Fábula é uma narrativa
curta protagonizada geralmente por animais que foram humanizados, já que
interagem e comunicam-se de forma assemelhada aos seres humanos. Geralmente,
contém uma "moral" implícita ou explícita, que tem caráter
pedagógico, no sentido de que ambiciona incutir, em particular nas crianças,
determinados ensinamentos e regras. Além disso, os animais humanizados assumem
com frequência algum arquétipo associado a uma característica, personalidade ou
estereótipo humano. Dentre os escritores que se notabilizaram estão Ésopo, La
Fontaine, Monteiro Lobato, etc. George Orwell também fez-se famoso por causa de
obras como “Revolução dos bichos”, em que animais assumem papeis típicos de um
regime autocrático em uma fazenda, contudo é uma narrativa voltada a adultos,
mas ainda assim uma fábula.
Exemplo 01.
O Rei dos Animais
Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda
era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso
alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de
respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar.
Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se
é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal.
Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando
ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco
e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O
Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando
respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta:
"Claro que é você, Leão, claro que é você!".
Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio:
"Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta,
não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas
apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão?
Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?".
Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas
afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja,
não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas
disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais
alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor - eu
sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não
responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo
contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido,
quando o leão se afastou.
Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o
elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei,
Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro
da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar,
atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão
caiu no chão, tonto e ensanguentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou:
"Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão
zangado".
Moral: cada um tira dos acontecimentos a conclusão que bem entende. (Millôr
Fernandes)
Exemplo 02.
A cigarra e as
formigas
Num belo dia de inverno as formigas estavam
tendo o maior trabalho para secar suas reservas de trigo. Depois de uma
chuvarada, os grãos tinham ficado completamente molhados. De repente aparece
uma cigarra:
“Por favor, formiguinhas, me deem um pouco
de trigo! Estou com uma fome danada, acho que vou morrer.”
As formigas pararam de trabalhar, coisa que
era contra os princípios delas, e perguntaram:
“Mas por quê? O que você fez durante o
verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?”
“Para falar a verdade, não tive tempo”,
respondeu a cigarra. “Passei o verão cantando!”
“Bom... Se você passou o verão cantando, que
tal passar o inverno dançando”, disseram as formigas, e voltaram para o
trabalho dando risada.
Moral: Os preguiçosos colhem o que merecem. (Esopo)
Exemplo 03.
A cigarra e a
formiga má
Já houve entretanto, uma formiga má que não
soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta. Foi isso na
Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com o seu cruel manto
de gelo. A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro, e
o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se, nem
folhinhas que comesse. Desesperada, bateu à porta da formiga e implorou -
emprestado, notem! - uns miseráveis restos de comida. Pagaria com juros altos
aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse. Mas a formiga era
uma usuária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar,
tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.
- Que fazia você durante o bom tempo?
- Eu... eu cantava!...
- Cantava? Pois dance agora... - e
fechou-lhe a porta no nariz.
Resultado: a cigarra ali morreu estanguidinha; e quando voltou a
primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. Ë que faltava na música
do mundo o som estridente daquela cigarra morta por causa da avareza da
formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pela falta dela?
Os artistas - poetas, pintores e músicos - são as cigarras da
humanidade. (Monteiro Lobato)
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