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"Quando eu nasci
eu já dançava.”
(Mario de Andrade)
"A dança é uma expressão perpendicular de um desejo horizontal."
(George Bernard Shaw)
“A dança, por sua vez, também possui vinculações étnicas,
culturais e históricas, bem como relações de gênero a serem discutidas na
escola.”
(Orientações curriculares do Ensino Médio - MEC)
A dança foi uma forma de arte muito valorizada no Antigo Egito e na Grécia em função de suas implicações religiosas, já em outras sociedades teve uma função variada associada a tradições de fertilidade, cultos religiosos, entretenimento, espetáculo, etc. Caracteriza-se por movimentos corporais coreografados ou espontâneos e improvisados, quase sempre acompanhados de uma trilha musical que sugere a cadência, a intensidade e a expressividade dos movimentos em questão. Essa manifestação artística pode ainda ser vista como uma das muitas formas de organização da linguagem corporal.
A dança, como muitas artes, pode ser vista de formas muitos diferentes por distintas comunidades, por exemplo, como forma de entretenimento e socialização estritamente, como é o caso dos passos de dança em carnavais de rua como o de Olinda, ou como uma forma de transe coletivo motivado pelo movimento circular e ritmado de fiéis de algumas religiões, como é o caso do ritual associado a comunidades religiosas como o Santo Daime. Como expressão artística, a partir de uma ótica não pragmática, a dança admite escolas específicas que produzem formas diferentes de pensar os movimentos do corpo como forma de arte.
A dança, como muitas artes, pode ser vista de formas muitos diferentes por distintas comunidades, por exemplo, como forma de entretenimento e socialização estritamente, como é o caso dos passos de dança em carnavais de rua como o de Olinda, ou como uma forma de transe coletivo motivado pelo movimento circular e ritmado de fiéis de algumas religiões, como é o caso do ritual associado a comunidades religiosas como o Santo Daime. Como expressão artística, a partir de uma ótica não pragmática, a dança admite escolas específicas que produzem formas diferentes de pensar os movimentos do corpo como forma de arte.
Uma
breve história da dança
Há registros
confiáveis de que o homem dança há milhares de anos. Possivelmente, como forma
de afastar ou pedir a chuva, de conseguir resultados melhores para uma caçada
ou mesmo de adorar algum deus, enfim, como uma expressão associada a práticas
mágicas ou religiosas do homem daquele período. Nas cavernas de Lascaux, na
França, há pinturas rupestres que mostram nitidamente grupos de humanos em
situações que remetem a uma forma primitiva de dança. Como para esses povos
aparentemente o que se pintava nas paredes das cavernas era de crucial
importância como situações de caça, pode-se inferir que a dança ocupava posição
importante na vida dessas comunidades.
Isso ocorre provavelmente
desde as primeiras organizações sociais humanas razoavelmente complexas, quando
já era possível pensar na possibilidade de que o homem era capaz de produzir
simbologias abstratas, que fariam com que ele pudesse associar uma forma de
dança primitiva a maior possibilidade de que o inverno fosse menos rigoroso,
por exemplo.
A dança, por milhares
de anos e em muitos locais do planeta, foi uma possibilidade corporal exclusiva
de homens. Só nos séculos XIX e XX, que as mulheres emanciparam-se o bastante
para poderem participar ativamente de danças teatrais mais frequentemente. Em
danças folclóricas, nos séculos anteriores, já havia presença perceptível de
mulheres nessas expressões artísticas. Ainda hoje, em certas regiões da União
Soviética, existem danças matrimoniais em que as mulheres não tomam parte dos
movimentos corporais, a não ser como referencial para os homens dançarem em
torno delas, principalmente da noiva.
No Egito, a dança, em
função da influência opressora da religião na vida egípcia, tinha
características ritualísticas e sagradas apenas, já que a dança era executada
apenas em funerais, casamentos e em homenagem aos deuses, em especial Osíris,
deus da vegetação e da vida no além. Na Antiguidade Clássica, a importância da
religião continua a nortear o desenvolvimento da dança, pois os gregos
acreditavam no poder mágico e inebriante da dança, tanto que vários deuses eram
cultuados por meio dessa manifestação artística. Era uma prática normalmente
coletiva, assim como no coro das peças teatrais de então, nas quais era um
componente cênico muito importante. Em Roma, a dança entra em decadência, pois
os romanos apreciavam pouco essa forma de arte.
A história da dança como
forma artística, inscrita numa ideia mais formalista de arte, demonstra as
inúmeras mudanças pelas quais passou o entendimento da dança não só por parte
de seus criadores e dançarinos, mas também de seu público, que,
metaforicamente, passou a exigir cada vez mais em diferentes níveis dos
espetáculos de dança.
As danças populares e
folclóricas são um marco importante na história dessa arte, pois foi certamente
a partir de variantes rudimentares e antigas delas, repassadas pelo exemplo e
pela oralidade por milhares de anos, que a dança desenvolveu-se como forma
artística e como técnica corporal. Isso continuou a ocorrer ao longo da Idade
Média, quando formas mais técnicas de dança foram coibidas pela tradição
católica que entendia como profano e pagão movimentar-se como praticamente
qualquer dança exige. Entretanto, entre as camadas populares a dança desenvolveu-se
em grupos mambembes de teatro e circo e em festas camponesas. Nesse contexto,
era uma atividade artística grupal, com pouco ou nenhum espaço para a
valorização de manifestações individuais na dança.
Dança medieval
https://www.youtube.com/watch?v=A_NjwoPqhkY
Dança medieval
https://www.youtube.com/watch?v=A_NjwoPqhkY
O Balé Clássico começa a se desenvolver no Renascimento, baseado nos valores da burguesia
nascente, no preciosismo técnico, em estudos do movimento, nas narrativas
surreais e nos espaços idílicos que norteavam a coreografia. Assim, esboçou-se
uma forma de dança que seria conhecida pelo rigor, pela disciplina, pelos
movimentos coreografados e estilizados, pela complexidade da execução, etc. Foi
um contraponto à espontaneidade da dança na Idade Média e à temática religiosa
das danças no período pré-romano.
O termo balé, no
período renascentista “baletto”, que significava um conjunto rígido de passos,
ritmos e coreografias tornado moda na Itália que logo chegaria à França no
século XVI, por meio da Rainha Catarina de Médici, que incentiva a primeira
montagem conhecida de balé que inaugura a tradição de balé clássico que alcança
a atualidade, foi o “Ballet Comunique de la Reine” em 1581, que durou
aproximadamente 6 horas e foi apresentado para uma plateia de milhares de
pessoas.
No século seguinte,
que é considerado por muitos historiadores da dança como o século do balé, essa
forma erudita de dança deixou os salões da elite para tomar os palcos
definitivamente, o que determinou o surgimento do que chamamos de espetáculo de
dança, enfim o balé de corte torna-se teatral. Além disso, as posições consagradas
e tradicionais do balé clássico como o “entrechat” e o “Grand jeté”.
Entrechat
https://www.youtube.com/watch?v=9VhxpHgPTy8
Entrechat
https://www.youtube.com/watch?v=9VhxpHgPTy8
Ao longo do século
XVIII, o balé profissionaliza-se em todos os níveis e desenvolve-se como uma
expressão cênica requintada, esplendorosa e bem cuidada em função dos cenários,
figurinos e execução geralmente impecáveis. Além disso, o balé passa a ter com
frequência um forte apela narrativo, já que histórias passam a ser contadas nos
espetáculos com as inovações de Jean-Georges Noverre, que apresentou em 1789 o
primeiro balé sem as características operísticas que redefiniriam inclusive os
movimentos mais contidos e sem saltos típicos do balé até esse momento. Ao
montar o balé “Les caprices de Galathée”, Noverre contesta e rompe com a
tradição anterior ao propor certo viés dramatúrgico, expressivo e mímico ao
balé, daí o termo “drama-balé-pantomima” usado para se referir a essa nova
forma de entender essa forma de dança. Ele também muda as roupas dos bailarinos
ao eliminar as perucas, as máscaras e as roupas pesadas do figurino para dar
lugar à indumentária leve mais usada atualmente por bailarinas e bailarinos
clássicos, com o intuito de emprestar mais leveza, graciosidade e liberdade aos
movimentos do corpo.
O balé "primitivo"
https://www.youtube.com/watch?v=U3OdDDEs3lg
"Cisne negro" - Companhia Brasileira de Ballet
https://www.youtube.com/watch?v=Jj32uMou66Q
O balé "primitivo"
https://www.youtube.com/watch?v=U3OdDDEs3lg
"Cisne negro" - Companhia Brasileira de Ballet
https://www.youtube.com/watch?v=Jj32uMou66Q
O Romantismo na dança
configura-se como influenciador da perda de importância do papel do bailarino
em cena, que passa normalmente a servir geralmente apenas de apoio para os
passos da bailarina. Nesse período, passa-se a usar sapatilhas em cena. No
século XIX, o balé clássico firma-se como uma expressão artística muito
valorizada, sobretudo pelos mais abastados, o que fez surgir importantes
companhias de balé na Itália, França e Rússia.
Ao longo do século
XIX, mas especialmente na aurora do XX, desenvolveram-se entre bailarinos e
bailarinas de formação clássica uma visão mais autônoma, improvisada e individual
esteticamente em relação às possibilidades de movimentação do corpo, muito
influenciada pelas muitas vanguardas estéticas, pelo questionamento dos rigores
teóricos e técnicos do balé clássico e pela ebulição nas artes que as ideias
modernistas propiciaram. São expoentes desse momento Martha Grahan, Isadora
Duncan, Vaslav Nijinski, entre outros. Como espetáculos como a “Sagração da
primavera”, montagem de Nijinki com música de Stravinski, uma nova fronteira
para a dança é aberta e, assim, consolida-se os pilares da dança nesse período
que são a referência crítica a temas sociais e políticos, o estudo profundo do
movimento, a ausência da música e mesmo a valorização do silêncio, a
incorporação frequente de referências populares aos espetáculos de dança, o
diálogo com outras linguagens artísticas, etc.
Igor Stravinsky - Vaslav Nijinsky - 1913 - Sagração da Primavera por Ballett Mariinski Theater
https://www.youtube.com/watch?v=BryIQ9QpXwI
Dança moderna - Década de 1930
Dança moderna e contemporânea
Dança moderna - Isadora Duncan
Como uma consequência
das ideias modernistas no universo da dança, nasceu a Dança Contemporânea que, por
vezes, concilia-se de diversas formas com modos mais tradicionais de dançar,
sem, contudo, interromper as propostas de inovação e ruptura estética e formal da
Dança Moderna. Nesse sentido, as formas contemporâneas de dança passam a fazer
uso de adventos tecnológicos como o vídeo, o cinema, os aparatos modernos de
iluminação; os movimentos do esporte; a referência de culturas marginais; etc.,
além de se deixar influenciar pelos ritmos e movimentos da sociedade da qual
faz parte, tais como: a urbanização ampla e acelerada, a importância crescente
dos meios de comunicação e informação, a crise moral, o novo entendimento do
corpo, as questões ecológicas, etc. Além disso, inauguram um tempo de ainda intensas
mixagens que ajudaram a tornar nebulosas as fronteiras entre teatro, música,
dança e artes visuais. São exemplos desse tipo de experiência com a dança,
grupos como Companhia de dança de Pina Bausch, Grupo Corpo, Quasar, Deborah
Colker Cia de Dança, etc.
É consenso entre
historiadores que a Dança Contemporânea consolida-se no pós-2ª Guerra,
especialmente na década de 1960, como forma de protesto ou rompimento com os
cânones oriundos das tradições iniciadas na Renascença, em especial o balé, mas
também como forma de diálogo com as inúmeras questões novas que confrontavam o
homem do século XX com as consequências negativas e positivas do
desenvolvimento tecnológico, com os dramas impostos pela urbanização acelerada
e intensa, com a questão do gênero e da sexualidade na sociedade, com a
elitização da arte, etc. Tal como ocorreu um pouco antes nas Artes Plásticas, a
Dança Contemporânea, em função das muitas experiências e rupturas que lhe são
características, muitas vezes flerta com o hermetismo, ou mesmo é produto da
própria desconstrução da ideia mais convencional de dança. Ao longo do século
XX, a linguagem contemporânea da dança desenvolve-se e aprimora-se com
profundas investigações de coreógrafos e bailarinos a respeito da influência do
espaço na dança, dos limites do movimento, das possibilidades da improvisação,
etc. Isso faz com que esse período da história da dança seja muito difícil de
definir ou enquadrar, mesmo que pela liberdade ampla e pela experimentação
constante torna-se desafio impossível impor-lhe limites quando seu principal
pilar de orientação como experiência artística é justamente negar a existência
deles.
A dança
como linguagem
A dança é uma das
linguagens artísticas mais antigas até pela sua pouca exigência quanto a
aparatos tecnológicos e mesmo formação acadêmica para ser realizada ainda que
em um nível muitas vezes rudimentar. Entretanto, desde as formas de dança mais
eruditas como o Balé Clássico até as danças populares como o Frevo e o Catira,
em todas há elementos que as constroem como manifestações artísticas e
corporais. Segundo a pesquisadora Judith Lynne Hanna, os elementos da linguagem
da dança, que combinados permitiriam a compreensão da dança de acordo com o
estilo, a escola ou mesmo a função, são:
• Espaço: direção, nível, amplitude, foco,
ordem e forma.
• Ritmo: tempo, duração, ênfase e compasso.
• Dinâmica: força, energia, tensão, relaxamento
e fluxo.
• Forma: relação estabelecida entre quem
dança com o outro, com o espaço e com objetos.
• Locomoção: caminhar, pular, correr, saltar,
rolar, estirar-se, rodopiar, etc.
• Gesto: movimentos como rotação, flexão,
extensão, vibração, rolamento, salto, etc.
• Frase corporal: movimentos em sequência
capazes de denotar uma afirmação específica.
• Motivo: parte do movimento apresentada de maneiras
distintas: rápido ou lento, forte ou suave, etc.
Dentre as muitas
possibilidades de se abordar a classificação dessa forma de arte tão dinâmica,
quanto multifacetada, faz sentido pensá-la sob várias perspectivas que alcancem
vários elementos constituintes e conceituadores, eis alguns deles:
Quanto aos envolvidos no processo da dança:
- dança solo (ex.: solista no balé, algumas
coreografias do sapateado, break, passista do frevo, etc.).
- dança em dupla (ex.: tango, salsa, valsa, maxixe,
lambada, o mestre-sala e a porta-bandeira de escolas de samba, etc.).
- dança em grupo (ex.: minueto, quadrilha, danças
de roda, maracatu, maculelê, etc.).
Quanto à razão ou estilo:
- dança folclórica (ex.: catira, carimbó,
reisado, etc).
- dança cerimonial ou religiosa (ex.: danças
indianas, dança sufi, etc.).
- dança étnica (ex.: dança árabe, danças
indígenas, etc.).
- dança terapêutica (ex.: auxílio no
tratamento de doentes psiquiátricos, etc.)
- dança erótica (ex.: can can, striptease,
etc.).
- dança cênica ou performática (ex.: balé, danças
contemporânea e moderna, Pole dance, etc.).
- dança social (ex.: dança de salão, axé,
samba, etc.).
Danças folclóricas brasileiras
Dança cerimonial
https://www.youtube.com/watch?v=FBqrJ7QlI3I
Dança social
https://www.youtube.com/watch?v=m7mBnS5-07k
Dança étnica
https://www.youtube.com/watch?v=BI851yJUQQw
Dança cênica
https://www.youtube.com/watch?v=xXq0Z4ZZIgw
Dança erótica
https://www.youtube.com/watch?v=rMtUsyPItBw
https://www.youtube.com/watch?v=FBqrJ7QlI3I
Dança social
https://www.youtube.com/watch?v=m7mBnS5-07k
Dança étnica
https://www.youtube.com/watch?v=BI851yJUQQw
Dança cênica
https://www.youtube.com/watch?v=xXq0Z4ZZIgw
Dança erótica
https://www.youtube.com/watch?v=rMtUsyPItBw
Como complemento,
seguem citações de partes das Orientações Educacionais do Ensino Médio,
produzidas pelo MEC:
“3.4
Dança
3.4.1
Código
Elementos
morfológicos
O corpo humano, entendido como totalidade
(mente e físico), ativado e capacitado para explorar suas possibilidades de
movimento e assim desenvolver-se como inteligência múltipla.
Tempo coreográfico, espaço coreográfico e
qualidade do movimento – seus componentes espaciais (direções, planos,
dimensão, caminho realizado), seus componentes temporais (velocidade, duração,
acentuação e periodicidade de incidência desses fatores) e os componentes de
sua intensidade (peso, esforço, fluxo e impulso).
Estruturas
sintáticas
Organização do
movimento a partir da priorização de um dos seus elementos, como desenho
simétrico/assimétrico; velocidade rápida/moderada/lenta; fluxo solto/conduzido,
contínuo/descontínuo; assim como impulso central/periférico. Organização do
movimento a partir da combinação desses elementos, resultando em ações básicas
como empurrar, socar, torcer, deslizar, etc. Organização em grupos funcionais
de movimento: gestos, formas de andar, corridas, saltos, giros, quedas e
recuperação. Composição a partir de células, repetições, variações, blocos,
cânones, simetrias, assimetrias, polirritmia. Criação a partir de diversos
estímulos: materiais, imaginários, emocionais, factuais, individualmente ou em
grupo.
Tradicionalmente o
tempo, o espaço, a forma e o movimento sempre foram considerados elementos da
dança. É importante lembrar que a forma é, de fato, o resultado da composição
dos aspectos espaciais, temporais e de intensidade do movimento, não constituindo,
portanto, propriamente um elemento. Isso não significa dizer que não se possa,
ou mesmo se deva pensar, organizar, criar o movimento em função de sua forma.
Essa seria mais uma
possibilidade de organização e estudo do movimento, incluída nas possibilidades
citadas anteriormente. A organização dos elementos da dança compõe a estética
da obra, e essa organização variou ao longo da história, por vezes
caracterizando escolas, por vezes desconstruindo essas caracterizações. Dessa
forma, o estudo de seus elementos é um instrumento eficaz tanto para a
experimentação do fazer criativo na dança quanto para a análise dos estilos e
das manifestações culturais dessa linguagem. Na organização espaço-temporal da
dança, o ser humano revela sua relação com o mundo: a dança constitui, então,
além de um instrumento para o autoconhecimento, um instrumento para o
conhecimento do outro em seu espaço, para a compreensão vivencial da natureza
(aqui incluída a natureza cultural humana) e, conseqüentemente, para a
compreensão da própria sociedade.
A abordagem artística
dos movimentos corporais propiciada pela dança, baseada na expressão da
experiência vivencial do mundo pelo indivíduo, é uma faceta específica do
conhecimento do próprio mundo. Não basta “saber” o mundo e viver nele para
conhecê-lo; é preciso sentir e perceber como se relacionar com ele, como
imaginar essa relação, traduzindo tudo isso em uma criação expressiva.
O conhecimento do
mundo passa, pois, pela vivência corporal dos seus elementos, nos aspectos
físico-objetivos, sensoriais, pré-simbólicos e simbólicos. Daí a importância do
estudo corporal-criativo do tempo, de espaço, da intensidade do movimento e da
forma deles resultante na educação escolar. Exemplificando: não basta saber
sobre o espaço (estudado em Geografia, Física, História, ainda que de forma
interdisciplinar); é preciso vivenciá-lo corporalmente, sentir como nos relacionamos
com ele, como podemos organizá-lo, reorganizá-lo, transformá-lo por meio do
sensível, por meio de uma consciência estética.
3.4.2
Canal
O corpo humano, em
sua aparição fenomenológica.
O corpo humano
virtualizado, digitalizado pelas diversas mídias contemporâneas: televisão,
vídeo, cinema, computador.
A aparição presencial
do dançarino é, ainda hoje, em tempos de virtualização intensa – e talvez por
isso mesmo –, um aspecto importante dessa linguagem artística, além de
fundamental na função educativa da dança tanto do ponto de vista do
aluno-espectador quanto do aluno-criador. É no instante do “aqui e agora” que
trocas sensoriais, estéticas e éticas se dão entre espectador e dançarino. O
corpo humano virtualizado, no entanto, é um importante canal de experimentação e
pesquisa da dança atual e deve estar presente na educação escolar, principalmente
no ensino médio, quando os alunos deparam mais intensamente com as mídias
citadas anteriormente. Esse “dançar mediado” traz especificidades resultantes
do diálogo da dança com as demais linguagens, entendendo aqui, como linguagem,
também as novas tecnologias.
3.4.3
Contexto
• Do
texto, da obra
Identificar o contexto
em que as obras coreográficas são criadas é fundamental para ampliar a
compreensão das relações existentes entre esse contexto e a organização dos
movimentos na obra. Toda composição traz marcas do seu criador, do seu tempo,
dos seus condicionantes. O exercício dessa contextualização, além de dar acesso
ao conhecimento da história da dança, sua origem, seus determinantes socioculturais
e sua evolução, instrumentaliza o aluno para a compreensão do seu próprio fazer
na dança.
• Do
aluno, do professor, da escola, da comunidade
Dançar não é só uma
forma de expressão particularmente importante para os jovens, mas também para
os adultos, que têm nela uma oportunidade de se reconhecerem culturalmente e
socialmente. É preciso então trazer para o aprendizado da Dança a diversidade
que hoje marca esse dançar, fazendo dialogar o legado das danças populares
tradicionais e os festejos, as práticas contemporâneas, o pagode, o funk e
outras danças da “moda”, com a expressão artística erudita, e esse diálogo deve
ser pautado pelas características contextuais da escola e da comunidade onde
esta está inserida, considerando-se todos os seus agentes: alunos, família,
professores, funcionários, artistas locais e outros, abrindo espaço na escola
para a experiência da oralidade, do saber não formal, das tradições e dos movimentos
que dão identidade a essa mesma comunidade.
• Do
ensino médio
Dar acesso ao
conhecimento da diversidade da produção coreográfica, das diferentes formas de
organização do código estético-motor praticado por diferentes culturas e
estratos sociais é objetivo fundamental do estudo da Dança. No entanto, não se
deve privar o aluno adolescente ou adulto das importantes descobertas que o
processo criativo em dança propicia para aquele que o pratica, descobertas essas
que não se extinguem com as primeiras experiências, mas constituem novos desafios
e desejos expressivos a cada nova fase da vida humana. Processo e produto estão
em permanente transformação, pois assim está o ser humano, modificando-se a
partir de si, do outro, das influências sociais, culturais, científicas
e, principalmente, a partir do próprio
processo criativo.”
“Duas sistematizações
no ensino da Dança merecem atenção. Em uma perspectiva, tem-se o
desenvolvimento da consciência corporal, utilizando os conceitos oriundos da
educação somática, entendida como atividade em que o corpo é trabalhado de modo
que integre todos os aspectos que o compõem: social, espiritual, psíquico,
físico, etc. Desenvolvem-se práticas baseadas nas técnicas de Alexander e
Feldenkrais, tais como a Body-Mind-Centering, Eutonia, entre outras.No
Brasil, Klauss Vianna e José Antonio Lima representam essa vertente.
Outra influência
marcante é a da criação coreográfica que utiliza a exploração espacial baseada
nos preceitos de Rudolf von Laban (1879-1958). Este coreógrafo austro-húngaro
criou um movimento que revolucionou a maneira de se pensar o corpo em
movimento. Ele desenvolveu um método de análise do movimento definindo os
elementos que o compõem. Elaborou igualmente um método de escrita em dança, a Labanotiation.
Seu trabalho tem diferentes aplicações, que vão da educação e da criação
coreográfica ao trabalho terapêutico, sendo introduzido no Brasil por Maria
Duschenes.”
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