quarta-feira, 30 de maio de 2018

Redação-Códigos e Linguagens - Tipologias textuais, por Estéfani Martins (v.3)

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“Os textos também podem ser classificados levando-se em consideração o caráter da interação entre autor e leitor, pois o autor se propõe a fazer algo, e quando essa intenção está materialmente presente no texto, através das marcas formais, o leitor se dispõe a escutar, momentaneamente, o autor, para depois aceitar, julgar, rejeitar. Sob esse ponto de vista da interação podemos também distinguir os discursos narrativos, descritivos, argumentativos.”
(Kleiman)

“Gerar um texto significa executar uma estratégia de que fazem parte as previsões dos movimentos dos outros.” (Umberto Eco)

As tipologias, sequências ou protótipos textuais são mecanismos de construção textual e discursiva, os quais são produtos de capacidades e necessidades humanas usadas na interação com o meio, com o próprio íntimo e com o outro. Além disso, são formas de apreender, interferir e apresentar a realidade. Assim, mesmo timidamente, elas podem ser vistas desde tempos primordiais nas simples ações cotidianas de contar uma história; instruir ou ordenar; dialogar; expor um determinado conhecimento; descrever um desejo ou uma nova experiência sensorial; ou ainda defender um posicionamento ou uma visão de mundo.
Quanto a questões técnicas, são sequências linguísticas com especificidades associadas às estruturas morfológicas mais comuns usadas no texto; a determinadas escolhas sintáticas; ao maior ou menor grau de subjetividade e conotação na linguagem empregada; a como são utilizados os verbos quanto ao modo, tempo e aspecto; ao uso das pessoas do discurso; etc.
Para essas formas elementares de expressão, foram dados os nomes de narração, injunção ou instrução, diálogo, exposição, descrição e argumentação, as quais, de certa forma, tentam exprimir a experiência humana com o texto e o discurso. Tais tipologias textuais organizam-se também em função da finalidade e das intenções pretendidas pelos seus usuários.
Pode-se também dizer sobre as tipologias que é muito difícil encontrá-las em um gênero textual sem que estejam em algum nível combinadas, pois é mais comum serem encontradas unidas na maioria dos gêneros textuais com os quais se toma contato no cotidiano da maioria das sociedades. Quanto a essa questão, é importante ressaltar que não há pureza na maioria dos textos produzidos pelo homem quanto à tipologia textual, mas, sim, predominância de uma em relação à outra.
Nesse sentido, alguns estudiosos definem essas relações como uma forma de nomear e hierarquizar a interação entre as tipologias textuais a partir de características substantivas ou predominantes e adjetivas, tais como traços, recursos e ferramentas. Essas inúmeras possibilidades de interação entre as diferentes tipologias podem classificar um texto entre os mais variados gêneros textuais, são exemplos: a fábula, o conto, a dissertação, a carta, o manifesto, a crônica, a notícia, o artigo, o editorial, o sermão, etc. A seguir, seguem discussões detalhadas sobre as tipologias ou os protótipos textuais:


Para ter acesso à íntegra deste texto teórico, clique no "link" abaixo.

1. Tipologia textual descritiva

Descrever é perceber algo como se dele fizéssemos parte.”
(Vitório Sá)

“Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar de acontecer.”
(Umberto Eco)


  1. Transforma em linguagem aquilo que os cinco sentidos captam;
  2. Por meio desse recurso, caracteriza-se pessoas, ambientes, objetos, sensações, etc., com a utilização dos cinco sentidos ou da imaginação criadora;
  3. Adjetivos, classificações, atributos e impressões são recursos descritivos obrigatórios;
  4. Constrói “imagensfísicas ou psicológicas de um determinado objeto, sensação, paisagem, pessoa, etc;
  5. O tempo verbal predominante ou mais comumente usado é o presente;
  6. Recorte da realidade a partir de um ponto de vista físico ou ideológico;
  7. Amplo uso de verbos de ligação, tais como ser, estar, permanecer, parecer, ficar, continuar, virar no sentido de tornar-se, etc;
  8. Amplo uso de orações nominais e predicativos do sujeito;
  9. Preferência por períodos curtos e orações coordenadas;
  10. Pode haver emprego de metáforas e outras figuras de linguagem;
  11. O texto descritivo prescinde de estrutura textual, a não ser pelo fato de, normalmente, ser estruturado de forma dedutiva, ou seja, parte de observações mais gerais para as mais particulares;
  12. A descrição pode ser objetiva ou subjetiva, o que independe do objeto descrito;
  13. Normalmente, transforma-se em ferramenta discursiva em textos jornalísticos, literários, científicos e didáticos.
"s.f. ato ou efeito de descrever; reprodução, traçado, delimitação. 1 representação fiel; imitação, cópia, retrato. 2 representação oral ou escrita de; exposição. 3 estl lit desenvolvimento literário por meio do qual se representa o aspecto exterior de seres e coisas. 4 jur num processo, a enumeração circunstanciada, detalhada dos caracteres de algo (...)." (Dicionário Houaiss Digital)

Exemplos:

Texto 1.1.
“Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, - únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.” (Trecho de “O Alienista” de Machado de Assis)

Texto 1.2.
“A Wikipédia é uma enciclopédia livre que está sendo construída por milhares de colaboradores de todo o mundo. Este é um site baseado no conceito de wiki, o que significa que qualquer internauta, inclusive você, pode editar o conteúdo de quase TODOS artigos acionando o link "Editar" (Nas abas de conteúdo) que é mostrado em quase todas as páginas do site.
O projeto Wikipédia foi iniciado em 15 de Janeiro de 2001, na versão em língua inglesa. Em apenas um ano de existência, esta versão já possuía quase 10.000 artigos. Até hoje já foram criados mais de 5 milhões de artigos em dezenas de línguas (246 932 artigos na versão em português). Todos os dias, centenas de colaboradores de todas as partes do mundo editam milhares de artigos e criam muitos artigos inteiramente novos.” Fonte: www.wikipedia.org.br

Texto 1.3.
“Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechada e cinza, aqui contra a sacada, com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um através do outro. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que se prende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.” (Júlio Cortázar)

2.Tipologia textual narrativa

“Lembrava mais do passado que do presente. Morreu empoeirado.”
(Roberto Prado)

               “Contar histórias para crianças é a arte que melhor se adapta a nossa forma de pensar: tocam o ser humano há 4000 anos e o farão no ano 6000.”
(Margaret Read Mac Donald)

“Toda história de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!”
(Menotti Del Picchia)


  1. Respeita uma determinada sequência, sobretudo cronológica, no relato de fatos e acontecimentos reais ou imaginários, portanto é um texto sequencial;
  2. Texto marcado por uma determinada cronologia de eventos e acontecimentos, ou seja, é um discurso submetido a alguma noção de temporalidade;
  3. Narrador, personagens, espaço, tempo e enredo são tradicionalmente elementos importantes para a construção do texto narrativo;
  4. Geralmente, respeita a seguinte estrutura textual: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho ou, simplesmente, começo, meio e fim. Contudo, não é obrigatório que as partes da narrativa estejam dispostas exatamente dessa forma, além de, muitas vezes, ser comum encontrar narrativas sem apresentação ou desfecho;
  5. É comum a presença de personagens que, classicamente, enquadram-se na seguinte disposição: protagonista, antagonista e coadjuvante;
  6. Presença de um conflito na narrativa que tende ao equilíbrio ou à solução, normalmente encontrada no clímax do texto;
  7. Verbos de ação ou processuais são fundamentais para existência desse tipo de texto;
  8. Presença intensa de advérbios e locuções adverbiais;
  9. Discurso direto, indireto e indireto livre são amplamente empregados;
  10. O tempo verbal predominante é o pretérito;
  11. É comum a sua presença como tipologia predominante em gêneros textuais narrativos de vários tamanhos, temáticas e estruturas, tais como o romance, a novela, o micro conto, o conto, a fábula, a narrativa oral, o cordel, etc., os quais podem ser escritos com eixos temáticos que permitem classificar as narrativas como humorísticas, de aventura, de amor, de terror, de horror, de ficção científica, etc.
"s.f. ação, processo ou efeito de narrar; narrativa 1 exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos sequenciados 2 cine tv fala que acompanha, comenta ou explica uma sequência de imagens que expõem um acontecimento ou uma série deles 3 o texto dessa fala 4 sequência de imagens que expõem ou mostram um acontecimento ou uma série deles." (Dicionário Houaiss Digital)

Exemplos:

Texto 2.1.
Prólogo
Enfim, um indivíduo de idéias abertas

A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a coceira.
Até que, traque, ouviu o leve estalo e, a chave enfim no seu encaixe, percebeu que a cabeça lentamente se abria. (Marina Colasanti, Contos de amor rasgados)

Texto 2.2.
70, 70, 70, 71, 95, zero. O coração parou. (Ricardo Barioni)

Texto 2.3.
Pensou em vender a alma. Buscou por dentro, não a encontrou. (Rosa Meire)

Texto 2.4.
Dia dos namorados
Ontem. Dia dos namorados. Um casal beijava-se entregue numa praça, quando ocorreu um assalto. Horas depois, o namorado registrava a queixa em que anunciava o roubo de uma namorada. (Vitório Sá)

Texto 2.5.
Fábula Curta
"Ai de mim!", disse o rato, – "o mundo vai ficando dia a dia mais estreito". "Outrora, tão grande era que ganhei medo e corri, corri até que finalmente fiquei contente por ver aparecerem muros de ambos os lados do horizonte, mas estes altos muros correm tão rapidamente um ao encontro do outro que eis-me já no fim do percurso, vendo ao fundo a ratoeira em que irei cair". "– Mas o que tens a fazer é mudar de direção", disse o gato, devorando-o. (Franz Kafka)

Texto 2.6.
Era uma vez
Olhei para o espelho. Queria que me dissesse a verdade da minha beleza e virtudes. Mas, disse-me: – Você é um nada, nunca irá existir!– joguei o espelho fora. Comprei outro.
Que se dane a verdade. Fui feliz(Dudu Oliva)

3.Tipologia textual injuntiva, prescritiva ou instrucional

“(...)Um ser ou uma coisa composta de diferentes partes só pode ter beleza na medida em que estas partes são dispostas numa certa ordem(...)”
(Aristóteles)

  1. Uso de linguagem geralmente objetiva, precisa e clara para orientar e indicar procedimentos capazes de cumprir determinadas ações;
  2. Tem como objetivo que o interlocutor pratique uma determinada ação requerida, desejada; cumpra meticulosamente diferentes etapas - cronologicamente ordenadas - de execução de uma ação; seja orientado sobre o que ou como fazer determinada tarefa; seja incitado à realização de um dado procedimento; etc;
  3. Muitas vezes, um texto injuntivo tem a seguinte estruturação: primeira parte, descrição dos materiais e circunstâncias necessárias para a realização da uma ação; segunda parte, enumeração de procedimentos, os quais podem ser limitados quanto ao tempo, ao espaço, à quantidade, à qualidade e às circunstâncias a ater-se para o adequado desenvolvimento de algum projeto, ação ou procedimento;
  4. As formas verbais mais utilizadas na injunção são a terceira pessoa do modo imperativo: "Depois de quentes, mexa todos os ingredientes."; o presente do indicativo com sujeito indeterminado: "Depois de quentes, mexe-se todos os ingredientes."; o infinitivo: "Depois de quentes, mexer todos os ingredientes.";
  5. Uso frequente de advérbios de modo e de negação;
  6. O texto injuntivo é feito na perspectiva do fazer posterior ao tempo da enunciação;
  7. Alguns exemplos de gêneros textuais em que essa tipologia textual é predominante, a saber: os manuais de instrução, as receitas culinárias, as constituições, os regimentos, etc.
"s.f. 1.ato de injungir, de ordenar expressamente uma coisa; ordem precisa e formal. 2.influência coercitiva de leis, regras, costumes ou circunstâncias; imposição, exigência, pressão." (Dicionário Houaiss)

Exemplos:

Texto 3.1.
Berinjela recheada com atum

Ingredientes:
1 berinjela;
1 lata de atum ralado;
1 pão francês;
50g de queijo ralado (gruyère);
1 colher (sobremesa) de manteiga;
Sal, pimenta-do-reino e azeite.

Preparo:
Corte a berinjela ao meio no sentido do comprimento. Divida cada metade em três partes e retire o miolo. Tempere e leve ao forno preaquecido a 180° por 10 min.

Para a crosta:
Bata no liquidificador o pão picado, o queijo e metade da manteiga. Retire a berinjela do forno, recheie com o atum (escorrido) e cubra com queijo. Volte ao forno até dourar. Sirva com salada.


Texto 3.2.
Preâmbulo às instruções para dar corda ao relógio
Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que te dure muitos e bons, é uma ótima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço telefônico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio.

Instruções para dar corda ao relógio
Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada. (Julio Cortázar)

4.Tipologia textual expositiva ou explicativa

“O escritor curto em idéias e fatos será, naturalmente, um autor de idéias curtas, assim como de um sujeito de escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar senão breves análises e chochas tolices.” (Rui Barbosa)


  1. Uso da linguagem com o intuito de explanar, de fazer entender ou conhecer determinado assunto, de enumerar, de definir, ou seja, de explicar determinado tema com a pretensão de ser imparcial para que o leitor, o ouvinte ou o interlocutor possa informar-se sobre o assunto exposto;
  2. Há certo distanciamento do autor do texto em relação ao assunto por ele abordado, o que pode produzir um caráter razoavelmente imparcial ao texto;
  3. Presença intensa de orações coordenadas explicativas e subordinadas adjetivas explicativas;
  4. Predomínio da ordem direta na construção das orações e frases;
  5. Na maioria das vezes, a exposição das ideias e fatos respeita uma temporalidade lógica;
  6. A norma padrão é normalmente exigida na confecção desse tipo de texto, em especial, nos escritos;
  7. Uso de conectivos de esclarecimento, reiteração ou reformulação com o intuito de facilitar, esclarecer e explicar mais detalhadamente o conteúdo do texto (isto é, ou seja, em outras palavras, etc.);
  8. Emprego de exemplificações (por exemplo, a saber, etc.);
  9. Pode-se fazer uso de comparações e analogias para facilitar a compreensão das ideias expostas no texto;
  10. É possível encontrar textos expositivos construídos com mais de uma explicação sobre um mesmo assunto, com o intuito de que, pela enumeração de diversos pontos de vista sobre tal tema, um determinado interlocutor se informe para melhor produzir suas próprias conclusões sobre o assunto em questão;
  11. É um texto com preocupações informativas;
  12. São exemplos dessa tipologia textual a notícia, muitas dissertações, o livro didático, alguns documentos científicos, etc.
"s.f. 1. apresentação organizada de um assunto, oralmente ou por escrito; palestra, explanação. 1.1 ação de declarar, de manifestar." (Dicionário Houaiss)

Exemplos:

Texto 4.1.

"Barroco é o estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de atingir, em uma forma modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente.

Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e à Contrarreforma, distingue-se pelo esplendor exuberante. De certo modo o Barroco foi uma continuação natural do Renascimento, porque ambos os movimentos compartilharam de um profundo interesse pela arte da Antiguidade clássica, embora interpretando-a diferentemente. Enquanto no Renascimento o tratamento das temáticas enfatizava qualidades de moderação, economia formal, austeridade, equilíbrio e harmonia, o tratamento barroco de temas idênticos mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual. Mas nem sempre essas características são bem evidentes ou se apresentam todas ao mesmo tempo. Houve uma grande variedade de abordagens que foram englobadas sob a denominação genérica de "arte barroca", com certas escolas mais próximas do classicismo renascentista e outras mais afastadas dele, o que tem gerado muita polêmica e pouco consenso na conceituação e caracterização do estilo.
Para diversos pesquisadores o Barroco constitui não apenas um estilo artístico, mas todo um período histórico e um movimento sociocultural, onde se formularam novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. As mudanças introduzidas pelo espírito barroco se originaram, pois, de um grande respeito pela autoridade da tradição clássica, e de um desejo de superá-la com a criação de obras originais, dentro de um contexto que já se havia modificado profundamente em relação ao período anterior."


Texto 4.2.
"(fun.da.men.ta.lis.mo)

sm.
1. Rel. Doutrina ou prática, em setores de várias religiões, que consiste em interpretar literalmente os textos sagrados, tomando suas palavras como únicas verdades
2. Observância rigorosa às leis do Islamismo, ou o próprio Islamismo
3. Fig. Qualquer sistema (político, econômico etc.) que se apresenta como portador exclusivo da verdade e de solução única para problemas
[F.: fundamental + -ismo.]

O conceito e o termo nasceram quase juntos, no início do século XX, em comunidades protestantes dos Estados Unidos, especialmente no estado de Tennessee. Refere-se à ideia, e às atitudes dela decorrentes, de que o texto literal da Bíblia (o Velho e o Novo Testamentos) é absolutamente, e só ele, verdadeiro, com isso rejeitando muitos dos conhecimentos e das propostas da ciência, da filosofia, da cultura moderna e contemporânea. Famoso foi o julgamento do prof. John Scopes, em 1925, no Tennessee, por ter ensinado na escola a proibida (por lei estadual) teoria evolucionista de Darwin. Em um sentido mais genérico, o termo passou a ser usado para designar, nas três religiões monoteístas ' abraâmicas', baseadas em escrituras sagradas (o judaísmo, o cristianismo, e o islamismo), o apego ao texto literal dessas escrituras, com a rejeição de qualquer outra interpretação dos fatos e do sentido moral que encerram. Em fins do século XX e início do século XXI, o termo já era aplicado a uma facção dos crentes, principalmente no islamismo (fundamentalismo islâmico), que passou da fé religiosa absolutista para uma atitude política de conquista de espaços e poder com base nessa fé. Enquanto qualquer fundamentalismo, como ideia de que a única verdade está no texto sagrado, pode se considerar portador de um caminho humanitário de redenção, sua apropriação por facções que pretendem impor sua fé pela conquista e pela eliminação ou sujeição das outras, levou a um confronto em que se misturam religião, política, violência e terrorismo, em meio a muitas distorções e marketing."

5.Tipologia textual argumentativa

"Nada é mais perigoso do que uma idéia quando se tem apenas uma."
(Émile-Auguste Chartier)

"Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar."
(Barão de Itararé)


  1. Defesa de um ponto de vista acerca de algum assunto, ideia ou conceito;
  2. Utilização da linguagem com o objetivo de, por meio de exposição de fatos, ideias e conceitos, chegar a conclusões lógicas e verossímeis que possam convencer alguém sobre um determinado posicionamento ou opinião;
  3. Uso de recursos lógicos com a intenção de fazer convencer o leitor ou o ouvinte de um determinado ponto de vista;
  4. Emprego de recursos retóricos para cumprir os objetivos argumentativos do texto;
  5. Pode empregar até mesmo recursos emotivos com o intuito de convencer alguém;
  6. Podem ser empregados recursos denotativos ou conotativos na construção de argumentos, ainda que aqueles sejam mais frequentemente utilizados;
  7. A presença de mais de um ponto de vista em um texto argumentativo pode ser explicada pelo recurso retórico em que, para reforçar determinada posição sobre um tema, refuta-se outras, ou seja, constrói-se um contra-argumento;
  8. São exemplos dessa tipologia textual o sermão, muitas dissertações científicas, as defesas orais de advogados em julgamentos, etc.
"s.f. 1.arte, ato ou efeito de argumentar. 2. Derivação: por extensão de sentido. troca de palavras em controvérsia, disputa; discussão. 3. Rubrica: termo jurídico. conjunto de idéias, fatos que constituem os argumentos que levam ao convencimento ou conclusão de (algo ou alguém). 4. Rubrica: literatura, estilística. no desenvolvimento do discurso, corresponde aos recursos lógicos, como silogismos, paradoxos etc. ger. acompanhados de exemplos, que induzem à aceitação de uma tese e à conclusão geral e final." (Dicionário Houaiss)

Exemplos:

Texto 5.1.
“Odeio os indiferentes. Como Friedrich Habel, acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir apenas homens, estranhos a cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é viver sem vontade, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, e a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes os leva a desistir da gesta heróica. (...)” (Antônio Gramsci)

Texto 5.2.
"A poesia deixa algo em cada leitor: uma sílaba, uma metáfora, um conceito, uma visão do universo. Cada verso é de natural ambíguo, tem duas caras, como certas pessoas que eu conheço, ou cem, ou mil. As palavras não dispõem apenas de uma carteira de identidade;usam várias, como os ladrões ou os contrabandistas. Costumam sair disfarçadas, ou incógnitas, ou fantasiadas como no Carnaval. O demónio da polissemia que habita nelas como uma segunda natureza, torna-as verdadeiros camaleões, que tomam a cor da paisagem ou do instante." (Ledo Ivo)

Texto 5.3.
"Creio na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Creio que são todas concedidas por Deus e creio que eram necessárias para os povos a quem essas religiões foram reveladas. E creio que se pudéssemos todos ler as escrituras das diferentes fés, sob o ponto de vista de seus respectivos seguidores, haveríamos de descobrir que, no fundo, foram todas a mesma coisa e sempre úteis umas às outras."  (Mahatma Gandhi)

6.Tipologia textual dialogal ou conversacional

"A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil;  e o escrever dá-lhe precisão."
(Francis Bacon)

“Conversa com aqueles que possam fazer-te melhor do que és.” (Sêneca)


  1. Texto produzido por, ao menos, dois interlocutores que falam preferencialmente sob a lógica dos turnos, ou seja, um por vez;
  2. Quanto ao tamanho, não se pode prevê-lo, visto que um diálogo pode se dar num rápido encontro ou mesmo num debate em um programa como “Café filosófico” ou “Diálogos impertinentes”;
  3. Uso recorrente de elementos fáticos;
  4. Recepção imediata do ato comunicativo;
  5. Muitos turnos de conversação organizados sob a lógica da pergunta e da resposta;
  6. Presença constante de sinais gráficos que almejam reproduzir alguns recursos inerentes à oralidade, tais como as reticências, os sinais de pontuação de entoação, onomatopeias, etc;
  7. Situação comunicativa construída na perspectiva de uma interação entre os interlocutores.;
  8. São exemplos a conversa telefônica, o debate, a entrevista, etc.
"s.m. 1  fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa. 2 contato e discussão entre duas partes em busca de um acordo 3 conjunto das palavras trocadas pelas personagens de um romance, filme etc.; fala que um autor atribui a cada personagem 4 obra em forma de conversação com fins expositivos, explanatórios ou didáticos." (Dicionário Houaiss)

Exemplos:

Texto 6.1.
Casal é tudo igual

Ele: – Alô?
Ela: – Pronto.
Ele: – Voz estranha… Gripada?
Ela: – Faringite.
Ele: – Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: – E se estivesse? Algum problema?
Ele: – Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: – E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: – Constipado.
Ela: – Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: – A gente aprende.
Ela: – Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: – Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: – Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: – Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou.
Ela: – Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: – Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas…
… Silêncio ….
Ela: – Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: – Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: – A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: – Mas conversar com as amigas no telefone…
Ela: – Solidão, meu caro, cansaço… Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite…Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções…
Ele: – Você nunca reclamou disso.
Ela: – E você me perguntou alguma vez?
Ele: – Lá vem você de novo… As poucas coisas que eu achava que estavam certas… Isso também era errado!?
Ela – Evidente, a gente não conversava nunca…
Ele: – Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem que faltou diálogo. As mulheres são de Marte.
Ela: – E vocês são de Saturno!
…Silêncio…
Ele: – E aí, como vai a vida?
Ela: – Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra me dizer o que devo fazer…
Ele: – E isso é bom?
Ela: – Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: – Eu nunca fui autoritário!
Ela: – Também nunca foi compreensivo!
Ele: – Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer mortal..
Ela: – Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: – Você nunca foi irônica.
Ela: – Isso a gente aprende também.
Ele: – Eu sempre te apoiei.
Ela: – Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável…Sinceramente, eu não sei o que faria sem você. Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: – Do que você está falando?
Ela: – Ah, não lembra?
Ele: – Ana, eu detesto futebol.
Ela: – Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: – Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
…Silêncio…
Ele: – De onde está falando?
Ela: – 578 9922
Ele: – Não é o 579 9222?
Ela: – Não.
Ele: – Ah, desculpe, foi engano.
Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.
Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: – Modéstia à parte… Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: – Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: – E detesta futebol?
Ele: – Deus me livre… 22 caras correndo atrás de uma bola… Acho ridículo!
Ela: – Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: – Que pena… O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: – Mentira! É o meu prato predileto…
Ele: – Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também. Você não gostaria de…
Ela: – Adoraria!
Ele dá o endereço.
Ela: – Nossa, tão pertinho! São dois quarteirões daqui.
Ele: – Então? É pegar ou largar.
Ela: – Tô passando aí, Ronaldo.
Ele: – Combinado, vizinha. (Luís Fernando Veríssimo)

Texto 6.2.
no caixão...
Sim, paizinho.
– ...não deixe essa me beijar. (Dalton Trevisan)

Texto 6.3.
Respostas a uma entrevista:
- Qual o maior poeta brasileiro atual?
- Deixa disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em primeiro lugar. (Mario Quintana)

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