coisas lindas, realmente emocionantes; ela, coisas abomináveis, terríveis aos seus olhos.
22.2. Na terra dele só havia mato; na minha, só prédios.
22.3. Meus primos conheciam todos. Eu, poucos.
23. Assíndeto
É um tipo de elipse que ocorre quando um conectivo é omitido. Exemplos:
23.1. Todos esperamos se faça justiça.
23.2. Foi ao “shopping”, andou como nunca, viu diversas vitrines, saiu sem comprar nada.
23.3. "Vim, vi, venci." (Júlio César)
23.4. "Foi apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio ruída pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a fogueira." (Graciliano Ramos)
24. Polissíndeto
É a repetição de um conectivo geralmente por razões estilísticas ou retóricas. Exemplos:
24.1. "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)
24.2. “Para a humanidade, nem a Nanotecnologia, nem a Física Quântica, nem a Engenharia Genética serão capazes de reabilitar a Terra.
24.3. "O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora." (Machado de Assis)
24.4.
"No aconchego
"No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego
Trabalhe, e teima, e lima, e sofre, e sua!" (Olavo Bilac)
25. Anáfora
É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, para criar, assim, um efeito sonoro ou um recurso de ratificação e de estabelecimento de coerência no texto. Pode ainda ser empregada como recurso retórico, o que é muito comum em sermões. Exemplos:
25.1.
"Se você gritasse
"Se você gritasse
Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)
25.2.
"Ilha cheia de graça
"Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz
Ilha verde onde havia
mulheres morenas e nuas" (Cassiano Ricardo)
25.3.
O que será que será?
O que será que será?
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados. (Chico Buarque)
25.4.“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere.” (Padre Antônio Vieira)
26. Pleonasmo
É também um caso de repetição. Ocorre com o emprego de palavras ou expressões redundantes ou desnecessárias para a completa compreensão do enunciado (pleonasmo vicioso e epíteto da natureza). Exemplos:
26.1. "Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira)
26.2. "Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
26.3. "O cadáver de um defunto morto que já faleceu." (Roberto Gómez Bolaños)
26.4. "E rir meu riso" (Vinícius de Moraes)
26.5. “Ele admirava menos a tela que a pintora, ela menos o espetáculo que o admirador, e eu via-os com estes olhos que a terra fria há de comer.” (Machado de Assis)
Exemplos de pleonasmo viciosos os quais são considerados vícios de linguagem (ver aula sobre Vícios de Linguagem): a mim resta-me a fome, monopólio exclusivo, elo de ligação, ela via com seus próprios olhos, basta apenas, há séculos atrás, a atual vigente, etc.
27. Hipérbato ou inversão
Consiste na alteração da ordem natural e direta das orações ou mesmo das frases por razões estilísticas, estética ou poéticas. É tratado como anástrofe, quando o deslocamento ou colocação atípica é apenas de um termo da oração. Exemplos:
27.1. “Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga) (Desisti de ter passarinho.)
27.2. “Se morrem, descansa dos seus na lembrança.” (Gonçalves Dias) (Descansa dos seus na lembrança, se morre.)
27.3. "Aquela triste e leda madrugada" (Luís Vaz de Camões) (Aquela madrugada triste e leda.)
27.4. "Bendito o que, na terra, o fogo fez, e o teto." (Olavo Bilac) (Bendito o que fez o fogo e o teto na terra.)
27.5. “Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.” (Carlos Drummond de Andrade) (As belas passeiam na Avenida à tarde.)
27.6.
"De tudo ao meu amor serei atento
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e tanto" (Vinicius de Moraes)
(Antes de tudo, serei atento ao meu amor e com tal zelo.)
27.7. "Tão leve estou, que nem sombra tenho." (Mario Quintana)
(Estou tão leve...)
28. Silepse
É a concordância que se faz com a ideia, e não com a palavra expressa. É também chamada de concordância ideológica. Há três tipos de silepse: de gênero (a concordância se faz com a ideia feminina ou masculina); de número (a concordância se faz com a ideia singular ou plural); e de pessoa (a concordância se faz com uma pessoa gramatical diferente da expressa pela palavra). Exemplos:
28.1. São Paulo realmente é caótica. [silepse de gênero - o adjetivo caótica ficou no feminino, porque concorda com a ideia (a cidade de) São Paulo]
28.2. Vossa Excelência pode ficar tranquilo e calmo. [silepse de gênero - os adjetivos tranquilo e calmo ficaram no masculino, porque concordam com a ideia: a pessoa a quem se dirige o pronome de tratamento Vossa Excelência é homem]
28.3. Os paulistas somos bem tratados no Paraná. [silepse de pessoa - o verbo ser concorda com a primeira pessoa do plural (nós), apesar de o sujeito expresso ser “Os paulistas” (terceira pessoa do plural). Com esse recurso, o emissor da mensagem quis transmitir a informação de que ele também é paulista, ou seja, de que ele se inclui entre os paulistas]
28.4. A gente não quer só alimento. Queremos amor e paz. [silepse de número - o verbo querer ficou no plural, e seu sujeito oculto (A gente) é singular]
Observação: a principal diferença entre silepse de pessoa e de número é que na de pessoa o emissor da mensagem inclui-se no sujeito de terceira pessoa do plural.
29. Anacoluto
É uma ruptura da ordem lógica da frase. É a figura de linguagem que consiste na mudança da construção sintática de forma abrupta e inesperada no meio da frase, o que faz alguns termos parecerem desligados do resto do período. Exemplos:
29.1. “O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem. A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)
29.2. “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.” (Alcântara Machado)
29.3. “...umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas de tão imprestáveis.” (J. Lins do Rego)
30. Hipálage
É uma figura de linguagem construída a partir da atribuição, a um termo, de uma qualidade que previsivelmente pertence a outro termo da mesma sentença. Exemplos:
30.1. "Fumando um pensativo cigarro." (Eça de Queirós)
30.2. "Todos os dias de jejum come um peixe austero." (Eça de Queirós)
30.3. “..em cada olho um grito castanho de ódio.” (Dalton Trevisan)
30.4. "Aves cheirosas, flores ressonantes." (Gregório de Mattos)
30.5. "Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos." (Eça de Queirós)
30.5. "Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos." (Eça de Queirós)
31. Anadiplose
É a repetição da última palavra ou frase de um verso ou uma sentença no início da seguinte. Exemplo:
31.1.
"O córrego é o mesmo,
"O córrego é o mesmo,
Mesma, aquela árvore,
A casa, o jardim.
Meus passos a esmo
(Os passos e o espírito)
Vão pelo passado,
Ai tão devastado,
Recolhendo triste
Tudo quanto existe
Ainda ali de mim
- Mim daqueles tempos!" (Manuel Bandeira)
32. Diáfora ou atanáclase
Consiste na repetição de uma mesma palavra com sentidos diferentes.
32.1. Naquele ponto, já havia colocado um ponto final naquela discussão.
32.2. "Novos mundos ao mundo irão mostrando." (Camões)
33. Enálage
Desvio gramatical intencional em função de um interesse estético ou literário. Normalmente ocorre em construções verbais.
33.1. "Se entrega a carta, não teria remorso." (Machado de Assis)
(entrega por entregasse)
34. Preterição
É a afirmação de um fato pela sua negação.
34.1. "Não direi que assisti às alvoradas do Romantismo..." (Machado de Assis)
35. Epístrofe
Consiste na repetição da mesma palavra ou expressão no final de cada oração ou verso de um texto ou parte dele. Exemplos:
35.1.
“o dia não veio,
“o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio..." (Carlos Drummond de Andrade)
35.2.
"Homem!
"Homem!
Vive por Deus!
Sofre por Deus!
Morre por Deus!" (Guerra Junqueiro)
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