Diário é um tipo de texto geralmente de
caráter íntimo em que seu autor narra cronologicamente fatos ou acontecimentos
do cotidiano, opiniões sobre os mais variados assuntos, impressões acerca de si
mesmo ou do outro, confissões, meditações, etc. Pode ainda ser uma espécie de
registro de bordo de embarcações e aeronaves em que se anotam todos os
acontecimentos e fatos que concernem ao veículo ou mesmo à sua tripulação.
Outros usos desse gênero discursivo fazem os cientistas e pesquisadores que vão
a campo ou ao laboratório e, em um diário, anotam tudo importante e relevante
para as pesquisas nas quais estão envolvidos ou que ambicionam estar. Normalmente,
contém todas as características fundamentais do gênero narrativo e as entradas
de informação são organizadas por data. Seguem exemplos de trechos de diários
famosos como o de Anne Frank e de Charles Darwin:
Clique
abaixo para ler os trechos de diário.
Texto 01.
“12 de
junho de 1942
Espero poder contar tudo a você, como nunca pude
contar a ninguém, e espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda.
Comentário
acrescentado por Anne em 28 de setembro de 1942
Até agora você tem sido um grande apoio para mim,
como também tem sido Kitty, para quem tenho escrito com regularidade. Esse modo
de manter um diário é bem melhor, e agora mal posso esperar os momentos de
escrever em você. Ah, estou tão feliz por ter você comigo!
Domingo,
14 de junho de 1942
Vou começar a partir do momento em que ganhei você,
quando o vi na mesa, no meio dos meus outros presentes de aniversário. (Eu
estava junto quando você foi comprado, e com isso eu não contava.)
Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas,
o que não é de espantar; afinal, era meu aniversário. Mas não me deixam
levantar a essa hora; por isso, tive de controlar minha curiosidade até quinze
para as sete. Quando não dava mais para esperar, fui até a sala de jantar, onde
Moortje (a gata) me deu as boas-vindas, esfregando-se em minhas pernas.
Pouco depois das sete horas, fui ver papai e mamãe
e, depois, fui à sala abrir meus presentes, e você foi o primeiro que vi,
talvez um dos meus melhores presentes. Depois, em cima da mesa, havia um buquê
de rosas, algumas peônias e um vaso de planta. De papai e mamãe ganhei uma
blusa azul, um jogo, uma garrafa de suco de uva, que, na minha cabeça, deve ter
gosto parecido com o do vinho (afinal de contas, o vinho é feito de uvas), um
quebra-cabeça, um pote de creme para o corpo, 2,50 florins e um vale para dois
livros. Também ganhei outro livro, Camera obscura (mas Margot já tem, por isso
troquei o meu por outro), um prato de biscoitos caseiros (feitos por mim,
claro, já que me tornei especialista em biscoitos), montes de doces e uma torta
de morangos, de mamãe. E uma carta da vó, que chegou na hora certa, mas, claro,
isso foi só uma coincidência.
Depois, Hanneli veio me pegar, e fomos para a
escola. Na hora do recreio, distribuí biscoitos para os meus colegas e
professores e, logo depois, estava na hora de voltar aos estudos. Só cheguei em
casa às cinco horas, pois fui à ginástica com o resto da turma. (Não me deixam
participar, porque meus ombros e meus quadris tendem a se deslocar.) Como era
meu aniversário, pude decidir o que meus colegas jogariam, e escolhi vôlei.
Depois, todos fizeram uma roda em volta de mim, dançaram e cantaram
"Parabéns pra você". Quando cheguei em casa, Sanne Ledermann já
estava lá. Ilse Wagner, Hanneli Goslar e Jacqueline van Maarsen vieram comigo
depois da ginástica, pois somos da mesma turma. Hanneli e Sanne eram minhas
melhores amigas. As pessoas que nos viam juntas costumavam dizer: "Lá vão
Anne, Hanne e Sanne." Só fui conhecer Jacqueline van Maarsen quando
comecei a estudar no Liceu Israelita, e agora ela é minha melhor amiga. Ilse é
a melhor amiga de Hanneli, e Sanne é de outra escola e tem amigos lá.
Elas me deram um livro lindo, Nederlandse Sagen en
Legenden [Dutch Sagas and Legends], mas por engano deram o volume II, por isso
troquei dois outros livros pelo volume I. Tia Helene me trouxe um
quebra-cabeça, tia Stephanie, um broche encantador, e tia Leny, um livro
fantástico: Daisy’s bergvakantie [Daisy Goes to the Mountain].
Hoje de manhã, fiquei na banheira pensando em como
seria maravilhoso se eu tivesse um cachorro como Rin Tin Tin. Eu também iria
chamá-lo de Rin Tin Tin e o levaria para a escola; lá, ele poderia ficar na
sala do zelador ou perto dos bicicletários, quando o tempo estivesse bom.
Segunda-feira,
15 de junho de 1942
Minha festa de aniversário foi no domingo à tarde.
O filme de Rin Tin Tin fez o maior sucesso entre minhas colegas de escola.
Ganhei dois broches, um marcador de livros e dois livros.
Vou começar dizendo algumas coisas sobre minha
escola e minha turma, a começar pelos alunos.
Betty Bloemendaal parece meio pobre, e acho que
talvez ela seja. Ela mora numa rua que não é muito conhecida, no lado oeste de
Amsterdã, e nenhuma de nós sabe onde fica. Ela se dá muito bem na escola, mas é
porque estuda muito, e não porque seja inteligente. É muito quieta.
Jacqueline van Maarsen é, talvez, minha melhor
amiga, mas nunca tive uma amiga de verdade. No começo, achei que Jacque seria
uma, mas estava redondamente enganada.
D.Q.* é uma garota muito nervosa que sempre esquece
as coisas, de modo que os professores vivem passando dever de casa extra para
ela, como castigo. É muito gentil, especialmente com G.Z.
E.S. fala muito e não é engraçada. Vive mexendo no
cabelo da gente ou tocando em nossos botões quando pergunta alguma coisa. Dizem
que ela não me suporta, mas não ligo, porque também não gosto muito dela.
Henny Mets é uma garota legal, tem um jeito alegre,
só que fala em voz alta e parece mesmo uma criança quando estamos brincando no
pátio. Infelizmente, Henny tem uma amiga que se chama Beppy que é má influência
para ela, porque é suja e vulgar.
J.R. – eu poderia escrever um livro inteiro sobre
ela. J. é uma fofoqueira insuportável, sonsa, presunçosa e de duas caras, que
se acha muito adulta. Ela realmente enfeitiçou Jacque, e isso é uma vergonha.
J. se ofende à toa, chora pela menor coisa e, além disso tudo, é metida demais.
A Srta. J. é a dona da verdade. Ela é muito rica e tem um armário repleto de
vestidos maravilhosos, que são adultos demais para a sua idade. Ela se acha
linda, mas não é. J. e eu não nos suportamos.
Ilse Wagner é uma garota legal, tem um jeito
alegre, mas é afetada demais e consegue passar horas gemendo e reclamando de
alguma coisa. A Ilse gosta um bocado de mim. É muito inteligente, mas
preguiçosa.
Hanneli Goslar, ou Lies, como todos a chamam na
escola, é meio estranha. Costuma ser tímida – expansiva em casa, mas reservada
quando está perto de outras pessoas. Conta para a mãe tudo que a gente diz a ela.
Mas ela diz o que pensa, e ultimamente passei a admirá-la bastante.
Nannie van Praag-Sigaar é pequena, engraçada e
sensível. Acho que ela é ótima. É muito inteligente. Não há muito o que dizer
sobre Nannie.
Eefje de Jong é, em minha opinião, fantástica.
Apesar de só ter 12 anos, é a própria lady. Age como se eu fosse um bebê. Além
disso, é muito atenciosa, e eu gosto dela.
G.Z. é a garota mais bonita da turma. Tem um rosto
bonito, mas é meio burra. Acho que vão fazer ela repetir o ano, mas claro que
eu não lhe dei a notícia.
Comentário
acrescentado por Anne mais tarde
No fim das contas, para minha grande surpresa, G.Z.
não repetiu o ano.
E, sentada perto de G.Z., fica a última das 12
meninas: eu.
Há muito o que dizer sobre os garotos, ou talvez não
muito, pensando melhor.
Maurice Coster é um de meus muitos admiradores, mas
é uma tremenda peste.
Sallie Springer tem uma mente imunda, e todo mundo
fala que ele já fez de tudo. Mesmo assim, acho ele fantástico, porque é muito
engraçado.
Emiel Bonewit é admirador de G.Z., mas ela nem
liga. Ele é bem chato.
Rob Cohen também andou apaixonado por mim, mas não
aguento mais ele. É um patetinha antipático, falso, mentiroso e manhoso que se
acha simplesmente o máximo.
Max van de Velde é um camponês de Medemblik, mas um
cara legal, como diria Margot.
Herman Koopman também tem a mente suja, como Jopie
de Beer, que adora paquerar e é completamente louco pelas garotas.
Leo Blom é o melhor amigo de Jopie de Beer, mas foi
prejudicado por sua mente suja.
Albert de Mesquita veio da Escola Montessori e
pulou de ano. É inteligente de verdade.
Leo Slager veio da mesma escola, mas não é tão
inteligente. Ru Stoppelmon é um garoto baixinho e bobo, de Almelo, que foi
transferido para esta escola no meio do ano. C.N. faz tudo o que não deve.
Jacques Kocernoot senta atrás de nós, perto de C.,
e nós (G. e eu) morremos de rir.
Harry Schaap é o garoto mais decente de nossa
turma. Ele é legal.
Werner Joseph também é legal, mas as mudanças que
vêm acontecendo ultimamente fizeram ele ficar quieto demais, por isso parece
chato.
Sam Salomon é um daqueles caras valentões e
destrambelhados, um verdadeiro palhaço. (Admirador!)
Appie Riem é bem ortodoxo, mas também é um
pestinha.” (Trecho de “O Diário de Anne Frank”, de Anne Frank)
“A
floresta é abundante em belezas; entre elas, samambaias que, embora não muito
grandes, eram pela verde e brilhante folhagem e elegante curvatura de suas
folhas, muito dignas de admiração.”
“É fácil
especificar os objetos de admiração nesses cenários grandiosos, mas não é
possível oferecer uma ideia adequada das emoções que sentimos, entre
maravilhados, surpresos e com sublime devoção, capazes de elevar a mente.”
“Os
brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem somente uma
pequena quantia daquelas qualidades que dão dignidade à humanidade. Ignorantes,
covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-humorados enquanto isso
não lhes causar problemas.”
“O senhor
Earl viu um pedaço de um membro, que se arrancou com um aparelho de tortura, e
que não sem freqüência eles guardam em casa.”
“O
capitão Paget nos fez inúmeras visitas e é sempre muito divertido; ele mencionou
em presença de pessoas que teriam, caso pudessem, contradito suas informações,
alguns fatos sobre a escravidão tão revoltantes que, houvesse eu lido a
respeito delas na Inglaterra, teria atribuído ao zelo crédulo de gente
bem-intencionada. A extensão do comércio realizado; a ferocidade com que é
defendido; as respeitáveis (!) pessoas que estão envolvidas nele passam longe
de ser exageradas no que lemos.” (Charles Darwin, trechos
do “Diário do Beagle”)
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