segunda-feira, 21 de julho de 2014

Atualidades - Coletânea 2014-23


Caras e caros,

Eis os textos desta semana. Semana muito triste pela perda de Rubem Alves e João Ubaldo Ribeiro, pelo massacre contra a Palestina que é injustificável sob qualquer perspectiva, pela continuação da guerra absurda na Síria, pelo recrudescimento da guerra no Iraque, pelo atento bárbaro contras o voo civil que sobrevoava a Ucrânia e pela insistente perseguição ao direito à manifestação popular por governantes brasileiros. De fato esta foi uma semana para se lembrar, pois só com as palavras de grandes humanistas como Rubem Alves e João Ubaldo e com o conhecimento lúcido e equilibrado sobre a situação de tantos que sofrem pelo mundo, podemos talvez mudar algo na forma como nos comportamos dentro de nossa comunidade, o que já terá sido alguma coisa.









Fonte: Vivian Maier, enfermeira e fotógrafa norte-americana, capturou com delicadeza a decadência, os desprezados e a vida urbana estadunidense nas décadas de 1950 e 1960.

Legenda: Aachen, Hans von (1552-1615) pintor alemão (Maneirismo) - 1602 - óleo sobre tela - Alegoria da paz, arte e abundância.

"O maneirismo é empregado pela crítica moderna para designar a produção artística, especialmente a italiana, que tem lugar entre 1520 e 1600, isto é, entre o fim do Alto Renascimento e o início do barroco. A recuperação da noção como categoria histórica, referida a um estilo específico - que se observa no período entre guerras, sobretudo na década de 1920 - não deve obscurecer sua trajetória tortuosa, marcada por imprecisões e por uma série de conotações negativas. O termo é popularizado por Giorgio Vasari (1511 - 1574) - ele próprio um artista do período - que fala em maniera como sinônimo de graça, leveza e sofisticação. Nos escritos posteriores de Giovanni Pietro Bellori (1613 - 1696) e de Luigi Lanzi (1732 - 1810), a noção aparece ligada à elegância artificial e à virtuosidade excessiva. Essa chave crítica de leitura, que reverbera em diversos estudos posteriores, associa maneirismo à decadência em relação à perfeição clássica representada pelas obras de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e Rafael (1483 - 1520). De acordo com essa linhagem crítica, maneirismo aparece como imitação superficial e distorcida dos grandes mestres do período anterior, como abandono do equilíbrio, da proporção e racionalidade cultivados pelo classicismo. "Vácuo entre dois cumes", "momento de cansaço e inércia que seguiu fatalmente, quase por reação ao esplêndido apogeu das artes na primeira metade do século XVI", ou "fase de crise", a história do maneirismo, indica o crítico Giulio Carlo Argan, é inseparável das avaliações negativas que rondam a noção.
Despida do sentido pejorativo a ela atribuído pela crítica até o início do século XX, a arte maneirista passa a ser pensada como um desdobramento crítico do Renascimento. O corte com os modelos clássicos se observa, entre outros, pelo rompimento com a perspectiva e com a proporcionalidade; pelo descarte da regularidade e da harmonia; pela distorção das figuras; pela ênfase na subjetividade e nos efeitos emocionais; pelo deslocamento do tema central da composição. Criada nos ambientes palacianos para um público aristocrático, a arte maneirista cultiva o estilo e a elegância formais, a beleza, a graça e os aspectos ornamentais. Aspectos maneiristas podem ser encontrados tanto na fase florentina de Michelangelo, quanto no período tardio da produção de Rafael, indicam alguns comentadores, o que leva a pensar essa produção como um desdobramento de certos problemas postos pela arte renascentista. À primeira geração maneirista ligam-se os nomes de Pontormo (1494  - 1557) e Fiorentino Rosso (1494 - 1540), em Florença; o de Domenico Beccafumi (1486 - 1551) em Siena; e o de Parmigianino (1503 - 1540), no norte da Itália. Os murais realizados por Pontormo em Certosa di Val d'Ema, 1522 e 1523 são emblemáticos das opções maneiristas. Neles não se nota nenhum recurso à perspectiva. As figuras, de proporções alongadas e modo antinatural, encontram-se dissolvidas na composição, cujo movimento é obtido pelos contrastes acentuados.
A falta de harmonia vem acompanhada por forte intensidade espiritual e expressão emocional, o que leva Erwin Panofsky (1892 - 1968) a localizar neles uma influência de certas obras de Albrecht Dürer (1471 - 1528). Procedimentos e influências semelhantes podem ser observados em trabalhos de Beccafumi, como Descent of Christ into Limbo, de 1528. Uma segunda fase do maneirismo aparece associada a trabalhos de Vasari (Allegory of the Immaculate Conception) - em que se notam influências de Michelangelo - e a obras de Agnolo Bronzino (1503-1572), como Descent into Limbo, 1552. Este trabalho, que comenta o anterior de Beccafumi, conhece nova sistematização: mais firmeza dos contornos e ênfase acentuada nos aspectos plásticos da composição. Longe da harmonia clássica, a segunda fase maneirista, nos termos de Panofsky, expõe tensões - por exemplo, as derivadas do jogo entre realidade e imaginação - que são exploradas em seguida pelo barroco.
Fora da Itália, o maneirismo é associado à obra de El Greco (1541 - 1614), célebre pelas figuras alongadas pintadas com cores frias que, em sua fase italiana, absorve as inspirações visionárias da obra de Jacopo Tintoretto (1519 - 1594). Os artistas franceses ligados à Escola de Fontainebleau conhecem o estilo maneirista por Rosso, que trabalha na decoração da Grande Galeria Real do Palácio de Fontainebleau, entre 1531 e 1540. Nos Países Baixos, o maneirismo se desenvolve principalmente por meio das obras de Bartholomaeus Spranger (1546 - 1611) e Hans von Aachen (1552 - 1615). No campo da arquitetura, o maneirismo conhece a adesão de Giulio Romano (ca.1499 - 1546), autor da decoração do Palazzo del Tè, iniciado em 1526, na corte de Federico Gonzaga, Mântua, e de Andrea Palladio (1508 - 1580), responsável por diversos projetos, entre os quais, a Igreja de San Giorgio Maggiori, em Veneza, iniciada em 1566, e o Teatro Olímpico em Vicenza, começado em 1580."


Abraços,

Professor Estéfani Martins

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