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Carta pessoal (informal)
Carta pessoal é outra forma de correspondência caracterizada pelo tom informal, pelo envio de correspondência geralmente para uma pessoa conhecida ou íntima e pelo descompromisso com algumas convenções formais típicas de cartas remetidas a desconhecidos ou produzidas em um ambiente profissional ou acadêmico.
Esse subtipo de gênero textual é de
difícil definição porque oscila em termos técnicos de acordo com o
interlocutor, pois se o destinatário for irmão do remetente a proximidade entre
os dois será expressa por meio da linguagem de forma distinta de uma carta
endereçada a um pai ou avô, ou seja, exige-se a modulação do discurso em função
do interlocutor em uma específica situação comunicativa.
Quanto a questões estruturais como
datação, saudações, etc., é importante que, em concursos, sejam respeitadas
essas necessidades, visto que as mudanças na carta pessoal comparada à impessoal
ou argumentativa são apenas de cunho linguístico.
Características principais da
carta pessoal em vestibulares:
- Data, vocativos (saudações
inicial e final) e assinatura são obrigatórios;
- No corpo do texto, nas saudações e na assinatura, deve-se
respeitar o recuo nos parágrafos, portanto apenas a data deve estar junto à margem esquerda.
- O uso da primeira pessoa do
singular deve ser recorrente, ao menos uma vez em cada parágrafo;
- A interlocução com o uso da
segunda pessoa também deve ser recorrente, por isso deve haver referências
ao interlocutor ao menos uma vez em cada parágrafo;
- Formas verbais no presente
do indicativo devem predominar;
- Uso de uma linguagem pessoal
é aconselhável para mostrar algum nível de intimidade com o interlocutor
(destinatário) da carta;
- O texto deve também respeitar a norma
padrão, ainda que gírias e oralidades possam ser aceitas pontualmente se a
relação entre os interlocutores permitir;
- Há a necessidade dos dados
de personificação, ou seja, é importante que seja criado um locutor que
mostre qual a relação que existe entre os interlocutores, no caso da carta
pessoal, preferencialmente, com algum nível de intimidade;
- O uso adequado de pronomes
de tratamento será avaliado, ainda que senhor e você sejam os mais
esperados;
- Nesse gênero, as
informalidades, os coloquialismos e os regionalismos são possíveis, embora
seja aconselhável cuidado para não exagerar em seu uso;
- Devem-se evitar abreviações
de pronomes de tratamento em cartas;
- A paráfrase exigida pela UFU nos gêneros textuais do vestibular deve ter ao menos 2 linhas.
Objetivo – comunicar a opinião particular de uma pessoa a respeito de assunto variado por meio de uma correspondência destinada ao um interlocutor conhecido com o qual se tem algum nível de intimidade.
Estrutura – rígida e com presença de datação, saudação inicial, corpo do texto, saudação final e assinatura (quando solicitado).
Argumentação – é construída por demanda, já que o destinatário dela é conhecido, mas via de regra responde bem às mesmas condutas de outros textos argumentativos com a possibilidade de usar relações de causa e consequência, argumentos de autoridade, etc .
Pessoa do discurso – 1ª pessoa do singular é obrigatória para indicar a autoria da carta, tanto quando a 2ª pessoa ou pronome de tratamento devem ser usadas com a frequência de ao menos uma vez por parágrafo .
Linguagem – clara, objetiva e adequada às normas gramaticais por padrão, ainda que se aceite pontualmente o uso de expressões como gírias, coloquialidades e oralidades como forma de personalizar o discurso do autor da carta e a relação dele com o destinatário.
Máscara – obrigatória e capaz de mostrar mudanças relevantes na vida do autor da carta que podem credenciá-lo a escrever sobre o assunto.
Assinatura – exigida e sem ponto final.
Observação importante: lembro que os exemplos abaixo são oriundos da produção dos alunos ou de veículos midiáticos, assim tem virtudes e defeitos que serão apontados em sala de aula, já que respondem a situações de produção diferentes das de concurso ou mostram dificuldades linguísticas, estruturais e temáticas.
Exemplos:
Texto 01.
Londres,
3 de janeiro de 1945.
Meu
caro Mário,
Coincidência: sua carta me chega na manhã mesma em
que lhe estou mandando seus três Mirós. Portanto, a pergunta última que você me
fez está respondida. Botei dedicatória no seu e deixei os outros em branco.
Como você os oferece, você é que deve dedicá-los.
Vejo que você continua o mesmo lírico de
antigamente. Como já o conhecia, sei que o atual lirismo não é questão de
cerveja. Aliás: há cerveja aí?
Vejo também que você continua adiando o nosso
encontro. O Geraldo, com quem estive há dois dias em Paris, também prometeu vir
e não veio. Veja se se decide, hombre!
Grande
abraço. (...)
Do
seu
João
Cabral de Melo Neto
Texto 02.
Meu
Bebé pequeno e rabino,
Cá estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que
está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e
esse não conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe
dizer, pelo menos, que ela é muito má, excepto numa coisa, que é na arte de
fingir, em que vejo que é mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando
em ti . Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos ;
e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada...
Foi agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu
estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto
também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de saúde — uma libra de saúde por
enquanto, o bastante para não estar constipado).
Não te admires de a minha letra ser um pouco
esquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único
acessível agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a
segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplêndido, de
que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas
razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. (Álvaro de Campos,
engenheiro).
Quando nos poderemos nós encontrar a sós em
qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos
há tanto tempo... Meu Bebé para sentar ao colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu
Bebé para... (e depois o Bebé é mau e bate-me...) «Corpinho de tentação» te chamei
eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim.
Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os
braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou
tão só, tão só de beijinhos ...
Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de
mim a valer . Ao menos isso era uma consolação... Mas tu, se calhar, pensas
menos em mim que no rapaz do gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C.
D. & C.! Má, má, má, má, má...!!!!!
Açoites é que tu precisas.
Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça
para baixo para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens —
pelo menos quando têm — 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um
beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e
muito teu,
Fernando
(Nininho).
5.4.1920
Texto 03.
A Tania Kaufmann
Berna, 6 janeiro 1948
Minha florzinha,
Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades, depois disso fica-se um pouco um trapo.Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar.
Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi ? assim fiquei eu...., em que pese a dura comparação....Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus guilhões, cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante.Espero que o navio que nos leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida, que não era maravilhosa mas era uma vida, eu me transformei inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora e disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lasidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus.
Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então....Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer.
Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade ?
Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã
Clarice.
Texto 04.
Querido Kobe Bryant
Eu te odeio.
Você pode me culpar? Sou um torcedor do Celtics, e há duas décadas torço contra você. Eu me alegrei com a sua agonia quando meu Celtics te derrotou nas finais de 2008. O Paul Pierce merecia muito mais do que você. Você já tinha três anéis naquela época.
Mas três não eram suficiente para você. Você teve a sua vingança e seu quinto título em 2010 enquanto cortava meu coração no processo. Espero que você ainda saiba como foi sortudo por Kendrick Perkins estar fora do jogo 7.
Eu li a sua carta de despedida no "The Players Tribune" hoje e fiquei chocado. pelo anúncio de sua aposentadoria - todos nós já sabíamos disso. Eu fiquei chocado pela forma como a sua carta me fez sentir.
Na minha cabeça, sempre coloquei você e o Derek Jeter (ex-jogador do New York Yankees) juntos. Vocês são os jogadores que nós torcedores de Boston amargamente odiamos, mas inevitavelmente respeitamos. Vocês jogaram do jeito certo - com paixão, orgulho e profissionalismo.
Vocês eram verdadeiros estudantes do jogo e perseguiram a grandeza, trabalhando mais duro do que todos. Vocês viraram ícones de gerações em seus respectivos esportes. Vocês abraçaram todos os desafios. Vocês deram tudo. Vocês levaram seus corpos ao limite. Vocês sabiam como vencer. Vocês respeitavam seu esporte, seu ofício, e sua rivalidade com Boston.
O dia 30 de dezembro marca a última vez em que voce jogará em Boston. É também a última chance de nós, torcedores do Celtics, apoiarmos o nosso time a ganhar do, indiscutivelmente, jogador mais dominante na história da rivalidade entre Celtics e Lakers.
Quando você partir, também se vi po que restou da rivalidade que um dia dominou a NBA. Talvez um dia essa rivalidade reacenda com novas caras. Talvez não.
Então quando você vier para o Garden esse mês, eu espero que a torcida faça você se sentir no inferno. Espero que a gente consiga te vaiar mais enfaticamente do que das disputas de título. Espero que você erre todos os seus lances-livres. E que você nunca esqueça o que é estar cercado de 17 mil torcedores que sangram verde e que dariam tudo para ver você falhar uma última vez.
Eu espero que a gente derrote LA mais uma vez. E quando você for substituído no meio do último quarto, porque meus Celtics estão vencendo por 20 pontos, acredito que algo maravilhoso vai acontecer.
Cada pessoa no Garden vai parar de te vaiar. Nós vamos ficar de pé e mostrar respeito sob a forma da ovação mais alta, mais apaixonada que você já testemunhou. Nós vamos gritar o seu nome. Vamos enxugar nossos olhos. Vamos dar nosso adeus doce e amargo.
Dizem que você não sabe o que você realmente tem até perder. Então antes de você partir, eu gostaria de te agradecer por ser bem mais do que apenas um grande jogador de basquete. Para uma geração inteira de fãs da NBA, você é o basquete.
Eu não acredito que estou dizendo isso... mas eu realmente vou sentir a sua falta.
Te amo (e odeio) para sempre,
De um torcedor do Celtics, que nunca te apreciou o suficiente.
Texto 05.
Uberlândia, 30 de abril de 2013.
Querido amigo,
Só eu
sei como você é desatento e despreocupado com as regras de boas maneiras. Conforme
nossa amizade foi solidificando-se, acostumei-me com o seu jeito e aprendi que
quando você esquece das datas de aniversário de seus amigos ou não responde
alguns “emails” não tem a intenção de magoar ninguém, pois por trás desses
descuidos não há desavenças pessoais. No entanto, agora você está com um
“smartphone” posso tentar lhe ajudar a romper com essa falta de gentileza mais
facilmente.
Sei que a
sociedade moderna capitalista, na qual vivemos, contribui sobremaneira para acentuar em nós sentimentos
individualistas. Logo, as pessoas estão quase sempre apressadas para cumprirem
seus muitos afazeres. Nesse sentido, a preça favorece que sejamos, por vezes,
deseducados e grosseiros, por exemplo, no trânsito. Porém, eu quero lhe mostrar
que todo esse estresse só tende a lhe fazer mal, tornando-o um cara agressivo e
desequilibrado.
Para sua
própria saúde física e mental é importante que você mantenha com as pessoas
próximas relações harmoniosas portanto, responda, mesmo na internet, os
convites de seus amigos até quando não houver meios de vir aos encontros
propostos por eles. Além disso, pare com essa sua mania de atender o celular
durante o almoço ou no meio de conversas. Entenda que a pessoa ao seu lado quer
a sua companhia e atenção. Garanto lhe que o mundo não acabará se seu telefone
ficar desligado por poucos minutos.
Espero, querido, que você
compreenda minha iniciativa, pois não pretendo-lhe dar lições de moral, mas
somente demonstrar a você que a convivência com aqueles que gostamos pode ser
bem mais agradável. Olha só! Você não precisa e nem deve ser falso na tentativa
de ser mais gentil. Só seja mais gentil com aquelas pessoas, pelos quais tem
apreço. Até porque, creio que a gentileza só faz sentido quando parte de
intenções genuínas e sinceras. Não se esqueça! Estou aguardando notícias suas,
mas se quiser pode responder via SMS.
Com muitas saudades.
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