terça-feira, 8 de outubro de 2013

Redação - Sobre gêneros textuais: breves definições

Caras e caros,

Boa noite. Eis uma lista de algumas breves definições que considero importantes para se pensar em provas em que muitos gêneros textuais são exigidos como na prova de Códigos e Linguagens do Enem ou mesmo as de redação da UEL e da Unicamp.

Abraços,




Gêneros textuais: breves definições
Professor Estéfani Martins
Outubro de 2013

"A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual."
(Marcuschi)

            Gêneros textuais são meios de se comunicar por escrito ou oralmente impostos pelas necessidades de interação social, econômica, estética e política do homem, produto de inter-relações perceptíveis e estáveis entre as tipologias textuais, formas de intertextualidade, etc. São criados e estabelecidos a partir de processos históricos, técnicos, profissionais, científicos e sociais, ainda que possam ser marcados por características e preferências individuais daqueles que os utilizam para se comunicar. São ferramentas de comunicação, portanto, moldáveis pelas escolhas individuais, mas também pelo processo histórico e de transformações pelas quais toda sociedade, especialmente as mais industrializadas e modernas, passam.
            Os gêneros textuais abarcam desde a simples correspondência informal enviada a um amigo até o ensaio escrito por um crítico de arte. Enfim, a diversidade de gêneros textuais que permeiam e definem as formas de comunicação humana, particularmente a escrita, multiplicaram-se nos últimos anos com o advento da internet e com as múltiplas fronteiras ultrapassadas ou ignoradas por produtores de textos e artistas menos preocupados com a pureza e a forma de um gênero textual e mais com a mensagem a ser comunicada, ou seja, na atualidade, tais modalidades textuais passaram mais frequentemente a ser eventos de fronteira e submetidos às necessidades de uma ideia ou conceito do que uma exigência formal sobre como se comunicar.




1 – Editorial
O Editorial pode também ser chamado de artigo de fundo. É um texto tipicamente jornalístico que exprime a opinião de um veículo de informação.  Em geral, é escrito pelo redator-chefe e publicado nas primeiras páginas de revistas ou jornais, e ele nunca é assinado por exprimir uma espécie de opinião institucional de um determinado jornal, por exemplo. A linguagem é formal e de fácil compreensão, trata normalmente de assunto recente e de grande apelo midiático, normalmente escrito em terceira pessoa na atualidade, mas já foi bem comum encontrá-lo em primeira pessoa do plural, dada a sua vocação de caracterizar-se como uma opinião institucional. Quanto à estrutura, é muito semelhante a de um texto dissertativo, ainda que permita determinadas peculiaridades como referências ao veículo no qual é publicado, justificativas sobre o porquê de ser tema de um texto em local tão privilegiado, etc.

2 - Artigo jornalístico, artigo de opinião ou texto de opinião
É um texto opinativo normalmente assinado e muito assemelhado estruturalmente à dissertação, ainda que permita algumas liberdades linguísticas impossíveis em um texto dissertativo científico como referências ao leitor, metáforas, provocações, passagens injuntivas, etc. Por ser atribuído a uma pessoa, comunica um ponto de vista particular acerca de um assunto, daí o fato de nele predominar o uso da primeira pessoa do discurso. Quanto à argumentação, diferente do editorial, que tem aspectos notadamente evasivos e impessoais, no caso do artigo de opinião é comum haver formas de argumentação bastante pessoais e idiossincráticas, a ponto de usar argumentos preconceituosos ou generalistas.

3 – Crônica
É um texto, originalmente do universo dos relatos históricos, que foi ao longo do século XX no Brasil mais afinado com o ambiente jornalístico. Apesar de se confundir com a linguagem jornalística hoje em dia, por vezes, aproxima-se da Literatura, mais em alguns autores, menos em outros, já que as liberdades linguísticas permitidas aos cronistas: o flerte com o humor, as analogias frequentes e inusitadas, a tendência a conter fortes influências narrativas, a invenção na linguagem e a estrutura muito flexível tornam essa modalidade textual uma forma literária em muitos casos difícil de classificar e delimitar, mas ainda uma ponte muito oportuna entre os jornais e a arte.
Isso se explica também por causa da opção de não se resumir o universo da crônica a relatos de cunho exclusivamente jornalístico e temporal, ou seja, focados no quem, quando, onde e por quê; ao contrário, o cronista prefere os debates acerca das artes; da vida aparentemente requintada dos ricos; da peleja da vida simples dos pobres; dos triunfos e dos fracassos do esporte, em especial do futebol; do deboche e do descaramento da vida política; dos acidentes e desgraças naturais ou não; e, obviamente, dos crimes e das boas ações que fazem do homem um ser tão paradoxal e fascinante; além disso, não escapam os pequenos eventos rotineiros e, para muitos, imperceptíveis. Enfim, tudo é assunto para esse gênero textual.

4 - Notícia ou reportagem
Texto narrativo e expositivo - de caráter informativo e pretensamente neutro - desenvolvido sobre quaisquer assuntos de forma imparcial em função do interesse que podem potencialmente provocar. É publicado nos mais variados veículos de informação, tais como jornais, revistas, zines, “sites”, etc. A linguagem da reportagem é direta, clara e objetiva, com o intuito de permitir fácil leitura e assimilação da informação. Geralmente, contém citação de falas dos envolvidos, as quais podem ser integradas ao texto do próprio jornalista. Segue, via de regra, a seguinte estrutura textual.

Estrutura textual
•           Manchete: título principal do assunto;
•           “Olho da notícia”: é uma espécie de pequeno texto, que pode funcionar como subtítulo. Essa estrutura não é obrigatória nesse gênero;
•           Lead (Lide): é o primeiro parágrafo da notícia e deve conter uma síntese do que há de maior importância no acontecimento, desenvolvendo também as informações da manchete. Nele são respondidas invariavelmente questões como: quem? O quê? Quando? Onde? Por quê?;
•           Sublide: é o parágrafo seguinte ao lide. Ele continua a dar as informações mais importantes para a compreensão do fato que virou notícia;
•           Corpo: é necessário mostrar os efeitos e consequências do fato narrado, no entanto isso deve ser feito de forma breve e objetiva. Além disso, nesse momento é desejável a citação das partes envolvidas no evento noticiado com igual espaço e abordagem para garantir a imparcialidade da notícia. A presença das falas de testemunhas na notícia pode ser também importante para emprestar confiabilidade ao texto;
•           Assinatura: esse gênero textual pode ser assinado - caso venha orientações na prova para isso - ainda que seja muito pouco observado esse comportamento nos veículos regulares e de maior visibilidade da imprensa brasileira.

5 - Correspondências (carta pessoal e impessoal; e-mail; etc.)
Corresponder-se talvez seja uma das mais antigas formas de comunicação escrita e, por isso, um dos mais antigos gêneros textuais. Seguramente foi um dos primeiros a ter algumas necessidades formais tornadas públicas, porque fundamentais, tal como o endereçamento, a informação sobre destinatário e remetente, a datação, etc.
Genericamente, podem-se dividir as correspondências entre as formais e as informais. Neste grupo figuram desde as cartas remetidas a pessoas conhecidas com as quais se mantém determinado nível de intimidade até bilhetes despretensiosos colados na geladeira. No universo da formalidade, as cartas podem ser enviadas a pessoas desconhecidas, a instituições, etc., com diversos níveis de preocupação com questões associadas ao uso de pronomes de tratamento, norma gramatical, formatos oficiais, etc., muito além das percebidas na informalidade.
A carta impessoal, normalmente, tem intenção frequentemente persuasiva em relação a um interlocutor específico, a fim de convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido. Do ponto de vista técnico, é um tipo de correspondência com linguagem formal, ou seja, exige-se o uso de pronomes de tratamento adequados à posição ocupada pelo destinatário; o emprego da norma padrão; um processo de interlocução respeitoso; uma normatização específica ao contexto em que a correspondência é enviada; etc.
Em tempo, é importante justificar por que se solicita que a argumentação seja feita comumente em forma de carta em situações de avaliação. Isso se dá em função do pressuposto de que, se é definido de forma prévia quem é o interlocutor sobre um determinado assunto, há melhores condições de fundamentar uma argumentação e avaliar a capacidade do candidato de moldar sua linguagem, seus argumentos e a informação de acordo com seu interlocutor.
Embora o foco da carta formal seja um determinado tipo de argumentação, ela implica também em algumas expectativas quanto à forma do texto. Por exemplo, é necessário estabelecer e manter a interlocução em cada parágrafo preferencialmente, usar uma linguagem compatível com o interlocutor, empregar referenciais espaciais e temporais, usar marcas de autoria ao longo de toda a carta, assinar quando for solicitado, etc.
Para o cumprimento da proposta em que é exigida uma carta impessoal ou formal, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário, acima de tudo, argumentar por demanda, que é, em princípio, o entendimento sobre as motivações, as fraquezas e as preferências do destinatário da correspondência.
Por outro lado, carta pessoal é uma forma de correspondência caracterizada pelo tom informal, pelo envio de correspondência geralmente para uma pessoa conhecida ou íntima e pelo descompromisso com algumas convenções formais típicas de cartas remetidas a desconhecidos ou produzidas em um ambiente profissional ou acadêmico.
Esse subtipo de gênero textual é de difícil definição, porque oscila em termos técnicos de acordo com o interlocutor, pois se o destinatário for irmão do remetente a proximidade entre os dois será expressa por meio da linguagem de forma distinta de uma carta endereçada a um pai ou avô, ou seja, exige-se a modulação do discurso em função da intimidade ou proximidade que se tem com o interlocutor em uma específica situação comunicativa.
Quanto a questões estruturais como datação, saudações, etc., é importante que, em concursos, sejam respeitadas essas necessidades, visto que as mudanças nesse contexto comparadas à carta impessoal são apenas de cunho linguístico. Ainda que, em situações cotidianas, a carta informal possa prescindir de partes como essas.
Em tempos de avanço tecnológico vertiginoso, é obrigatório tratar de uma forma de correspondência responsável por não só romper as fronteiras espaços-temporais como reavivar um costume que parecia esquecido de trocar correspondências. O nome dessa tecnologia, ferramenta ou processo criado e popularizado nos últimos 40 anos é correio eletrônico ou “e-mail”. Trata-se de uma espécie de correspondência ou bilhete enviado digitalmente por meio de uma rede de computadores e que passou a ser utilizado com a viabilização da internet desde a década de 1970. No século XX, tornou-se o gênero textual digital mais comumente usado pelos internautas. Sobre as características estruturais e linguísticas desse gênero textual, pode-se identificar facilmente o vocativo ou saudação inicial; o corpo da correspondência, onde se desenvolve o assunto; a saudação final ou despedida; e a assinatura. Muitas vezes esse meio de comunicação pode ter anexado a ele uma quantidade imensa de informações, já que qualquer arquivo de até alguns megabytes pode ser enviado como anexo de uma correspondência eletrônica.
Esses elementos linguísticos e formais podem variar segundo o grau de formalidade da relação entre locutor e interlocutor da correspondência. Da mesma forma, também varia a linguagem em função da relação entre esses interlocutores. Os períodos de um “e-mail” costumam ser curtos e na ordem direta para favorecer a clareza e a objetividade do texto. Por meio desse recurso, são integradas pessoas em questão de segundos, ou mesmo em tempo real, porque é ignorada a distância em que se encontram os interlocutores. Vale lembrar uma peculiaridade do correio eletrônico, que é a presença de um campo para título ou assunto que antecipa o tema desenvolvido no corpo dele.
Ainda sobre o processo de envio e recebimento de mensagens eletrônicas entre pessoas, entidades e instituições, calcula-se que ela alcança volumes gigantescos, muito em função das mensagens não solicitadas, conhecidas como “spam”.

6 - Narrativa oral
Modalidade oral de se contar uma história ou relatar um fato que pode ser esquecida em meio ao cotidiano de indivíduos e comunidades ou pode ser incorporada às vivências de uma pessoa ou mesmo à cultura de uma comunidade, o que permite que essa história atravesse, mesmo não documentada pela escrita, séculos com suas informações principais preservadas razoavelmente. Essa modalidade textual narrativa é fundamental na criação, no estabelecimento e na manutenção de aspectos importantes do folclore, da religião, da medicina popular, etc.

7 - Micro conto e nano conto
Gênero textual caracterizado pela intensa e por vezes radical opção pela concisão da história narrada. Na maioria das vezes, as histórias são contadas com não mais do que algumas ou no máximo dezenas de palavras. Por isso, é uma forma de narrar muito cultuada por escritores que têm como principal suporte de divulgação para seus trabalhos a internet, o que dialoga com a velocidade e o dinamismo de um tempo muito determinado por esse meio de comunicação, daí talvez o gosto pela síntese que define essa modalidade narrativa. São exemplos as produções do “site” www.nemonox.com/1000portas.

8 - Conto
Ainda que se possa dizer que é uma narrativa mais breve, para muitos teóricos é uma forma narrativa de ficção literária melhor definida pela captação de um instante, de um momento da trajetória de um núcleo dramático (um protagonista, uma família, etc.). Isso porque contém geralmente um único drama ou conflito desenvolvido num espaço restrito, num tempo curto e por um número reduzido de personagens. São exemplos: “O primo”, Paulo Henriques Britto; “Amor”, Clarice Lispector; etc.

9 - Romance
Um romance é um texto narrativo em prosa tal como o conto e a novela. Forma de explorar mais que um conflito na trajetória de um núcleo dramático, de maneira geralmente pormenorizada, em virtude de os personagens, os espaços e o enredo serem desenvolvidos mais profunda e detalhadamente do que em outros gêneros narrativos literários. Além disso, é frequente a inclusão na história de episódios aparentemente autônomos em relação ao eixo temático principal. São exemplos: “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos; “O vermelho e o negro”, de Stendhal; “Crime e castigo”, de Dostoiévski; “1984”, de George Orwell; “Lolita”, de Vladimir Nabokov; etc.

10 - Novela
A novela é um tipo de narrativa caracterizado pela presença de um núcleo dramático principal, desenvolvido de forma mais detalhada que no conto e menos do que no romance, entretanto é acompanhado por outros núcleos de importância menor na história, mesmo porque orbitam em torno do principal, os quais podem ter em alguns momentos da narrativa atenção semelhante ao principal ou mesmo maior. Isso não ocorre no conto ou no romance, visto que neles o núcleo principal de personagens ou o protagonista tem atenção absoluta ao longo de praticamente toda a narrativa. Comparada ao romance, a novela apresenta menos recursos narrativos; já em comparação ao conto, um enredo mais desenvolvido e personagens descritos com mais detalhamento. São exemplos: “Um copo de cólera”, Raduan Nassar; “Amor de perdição” de Camilo Castelo Branco; etc.

6 - Fábula
Protagonizada geralmente por animais que foram humanizados, já que interagem e comunicam-se de forma assemelhada a dos seres humanos. Geralmente, contém uma "moral" implícita ou explícita, que tem caráter pedagógico, no sentido de que ambiciona incutir, em particular nas crianças, determinados ensinamentos e regras.

11 - Apólogo
Protagonizado comumente por objetos humanizados, por isso falam, sofrem, alegram-se, etc. Assemelha-se à fábula, visto que contém uma "moral" implícita ou explícita também pelas mesmas razões.

12 - Parábola
Narrativa curta e alegórica com ensinamentos éticos implícitos ou explícitos inseridos ao longo da história, muitas vezes mediados por moral religiosa; diferencia-se da fábula e do apólogo por ter como personagens seres humanos. Em parábolas, podem ser usados recursos retóricos e linguísticos associados à comparação entre duas realidades, termos, pessoas, etc., com o intuito de se indicar um preceito religioso ou moral para ser respeitado.

13 - História em Quadrinhos (HQ), mangá e “Graphic Novel”
As HQs surgiram no século XIX da união entre a linguagem verbal presente nos “balões”, em que constam as falas ou pensamentos dos personagens, e desenhos que os representam em todo tipo possível de ação, portanto é uma forma de contar histórias híbrida, porque verbal e não verbal ao mesmo tempo. A reprodução das ações nesse tipo de narrativa, daí arte sequencial, inspira-se em alguma medida no cinema, são exemplos as séries históricas das décadas de 1960 e 1970 de heróis como Capitão América, Super homem, Batman, etc. Contudo, essa escolha é denunciada de forma mais explícita nos mangás criados no Japão, que se diferem das HQs, porque o enquadramento é realmente muito assemelhado ao movimento de câmera do cinema e pela pouca importância dada à linguagem verbal, daí a grande expressividade dos desenhos e o uso intenso de onomatopeias. São exemplos os títulos “Vagabond”, “Cowboy Bebop”, “Neon Genesis Evangelion”, “Akira”, etc. Quanto à Graphic Novel, criada nos EUA, trata-se de uma HQ destinada ao público adulto em função do argumento com honestas pretensões literárias, sociológicas ou filosóficas; das discussões refinadas sobre vários aspectos da experiência humana e da qualidade artística dos desenhos. São exemplos “Watchmen”, “Constantine”, “Sin City”, “Ronin”, “Livros da Magia”, “Sandman”, “Maus”, etc.

14 - Autobiografia
Gênero textual entre o literário e o jornalístico em que o escritor narra a sua própria vida ou parte dela em primeira pessoa do singular geralmente. Para escrever esse gênero textual, que pode conter quaisquer eventos capazes de compor uma história - das futilidades das celebridades instantâneas ou juvenis à relevância de pessoas com carreiras longas e profícuas ou mesmo autoras de obras e feitos extraordinários – além disso, pode ser escrita em prosa ou em verso, ainda que o primeiro caso seja muito mais comum. A linguagem empregada pode ir da mais absoluta e rigorosa aplicação da norma padrão à espontaneidade e descompromisso da linguagem popular. Essa modalidade textual pode conter ainda confissões, traços memorialísticos e cartas que revelam ou relembram as experiências e vivências da pessoa biografada. Tal gênero pode ser escrito em forma de memórias, diários, coleção de cartas, etc.

15 – Biografia
A biografia é um texto fundamentalmente narrativo que tem como foco e razão narrar as vivências, os feitos, as experiências, os fracassos, as conquistas, etc., de uma pessoa ao longo de toda a sua vida ou parte dela.  Nesse gênero textual, é fundamental o estabelecimento de uma ordem cronológica e organizada dos fatos narrados, com a ajuda de marcadores temporais como datas, aniversários, eventos históricos, etc. Além disso, a utilização de verbos na terceira pessoa do singular e de tempos verbais como o pretérito perfeito e o presente do indicativo são aspectos marcantes para a composição do texto biográfico.

16 – Anedota
É uma breve história ficcional de final engraçado e, por vezes, surpreendente, ainda que o Houaiss traga um sentido menos comum para esse termo que é “particularidade curiosa ou jocosa que acontece à margem dos eventos mais importantes, e por isso geralmente pouco divulgada, de uma determinada personagem ou passagem histórica”. Utiliza-se de humor que transita entre a ingenuidade das piadas de cunho infantil e do universo sertanejo ou caipira com os “causos” à acidez das piadas de apelo sexual, preconceituoso, sarcástico ou mesmo fundadas no popular “humor negro”. Na maioria dos casos, a anedota é usada para provocar risos em quem lê ou quem escreve, Também é chamada comumente de piada.

17 – Relato de experiência vivida ou relato
O relato é um gênero textual em que se conta um fato que ocorreu conosco ou com outra pessoa circunscrito a um intervalo específico e determinado de tempo. Também é comumente escrito com reflexões acerca das experiências vividas ou vivenciadas.  Em outras palavras, tais relatos devem nos servir para refletir sobre acontecimentos da vida e sobre o que aprendemos ao vivê-los. Tem a maioria dos elementos estruturais e formais da narrativa, ainda que sejam histórias comumente desprovidas de clímax e de momentos de grande tensão ou expectativa.

18 - Oração 
Texto que contém uma súplica dirigida a algum tipo de divindade. Também pode ser chamada de reza ou prece, ainda que para algumas religiões haja diferença entre essas denominações, nos vestibulares elas em geral são vistas como sinônimos. Normalmente, guarda mais semelhanças com a poesia do que com a prosa do ponto de vista estrutural. É recorrente o uso de vocativos e de afirmações categóricas a respeito de preceitos morais.

19 - Sermão 
Discurso opinativo e religioso com intuito de impor uma determinada conduta ou moral por meio da contundência das ideias e da eloquência daquele que o profere. Tem estrutura variada, embora possa se perceber o uso recorrente de metáforas e alegorias como forma de aproximar o debate das pessoas das mais variadas origens sociais e econômicas.

20 - Diário
Tipo de texto em que o autor registra cronologicamente fatos ou acontecimentos do cotidiano, opiniões sobre os mais variados assuntos, impressões acerca de si mesmo ou do outro, confissões, meditações, etc. Pode ainda ser uma espécie de registro de bordo de embarcações e aeronaves em que se anota todos os acontecimentos e fatos que concernem ao veículo ou mesmo à sua tripulação. Outros usos desse gênero discursivo fazem os cientistas e pesquisadores que vão a campo ou ao laboratório e, em um diário, anotam tudo importante e relevante para as pesquisas nas quais estão envolvidos ou que ambicionam estar.

21 - Receita
É um texto que pode ser visto como uma indicação sobre como se prepara uma iguaria qualquer. É um texto injuntivo composto de duas partes distintas: a descrição dos ingredientes a serem usados, seguida do modo de preparo. Esse gênero textual é repleto de verbos no imperativo e de ordens dispostas de forma cronológica sobre como confeccionar determinado prato, objeto, etc.

22 - Convite 
É um gênero textual em que se faz a solicitação da presença ou participação de alguém em um tipo de evento que pode ser uma festa de aniversário de uma criança ou mesmo uma recepção no Palácio do Planalto, ou seja, é uma espécie de convocação.

23 - Anúncio
Tipo de texto geralmente marcado pela concisão com que se divulga ou se vende algo ao público. De forma mais corriqueira, é entendido como propaganda criada com objetivos comerciais, institucionais, políticos, culturais, religiosos, ideológicos, etc. Centrado na função conativa da linguagem, é comum que tenha referências ao interlocutor (espectador ou leitor) em linguagem imperativa, para transmitir a ele mensagem elaborada com o intuito de convencê-lo sobre as qualidades e eventuais benefícios de uma determinada marca, pessoa ou procedimento.

24 - Manifesto
Gênero textual em que predomina a tipologia textual argumentativa que consiste em uma declaração pública de princípios, valores e intenções a fim de propor uma mudança, fazer uma análise crítica de um evento ou processo, expor um problema ou convocar um dado grupo a se unir para realizar determinado feito, etc. Conceitualmente, os manifestos em geral tendem a ter um tom crítico em relação à sociedade ou a setores dela em uma espécie de declaração de intenções, em que argumentos são arrolados como justificativa para as ideias propostas. Do ponto de vista linguístico, trata-se de um texto de estrutura relativamente flexível, ainda que tenda a assemelhar-se a uma dissertação ou texto opinativo, além disso há presença de vocativos; de referenciais como data, local e informação sobre autores do manifesto e sobre aqueles que se filiaram a ele; de título; de verbos no presente do indicativo ou no modo imperativo; de uma linguagem intimamente associada ao público alvo desse gênero textual; etc. Enfim, é um discurso político em que se discute e questiona determinada visão sobre aspectos sociais e econômicos ou mesmo estéticos e artísticos. São exemplos os manifestos futurista, comunista, surrealista, antropófago, da poesia Pau Brasil, etc.

25 - Hipertexto
Texto em formato digital, ao qual são associadas outras informações, por meio de palavras-chave, títulos de outros textos, imagens, sons, ícones, vídeos, etc., dispostas de forma não linear, transformadas em “links” que podem ou não ser acessados de acordo com a demanda do internauta – mais comumente - ao longo da leitura desse hipertexto. O acesso a essas informações dá-se por meio de “links”, os quais são coincidentes com esses tipos de informação adicionais já listados. A função deles, portanto, é tornar mais dinâmico, individual e intertextual o processo de contato com uma determinada informação e com as que podem complementá-la ou mesmo explicá-la.
As principais características desse tipo de texto mais comumente encontradas em ambientes virtuais, especialmente na internet, são a intertextualidade promovida e facilitada com uma infinidade de outros textos e outras referências graças aos “links” e a facilidade de manipulação e colagem de conteúdo propiciadas pela plataforma digital; a velocidade com que se pode lê-lo ou mesmo modificá-lo; o dinamismo relativo às muitas formas de lê-lo e produzi-lo; a razoável facilidade de produzi-lo; a interatividade responsável por quebrar um paradigma de que o processo de leitura é cunhado pela passividade por parte do leitor em relação às informações contidas em um texto; os muitos caminhos para decodificá-lo em níveis diferentes de profundidade; a forma dedutiva como geralmente a arquitetura da informação nele é disposta; a relação intensa com recursos multimidiáticos; a forma em rede como a informação é disposta nas relações infinitas que os hipertextos tem entre si e até no interior deles próprios; e a transitoriedade e a efemeridade do discurso interior a eles.
O importante pensador Roland Barthes anteviu essa revolução quando em 1980 escreveu sobre o hipertexto: “as redes são múltiplas e jogam entre si sem que nenhuma delas possa encobrir as outras; esse texto é uma galáxia de significantes e não uma estrutura de significados; não há um começo: ele é reversível; acedemos ao texto por várias entradas sem que nenhuma delas seja considerada  principal; os códigos que ele mobiliza perfilam-se a perder de vista, são indecidíveis (…); os sistemas  de sentido podem apoderar-se desse texto inteiramente plural, mas o seu número nunca é fechado, tendo por medida o infinito da linguagem.”.

26 - Chats e “webchats”
   Normalmente, são dedicados a um assunto específico, eles tem como principais características o fato de permitirem conversações em tempo real entre duas ou mais pessoas; de garantirem grande interação entre os interlocutores; de serem ambientes onde são discutidos os mais variados temas com critérios claras de conduta ditados pelo provedor, “site” ou pelo moderador do “chat”; e de depender de uma forma de escrita digital e coletiva, quase sempre democrática, bastando fazer um rápido cadastro para passar a contribuir para a discussão.

28 - Mensageiros ou comunicadores instantâneos
   Trata-se de um processo de comunicação estabelecido geralmente em duplas, a partir de uma lista prévia de contatos. Além disso, seus usuários fazem severas e profundas adaptações no uso da língua, para aproximar suas “conversas” de diálogos orais, com todas as suas possibilidades, inclusive de expressar emoções com os “emoticons” e o dinamismo e a rapidez de diálogos orais com as abreviações e sinais gráficos, tais como: D+, bjos, tb, td, mt, aki, qnd, tbm, tc, etc.

29 - Dissertação
Dissertação é um gênero textual produto das interações entre certas tipologias textuais, em especial a argumentação e a exposição, ainda que descrição e narração possam ser usadas como recursos para construção particularmente de argumentos. Esse gênero textual é empregado de forma regular para comunicar e documentar debates de cunho científico, acadêmico, estético, etc., com o intuito de comunicar a posição de alguém sobre determinado tema de forma organizada e respeitosa de princípios do pensamento lógico e formal. É construído em três etapas, convencionalmente chamadas de introdução desenvolvimento e conclusão; utiliza a linguagem mais objetiva possível; respeita a norma padrão da língua portuguesa; etc.

30 - Resumo
O resumo é um gênero textual que tem como objetivo sintetizar o conteúdo de um determinado texto, com o intuito de comunicar suas ideias mais importantes, sem análise crítica, sem acréscimo de informações ou de qualquer análise personalista. É necessário que seja empregado, na construção do resumo, um discurso derivado da norma padrão, além de, preferencialmente, seguir-se a mesma ordem das informações do texto original, daí a necessidade de que a leitura seja uma competência muito desenvolvida por quem resume as ideias alheias. Um resumo deve ter, portanto, brevidade, clareza e fidelidade temática ao texto original. Precisa, ainda, ser escrito com um discurso autoral, ou seja, não se devem copiar trechos do texto original, pois as ideias contidas nele devem ser reproduzidas pelas palavras de quem elabora o resumo.
Geralmente é iniciado com notas bibliográficas que informam o título, o autor, a data e o veículo da publicação, o tema do texto original, etc. Dessa forma, o leitor será melhor e mais eficientemente esclarecido sobre as informações fundamentais do texto resumido, além de, assim, ser possível uma visão geral e prévia acerca do texto original.
Para se fazer um resumo, há algumas etapas que muito facilitam na confecção dele, a saber: identificar todas as informações fundamentais para a confecção de um resumo como o autor, a data e o local de publicação, o título, a tema principal, etc.; ler o texto original sob a perspectiva de selecionar todas as ideias mais importantes dele; reconhecer o gênero textual do texto original; identificar o modo como as informações contidas no texto a ser resumido foram organizadas; destacar os principais recursos expressivos e linguísticos do texto original para que melhor se possa entendê-lo, ainda que exemplos, analogias, ilustrações, etc. não sejam informações prioritárias na confecção de um resumo; fazer um esquema do resultado dessa investigação a respeito do texto original; etc.

31 - Resenha
A resenha crítica é um gênero textual bastante comum em revistas, jornais, blogues, portais da internet, etc., pois combina a apresentação das características essenciais de uma dada obra (filme, livro, peça de teatro, disco, etc.) com comentários e avaliações críticas acerca da sua qualidade, pertinência, intertextualidade, etc. Em suma, a resenha é uma forma de síntese textual comumente acompanhada de uma análise ou um julgamento acerca das ideias resumidas, ou seja, é uma espécie de resumo crítico. A resenha é uma modalidade discursiva muito comum em jornais como meio de se avaliar um livro, um disco, um filme, etc.

32 – Fichamento
Fichamento é uma forma de organização, síntese e armazenamento de informação em que, sem qualquer tipo de análise por parte de quem o faz, o conteúdo de um livro, artigo, ensaio, etc., é transposto para uma ficha em que se transcreve ou se resume as principais passagens, fundamentos ou objetivos do texto em questão de forma a dar conhecimento da obra de maneira sintética para futuros interessados a respeito das informações principais do texto original. É comum que as fichas sejam indexadas por alguma forma de sistema que facilite a procura dos textos fichados.

33 – Entrevista
A entrevista é normalmente feita oralmente, ainda que seja cada vez mais comum o uso do e-mail para se responder às perguntas de um repórter. É caracterizada pela linguagem acessível, rápida e norma padrão típica do discurso jornalístico, em especial, nos momentos em que o texto é do entrevistador, a saber: título, apresentação e perguntas.
O estudo a respeito do que se quer saber do entrevistado e mesmo a respeito dele é crucial para se fazer uma entrevista. Outra questão importante em entrevistas é a ética, pois o entrevistador deve ter o compromisso de transcrever exatamente o que foi dito pelo entrevistado, sem qualquer alteração ou edição. Estruturalmente, divide-se em título, quando se comunica de forma de preferência criativa algo sobre o entrevistado ou a razão de entrevista-lo; apresentação, é a parte em que se traça um breve perfil do entrevistado e se destacam aspectos da atuação dele que justifiquem a entrevista; e perguntas e respostas, quando a entrevista realiza-se propriamente como um texto em turnos em que um entrevistador faz perguntas que serão respondidas ou não pelo entrevistado. 

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