domingo, 25 de outubro de 2015

Considerações sobre o tema do Enem 2015, por Estéfani Martins

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Desigualdade de gênero

Tema do Enem 2015 - "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira"

Contextualizações, problematizações e propostas de intervenção 
  • A persistência da violência contra a mulher pode estar intimamente relacionada à manutenção de padrões machistas em vários tipos de relações sociais.
  • A persistência da violência contra a mulher pode estar relacionado ao crescimento do fundamentalismo religioso no Brasil nos últimos 10 anos.
  • Aprovação do feminicídio pela Câmara.
  • Aprovação de cotas para mulheres na política.
  • O impacto da Lei Maria da Penha na violência contra a mulher.
  • Criação de políticas para estímulo e regulamentação da ocupação de cargos políticos eletivos, por exemplo, garantir por lei que metade das cadeiras do legislativo sejam ocupadas por mulheres, o que pode, com o aumento da representatividade política delas, ser uma mecanismo eficiente para o combate da violência contra a mulher.
  • Defesa e manutenção do Estado como instituição laica, já que se sabe que várias religiões têm cada vez mais fieis fundamentalistas, que são cada vez mais representados por políticos com mesma inclinação ideológica, a saber: o interesse de rechaçar e desarticular conquistas históricas das mulheres ou mesmo impedir o amplo empoderamento feminino na sociedade.
  • Criar campanhas permanentes e mais diretas para combater a violência contra a mulher em todos as instâncias, espaços e circunstâncias.
  • Os números alarmantes de casos de estupro no Brasil, mesmo em um tempo de vigência da Lei Maria da Penha.]
  • Criar ou melhorar aparato jurídico e policial eficiente para garantir a integridade física e emocional das mulheres como nos casos em que mulheres relatam por meio de Disque denúncia ou ligação para a polícia de ex-companheiro violento, mas, mesmo assim, muitas são mortas devido a morosidade do socorro.
  • Universalização da rede de Delegacias da mulher no Brasil para que as mulheres vítimas de violência possam ter um espaço mais receptivo para acolhê-las em momentos de extrema dificuldade como nos casos de espancamento e violência sexual.
  • Fomentar por meio de associação de pais ou iniciativas governamentais o debate sobre questões de gênero na escola baseados no respeito e colaboração entre homens e mulheres.
  • Aprimorar o aparato estatal capaz de garantir que medidas de restrição impostas contra homens agressores sejam respeitadas.
  • Fomentar a criação ou aprimoramento de locais de apoio e proteção para mulheres agredidas ou que foram agredidas pelos seus maridos, pais, irmãos, companheiros, etc.

Textos de aprofundamento




Intertextualidades
  • “Preciosa”, filme.
  • “Belle”, filme.
  • “Mothern” – série.
  • "Tomates verdes fritos" - filme.
  • "Monster, desejo assassino" - filme.
  • "Tabu" - filme.
  • “Lavagem cerebral, o paradoxo da Teoria do gênero” – documentário.
  • Quando se procura o mal na História, vê-se que sempre foi causado por uma pessoa ou um grupo sobre outros, seja por causa da raça, do gênero, da preferência sexual ou da religião. Isso é universalmente incorreto e impede a paz! (Drey Barrymore)
  • "Uma mulher pode fazer qualquer coisaconseguir o que quiser, contanto que não se apaixone." (Joan Crawford)
  • "homem procura a felicidade, a mulher a espera." (Severo Catalino)
  • “Se um homem bate na mesa e grita, está impondo controle. Se a mulher faz o mesmo, está perdendo o controle.” (Bárbara Soares)
  • "Mulheres envelhecem, homens amadurecem." (Gloria Steinem)
  • "Juíza", Porta dos fundos - esquete.
  • https://www.youtube.com/watch?v=nHcQOY-Rews

Interdisciplinaridades
  • Discussões amparadas pela História para entender a evolução das funções e expectativas sociais e culturais sobre homens e mulheres.
  • A história e as contribuições do feminismo para a promoção da igualdade de gênero.
  • A questão do gênero pelo mundo.
  • A questão de gênero segundo alguma perspectiva jurídica.
  • Os direitos conquistados por mulheres desde o direito ao voto no início do século XX em muitos países, inclusive no Brasil.
  • Questões biológicas e psíquicas que aproximam ou diferenciam homens de mulheres.

Proposta(s) de redação relacionada(s)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Educação Física - temas para o Enem 2015

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Arte, corpo, saúde e movimento na Educação Física

“Torna-se indispensável manter o vigor do corpo, para conservar o do espírito.”
(Luc de Clapiers Vauvenargues)

“A alma que abriga a filosofia deve, para a sua saúde, tornar o corpo são.”
(Michel de Montaigne)

“A leitura da realidade pelas práticas corporais permite fazer com que essas se tornem ‘chaves de leitura do mundo’. As práticas corporais dos sujeitos passam a ser mais uma linguagem, nem melhor nem pior do que as outras na leitura do real, apenas diferente e com métodos e técnicas particulares.”
(Orientações Curriculares do Ensino Médio – MEC)

:::A Educação física: novos paradigmas e velhas práticas

A Educação Física é entendida como linguagem e disciplina na perspectiva de documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Assim, esse saber e essa experiência passam oficial e publicamente a transcender a visão limitada de que ela corresponde ao mero lazer, momento de prática desportiva ou de competição, para ser - como os teóricos da área há tempos já preconizavam - um campo do conhecimento comprometido e responsável pela socialização dos alunos, por fomentar práticas saudáveis desde a ergonomia até a prevenção de doenças, também pode ser vista como uma disciplina capaz de ajudar a compreendermos melhor nosso corpo e as possibilidades de expressão dele. Evidentemente, também é função da Educação Física mediar o contato dos alunos com jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças com o intuito de que eles desenvolvam habilidades corporais a partir disso, entretanto as dimensões culturais, afetivas, emocionais e psicológicas dessas atividades não podem ser ignoradas pelo trabalho dessa disciplina.
Historicamente, como observado pelas Orientações Curriculares para o Ensino Médio, a Educação Física serviu a muitos propósitos distantes ou confusos em relação à importância significativa e fundamental dela na formação das pessoas. Eis algumas formas citadas nesse documento de entendimento dessa disciplina ao longo do tempo no Brasil.
“Diversos papéis foram atribuídos à Educação Física na escola: preparação do corpo do aluno para o mundo do trabalho; eugenização e assepsia do corpo, buscando uma ‘raça forte e enérgica’; formação de atletas; terapia psicomotora; e até como instrumento de disciplinarização e interdição do corpo.
Os alunos, por sua vez, não deixaram de utilizar o tempo/espaço desse componente curricular de diversas maneiras, tais como: relaxamento das tarefas demandadas por outras disciplinas; tempo e espaço de encontro com os amigos; possibilidade de realização de suas práticas de lazer; momento de ócio, etc.
Esses diversos usos feitos pelos alunos (muitas vezes a despeito da figura do professor) também estão carregados de valores, sentimentos, subjetividade. O entendimento que os alunos têm de si mesmos; do seu corpo e do corpo dos outros; de seus valores e posicionamentos éticos e estéticos; de seus projetos de vida pessoal e do lugar que a escola ocupa nesses projetos: todas essas questões constroem o papel da Educação Física e dos lugares que pode ocupar na vida dos alunos.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)
Para ilustrar e exemplificar as várias facetas da Educação Física em diversos setores e dimensões da sociedade, além da escola; seguem trechos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e das Orientações Curriculares do Ensino Médio que são documentos produzidos pelo Ministério da Educação (MEC) do governo federal.

Expressão e linguagem corporal na Educação Física.
Entende-se expressão corporal por movimento do corpo motivado por razões utilitaristas ou pragmáticas, como são os casos do desempenho corporal no trabalho ou em uma academia. Já linguagem corporal sugere o movimento corporal como forma de linguagem não-verbal, um exemplo disso é o movimento de um ator em um palco ou um espetáculo de balé clássico.

“Porém, as práticas corporais possuem valores nelas mesmas, sem a necessidade de serem ‘traduzidas’ para outras linguagens para obter o seu reconhecimento. Estão diretamente ligadas a uma formação estética, à sensibilidade dos alunos. Por meio do movimento expressado pelas práticas corporais, os jovens retratam o mundo em que vivem: seus valores culturais, sentimentos, preconceitos, etc. Também ‘escrevem’ nesse mesmo mundo suas marcas culturais, construindo os lugares de moças e rapazes na dinâmica cultural. Por vezes, acabam eles próprios se tornando ‘modelos culturais’, nos quais uma certa ‘idéia de juventude’ passa a ser experimentada, copiada e vivida também por outras gerações.
O diálogo das práticas corporais realizadas com outras linguagens, disciplinas e métodos de ensino deve respeitar as práticas corporais como sendo elas mesmas um conjunto de saberes. Os saberes tratados na Educação Física nos remetem justamente a pensar que existe uma variedade de formas de apreender e intervir na realidade social que deve ser valorizada na escola numa perspectiva mais ampliada de formação.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)


Educação Física como mediadora da relação do indivíduo com seu próprio corpo

Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar.” (PCNs, Brasil, MEC)


A Educação Física: ginástica, esporte, jogos, lutas e dança como mediadores da relação do indivíduo consigo mesmo, com o outro e com a sociedade

“Os conteúdos Ginástica, Esporte, Jogos, Lutas e Dança como saberes construídos pela humanidade podem ser palco de abordagem dos mais diferentes temas: gênero, práticas corporais em espaços públicos, entre outros. Além disso, cada um desses conteúdos possui uma vinculação social com a realidade atual, tal como a vinculação do esporte à indústria cultural e à produção do espetáculo televisivo e venda de produtos.(Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)

“A Ginástica e as Lutas possuem a riqueza das influências dos vários povos e culturas que construíram o Brasil. Estão ligadas a questões estéticas e às tradições da “boa condição física”. Carregam consigo o simbolismo da beleza corporal e o mito da longevidade, do corpo saudável e dos rituais de passagem presentes na história e nos modos de vida dos vários grupos étnicos.
Os Jogos carreiam as intenções lúdicas de cada prática corporal desenvolvida no campo das transformações culturais. Quando se fala em possibilidades de práticas de lazer, em processo criativo na escola ou em relações solidárias e diversidade cultural, os Jogos, como conteúdo, representam a possibilidade da singularidade, do algo descoberto, aquilo que representa a identidade dos grupos. Os traços da África, da Europa e do índio estão presentes no despojamento corporal, desde os Jogos dançantes até a simulação de combate, de festas religiosas, e nos ritos sagrados de produção e sustentação da vida, como o plantio e a colheita. Os Jogos são, ao mesmo tempo, tradição e consolidação de identidades, criação e transformação permanentes; são a marca dos acordos coletivos.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)


“Esportivização” da Educação Física: uma crítica

“Boa parte das críticas localizam-se em torno do fato de que o modelo de esportivização da Educação Física não possibilitou o alcance dos supostos objetivos colocados pelas políticas públicas de educação e esportes no Brasil. O Brasil não se tornou uma potência olímpica, não diminuiu suas largas diferenças sociais, não melhorou os níveis de saúde da população, não diminuiu o acesso dos jovens às drogas e não aumentou nem qualificou a contemplação da maioria passiva aos espetáculos de práticas corporais de qualquer natureza. As intenções em torno da esportivização dependiam sobretudo do desenvolvimento do esporte nacional. Com o tempo, a estrutura esportiva percebeu que a escola nunca seria o lugar adequado para a formação de quadro atlético suficiente e qualificado para acompanhar a evolução esportiva no mundo olímpico.
Por causa disso, as instituições esportivas criaram seus próprios espaços, o que revelou a verdadeira face do esporte como fenômeno social. Trata-se de uma mercadoria que precisa de trabalhadores e, como tal, seleciona, exige horas de trabalho disciplinado e, na maioria das vezes, tratando-se de sujeitos da classe trabalhadora, afasta-os da escola em nome da produtividade e da construção de uma falsa expectativa do sucesso para todos.
No contexto da esportivização não foram poucas as imposições de espaços de práticas corporais padronizados, produção de materiais de forma universal e homogênea, bem como a prescrição desses espaços e materiais como indispensáveis para a realização da prática esportiva. No bojo das circunstâncias, também as pessoas foram selecionadas e tratadas de forma impessoal, desconsiderando, entre outras coisas, a pluralidade de corpos que é produzida na pluralidade de culturas. Mulheres e homens foram reconhecidos pelo biotipo, pelas supostas existências de determinadas estruturas musculares diferenciadas e pela capacidade de “adaptação” aos treinamentos e às particularidades das atividades ensinadas. Teses racistas, sexistas, elitistas e excludentes sobressaíram nesses processos de seleção humana, discriminatória e segregadora de um enorme contingente de jovens.
Admitir o modelo da esportivização como método e princípio orientador do trabalho pedagógico na escola e persistir nele é, sem dúvida, viver em meio a uma grande contradição nos dias de hoje. Se a sociedade rejeita o trabalho infantil precoce e a exposição do jovem a situações humilhantes e desumanas, a escola não pode aceitar uma relação que sustenta um discurso carregado de mitos e símbolos que afasta o jovem dos estudos regulares e o coloca em um campo de trabalho semi-escravo, a partir de falsas promessas de sucesso.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)

“Outro foco das críticas da produção acadêmica centra-se no distanciamento que o modelo de esportivização causou entre a Educação Física e a escola em sua totalidade. O modelo foi aplicado como se a Educação Física pudesse ocupar um espaço à parte na estrutura escolar.
O binômio aluno–atleta foi uma constante no tratamento dado àqueles poucos selecionados à revelia do funcionamento normal da escola. O corpo docente também experimentou a mistura de papéis entre professor e treinador e, com o advento das produções críticas, o olhar para o interior da escola e a aproximação maior dos temas e das grandes questões escolares em comum tornou-se uma necessidade para a Educação Física escolar.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)

Esporte e lazer como direitos do cidadão e como prática da “cultura corporal do movimento”

“O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física.” (PCNs, Brasil, MEC)

“Ensinar e aprender a cultura corporal de movimento envolve a discussão permanente dos direitos e deveres do cidadão em relação às possibilidades de exercício do lazer, da interação social e da promoção da saúde. Envolve, portanto, também o ensino de formas de organização para a reivindicação junto aos poderes públicos de equipamentos, espaços e infra-estrutura para a prática de atividades” (PCNs, Brasil, MEC)

O corpo como objeto de estudo e análise

“O corpo é compreendido como um organismo integrado e não como um amontoado de ‘partes’ e ‘aparelhos’, como um corpo vivo, que interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo, etc. Para se conhecer o corpo abordam-se os conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos que capacitam a análise crítica dos programas de atividade física e o estabelecimento de critérios para julgamento, escolha e realização que regulem as próprias atividades corporais saudáveis, seja no trabalho ou no lazer. São tratados de maneira simplificada, abordando-se apenas os conhecimentos básicos.” (PCNs, Brasil, MEC)

Razões pragmáticas e formalistas do desempenho (“performance”) corporal no trabalho e no lazer

“Entre essas possibilidades e necessidades podem-se incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de espaço; motivos econômicos, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura; motivos de saúde, pelas práticas compensatórias e profiláticas. Podem-se incluir, ainda, motivos religiosos, no que se referem aos rituais e festas; motivos artísticos, ligados à construção e à expressão de idéias e sentimentos; e por motivações lúdicas, relacionadas ao lazer e ao divertimento. Algumas práticas com motivos de caráter utilitário relacionam-se mais diretamente à realidade objetiva com suas exigências de sobrevivência, adaptação ao meio, produção de bens, resolução de problemas e, nesse sentido, são conceitualmente mais próximas do trabalho. Outras, com motivos de caráter eminentemente subjetivo e simbólico, são realizadas com fim em si mesmas, por prazer e divertimento. Estão mais próximas do lazer e da fantasia, embora suas origens, em muitos casos, estejam em práticas utilitárias. Por exemplo, a prática do remo, da caça e da pesca por lazer e não por sobrevivência, o caminhar como passeio e o correr como competição e não como forma de locomoção. Assim, às atividades desse segundo agrupamento pode-se atribuir o conceito de atividade lúdica, de certo modo diferenciada do trabalho.” (PCNs, Brasil, MEC)

Educação Física, meios de comunicação e possibilidades interdisciplinares

“No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, como os padrões de beleza e saúde, desempenho, competição exacerbada, que se tornaram dominantes na sociedade, e do seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social. A atuação dos meios de comunicação e da indústria do lazer em produzir, transmitir e impor esses valores, ao adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, torna imprescindível a atuação da Educação Física escolar. Esta deve fornecer informações políticas, históricas e sociais que possibilitem a análise crítica da violência, dos interesses políticos e econômicos, do doping, dos sorteios e loterias, entre outros aspectos. O vínculo direto que a indústria cultural e do lazer estabelece entre o acesso aos conhecimentos da cultura corporal de movimento e o consumo de produtos deve ser alvo de esclarecimento e reflexão.” (PCNs, Brasil, MEC)

“A prática de jogos, esportes, lutas, danças e ginásticas é considerada, no senso comum, como sinônimo de saúde. Essa relação direta de causa e efeito linear e incondicional é explorada e estimulada pela indústria cultural, do lazer e da saúde ao reforçar conceitos e cultivar valores, no mínimo questionáveis, de dieta, forma física e modelos de corpo ideais. Atrelada a essas premissas inevitavelmente carregadas de valores ideológicos e a interesses econômicos, a prática da atividade física é vinculada diretamente ao consumo de bens e de serviços (equipamentos, academias, espaços de lazer, complementos alimentares, prescrições de treinamento), citada como método infalível no combate ao uso abusivo de álcool, fumo e drogas, e como recurso de integração social do jovem e do adolescente” (PCNs, Brasil, MEC)

“Além disso, deve-se ressaltar que grande parte das informações conceituais disponíveis no ambiente sociocultural relativas às práticas da cultura corporal de movimento dizem respeito ao exercício profissional dessas atividades, com enfoques e valores muitas vezes contraditórios que contribuem para a construção tanto de uma imagem distorcida do exercício profissional de esportes, lutas, danças e ginástica, como numa referência equivocada para o cotidiano do cidadão comum. Considerando a força que a cultura de massa consegue imprimir na constituição/geração de modelos de comportamentos e atitudes, resultam dessas distorções, por exemplo no plano institucional, a manipulação demagógica de poderes públicos, na prestação de serviços de lazer e programas de atividade física, e o uso de instituições públicas de pesquisa na geração de tecnologia e conhecimento a serem utilizados pelo setor privado. No plano pessoal, da vida cotidiana do cidadão, abre-se um espaço que favorece os modismos, o consumismo exacerbado ou a impossibilidade de acesso, a anorexia entre adolescentes, a exclusão calcada em estereótipos e padrões corporais, no comércio clandestino de anabolizantes, entre outros. Nesse sentido, para além do suporte de informações de caráter científico e cultural, é responsabilidade da Educação Física escolar diversificar, desmistificar, contextualizar, e, principalmente, relativizar valores e conceitos da cultura corporal de movimento. Assim, o aprendizado das relações entre a prática de atividades corporais e a recuperação, manutenção e promoção da saúde deve incluir o sujeito e sua experiência pessoal ao considerar os benefícios, os riscos, as indicações e as contra-indicações das diferentes práticas da cultura corporal de movimento e as medidas de segurança no seu exercício. O cotidiano postural, o tipo de trabalho físico exercido, os hábitos de alimentação, sono, lazer e interação social, o histórico pessoal de relações com as atividades corporais constituem um sujeito real que deve ser considerado na formulação de qualquer programa de saúde que envolva atividade física” (PCNs, Brasil, MEC)

“Principalmente nas zonas urbanas, as atuais condições socioeconômicas, como o desemprego crescente, a informatização e automatização do trabalho, a urbanização descontrolada e o consumismo, favorecem a formação de um ambiente em que o cidadão convive com a poluição, a violência, a deterioração dos espaços públicos de lazer e a falta de tempo para a atividade física e convívio social. Esse contexto contribui para a geração de um estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, pelo estresse e pela alimentação inadequada, resultando num crescente aumento de mortes por doenças cardiovasculares. Essa situação, somada à falta de infra-estrutura pública para atividades corporais, transforma as horas diante da televisão em uma das poucas opções de lazer para a maioria da população, especialmente para crianças e adolescentes, o que leva à diminuição da atividade motora, ao abandono da cultura de jogos infantis e à substituição da experiência de praticar atividades pela de assistir passivamente às práticas da cultura corporal de movimento” (PCNs, Brasil, MEC)

“A cultura corporal de movimento se caracteriza, entre outras coisas, pela diversidade de práticas, manifestações e modalidades de cultivo. Trata-se de um espectro tão amplo e complexo, que é quase impossível sistematizá-lo conceitualmente de forma abrangente. De qualquer forma, é esse universo de informações que chega ao jovem e ao adolescente da mídia, de forma sedutora, fragmentada, manipulada por interesses econômicos e por valores ideológicos. Dessa realidade a Educação Física escolar não pode fugir nem alienar-se, pois é impossível negar a força que a indústria da cultura e do lazer exerce na geração de comportamentos e atitudes” (PCNs, Brasil, MEC)

Educação Física, cultura popular e resgate cultural

“Na escola, a Educação Física pode fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogos, lutas e danças produzidos na cultura popular, que por diversas razões correm o risco de ser esquecidos ou marginalizados pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práticas na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, criando espaços de exercício, registro, divulgação e desenvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar o espectro de conhecimentos sobre a cultura corporal de movimento. Dessa forma, a construção de brinquedos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, a inclusão de danças populares de forma sistemática - e não apenas eventual - nas festas e comemorações contribuem para a construção de efetivas opções de exercício de lazer cultural e para o diálogo entre a produção cultural da comunidade e da escola. A intensa veiculação pela mídia e o caráter quase universal de determinadas modalidades esportivas, como o futebol, o vôlei, o basquete, o boxe e o atletismo, permitem a apreciação e a comparação de estilos e maneiras de praticá-las, relacionando-as a diversos grupos sociais e culturais. No caso da dança, é possível questionar as distorções decorrentes da massificação, da banalização e do caráter competitivo impostos pela indústria do lazer e do turismo, em manifestações como o samba e a capoeira, por exemplo” (PCNs, Brasil, MEC)

Educação Física, ecologia e sustentabilidade

“Na sociedade contemporânea assiste-se ao cultivo de atividades corporais praticadas em ambientes abertos e próximos da natureza. São exemplos dessa valorização o surfe, o alpinismo, o bicecross, o jet-ski, entre os esportes radicais; e o montanhismo, as caminhadas, o mergulho e a exploração de cavernas, entre as atividades de lazer ecológico. Se por um lado é possível perceber nessas práticas uma busca de proximidade com o ambiente natural, também é necessário estar atento para as conseqüências da poluição sonora, visual e ambiental que essas atividades podem causar. As características básicas de algumas dessas modalidades, como o individualismo, a busca da emoção violenta (adrenalina), a necessidade de equipamentos sofisticados e caros, devem ser discutidas e compreendidas no contexto da indústria do lazer. Ou seja, é ingênuo pensar que apenas a prática de atividades junto à natureza, por si só, é suficiente para a compreensão das questões ambientais emergentes. Embora possa existir, entre os adeptos dessas modalidades, o envolvimento com as questões ambientais, o que determinará o nível reflexivo sobre uma ou outra questão ambiental é a reflexão crítica e atenta realizada pelos praticantes de cada atividade.” (PCNs, Brasil, MEC)

Educação Física como interlocutora entre a escola e o restante da sociedade

“No entanto, a Educação Física e a escola de maneira geral não precisam confinar-se em seus muros. O diálogo permanente com a comunidade próxima pode ser cultivado franqueando espaço para o desenvolvimento de produções relativas ao lazer, à expressão e à promoção da saúde, assim como ultrapassando os muros escolares na busca de informações e produções desta natureza. A escola pode buscar na comunidade pessoas e instituições que dominem conhecimentos relativos a práticas da cultura corporal e trazê-las para o seu interior. Academias de capoeira, escolas de samba, grupos de danças populares, sindicatos e associações de classe que cultivem práticas esportivas são freqüentados pelos próprios alunos e podem estabelecer um diálogo permanente com a instituição escolar” (PCNs, Brasil, MEC)

Educação Física, currículo e multiculturalismo

“O currículo escolar não pode ser considerado algo dado, natural, como se sempre existisse da mesma forma. Currículo escolar é sempre fruto de escolha e de silenciamentos, ou seja, fruto de uma intenção. É impossível a qualquer escola dar conta da totalidade dos conhecimentos e dos saberes construídos pela humanidade.
O tratamento de qualquer saber na escola é um processo de seleção cultural, de um recorte de quais aspectos da cultura trataremos junto com os alunos, o que vai ser explicitado ou não nos nossos processos de formação. Esse processo de escolha/seleção nunca foi simples. É intencional e político e, como tal, é sempre resultado de conflitos e lutas de poder realizados pelos atores dentro e fora da escola. Longe de um simples consenso, currículo é campo de luta: luta por quais saberes, valores e formas de socialização farão parte da vida dos alunos.
Um exemplo emblemático dessas escolhas e desses silenciamentos ocorre no campo das relações étnico e raciais. A forma de tratar ou de ocultar temas como a escravatura, o racismo e as desigualdades que ainda persistem nas relações étnicos e raciais espelha o posicionamento político que a escola tem dessas questões.
No caso específico da Educação Física, não são poucos os casos de um currículo escolar que privilegie apenas as práticas corporais de origem européia ou norte-americana, notadamente os esportes. Ao escolher abordar ou não práticas corporais oriundas da cultura afro-brasileira (como a capoeira, os maracatus, etc.), bem como a forma como elas aparecem na escola, aponta-se para um conjunto de escolhas curriculares e políticas de como essas relações são tratadas no meio escolar.
As escolhas/seleções das culturas feitas pelo currículo (sempre político) afetam diretamente a todos na escola das mais diferentes formas. Cultura aqui entendida como as práticas em seu aspecto aparente, visível, mas também como sendo o conjunto de significados atribuídos a essas práticas. Dessa forma, tão importante quanto a decisão de se ensinar ou não um determinado esporte, dança, jogo, etc. é pensar que sentidos e significados são atribuídos a esse esporte, dança ou jogo pelos alunos nas aulas de Educação Física. Que significados culturais estão presentes em um jogo de futebol? Em um jogo de bocha? Em uma brincadeira de roda? Em uma dança de rua? O tratamento pedagógico dado a essas e a outras questões da cultura se reflete diretamente nas possibilidades de formação dos alunos e dos professores.” (Orientações Curriculares do Ensino Médio, Brasil, MEC)

            Abaixo, um resumo das responsabilidades atribuídas à Educação Física pelos PCNs e pelas Orientações Educacionais do Ensino Médio, publicados pelo MEC:

·        garantir o direito de todos os alunos, sem exceção, terem acesso aos conhecimentos produzidos culturalmente e que se manifestam nas diferentes práticas corporais;
·        possibilitar a compreensão dos alunos quanto à natureza social e cultural dessas práticas;
·        problematizar a construção cultural das práticas corporais, bem como o questionamento dos valores e dos padrões usualmente a elas vinculados;
·        situar os alunos como sujeitos produtores de cultura, viabilizando condições para que se apropriem dessas práticas, vivenciando-as e recriando-as tanto na forma como nos sentidos e valores a elas atribuídos, com base em seus próprios interesses;
·        propiciar condições para que o aluno compreenda que brincadeira e jogo, entendidos como direitos sociais, refletem a produção de saberes e conhecimentos;
·        garantir a participação irrestrita de todos em todas as práticas possíveis, independentemente de suas qualificações prévias ou aptidões físicas e desportivas;
·        desmitificar o discurso acerca da virilidade masculina e da fragilidade feminina quanto às capacidades e habilidades físicas, proporcionando aos grupos vivências corporais e debates sobre valores morais e étnicos de cunho sexista;
·        superar na relação pedagógica a idéia de que as diferenças entre homens e mulheres são apenas biológicas. Os corpos feminino e masculino, assim como a subjetividade de homens e mulheres, constituem-se a partir de relações sociais, construídas ao longo da história;
·        desmitificar o discurso da ascensão sócio-econômica fácil, que acaba afastando muitos jovens da escola e da cultura juvenil em direção ao fascínio que o mundo do espetáculo da competição exerce por meio da mídia;
·        desmitificar o discurso do combate à marginalização social por meio da Educação Física, questionando a idéia de que o exercício de práticas corporais sistematizadas, controladas por professores e instituição escolar, é um antídoto para grandes males que assolam a sociedade moderna, tais como: consumo de drogas, criminalidade urbana, gravidez precoce, entre outros. As práticas corporais precisam ser tratadas como direito social de vivência e produção de cultura, e não como “prêmio”, “castigo” ou “remédio” para “corrigir” os jovens das camadas populares;
·        valorizar outras práticas corporais oriundas dos diversos grupos étnicos que constituem a sociedade brasileira.

Portanto, em linhas gerais, são deveres fundamentais da disciplina de Educação Física no Ensino Médio segundo as Orientações Curriculares divulgadas pelo MEC em relação à formação dos alunos:

  • formação cultural no que tange a oportunidade de vivência das práticas corporais;
  • participação efetiva no mundo do trabalho no que se refere à compreensão do papel do corpo no mundo da produção, no que remete ao controle sobre o próprio esforço e do direito ao repouso e ao lazer;
  • iniciativa pessoal nas articulações coletivas relativas às práticas corporais comunitárias;
  • iniciativa pessoal para criar, planejar ou buscar orientação para suas próprias práticas corporais;
  • intervenção política sobre as iniciativas públicas de esporte, lazer e organização da comunidade nas manifestações, vivência e na produção de cultura.

sábado, 10 de outubro de 2015

Códigos e Linguagens - Figuras de linguagem - lista de exercícios (com gabarito)

Opera10 – Figuras de linguagem
Lista de exercícios
Professor Estéfani Martins

1 - Opera10
O humor do primeiro quadro da tira acima centra-se em qual das figuras de linguagem abaixo:
a)    Ironia.
b)    Eufemismo.
c)    Catacrese.
d)    Prosopopeia.
e)    Sinestesia.

2 - PUC-SP (Modificada)
Considere os seguintes trechos de “A Hora da Estrela”:

“Embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura bíblica. Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim.”

“Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que a tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra.”

Neles predominam, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) inversão e hipérbole.
b) pleonasmo e oxímoro.
c) metáfora e paradoxo.
d) metonímia e metáfora.
e) eufemismo e antítese.

3 - Opera10
Os desastres de Sofia

Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
- Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastrosamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. (...) (Clarice Lispector)

Há na expressão “...um homem forte de ombros tão curvos.” uma figura de linguagem. Marque a alternativa correta a esse respeito.
a)    Oxímoro
b)    Antítese
c)    Catacrese
d)    Anáfora
e)    Anacoluto

4 - Opera10
Leia atentamente o aforismo abaixo:

O texto acima foi construído tento como base um tipo de figura de linguagem que é central na estratégia argumentativa usada no texto acima, marque a alternativa correta:
a)    Antítese
b)    Paradoxo
c)    Prosopopeia
d)    Metáfora
e)    Metonímia

5 – Opera10
Qual a figura de linguagem que é o principal elemento construtor do nome dessa importante banda da música brasileira da década de 1970.

 Fonte: http://www.reflection.com.br/brazil/a_cor_do_som/n_1980___transe_total.jpg

a)    Sinestesia
b)    Anáfora
c)    Paradoxo
d)    Anacoluto
e)    Silepse

6 – Opera10
A capa de uma das edições do livro “A revolução dos bichos” de George Orwell reflete uma dos principais aspectos da trama do livro que foi fundada numa figura de linguagem. Marque a alternativa correta a respeito disso:


a)    Epígrafe
b)    Epílogo
c)    Prosopopeia
d)    Símile
e)    Sinédoque

7 – Opera10
Sobre a teoria das figuras de linguagem, marque a alternativa correta.
a) A expressão “Mulheres, como viver sem elas?” é um exemplo de anacoluto.
b)  A expressão “Ela trabalha, ela estuda, ela é mãe, ela é pai, ela é tudo!” é um caso de antonomásia.
c)  A expressão “Ela queimou o céu da boca.” é um exemplo de metáfora.
d) A expressão “Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.” é um exemplo de antítese.
e)  A expressão “A vida ensinou-me tudo que sei.” é um caso de hipérbato.

8 – FGV
Leia atentamente o texto e responda à questão que a ele se refere.

O Mundo das Não-palavras

Já o disseram muitos, e de várias maneiras, que os problemas do conhecer e do compreender centralizam-se em torno da relação entre a linguagem e a realidade, entre o  símbolo e o fato. Estas marcas de tinta sobre as quais correm nossos olhos, essas marcas de tinta  que concordamos em chamar palavras, e estas palavras que concordamos em aceitar como “moeda legal” para a troca de informações, por que mágica, por que regras prosaicas, exercem elas suas estranhas funções? Se olharmos demoradamente para uma palavra, ela se converterá, de fato, para nós em meras marcas de tinta dentro de um padrão peculiar de linhas. A princípio, parece escrita corretamente, depois já não podemos ter certeza disso, e finalmente somos  dominados pela impressão de que o simples cogitar de sua grafia é penetrar nos mais  intrincados labirintos da Humanidade.
Está claro que, se olharmos reflexivamente para qualquer coisa por um espaço de tempo suficientemente longo, como um bezerro olha para uma porteira nova, ela tende a aparecer afinal como se fosse totalmente inexplicável. Um grande filósofo observou, de uma feita, que a mais estranha invenção em toda a História era essa cobertura peculiar para o pé humano que nós denominamos meia. Ele estivera olhando para uma delas durante vários minutos. Há momentos, contudo, em que parece impossível que qualquer outra invenção humana pudesse ser mais surpreendente e estranha do que uma palavra - a palavra meia, por exemplo.
(Wendell Johnson, tradução de Octavio Mendes Cajado.)

No texto, encontra-se o seguinte trecho sublinhado: Já o disseram muitos, e de várias maneiras, que os problemas (...).  Nesse trecho, ocorre a seguinte figura:
a) Personificação.
b) Pleonasmo.
c) Hipérbole.
d) Silepse.
e) Ironia.

9 - Unifor
O cronista trabalha com um instrumento de grande divulgação, influência e prestígio, que é a palavra impressa. Um jornal, por menos que seja, é um veículo de idéias que são lidas, meditadas e observadas por uma determinada corrente de pensamento formada à sua volta.
Um jornal é um pouco como um organismo humano. Se o editorial é o cérebro; os tópicos e notícias, as artérias e veias; as reportagens, os pulmões; o artigo de fundo, o fígado; e as seções, o aparelho digestivo - a crônica é o seu coração. A crônica é matéria tácita de leitura, que desafoga o leitor da tensão do jornal e lhe estimula um pouco a função do sonho e uma certa disponibilidade dentro de um cotidiano quase sempre “muito tido, muito visto, muito conhecido”, como diria o poeta Rimbaud.
Daí a seriedade do ofício do cronista e a freqüência com que ele, sob a pressão de sua tirania diária, aplica-lhe balões de oxigênio. Os melhores cronistas do mundo, que foram os do século XVIII, na Inglaterra - os chamados essayists - praticaram o essay, isto de onde viria a sair a crônica moderna, com um zelo artesanal tão proficiente quanto o de um bom carpinteiro ou relojoeiro. Libertados da noção exclusivamente moral do primitivo essay, os oitocentistas ingleses deram à crônica suas primeiras lições de liberdade, casualidade e lirismo, sem perda do valor formal e da objetividade. Addison, Steele, Goldsmith e sobretudo Hazlitt e Lamb - estes os dois maiores, - fizeram da crônica, como um bom mestre carpinteiro o faria com uma cadeira, um objeto leve mas sólido, sentável por pessoas gordas ou magras. (...)
Num mundo doente a lutar pela saúde, o cronista não se pode comprazer em ser também ele um doente; em cair na vaguidão dos neurastenizados pelo sofrimento físico; na falta de segurança e objetividade dos enfraquecidos por excessos de cama e carência de exercícios. Sua obrigação é ser leve, nunca vago; íntimo, nunca intimista; claro e preciso, nunca pessimista. Sua crônica é um copo d’água em que todos bebem, e a água há de ser fresca, limpa, luminosa, para satisfação real dos que nela matam a sede.
(Vinicius de Moraes. Poesia Completa e Prosa. Aguilar, 1974, p. 591-2)

Há no 2o parágrafo do texto preferência pelo emprego de
a) ironia.
b) antítese.
c) eufemismo.
d) metáfora.
e) hipérbole.

10 – Ufscar
O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras.
(Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima.)

A metáfora do xadrez é explicada, no texto, com a seguinte figura de linguagem:
a) hipérbole.
b) antítese.
c) repetição.
d) rima.
e) metonímia.

11 – Fuvest
O filme Cazuza - O tempo não pára me deixou numa espécie de felicidade pensativa. Tento explicar por quê.
Cazuza mordeu a vida com todos os dentes. A doença e a morte parecem ter-se vingado de sua paixão exagerada de viver. É impossível sair da sala de cinema sem se perguntar mais uma vez: o que vale mais, a preservação de nossas forças, que garantiria uma vida mais longa, ou a livre procura da máxima intensidade e variedade de experiências?
Digo que a pergunta se apresenta “mais uma vez” porque a questão é hoje trivial e, ao mesmo tempo, persecutória. (...) Obedecemos a uma proliferação de regras que são ditadas pelos progressos da prevenção. Ninguém imagina que comer banha, fumar, tomar pinga, transar sem camisinha e combinar, sei lá, nitratos com Viagra seja uma boa ideia. De fato não é. À primeira vista, parece lógico que concordemos sem hesitação sobre o seguinte: não há ou não deveria haver prazeres que valham um risco de vida ou, simplesmente, que valham o risco de encurtar a vida. De que adiantaria um prazer que, por assim dizer, cortasse o galho sobre o qual estou sentado?
Os jovens têm uma razão básica para desconfiar de uma moral prudente e um pouco avara que sugere que escolhamos sempre os tempos suplementares. É que a morte lhes parece distante, uma coisa com a qual a gente se preocupará mais tarde, muito mais tarde. Mas sua vontade de caminhar na corda bamba e sem rede não é apenas a inconsciência de quem pode esquecer que “o tempo não pára”. É também (e talvez sobretudo) um questionamento que nos desafia: para disciplinar a experiência, será que temos outras razões que não sejam só a decisão de durar um pouco mais?
(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo)

As opções de vida que se caracterizam pela “preservação de nossas forças” e pela “procura da máxima intensidade e variedade de experiências” estão metaforizadas no texto, respectivamente, pelas expressões:
a) “regras” e “moral prudente”.
b) “galho” e “corda bamba”.
c) “dentes” e “rede”.
d) “prazeres” e “progressos da prevenção”.
e) “risco de vida” e “tempos suplementares”.

12 - Fuvest
“Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou--lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: - Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: - Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia”.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

Consideradas no contexto em que ocorrem, constituem um caso de antítese as expressões:
a) “disse-lhe alguma graça” - “pisou-lhe o pé”.
b) “acercaram-se” - “amaram-se”.
c) “os dedos nos tachos” - “os olhos na costura”.
d) “logo desesperada” - “amanhã resignada”.
e) “na lama” - “no hospital”.

13 – Unifesp
Maria Bofetão
A surra que Maria Clara aplicou na vilã Laura levantou a audiência da novela Celebridade.
Na segunda-feira passada, 28 tabefes bem aplicados pela heroína Maria Clara (Malu Mader) derrubaram a ignóbil Laura (Cláudia Abreu) e levantaram a audiência de Celebridade, a novela das 8 da Globo. (…)
Tanto a mocinha quanto a vilã ganharam nova dimensão nos últimos tempos. Maria Clara, depois de perder sua fortuna, deixou de ser apenas uma patricinha magnânima e insossa, a aborrecida Maria Chata. Ela ganhou fibra e mostrou que não tem sangue de barata. Quanto a Laura, ficou claro que sua maldade tem proporções oceânicas: continuou com suas perfídias mesmo depois de conquistar a fama e o dinheiro que almejava. Por tripudiar tanto assim sobre a inimiga, atraiu o ódio dos noveleiros.
(Veja, 05.05.2004.)

Em “Quanto a Laura, ficou claro que sua maldade tem proporções oceânicas”, a figura de linguagem presente é
a) uma metáfora, já que compara a maldade com o oceano.
b) uma hipérbole, pois expressa a idéia de uma maldade exagerada.
c) um eufemismo, já que não afirma diretamente o quanto há de maldade.
d) uma ironia, pois se reconhece a maldade, mas ficam pressupostos outros sentidos.
e) um pleonasmo, já que entre maldade e oceânicas há uma repetição de sentido.

14 – Mack
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.

Encontra-se no texto figura de linguagem típica do estilo seiscentista. Trata-se de:
a) metáfora, presente em o roubar com muito, os Alexandres.
b) hipérbato, presente em porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim.
c) antítese, presente em O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza.
d) hipérbole, presente em repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício.
e) sinestesias, presente em o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.

15 – Mack
O martelo

As rodas rangem na curva dos trilhos
Inexoravelmente.
Mas eu salvei do meu naufrágio
Os elementos mais cotidianos.
O meu quarto resume o passado em todas as casas que habitei.
Dentro da noite
No cerne duro da cidade
Me sinto protegido.

Do jardim do convento
Vem o pio da coruja.
Doce como um arrulho de pomba.
Sei que amanhã quando acordar
Ouvirei o martelo do ferreiro
Bater corajoso o seu cântico de certezas.
(Manuel Bandeira)

Assinale a afirmação correta.
a) Em “Ouvirei o martelo do ferreiro/Bater” tem-se uma metonímia.
b) A primeira estrofe particulariza a ideia geral da segunda estrofe.
c) “Ouvirei o martelo do ferreiro” denota circunstância de causa para o fato de acordar.
d) A conjunção “Mas”, que aparece na primeira estrofe, estabelece oposição entre “monotonia” e “intranquilidade”.
e) O verso “Os elementos mais cotidianos” remete às experiências mais simples, menos valorizadas pelo “eu” lírico.