quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

8. Redação - Gêneros textuais - resumo

Licença Creative Commons
O trabalho Opera10 de Estéfani Martins está licenciado com uma Licença 
Baseado no trabalho disponível em www.opera10.com.br.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em www.opera10.com.br.

Resumo

O resumo é um gênero textual que tem como objetivo sintetizar o conteúdo de um determinado texto, com o intuito de comunicar suas ideias mais importantes, sem análise crítica, sem acréscimo de informações ou de qualquer análise. É necessário que seja empregado, na construção do resumo, um discurso derivado da norma padrão, além de, preferencialmente, seguir-se a mesma ordem das informações do texto original, daí a necessidade de que a leitura seja uma competência muito desenvolvida por quem resume as ideias alheias. Um resumo deve ter, portanto, brevidade, clareza e fidelidade temática ao texto original. Precisa, ainda, ser escrito com linguagem própria, ou seja, não se devem copiar trechos do texto original, as ideias do texto original devem ser reproduzidas pelas palavras de quem elabora o resumo, ou seja, parafraseadas.
Uma das formas de se iniciar um resumo é com construções que informem o título, o autor, a data e o veículo da publicação, o tema do texto original, etc., isto é, com informações bibliográficas. Dessa forma, o leitor será melhor e mais eficientemente esclarecido sobre as informações fundamentais do texto resumido, além de, assim, ser possível uma visão geral e prévia acerca do texto original.
Para se fazer um resumo, há algumas etapas que muito facilitam na confecção dele, a saber: identificar todas as informações fundamentais para a confecção de um resumo como o autor, a data e o local de publicação, o título, a tema principal, etc.; ler o texto original sob a perspectiva de selecionar todas as ideias mais importantes dele; reconhecer o gênero textual do texto original; identificar o modo como as informações contidas no texto a ser resumido foram organizadas; destacar os principais recursos expressivos e linguísticos do texto original para que melhor se possa entendê-lo; lembrar que exemplos, analogias, ilustrações, etc., não são informações prioritárias na confecção de um resumo; fazer um esquema do resultado dessa investigação a respeito do texto original; etc.

Características principais do resumo em vestibulares:

1.Reproduz a estrutura do texto fonte, sendo organizada em parágrafos;
2.Há a necessidade de um título claro e objetivo para esse gênero;
3.Citar o nome do texto fonte e autor na introdução é imprescindível;
4.A norma padrão da Língua Portuguesa deve ser empregada com rigor, mesmo que o texto original esteja em uma linguagem informal.

Exemplos:

Texto 01. (original)
            Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível: o ar estará livre do veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões; nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães; as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor.
(Eduardo Galeano. Fórum Social Mundial 2001.)

Texto 01. (resumo)
            O autor Eduardo Galeano aponta a contradição entre a existência de extensas listas de direitos humanos e o fato de a maioria da humanidade não ter nenhum, Diante disso, convida o leitor a sonhar com um mundo possível e elenca algumas das características desse mundo.

Texto 02. (original)
Cultura da paz

A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade de poder que se traduz por vontade de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica dos dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra. Praticamente em todos os países as festas nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência. Os meios de comunicação levam ao paroxismo a magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado nos filmes de Schwazenegger como o “Exterminador do Futuro”. Nessa cultura o militar, o banqueiro e o especulador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de socialização formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar a pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é possível superar ou controlar a violência? Freud, realisticamente, responde: “É impossível aos homens controlar totalmente o instinto de morte… Esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente mói que poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha”.
Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico. Viemos de uma imensa explosão, o big bang. E a evolução comporta violência em todas as suas fases. São conhecidas cerca de 5 grandes dizimações em massa, ocorridas há milhões de anos atrás. Na última, há cerca de 65 milhões de anos, pereceram todos os dinossauros após reinarem, soberanos, 133 milhões de anos. A expansão do universo possui também o significado de ordenar o caos através de ordens cada vez mais complexas e, por isso também, mais harmônicas e menos violentas. Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para pormos limites à violência e conferir-lhe um sentido construtivo.
Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de violência como o Estado, as classes, o projeto da tecno-ciência, os processos de produção como objetivação da natureza e sua sistemática depredação.
Em terceiro lugar, essa cultura patriarcal gestou a guerra como forma de resolução dos conflitos. Sobre esta vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a competição e não a cooperação, por isso, gera guerras econômicas e políticas e com isso desigualdades, injustiças e violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos.
A essa cultura da violência há que se opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.
É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no limite, o destino dos dinossauros.
Onde buscar as inspirações para a cultura da paz? Mais que imperativos voluntarísticos, é o próprio processo antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras. A singularidade do 1% de carga genética que nos separa dos primatas superiores reside no fato de que nós, à distinção deles, somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de estruturas de agressividade, temos capacidades de afetividade, com-paixão, solidariedade e amorização. Hoje é urgente que desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é insensata.
O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e co-pilotar a marcha da evolução. Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de re-engenharia da violência mediante processos civilizatórios de contenção e uso de racionalidade. A competitividade continua a valer mas no sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim todos ganham e não apenas um.
Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição que remonta aos tempos de César Augusto, vêem no cuidado a essência do ser humano. Sem cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de cuidado para continuar a existir. Cuidado representa uma relação amorosa para com a realidade. Onde vige cuidado de uns para com os outros desaparece o medo, origem secreta de toda violência, como analisou Freud. A cultura da paz começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras que representam o cuidado e a vivência da dimensão de generosidade que nos habita, como Gandhi, Dom Hélder Câmara e Luther King e outros. Importa fazermos as revoluções moleculares (Gatarri), começando por nós mesmos. Cada um estabelece como projeto pessoal e coletivo a paz enquanto método e enquanto meta, paz que resulta dos valores da cooperação, do cuidado, da com-paixão e da amorosidade, vividos cotidianamente. (Leonardo Boff)

Texto 02. (resumo)
Leonardo Boff inicia o artigo “Cultura da paz”, disponível no “site” do autor, apontando o fato de que se vive em uma cultura que se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos que sustentam a tese de que isso seria impossível, pois as próprias características psicológicas humanas e um conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que, na contemporaneidade, é indispensável estabelecer uma cultura da paz contra a da violência, pois esta estaria levando à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que lhes permitem serem sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de que a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como uma relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações, o teólogo conclui, incitando o leitor a despertar as potencialidades humanas para a paz, construindo a cultura da paz a partir de si mesmo, tomando-a como projeto pessoal e coletivo.

(“Resumo”. Coleção Leitura e Produção de Textos Técnicos e Acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. (com modificações)


Professor Estéfani Martins

Um comentário: