Em 1958, João Gilberto, até então um violonista baiano pouco conhecido, lançou um disco fundamental para a música ocidental que seria o marco de um novo movimento estético na música brasileira: “Chega de Saudade”. Importante salientar que Elizeth Cardoso, Johnny Alf, entre outros já ensaiavam a estética “bossanovista” em espetáculos em boates cariocas ao longo da segunda metade da década de 1950, inclusive a grande Elizeth gravaria pouco mais um ano antes o disco monumental “Canção do amor demais”, com música e letra de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, além do violão do próprio João Gilberto.
O ritmo surgiu da união improvável de referências baseadas na música formal e erudita (Debussy, Ravel, etc.); no Jazz norte-americano; e em ritmos afro-brasileiros. Assim nasceu a Bossa Nova, que, além de mudar os rumos da música brasileira, contribuiu decisivamente para uma renovação da música instrumental em grande parte do mundo, além de ter sido uma referência importante de muitos astros do Jazz a partir de então.
Outro destaque desse movimento foi o caráter urbano, individualista e intimista das composições “bossanovistas”, além disso pode-se dizer que foi na e pela classe média, incentivada pelo clima de euforia propiciado pelo governo de Juscelino Kubitschek, que o ritmo foi construído. A Bossa Nova seria reconhecida a partir de então pelas harmonias elaboradas, pelo ritmo sincopado, pela poesia despretensiosa política e socialmente e pelo jeito inovador de tocar de seus violonistas e de cantar de seus intérpretes. Além disso, a influência desse movimento é sentida até a atualidade nos inúmeros grupos brasileiros e estrangeiros assumidamente influenciados por essa estética musical. Seguem alguns nomes fundamentais desse movimento: Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Dóris Monteiro, Nara Leão, João Bosco, Carlos Lyra, Toquinho, Sylvia Telles, Miúcha, Luís Bonfá, Roberto Menescal, João Donato, dentre muitos outros.
Para ler e ouvir:
Festivais de Música Popular Brasileira (“Era dos Festivais”)
Os Festivais, especialmente, os do final da década de 1960 foram responsáveis não só por dar espaço para novos compositores, intérpretes e tendências da música popular brasileira, como também foram responsáveis por definir o conceito de MPB largamente usado mais tarde. Dentre eles, os mais importantes foram os festivais da Record entre 1967 e 1969, ainda que várias redes de televisão como a Globo e a Excelsior tenham tidos os seus festivais de forma intermitente entre 1965 e 1985.
Além de reafirmar a diversidade estética da música brasileira e dar espaço para experimentações inéditas, a “Era dos Festivais” foi responsável por tornar notáveis jovens músicos como Tom Zé, Mutantes, Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Tony Tornado, entre outros. Foi também palco para exposição de muitas ideias estéticas e políticas que tornaram os festivais plataformas para de diversas opiniões durante o conturbado e controverso período posterior ao Golpe Militar de 1964.
Outro destaque desses eventos é a apaixonada e intensa participação do público que torcia fervorosamente por suas músicas e intérpretes favoritos, além da grande audiência que as transmissões televisivas alcançavam.
Para ler, ver e ouvir:
Tropicalismo
Movimento central na história da música popular brasileira. Iniciado formalmente com a gravação de um dos álbuns mais importantes da história da música mundial - “Tropicália ou Panis et Cirsensis” - porque resultado de criação coletiva inspirada e impulsionada pelo impacto estético e político que Caetano Veloso e Gilberto Gil causaram com suas apresentações no III Festival de Música Popular da Record no ano de 1967 somado a manifestações tradicionais da cultura brasileira como a Música Caipira, o Baião, etc.; a inovações estéticas radicais daquela época associadas a correntes artísticas de vanguarda da cultura nacional e estrangeira, como é o caso da obra de Hélio Oiticica; a influência musical da Bossa Nova; além da psicodelia oriunda do Rock e do movimento Hippie, absorvido por meio do disco “Sgt Pepper’s of Lonely Hearts Club Band” dos Beatles.
Cartaz - Hélio Oiticica
“Sgt Pepper’s of Lonely Hearts Club Band”, Beatles.
Antes de fins sociais e políticos, a Tropicália foi um movimento nitidamente estético e comportamental. Em maio de 1968, começaram as gravações do disco que seria o manifesto musical do movimento, do qual participaram artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé - além dos poetas Capinan e Torquato Neto e dos maestros Rogério Duprat, Damiano Cozzella e Júlio Medaglia (responsáveis pelos arranjos do disco “Tropicália ou Panis et Cirsensis”). Segundo o Dicionário Cravo Albin: “O movimento ressaltou, em sua estética, os contrastes da cultura brasileira, trabalhando com as dicotomias arcaico/moderno, nacional/estrangeiro e cultura de elite/cultura de massas. Absorveu vários gêneros musicais, como samba, bolero, frevo, música de vanguarda e o pop-rock nacional e internacional, e incorporou a utilização da guitarra elétrica. Estabeleceu uma interlocução com a poesia concreta paulista, tendo recebido apoio crítico de seus expoentes, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O histórico remonta a discussões estéticas mantidas entre Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Torquato Neto, Rogério Duarte e o empresário Guilherme Araújo, em que eram colocadas em pauta questões como a necessidade de universalização da música brasileira em um contexto marcado hegemonicamente pela preocupação nacionalista de rechaçar a influência estrangeira.”
“Tropicália ou Panis et Cirsensis”, vários artistas.
Para ler, ver e ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=I4ErAXqoS20
BBC: Brasil Brasil - Episódio 02 - Revolução Tropicalia (2007)
BBC: Brasil Brasil - Episódio 02 - Revolução Tropicalia (2007)
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