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“A arte pode ser considerada uma linguagem
universal. Essa linguagem artística atravessando séculos e milênios, fronteiras
geográficas e culturas das mais diversas consegue preservar significados para
os que viverão amanhã. A arte surge com como uma linguagem natural dos homens.
Todos nós dispomos das potencialidades dessa linguagem e, sem nos darmos conta
disso, usamos seus elementos com a maior espontaneidade ao nós comunicarmos uns
com os outros. São
sempre as formas que se tornam não-verbais da comunicação artística que
constituem o motivo concreto da arte ser tão acessível e não exigir a erudição
das pessoas para ser entendida. Exige-se inteligência, sim e sempre
sensibilidade.
E a arte
continua sendo uma necessidade para os homens, caminho essencial de
conhecimento e realização de vida.”
(Universos da Arte - Fayga Ostrower)
“A Arte não reproduz o visível, torna visível.”
(Paul Klee)
A
arte, apesar de ser razão de debates controversos e intermináveis, pode ser
compreendida como uma forma de expressão humana, investida de subjetividade e
invento, muitas vezes reforçada pelo apuro estético formal, aprendido em
escolas ou fruto do desenvolvimento natural e espontâneo de um artista.
Esse
é um dos muitos conceitos concebidos para definir o que é arte e, para ilustrar
a multiplicidade de visões a esse respeito, seguem alguns conceitos de autores
e artistas para auxiliar na reflexão preliminar sobre o assunto.
“A fantasia, isolada da razão, só produz
monstros impossíveis. Unida a ela, ao contrário, é a mãe da Arte e fonte de seus
desejos.” (Francisco
de Goya)
“Só a
arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem.” (Johann Wolfgang Von
Goethe)
“Se eu pinto meu cachorro exatamente como é,
naturalmente terei dois cachorros, mas não uma obra de arte.” (Johann Wolfgang Von
Goethe)
“Enquanto a ciência tranquiliza, a Arte perturba.”
(George
Braque)
“Todos sabemos que arte não é verdade. A arte
é uma mentira que nos faz compreender a verdade, pelo menos a verdade que
podemos compreender.” (Pablo Picasso)
“A arte é uma magia que liberta a mentira de
ser verdade.” (Adorno)
“Antiarte - compreensão e razão de ser o
artista não mais como um criador para a contemplação, mas como um motivador
para a criação - a criação como tal se completa pela participação dinâmica do espectador,
agora considerado ‘participador’. (...) Não há a proposição de um ‘elevar o
espectador a um nível de criação’, a uma ‘metarrealidade’, ou de impor-lhe uma
‘idéia’ ou um ‘padrão estético’ correspondentes àqueles conceitos de arte, mas
de dar-lhe uma simples oportunidade de participação para que ele ‘ache’ aí algo
que queira realizar - é pois uma ‘realização criativa’ o que propõe o artista, realização
esta isenta de premissas morais, intelectuais ou estéticas.” (Hélio Oiticica)
Para aprofundamento:
Todavia,
a arte também deve ser compreendida numa perspectiva que contemple e respeite prioritariamente
a diversidade étnica, religiosa, estética, política, social, sexual e de
gênero, enfim, o fazer artístico deve ser visto sempre em uma perspectiva multicultural,
includente e democrática.
Considera-se
ainda fundamental a reflexão e a consideração como arte, em especial no
contexto de concursos com provas de quaisquer manifestações artísticas
inspiradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a produção artística
de pessoas inseridas nas chamadas culturas de minorias como é o caso de
pacientes psiquiátricos e portadores de necessidades especiais. Exemplo de
instituição comprometida com a defesa da expressão artística dessas minorias é
o Museu de Imagens do Inconsciente. Entre as muitas manifestações artísticas e
artistas nesse contexto, é crucial citar a obra do artista plástico Arthur
Bispo do Rosário, reconhecido mundialmente pela qualidade e vigor de suas obras.
Para aprofundamento:
Outra
questão importante no âmbito de concursos influenciados pelos PCNs e mais
importante, pela relevância absoluta desses povos na formação da cultura
brasileira, é o estudo da produção artística afro-brasileira e indígena
brasileira como meio de legitimar tanto as manifestações culturais quanto a
própria existência desses grupos como parte fundamental e significativa da
concepção do que se pode chamar de patrimônio artístico e cultural brasileiro.
Mesmo as mulheres, apesar das suas muitas contribuições acadêmicas ou
produtivas para a arte, são em minoria nas discussões acerca da História da
Arte e nos círculos de criação, reprodução, comercialização e debate sobre essa
manifestação, especialmente no Brasil. Daí, a função não só da arte, mas do
debate acerca dela, na necessária inclusão plena de grupos como esses nesse
processo.
Assim,
entendida como meio e realização do desenvolvimento humanístico, a arte deve
remontar ao processo de hominização, ao processo de diferenciação física e
mental que permitiu intervenções humanas na natureza e, dentro delas, a criação
artística. A esse respeito, devemos avaliar os estudos de especialistas sobre o
assunto, como Ernst Fischer e Gordon Childe.
O primeiro coloca:
“...o ser pré-humano que se desenvolveu e se
tornou humano só foi capaz de tal desenvolvimento porque possuía um órgão
especial, a mão, com a qual podia apanhar e segurar objetos. A mão é o órgão
essencial da cultura, o indicador da humanização. Isso não quer dizer que tenha
sido a mão sozinha que fez o homem: a natureza (particularmente a natureza
orgânica) não admite semelhantes simplificações, semelhantes sequências
unilaterais de causa e efeito. Um sistema de complexas relações – uma nova
qualidade – resulta sempre do estabelecimento de diversos efeitos recíprocos. O
desenvolvimento de certos organismos biológicos trepados nas árvores, em
condições que favoreciam o aperfeiçoamento da visão em detrimento do sentido do
olfato; o encolhimento do focinho, facilitando uma mudança na disposição dos
olhos; a emergência em que se via essa criatura (então equipada com um senso de
visão mais agudo e mais preciso) de olhar em todas as direções, como também a
postura ereta condicionada por tal situação; a libertação dos membros dianteiros
e o crescimento do cérebro devido à postura ereta do corpo; as mudanças na
alimentação e diversas outras circunstâncias, em conjunto, contribuíram para a
criação das condições necessárias para que o homem se tornasse homem. Porém, o
órgão diretamente decisivo foi a mão. Já São Tomás de Aquino estava ciente
dessa significação única da mão, esse organum organorum (órgão dos órgãos) e
expressou-o na sua definição do homem: Habet homo rationem et manum (O homem
possui razão e mão). E é verdade que foi a mão que libertou a razão humana e
produziu a consciência própria do homem.”
O segundo afirma que:
“...Os homens podem fabricar ferramentas
porque suas patas dianteiras tornaram-se mãos, porque vêem o mesmo objeto com
ambos os olhos e podem avaliar as distâncias com muita exatidão, bem como
porque um delicadíssimo sistema nervoso e complicado cérebro os capacitam a
controlar os movimentos da mão e do braço em adequação precisa ao que estão
vendo com ambos os olhos. Mas os homens não sabem por algum instinto inato
fazer ferramentas e usá-las: precisam aprender através da experiência, através
do ensaio e do erro.”
Portanto,
arte
deve ser vista sempre numa perspectiva que privilegie valores estéticos
fundamentados em princípios democráticos, multiculturais e multilinguísticos
para que seu estudo, produção e recepção possam contribuir para o
desenvolvimento da da sociedade e dos indivíduos orientados por princípios
humanistas.
:::Linguagens
da arte
“Escrever é esquecer.
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as
artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar)
entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as
segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas
visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o
caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca
foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de
idéias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém
fala em verso.”
(Fernando Pessoa)
“A pintura é uma poesia visível.”
(Leonardo da Vinci)
O
conceito de arte já foi bem mais amplo do que atualmente entende-se como tal,
já que o grupo das artes chamadas “As sete artes liberais clássicas”, eram na
Antiguidade Clássica as habilidades ou conhecimentos considerados fundamentais
para tornar uma pessoa livre e, por isso, em termos intelectuais, diferente de
um escravo. Era composto do “Trivium” e do “Quadrivium”. Durante Idade Média,
seriam disciplinas fundamentais para qualquer sacerdote católico com pretensões
em subir na hierarquia eclesiástica. O “trivium” era composto de três artes
responsáveis por disciplinar e ordenar a mente, a saber: Lógica (ou Dialética),
arte responsável por ordenar o discurso de forma a torná-lo sólido e coerente
com o intuito de separar o verdadeiro do falso; Gramática, arte capaz de
habilitar o indivíduo a usar linguagem de forma correta e eficaz; e a Retórica,
arte da persuasão, capaz de tornar mais potente e convincente qualquer
discurso. Por sua vez, o “Quadrivium” era formado por Aritmética, que era
considerada a arte teórica dos números; Música, que era vista como a aplicação
da teoria do número; Geometria, a arte teórica do espaço; e a Astronomia, que
era a aplicação da teoria do espaço.
A
partir de mudanças no entendimento do que é a arte, música, dança e artes
plásticas passaram a dominar o entendimento da maioria das pessoas sobre linguagens
artísticas. Em 1912, o teórico e crítico de cinema ligado ao movimento
futurista italiano Ricciotto Canudo, a fim de legitimar o cinema como uma
linguagem artística, a qual considerava a “arte total” e “alma da modernidade”,
tanto por reunir muitas vezes todas as outras artes em uma só como por ser a
forma da arte mais sensível à Modernidade no que ela tem de tecnológica, veloz
e dinâmica. Para tanto, propôs o chamado “Manifesto das sete artes” expandindo
o conceito de arte de Hegel ao incluir o cinema, são elas: arquitetura, escultura, pintura, música, dança, poesia e cinema. Posteriormente, passaram a
ser entendidas como arte em alguns círculos intelectualizados também a
Fotografia, a Banda desenhada, os Jogos eletrônicos, a Arte digital, etc.
Portanto, a arte pode
ser dividida em várias linguagens as quais podem contemplar diversas formas de
expressão que têm características, métodos, suportes e realizações distintas,
ainda que possam ser usadas simultaneamente na mesma obra ou ainda conjugadas
para se criar outra linguagem artística. Dessa forma, numa visão mias
contemporânea e livre de preconceitos acadêmicos ou mesmo de classe, são forma
de arte, a saber: pintura, desenho, escultura, arquitetura, música, dança,
teatro, pantomima, instalação, vídeo arte, tatuagem, literatura, gravura,
fotografia, cinema, cerâmica, tecelagem, grafite, circo, banda desenhada (história em
quadrinhos, mangá, tira e cartum), moda, etc.
:::Mixagens
“Será Arte tudo o que eu disser que é Arte”
(Marcel Duchamp)
As
mixagens em arte compreendem os esforços programados ou espontâneos de diluir
as fronteiras entre diversas manifestações artísticas para que se produza uma
obra capaz de estimular um indivíduo de uma forma múltipla do ponto de vista da
recepção sensorial, sentimental e intelectual dos interlocutores inseridos
nessa situação comunicativa em que alguém, por intermédio de uma realização
artística construída com duas ou mais linguagens, ambiciona transmitir uma
mensagem para determinadas ou quaisquer pessoas. Exemplos dessa prática são as
instalações que, ao mesmo tempo, podem agregar experiências sonoras, táteis,
visuais, etc., para sensibilizar de alguma forma um espectador; a cultura
urbana do Hip Hop constituída por expressões corporais (Break), musicais e
poéticas (RAP) e visuais interligadas (Grafite); as muitas realizações da arte
conceitual; a música eletrônica, feita muitas vezes de colagens (“samplers”) de
outras músicas; etc.
Para aprofundamento:
:::Arte
e as novas tecnologias da informação e da comunicação
“A validade, os
limites o estatuto de "obra" desses produtos, só fruíveis em redes,
colocam em discussão as teorias estéticas e a própria ideia de criação.”
(Ricardo Ribenboim)
As
novas tecnologias, como o computador, muito contribuíram para a ampliação das
possibilidades do fazer artístico. Desde especialmente as vanguardas da década
de 1960, com as primeiras experiências concretas com aparatos digitais na
produção artística, são visíveis as consequências desse advento para a produção
artística como é o caso da obra da banda alemã Kraftwerk, um dos fundadores do
que viria a se chamar sugestivamente música eletrônica. Pode-se ainda citar a
produção de instaladores, designers, VJs, etc., como exemplo atual e em constante
desenvolvimento de tecnologias computacionais e da informação empregadas como linguagem
e meio para a produção artística.
Para aprofundamento:
:::As
linguagens da arte e a situação comunicativa
“A expressão não pode
ser então a tradução de um pensamento já claro, pois que os pensamentos claros
são os que já foram ditos em nós ou pelos outros.”
(Merleau-Ponty)
A linguagem artística, como todas as linguagens
usadas pelo homem, tem como intuito a produção de textos por um emissor a
partir de um ponto de vista, os quais serão interpretados por um receptor sob
provavelmente outra perspectiva. Esse processo se dará por um código que é o
grupo de elementos e de estruturas das diversas linguagens verbais, sonoras, táteis,
corporais e suas mixagens. Além disso, é fundamental a utilização de um canal
representado por meios de comunicação como a voz, a televisão, a tela, a
internet, o mármore, o papel, etc., usados como suportes para a transmissão da
informação contida na obra de arte. Quanto ao contexto, pode-se dizer que são
as idéias, valores, crenças, conhecimentos e intenções dos interlocutores associadas
a um dado tempo num dado espaço inscritos em uma determinada circunstância
histórica, os quais estão inseridos numa situação comunicativa em que concorrem
e colaboram todos esses elementos para a decodificação ou interpretação (ou
mesmo a sua impossibilidade) da obra artística. A imagem abaixo extraída das Orientações
Curriculares do Ensino Médio do MEC, bem corporifica e esquematiza a
situação comunicativa que engloba um artista, a obra e o espectador dela.
Segundo ainda as Orientações Curriculares do Ensino Médio do MEC,
sobre as relações entre arte e linguagem e sobre as formas como as linguagens
artísticas manifestam-se, pode-se dizer:
Diante
dessas informações, percebe-se quase naturalmente a necessidade de que a
análise de qualquer obra artística seja permeada por ciências que possam
subsidiá-la como a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, a Semiótica, a
História, a Física, etc. Essa característica faz do estudo e da análise de
obras de arte um ato multidisciplinar, que muito pode contribuir para o
entendimento da sociedade, de um determinado período histórico e mesmo das
concepções de mundo do homem de hoje ou de quaisquer épocas do passado às quais
tenham ainda registros de sua produção artística. Exemplo disso é o quanto as
pinturas rupestres ajudaram cientistas a compreender povos pré-históricos,
todos ágrafos, que pouco ou nada deixaram além das inscrições e desenhos nas
paredes das cavernas por quase todo o mundo.
Dessa forma, a
obra de arte deve ser analisada numa perspectiva em que sejam consideradas as
motivações e interesses tanto do produtor quanto do espectador dela, assim como
devem ser consideradas as muitas manifestações artísticas e suas motivações
submetidas ou influenciadas por uma circunstância sociocultural inserida em um espaço
geográfico num determinado período histórico. Portanto, são muitas as nuances a
serem incorporadas à análise de uma obra de arte para que de forma ética e
isenta de preconceitos seja possível estudar e interpretar o texto artístico
verbal “e/ou” não verbal nas suas especificidades regionais, nacionais e
internacionais; passadas, presentes ou futuras; além de suas características eruditas,
populares e massivas.
:::Características
da obra artística
(Ernst Fischer)
A arte é uma
forma de expressão exclusivamente humana associada ao uso da razão, da emoção e
da técnica para representar a realidade de modo a copiá-la, moldá-la,
transpô-la, superá-la, questioná-la “e/ou” modificá-la de acordo com o ponto de
vista de um artista que pode estar associado a questões religiosas, como é o
caso da arte sacra católica, dos sarcófagos de faraós egípcios, de esculturas
de deuses gregos da Antiguidade Clássica; políticas, como em regimes
ditatoriais em que a produção artística é controlada e direcionada a fazer
propaganda governamental, são exemplos o período nazista na Alemanha e
stalinista na URSS; sociais, como o fato de morar na periferia violenta de uma
grande cidade e transpor para o RAP essa realidade; etc.
Para se tornar
arte, para muitos autores, o produto do fazer artístico deve ultrapassar a
idéia de utilidade, para tanto se estimula um ou mais sentidos a fim de o
observador ter uma experiência estética, em que sejam associados, das formas
mais imprevistas ou não, aspectos emocionais e racionais responsáveis por possibilitar
que uma obra artística possa ter por vezes múltiplas interpretações.
Obras de arte,
geralmente, são norteadas por estilos, escolas ou períodos em que determinadas
escolhas estéticas predominam em função de questões de caráter histórico,
geográfico, ideológico, econômico, político, etc. Contudo, as escolhas
individuais dos artistas podem produzir em uma obra particularidades tão
inovadoras e marcantes que elas passam a influenciar seus pares e mesmo seu
tempo.
:::Funções
da obra artística
“A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro
[...] por cima da realidade imediata. [...] Naturalmente, esse mundo que o
artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das
idéias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo, que tanto pode ser
erudita como ingênua. Se é ingênua, diz-se que o pintor é primitivo. Mas que é
cultura ingênua? [...] Seria, em termos genéricos, o que se chama de cultura
popular.”
(“Sobre arte, sobre poesia (Uma luz no chão)”, de Ferreira Gullar)
Para muitos
estudiosos da arte são três as funções que podem ser exercidas por uma obra de
arte, são elas a pragmática ou utilitária, a naturalista e a formalista.
Função
pragmática ou utilitária – nesse
caso, a obra é feita em função de sua finalidade em primeiro lugar, portanto
tem um fim não artístico, por isso não é valorizada necessariamente por
causa de sua beleza, mas por sua utilidade. Segundo essa perspectiva, a arte
pode ter uma finalidade pedagógica, religiosa, funcional, econômica, etc. Por
isso, feito em função desses objetivos, a obra pode prescindir de qualidade
estética, em favor de um fim mais pragmático. São exemplos a cerâmica
Marajoara, a confecção de imagens sacras, a pintura rupestre, alguns tipos de artesanato,
a música pop, etc.
Função naturalista – a obra, segundo essa perspectiva, é feita segundo parâmetros o mais
próximos possível do que é visto como real para a maioria das pessoas, ou mesmo
da imaginação, ainda que retratada de forma fidedigna a situações análogas na
realidade. Tal preocupação justifica-se pela necessidade do artista fazer-se
compreender, ou seja, para que a mensagem da obra de arte torne-se mais
acessível e fácil de ser compreendida ou ainda por causa dos princípios
estéticos, éticos e ideológicos que imperam em determinadas épocas e lugares a
ponto de serem impostos na produção artística de então. É normalmente identificada com grande preciosidade técnica e com a
busca da perfeição. São exemplos as obras da Missão Francesa no Brasil, a Arte
Grega, a maioria das obras da Renascença, etc.
Função formalista – é a função da arte que delineia o conceito de arte mais comum na
atualidade, até porque ao longo do século XX ela predominou nas produções
artísticas do Modernismo. A função formalista centra suas ações na busca de
maior qualidade e apuro na forma de apresentação de uma obra com o intuito
tanto de permitir múltiplas interpretações acerca dela quanto elaborar com mais
liberdade as características estéticas da produção artística, o que confere ao
artista mais espaço para produzir de acordo com sua idiossincrasia e
personalidade. É normalmente mais plurissignificativa do que outras
manifestações artísticas submetidas a outras funções. Em linhas gerais, tem
como principal objetivo transmitir sentimentos, sensações e estados de espírito
por meio da arte. São exemplos as vanguardas europeias, o concretismo, a arte
conceitual, a poesia concreta, etc.
:::Arte
e artesanato: considerações sobre a produção e a função
“Toda discussão
sobre fronteiras
entre ‘arte’ e ‘artesanato ’,
entre ‘artista ’
e ‘artesão ’, a partir
do discurso dominante ,
carece de sentido dentro
da perspectiva do indivíduo
que exerce essa atividade, pois ele raramente separa a instância
do trabalho manual
ou mecânico
(‘artesanal ’) do trabalho
intelectual e confere a ambos igual dignidade .”
(Sylvia Porto Alegre)
O artesanato, porque
de origem pragmática e fundamentada na experiência, é caracterizado pelo
próprio trabalho manual, por isso o artesão é identificado como o produtor de
artefatos que pertenceriam à chamada cultura popular. É essencialmente uma
produção em série, comumente produzida sob demanda do consumidor, de caráter
familiar e caseiro. O artesão domina todas as etapas e possui geralmente todos
os meios e ferramentas que permitem a realização de seu ofício, portanto sem
divisão do trabalho. Daí pode-se afirmar a autossuficiência do artesão em
relação ao que produz a não ser pelo acesso à matéria prima que pode depender
da natureza ou mesmo de indústrias produtoras de tintas, ferramentas, tecidos,
etc.
Por outro lado, a
arte é caracterizada pela feitura da obra única, ou seja, sem produção em
série, exceto no caso de gravuras que são produzidas em séries limitadas. Em
tese, exige um conhecimento estético e instrumental elevado de seus produtores,
ainda que não se possa dizer sobre maior sensibilidade, talento ou inspiração
sem ser preconceituoso com a produção artística popular. Normalmente, é exposta
em museus ou galerias de arte, já o artesanato é exposto nas vias públicas,
feiras ou em lojas especializadas.
Contudo, é cada vez
mais difícil estabelecer limites claros e precisos entre essas duas expressões
humanas, já que os pontos de contato entre elas são cada vez mais frequentes e
a utilização de técnicas do artesanato na arte e vice-versa torna-se comum. São
os casos do artesanato cada vez mais usado nas coleções de desfiles de alta
costura, das técnicas de artesanato usadas em esculturas de cerâmica feitas por
artistas consagrados pela crítica especializada, de artistas que fazem
esculturas e quadros sob demanda desde o Antigo Egito no mínimo, etc.
Para aprofundamento:
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