sábado, 29 de junho de 2013

Gêneros textuais - crônica - exemplo

Complexo de vira-latas
Por Nelson Rodrigues

Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: - "O Brasil não vai nem se classificar!". E, aqui, eu pergunto: - não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
Eis a verdade, amigos: - desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse "arrancou" como poderia dizer: - "extraiu" de nós o título como se fosse um dente.
E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvidas: - é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: - o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: - se o Brasil vence na Suécia, e volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.
Mas vejamos: - o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, "não". Mas eis a verdade: - eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: - sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado Flamengo. Pois bem: - não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.
A pura, a santa verdade é a seguinte: - qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: - temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de "complexo de vira-latas". Estou a imaginar o espanto do leitor: - "O que vem a ser isso?". Eu explico.
Por "complexo de vira-latas" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos "os maiores" é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: - e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: - porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
Eu vos digo: - o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota. Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.


Recado ao senhor 903
Por Rubem Braga

Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento.
Recebi depois sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito, a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela.”
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

Atualidades - 2013 - EM e PV - Lista 21

Queridas alunas e queridos alunos,

Espero que todos estejam bem e preparados para as avaliações finais desse bimestre.
A semana começa bem com a vitória do Brasil sobre a Espanha. Somos campeões no futebol. Até aí, nada de novo.
Sim, conseguimos conquistar muito mais que um campeonato de futebol nas últimas semanas. A PEC 37, que foi devidamente aniquilada na semana passada, é só uma das várias conquistas. Continuamos acreditando que a maior dessas conquistas é, sem dúvida, a atenção que daqui para frente será dispensada aos movimentos e ações políticas no nosso país.
Algumas propostas já causam certo incomodo à sociedade. Durante as aulas da semana passada, nenhum assunto gerou tantos debates quanto o da questão da contratação de médicos estrangeiros para trabalhar no Brasil. Falta de vagas nos cursos de medicina, falta de infraestrutura, descaso, entre outros tópicos, eram citados como sendo de prioridade de resolução. Cito aqui, repetindo o que disse em sala de aula que, se esperamos que o Brasil realmente mude, que o IDH atinja níveis elevados, podemos também esperar por pessoas de outros países procurando por melhores condições de vida. As migrações acontecem e não há nada que possa evita-las. Agora, podemos sim, evitar que desenvolvamos sentimentos protecionistas e até mesmo, xenofóbicos.
Estamos torcendo, pelo futebol também, mas principalmente, por um futuro melhor.
Que todos tenham uma ótima semana.

Cheers,

Humberto Costa
facebook.com/humbertoaraujocosta

Caras e caros,

Eis uma semana de muitas discussões relevantes como o Ato Médico, a questão da privacidade na internet, as manifestações de várias correntes ocorridas no Brasil nas últimas semanas. Lembro a todos os vestibulandos que boa parte desses assuntos ainda pode ser aproveitados pelo vestibular da UFU especialmente, que tem produzido propostas de redação com temas debatidos pelos meios de comunicação em data muito próxima da prova. Esse não é o caso da UFTM, que, em função dos temas muitas vezes subjetivos, distancia os temas de temas mais contemporâneos ou mesmo temporalmente pertinentes.

Professor Estéfani Martins 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Crase - usos

http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/crase-regras-de-uso-e-emprego.htm

Teoria sobre próclise

http://www.gramaticaonline.com.br/texto/861/Pr%C3%B3clise

Teoria introdutória sobre vírgula

http://gramaticaonline.com.br/texto/951/V%C3%ADrgula

Atualidades - 2013 - EM e PV - Lista 20

Querida alunas e queridos alunos,

Quinta feira da semana passada foi impressionante. Acho que poucas da pessoas que saíram às ruas de Uberlândia naquela noite imaginaram uma multidão tão expressiva. Esperança estampada no rosto dos mais de 35 mil manifestantes que exerceram o direito de protestar contra os mais diversos problemas que assolam a nossa nação.
Exigências que levaram as pessoas às ruas em primeiro lugar já foram atendidas, nossos políticos se reunindo para tentar entender o que está acontecendo, primeira página no jornal mais lido do mundo, o New York Times, entre outros, e o termômetro que indica que, sim, o país está diferente, jovens discutindo política nos intervalos escolares, nas redes sociais, nos bares, nas ruas. Isso tudo em plena competição oficial de futebol em que a seleção brasileira está jogando muito bem.
Sem dúvida, é o movimento da nossa geração. As manifestações continuam, agora mais focadas em objetivos pontuais como a anulação da PEC 37. Continuamos aqui. O Brasil continua acordado.
Além das manifestações, chamamos a atenção para a chegada da Jornada Mundial da Juventude no mês que vem que contará com a presença do Papa Francisco que completou 100 dias à frente da Igreja Católica.
Espero que todos tenham uma excelente semana.

Cheers,

Humberto Costa

Caras e caros,

Até que enfim, a informação parece ter alcançado timidamente sua razão de ser e as pessoas parecem ter começado a reaprender o poder de suas vontades unidas. Para esta semana, basta.

"Conhecimento é poder." (Francis Bacon)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Samba: plural, miscigenado e em movimento

Samba
          Símbolo maior e referencial mais amplo e significativo da música brasileira, além de ser uma das principais manifestações artísticas do Brasil, é também principal motivo e trilha sonora da maior festa popular do Brasil: o carnaval.
          É definido grosso modo como um tipo de canção popular de ritmo geralmente sincopado e andamento variado, surgido a partir do início do século XX da união de ritmos afro-brasileiros como o Lundu, o Maxixe, os cantos e batuques de religiões afro-brasileiras somados a influências musicais europeias e indígenas. De origem controversa, parece ter se desenvolvido ao longo do século XIX de forma anônima e coletiva no Recôncavo Baiano em torno dos chamados Sambas de Roda. No fim deste século, chegou ao Rio de Janeiro, onde de forma veloz amadureceu ritma e poeticamente na região do centro chamada Pequena África em meio à profusão de terreiros de Candomblé que existiam por lá. Portanto, como estilo musical, o samba genericamente é uma manifestação artística urbana, percussiva, periférica, de origem plural; oriunda do século XX e produto da fusão de diversos ritmos musicais folclóricos, estrangeiros e de várias regiões do Brasil.
          Contudo, é importante ressaltar que o Samba desenvolveu-se de forma bastante peculiar em quase todo o país, com a incorporação de inúmeras tradições musicais regionais ao batuque africano associado às diversas etnias negras trazidas para o Brasil pelo tráfico negreiro, o que o tornou um estilo musical plural e de definição múltipla ao se observar a sua variedade em solo brasileiro, como bem mostram estudos de Mário de Andrade, Hermano Vianna, etc. São exemplos desse processo o Coco no Ceará; o Samba-de-roda na Bahia; o Jongo, o Partido-alto e o Miudinho no Rio de Janeiro; o Samba-rural em São Paulo; o Tambor-de-crioula no Maranhão; o Coco-de-parelha e o Samba de Coco em Pernambuco; etc.
          Todavia, ainda que hoje seja reconhecível a diversidade de subestilos do que se chama genericamente de Samba, a versão carioca é a variante que passou a condição de ícone da identidade nacional brasileira a partir dos anos de 1930 e que foi empossada com o significado do que a maioria das pessoas no mundo inteiro reconheceriam como Samba brasileiro. Isso porque era o tipo dominante na capital do país naquela ocasião, o que dava a essa variedade uma vantagem natural sobre outros subestilos.
          De volta a uma cronologia para o Samba, a partir da segunda metade do século XIX, intensifica-se a migração de baianos para o Rio além do retorno dos combatentes de Canudos. Esse processo fez crescer de modo significativo o número de negros e mestiços na cidade do Rio de Janeiro, além de aumentar o intercâmbio cultural entre regiões diferentes do Brasil com etnias negras dominantes distintas em cada uma delas. Esses agrupamentos ocupariam imediações de morros como o da Conceição e áreas próximas às Praças Mauá e Onze, além da Zona Portuária. Desse processo de ocupação geográfica, terá origem muitas das chamadas favelas cariocas. Nessas comunidades, constituiu-se um ambiente profícuo para o desenvolvimento de uma cultura urbana, brasileira e mestiça de origem evidentemente africana, em torno dos ritos da religiosidade afro-brasileira, do Lundu e do Maxixe. Nesse contexto, é que as famosas “Tias Baianas” da Pequena África ganham importância no amadurecimento de uma forma carioca e urbana de Samba, como organizadoras de espaço privilegiado e libertário para a execução e criação, muitas vezes coletiva e de improviso, de Sambas nos terreiros dos quais eram líderes. Tais festas eram uma oportunidade para louvar os ancestrais; rir do cotidiano; aliviar tensões provenientes do trabalho e do preconceito; cantar e dançar. Dentre elas, destacaram-se Tia Amélia, mãe de Donga; Tia Prisciliana, mãe de João da Baiana; Tia Rosa Olé; Tia Veridiana, mãe de Chico da Baiana e Tia Ciata. Desse processo de intensas e espontâneas trocas culturais, nasceria o Samba como gênero musical brasileiro, ainda que fosse carioca, era uma síntese de diversas tradições musicais de regiões distintas do Brasil e do exterior.
          A primeira gravação em disco de um samba ocorreu em 1917, era “Pelo telefone”, que já foi muito bem sucedida nesta época. Segundo a Biblioteca Nacional, deu-se por intermédio do sambista Donga. Era um Samba-maxixe, que denunciava as origens híbridas, mestiças e paradoxais que fazem tão brasileiro o Samba. Nesse momento, o Samba era visto com reservas pela classe média e pelas elites, pois era reconhecido e criminalizado como uma música lasciva, licenciosa e corruptora da moralidade.
          Concomitantemente, consolida-se nas reuniões nas casas das Tias o Samba de partido-alto, que é uma variante do Samba muito próxima dos batuques africanos com uma origem que se confunde com as próprias festas ou pagodes embalados por música, dança, comida e bebida que sucediam muitas vezes ritos sagrados conduzidos pelas Tias em suas casas. O Samba de Partido-alto é dividido em duas partes chamadas refrão e versos improvisados, em que se unem, a partir de uma linha melódica preexistente, um refrão que é seguido de versos improvisados pelos componentes da roda de samba formada.
          Mais tarde, a partir da década de 1920, ocorre uma revolução no Samba, quando ele toma contornos do que mais facilmente é reconhecido na atualidade como Samba de Raiz. Esse processo deu-se por meio da intervenção de sambistas dos bairros Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e de morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, que modificaram a estrutura do Samba ao impor determinada forma poética e melódica ao ritmo, bem diferente da espontaneidade e da improvisação peculiares ao Partido-alto. Nessas comunidades, uniram-se, misturaram-se, fundiram-se experiências estéticas que consolidaram o Samba urbano e carioca tal como é conhecido e mais executado atualmente. Delas a mais importante foi a de Estácio de Sá a ponto da tal “Turma do Estácio” ter ganhado “status” de lenda na história do Samba, muito porque além das mudanças estéticas no Samba, foi nesse bairro que foi criada a Deixa falar, primeira escola de samba brasileira e responsável pelo primeiro desfile ao som de uma orquestra de surdos, pandeiros, maracanãs, cuícas, tamborins, etc., a qual viria a ser chamada de bateria. Foi formada por sambistas como Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos, Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem, entre outros responsáveis por impor uma cadência mais marcada e ordenada ao Samba. Outra mudança fundamental operada pela “Turma do Estácio” foi a valorização do compositor em função da atenção à segunda parte do samba não mais improvisada, porque composta. O Samba, assim, torna-se o grande cronista da vida brasileira das próximas décadas.
          Mais tarde, o Samba carioca seria tomado como símbolo cultural nacional, por vontade e interesse do Estado, paulatinamente indo além do Samba-enredo para também ocupar a vida das pessoas para além do carnaval com o Samba-canção, também chamado de Samba do meio do ano; e o Samba-exaltação ou Samba legalista, pelo seu caráter assumidamente defensor do “status quo”. Outra mudança foi temática, por força do governo varguista, em especial durante o Estado Novo, temas como a malandragem, o ócio, a apologia aos pequenos golpes, o sexo, etc., passaram a ser mal vistos e mesmo punidos com a censura ou a prisão de seus criadores e intérpretes, para dar espaço para temáticas ufanistas, valorizadoras do trabalho e do “status quo”, etc.
          O rádio também tem papel fundamental nesse processo de aceitação e massificação do Samba, além da importante oficialização em 1935 do desfile de carnaval no Rio de Janeiro. Nesse período, destacam-se Francisco Alves, Mário Reis, Orlando Silva, Silvio Caldas, Carmen Miranda, Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Braguinha, Ataulfo Alves, Assis Valente, entre muitos outros. Em função desses eventos, interesses e modificações, o Samba passou de maldito a inserido nas elites brasileiras, inclusive dentro do programa oficial de eventos culturais até no Teatro Municipal, além de fazer parte da campanha de propaganda sobre o Brasil impetrado por programas de rádio encomendados por Getúlio Vargas. Cassinos e o cinema também muito ajudaram no estabelecimento do Samba como símbolo nacional brasileiro e como elemento da propaganda oficial.
           O Samba-canção - que era uma forma mais cadenciada, lenta e melodiosa de Samba  - firma-se como uma expressão das mais populares em função não só do apelo radiofônico confirmado pelos sucessos de cantores como Dolores Duran, Ismael Neto, Lupicínio Rodrigues, Batatinha, mais tarde Cartola, Carlos Cachaça, Nelson cavaquinho, etc., como também pela capacidade de emular as dores de amor com requinte e fina elaboração estética. Posteriormente, surgiriam o Samba-choro, oriundo da mistura entre o sincopado do Samba com o fraseado elaborado do Choro; e o Samba de breque, fortemente sincopado e com paradas bruscas que serviam a intervenções do cantor para conferir humor e criticidade à letra do música.
          Na década de 1930, rapidamente, depois da criação da Deixa falar, surgiram várias escolas de Samba como a Mangueira, Portela, Império Serrano, Salgueiro e, na sequencia, Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel. Nessa época, a organização do desfile foi assumida pelo Estado que impôs regras e condutas a ser observadas, dentre elas estabeleceu a lógica do Samba-enredo como elemento condutor do desfile, que sempre deveria ter um tema associado á história oficial do Brasil como fio condutor da apresentação.
          Em 1940, prova do prestígio desse ritmo musical como realização estética, o grande maestro Heitor Villa-Lobos organizou a gravação para o também maestro estadunidense Leopold Stokowski no navio Uruguai de Sambas interpretados por gênios como Cartola, Donga, João da Baiana e Pixinguinha.
          A partir da década de 1950, o Samba volta a ser alvo de intensas trocas culturais com ritmos latinos como o Bolero e com ritmos norte-americanos como o Jazz que produziriam novas possibilidades como a Bossa Nova, o Samba-Jazz, o Samba-Rock, etc.
          Com o preciosismo da Bossa Nova, o Samba distancia-se de suas origens periféricas, mestiças e populares, para incorporar técnicas eruditas e típicas de ritmos norte-americanos. Na contramão do sucesso internacional da Bossa Nova, no Brasil, artistas como Chico Buarque de Holanda, Paulinho da Viola, Martinho da Vila passam a defender a revalorização e o resgate do chamado Samba de Raiz que remete ao Samba de breque, ao Samba-canção, ao Samba-choro, etc. Assim, gênios como Candeia, Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Nelson Sargento, etc., passam a ser revisitados da forma como suas obras únicas e de alta relevância cultural exigem. Ao longo da década de 1960, outros símbolos desse processo proliferam-se, são o "Movimento de Revitalização do Samba de Raiz" organizado pelo Centro Popular de Cultura; o restaurante Zicartola, epicentro da boemia carioca; os espetáculos no Teatro de Arena; o musical “Rosa de Ouro”, com sua constelação de bambas do Samba como Clementina de Jesus; e a Bienal do Samba. Ainda no final dessa década, surgiriam blocos carnavalescos como o Bafo da Onça (Catumbi), o Cacique de Ramos (Olaria) e o Boêmios de Irajá (Irajá), que muito bem promoveriam o Samba de forma até hoje fundada no aspecto democrático, caótico e descompromissado dos seus desfiles. Simultaneamente, o pianista Dom Salvador mesclaria o Funk norte americano com o suingue e o sincopado do Samba, daí surgiria o Samba-Funk, que alcançaria na década posterior popularidade e excelência estética com a banda Black Rio.
          No final também da década de 1960, influenciado pela Bossa Nova e pelo R&B norte-americano, surge o músico, cantor e compositor Jorge Ben com o Samba-Rock. Nesse momento, surge também o Tropicalismo que soma antropofagicamente o Samba a um grande número de ritmos brasileiros e estrangeiros para criar um movimento sem paralelo na cultura brasileira até então. Ao mesmo tempo, também ocorre o reconhecimento de São Paulo como uma região sensível ao Samba e capaz de produzir música de qualidade e autêntica como mostram a obra de grandes como Adoniran Barbosa e Geraldo Filme.
          Na década de 1970, cantoras como Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione, além das grandes damas Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus e Jovelina Pérola Negra, alcançariam vendagens expressivas de discos, o que mostraria não só o vigor do Samba como das mulheres nesse ambiente até esse momento prioritariamente dominado por homens. Destacam-se nesse período também Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Nei Lopes, João Nogueira, Os Originais do Samba, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, etc., como divulgadores, compositores ou intérpretes do Samba de Raiz.
          Na década de 1980, surge o chamado Pagode, com letras geralmente românticas; estrutura de banda pop em função do teclado, baixo, guitarra e bateria; às vezes, algum elemento do Samba-Rock; etc., bandas como Art Popular, Exaltasamba, Harmonia do Samba, Karametade, Negritude Jr, Só Pra Contrariar, Os Travessos, Molejo e Katinguelê seriam grandes vendedoras de discos nas décadas de 1980 e 1990.
          No início do século XXI, o Samba seria mais uma vez alvo de intensas fusões como o Samba-RAP de Marcelo D2 e de incursões ousadas na fronteira do Samba com outros ritmos de grandes cantoras como Alcione e Elza Soares. Além disso, surgem inúmeros grupos e intérpretes muito compromissados com a rica herança do Samba como o Grupo Semente, Quinteto em Branco e Preto, Marisa Monte, Roberta Sá, Diogo Nogueira, Clube do Balanço, Casuarina, etc. Em 2004, o governo brasileiro solicitou o tombamento do Samba como Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria "Bem Imaterial", por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Além disso, no dia 2 de dezembro, passou a se comemorar o Dia do Samba em todo o território brasileiro.
          Como forma de dança também assumiu inúmeras possibilidades a partir da dança de roda, das umbigadas e das formas de dançar ligadas ao batuque e à religiosidade africana, com dançarinos solistas e razoável liberdade coreográfica. Tornou-se popular e difundida como dança popular no Brasil inteiro com grande sorte de variedades de movimentos e de acompanhamento musical.

Marchinha
Um dos elementos mais importantes do Carnaval no Brasil, especialmente ao longo das seis primeiras décadas do século XX, para muito além dos Sambas-enredo, era a Marchinha o símbolo maior do espírito carnavalesco ingênuo, brincalhão e familiar que, ao menos no imaginário popular, figurou nos carnavais até a Segunda Grande Guerra. Seus compositores são responsáveis por muitas das melodias e letras mais conhecidas da música brasileira, tais como “Ô abre alas”, de Chiquinha Gonzaga; “Cidade maravilhosa”, de André Filho; “Pierrô apaixonado”, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres; “Chiquita bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro; “O teu cabelo não nega”, Irmãos Valença e Lamartine Babo; “Sassaricando”, de Luís Antônio, Jota Júnior e Oldemar Magalhães; Alá-Lá-Ô, de Haroldo Lobo e Nássara; Mamãe eu quero, de Jararaca e Vicente Paiva; “Eu dei”, de Ary Barroso; “Me dá um dinheiro aí”, de Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira; “Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal; “Maria Sapatão”, de Chacrinha, “Balancê”, de João de Barro e Alberto Ribeiro; entre muitos outros. A marchinha caracteriza-se pelo compasso binário assemelhado ao da marcha militar; pelo ritmo acelerado; pelas melodias simples e alegres; pelas letras com abordagens humorísticas, jocosas e atentas ao cotidiano das pessoas comuns; além da despretensão associada a uma produção musical focada no entretenimento e adesão rápida das pessoas.

Choro
Ritmo normalmente instrumental de temática melancólica, por vezes pitoresca ou jocosa, que estrutura-se a partir da junção de arranjos densos e ricos com harmonizações complexas e com execuções de grande sofisticação. A instrumentação é baseada em metais e cordas, ainda que se possa notar a presença marcante de instrumentos percussivos como o pandeiro. Os expoentes desse ritmo são Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Paulo Moura, Radamés Gnattali, Altamiro Carrilho, Garoto, Raphael Rabello, Hamilton de Holanda, Henrique Cazes, entre muitos outros. Foi criado na transição entre o século XIX e o XX a partir da mistura de elementos musicais de danças europeias (como a Valsa, o Minueto e, especialmente, a Polca), da música popular portuguesa e, evidentemente, da música afro-brasileira.

Gafieira

Baile de caráter urbano onde se executava vários tipos de Samba, em especial aqueles com acompanhamento de naipes de metais responsáveis pelo som malemolente algo inspirado no maxixe. Segundo registro de Mário de Andrade, no Rio de Janeiro, era visto como um “baile muito ordinário”, que era dedicado às classes “baixas” da sociedade.

Para ouvir:

Para ler:

Para ver:

domingo, 23 de junho de 2013

Material suplmentar - Arte barroca

Arte Barroca

Contexto

- O contexto em que a Arte Barroca desenvolveu-se alude à Contrarreforma católica por oposição aos ideais da Reforma Protestante anterior.
- Nesse período, houve um expressivo decaimento do poder da Igreja Católica em muitos países europeus. Entretanto, o nível da influência católica na economia, política e cultural, especialmente na Europa Latina, ainda era muito grande.
- Ideologicamente, a Arte Barroca desenvolve-se nas artes plásticas, literatura, teatro e música em meio ao embate entre duas visões de mundo, a saber: a espiritualidade e o teocentrismo medieval contra o racionalismo e o antropocentrismo renascentista.
- A Arte Barroca foi uma espécia de "braço artístico" da Contrarreforma.

Arte

- Normalmente, compreende-se como barroca a arte produzida no século XVII. Entretanto, desde o Maneirismo até o Rococó, pode-se perceber na produção artística desse extenso período peculiaridades do que viria a ser a Arte Barroca. Assim, é possível perceber indícios dessa concepção estética no final do século anterior, no contexto de uma arte concebida para combater os valores da Reforma Protestante e reforçar valores católicos e, mesmo no posterior, quando se desenvolvem manifestações plenas do Barroco, ou quando a estética afetada, sinuosa e assimétrica do Rococó pode ser amplamente percebida. Um dos marcos iniciais da Arte Barroca é a Igreja de Jesus, construída em Roma no ano de 1568 pelos jesuítas.
- O Barroco foi uma concepção artística surgida na Roma católica que rapidamente dissemina-se pelo mundo, submetendo-se a gostos e características regionais, como é o caso do Brasil. Essa é a primeira vez que uma escola ou estilo artístico europeu ultrapassa tantas fronteiras para influenciar outras concepções de arte, muito em função de sua disposição para se adaptar às condições de produção artística das colônias e da relativa abertura e flexibilização de sues preceitos para que pudesse ser mais facilmente em terras para além do solo italiano e, em última instância, europeu. Daí, nasce a dificuldade de fixar um comportamento estético padrão entre seus grandes mestres como Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), Peter Paul Rubens (1577-1640), Diego Velázquez (1599-1660), Rembrandt van Rijn (1606-1669), Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) e, no caso brasileiro, Aleijadinho (1730-1814).
- As características forçosamente gerais do que só mais tarde e de forma pejorativa veio a ser chamado de Barroco são o gosto pelo incomum, pelo extravagante e pelo bizarro; o intenso apelo emocional e dinâmico das obras; a tendência à assimetria das concepções artísticas; o ideário católico, mais do que cristão; o uso expressivo, maniqueísta e, muitas vezes, irreal do claro-escuro; as formas retorcidas e agonizantes; a clareza relativa das obras; o anseio pela restauração de um equilíbrio perdido; etc.
- As obras barrocas tendem a uma espécie de naturalismo, ou seja, pessoas, objetos e espaços são representados realisticamente tal como parecem, mesmo que subjugados pelo tempo, deformados por defeitos físicos e definidos por traços bizarros ou circunstancialmente feios. Portanto, as obras barrocas mostram certa despreocupação dos artistas em visitar formas ideais e renascentistas de beleza em sua produção.
- No fim do período barroco, desenvolve-se na França uma variante estética desse movimento, chamada Rococó, associada a uma estética mais decorativa e palaciana e caracterizada por superfícies prioritariamente luminosas e douradas, entalhes de formas sinuosas em C e S, arabescos, relevos intensamente floreados, etc. Temas vivazes, superficiais e leves - como retratos bucólicos da nobreza – eram importantes preferências estéticas do Rococó. Movimento também muito ligado à decoração de ambientes com marchetaria requintada, painéis pintados, espelhos de grande proporção, etc. O estilo era dominado pela preferência por cores como a branca, as prateadas, as douradas e tons suaves de rosa, azul e verde. Na pintura, os nomes mais importantes do Rococó são Pierre Lepautre, Jean-Antoine Watteau, Juste Aurèle Meissonnier, Nicolas Pineau, Jacques de Lajoue II François Boucher, Jean-Honoré Fragonard, Jean-Baptiste Pater e Jean-Marc Nattier. Na escultura, destaca-se Etienne Maurice Falconet. Um dos exemplos mais ricos e completos desse estilo é o Palácio de Versalhes na França.
- Cabe ainda colocar uma questão importante acerca da Arte Barroca, em função da obra singular do protestante Rembrandt por causa do seu descolamento do ideário da arte da Igreja Católica contrarreformista, ou mesmo da Arte Barroca dedicada a expressar as vontades e gostos das Monarquias de então, o que mostra uma faceta menos católica ou mesmo laica do Barroco em alguns países.
- Portanto, o Barroco representa o esplendor da emoção e do maniqueísmo submetido a interesses que se sobrepunham na maioria das vezes às escolhas individuais dos artistas. Além disso, é o primeiro movimento estético a internacionalizar-se de forma intensa e duradoura.

Barroco brasileiro

- O Barroco chega ao Brasil com o advento da Colonização Portuguesa. Desenvolve-se plenamente no século XVIII cerca de 100 anos depois do seu auge na Europa.
- O estilo do Barroco brasileiro é uma síntese da produção de quatro origens: portuguesa, espanhola, francesa e italiana. Essa mistura acentua-se em função da reunião de portugueses, filhos brasileiros de europeus e mestiços descendentes de europeus e brasileiros que produziriam um legado artístico sem precedentes na Arte Brasileira. O Barroco que se desenvolveu no Brasil reuniu - em razão de seus realizadores - características eruditas e populares. Alcançou seu auge artístico em 1760 em especial com a variação Rococó do Barroco mineiro.
- Os principais financiadores do Barroco brasileiro foram ordens religiosas beneditinas, carmelitas, franciscanas e jesuítas que se instalaram no Brasil desde o século XVI. Mais tarde, também ocupariam esse papel associações leigas como confrarias, irmandades e ordens terceiras.
- As igrejas barrocas brasileiras de forma geral são marcadas pelo contraste entre a relativa simplicidade de seus exteriores e as ricas e suntuosas ornamentações interiores. Tal escolha estética é uma metáfora transformada em recado para os cristãos sobre a necessidade de desenvolver virtudes espirituais em oposição a preocupações mundanas como a aparência física ou mesmo a ostentação sistemática da riqueza.
- O Barroco brasileiro vive vários ciclos e desenvolve-se em várias regiões como Ouro Preto, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, entre outras.
- Entre os maiores artistas do Barroco brasileiro estão Mestre Valentim, no Rio de Janeiro, e Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde (Mestre Ataíde), em Ouro Preto e adjacências.
- Um dos exemplos mais típicos desse estilo é a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767), cujo risco, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo são de autoria do Mestre Aleijadinho. A pintura ilusionista do teto da nave (1802) é de Manoel da Costa Ataíde (1762-1830). Podem ser citadas ainda as esculturas de madeira policromada (1796-1799) sobre os “Passos da Paixão de Cristo” para o Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, em Congonhas do Campo, feitas pelos Mestres Aleijadinho e Ataíde. No adro desse santuário, feitas por Aleijadinho, estão os exemplos provavelmente mais elaborados do talento desse mestre: “Os 12 Profetas de pedra-sabão” realizados entre 1800 e 1805.

Exemplos de Arte Barroca

- Caravaggio (1571-1610) pintor italiano - 1594 - óleo sobre tela – “O tocador de alaúde”.
- Caravaggio (1571-1610) pintor italiano - 1593-1594 - óleo sobre tela – “Baco”.
- Caravaggio (1571-1610) pintor italiano - 1608 - óleo sobre tela – “A decapitação de São João Batista”.
- Gentileschi, Artemisia (1593-1652) pintora italiana - 1620 – “Judite matando Holofernes”.
- Gentileschi, Artemisia (1593-1652) pintora italiana - 1625 – “Judite e sua criada com a cabeça de Holofernes”.
- Bernini, Lorenzo (1598-1680) escultor romano barroco - 1645-1652 - “O êxtase de Santa Teresa”.
- Bernini, Lorenzo (1598-1680) escultor romano barroco - 1632 - “O rapto de Perséfone”.
- Pozzo, Andrea (1642-1709) pintor jesuíta italiano (Barroco) - 1694 - afresco - “A apoteose de Santo Inácio”.
- Velázquez, Diego Rodríguez de Silva y (1599-1660) pintor barroco espanhol - 1656–1657 - “As meninas”.
- Velázquez, Diego Rodríguez de Silva y (1599-1660) pintor barroco espanhol - “Cristo na coluna”.
- Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) pintor e gravador holandês barroco - “A volta do filho pródigo”.
- Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) pintor e gravador holandês barroco - 1642 - “A ronda noturna”,
- Rubens, Peter Paul (1577-1640) pintor flamengo barroco  - “Dalila”.
- Rubens, Peter Paul (1577-1640) pintor flamengo barroco - 1620 - “A queda dos condenados”.
- Vermeer, Johannes (1632-1675) pintor holandês barroco - 1658-1660 - óleo sobre tela - “A leiteira”.
- Watteau, Jean-Antoine (1684-1721) pintor francês rococó - 1717 – “O jogo do amor”.
- Boucher, François (1703-1770) pintor francês rococó - 1756 – “Madame de Pompadour”.
- Aleijadinho - Antônio Francisco Lisboa (1730-1814) escultor, entalhador, desenhista e arquiteto barroco brasileiro - “Profeta Ezequiel”.
- Aleijadinho - Antônio Francisco Lisboa (1730-1814) escultor, entalhador, desenhista e arquiteto barroco brasileiro - Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco em São João del-Rei.
- Mestre Ataíde - Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) pintor, dourador, encarnador, entalhador e professor brasileiro (Barroco) - 1828 - “A ùltima ceia”.

- Mestre Ataíde - Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) pintor, dourador, encarnador, entalhador e professor brasileiro (Barroco) - século XVIII - Teto da capela de Santa Bárbara.

Gênero textual - conto - exemplo

A IGREJA DO DIABO
Machado de Assis

CAPÍTULO I

DE UMA IDÉIA MIRÍFICA

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
- Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: - Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.

II
ENTRE DEUS E O DIABO

Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-no logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor.
- Que me queres tu? perguntou este.
- Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos.
- Explica-te.
- Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros...
- Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura.
- Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco. Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?
- Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor,
- Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.
- Vai
- Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra?
- Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja?
O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer coisa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:
- Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê- las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...
- Velho retórico! murmurou o Senhor.
- Olhai bem. Muitos corpos que ajoelham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, - a indiferença, ao menos, - com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, - ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em coisas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos...
Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica, Deus interrompeu o Diabo.
- Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?
- Já vos disse que não.
- Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão?
- Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega.
- Negas esta morte?
- Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los...
- Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai!
Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.


Ill
A BOA NOVA AOS HOMENS

Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
- Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil a airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu"... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloqüência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo: - Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.


IV
FRANJAS E FRANJAS

A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.
Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogomano; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá. O manuscrito beneditino cita muitas outra descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro.
Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse:
- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.

Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestigio - Ediouro - s/d.

Gênero textual - Ensaio - exemplo

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/10774/5859

Gênero textual - Dissertação - exemplo

Obesidade: porque tornou-se comum e como reverter essa situação

   Há 20 ou 30 anos, pessoas obesas eram minoria no Brasil, principalmente entre jovens e crianças. Porém, no decorrer desse tempo essa situação mudou e hoje o número de pessoas com excesso de gordura corporal é bastante alto.
  O principal motivo disso foi a mudança de hábitos da população. Enquanto naquela época era comum crianças e jovens andarem de bicicleta, jogarem futebol, vôlei, queimada e basquete em praças e ruas, atualmente isso é raro, pois grande parte deles gastam o tempo livre sentados em frente ao computador ou à televisão.
   Além disso, geralmente, enquanto assistem a um programa televisivo ou navegam na internet, são “bombardeados” por anúncios que induzem ao consumo desenfreado. Isso fez com que a alimentação tenha mudado em quantidade e qualidade, pois os meios de comunicação, na maioria das vezes, veiculam mensagens que induzem ao consumo apenas de alimentos industrializados, o que ocorre porque as indústrias investem grandes quantias em diversas mídias. A prova disso é que praticamente não se vê anúncios que sugiram “coma banana”, “compre cenoura” ou “experimente brócolis”, e sim “beba Coca-cola”, “compre Batom”, “prove o delicioso hambúrguer duble egg triplo x”, etc.
   Essa realidade é bastante preocupante, pois além do baixo valor nutricional, há também o excesso de sódio e gorduras, hidrogenadas e trans, presente na maioria desses produtos processados. O resultado disso são consumidores obesos e doentes, pois juntamente com o número de brasileiros com excesso de gordura corporal, o índice de ocorrência de hipertensão, diabetes,  problemas articulares, tumores gastro-intestinais, dentre outros problemas consequentes da má alimentação, também elevou-se.  E para que esse quadro seja revertido, é necessário que as pessoas conscientizem-se a respeito das consequências da obesidade e mudem os seus hábitos, de maneira que reduzam o consumo de alimentos industrializados, deem preferência a frutas, verduras e cereais e que pratiquem atividades físicas regulamente.
   Portanto, apesar de mudanças no estilo de vida terem induzido ao aumento do número de obesos, tornando alta a quantidade de pessoas com peso acima do ideal, essa situação precisa ser revertida, devido às conseqüências que ela pode gerar. Para isso, é necessário que haja conscientização da população, de maneira que gere mudança de hábitos alimentares, assim como a realização de exercícios físicos com freqüência e regularidade. 


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Proposta de redação 2013-18 - COC Uberaba

Proposta de redação 

 

Texto 1.  Lei do fast-food

            Depois de seis meses de queda de braço entre a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a indústria de alimentos, a área jurídica do governo se prepara para dar "ganho de causa" ao setor privado.

            Em junho, a agência baixou resolução determinando que a propaganda de refrigerantes e de alimentos com elevados índices de açúcar, sódio e gordura saturada ou trans trouxesse advertência sobre os riscos à saúde, em caso de consumo excessivo. As crianças eram o alvo da medida. A AGU (Advocacia-Geral da União), porém, tem pronto parecer final em que corrobora a visão da indústria de que a exigência só vale se o Congresso aprovar lei específica sobre o tema.

Folha de S. Paulo, 16 de janeiro de 2011.

 

Texto 2. Fast-food do bem?

Esta é para deixar pais e especialistas de cabelo em pé: a obesidade infantil aumentou cinco vezes nos últimos 20 anos e hoje atinge cerca de 15% dos baixinhos brasileiros, ou cerca de 5 milhões de crianças. Quem garante é a Sociedade de Pediatria de São Paulo. Dados do gênero explicam porque todos apontam o dedo em riste para a dobradinha hambúrguer e batata frita, ícones da chamada comida trash, que a garotada devora num piscar de olhos. A boa notícia é que uma luz de esperança começa a brilhar nesse cenário tão sombrio.
Em resposta à acusação, o cardápio dessas fábricas de delícias gordurosas está abrindo espaço para itens praticamente impensáveis há alguns anos, como saladas, sucos, grelhados, queijinhos e até frutas. O movimento é mais forte nos Estados Unidos, mas felizmente a tendência já está desembarcando por aqui, mesmo que timidamente. “Devido aos altos índices de obesidade e de doenças crônicas, essa providência, mais do que desejável, é necessária”, opina a nutricionista Bianca Chimenti, da Nutrociência, em São Paulo. É um começo, mas, segundo a especialista, ainda não é o suficiente. “Precisamos de campanhas de educação alimentar para pais e filhos”, diz Bianca.

É proibido proibir

Vamos ser francos. Não dá para riscar da vida dos filhos os sanduíches e os milk shakes. Fazer isso seria também privá-los do convívio social, porque se tem um programa que a garotada adora é ir com a turma à lanchonete. “Em vez de proibir, o melhor é controlar esse tipo de alimento”, argumenta Fábio Ancona Lopez, professor titular do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Por serem muito gordurosas e pobres em fibras, vitaminas e minerais, o ideal é que essas comidas sejam consumidas uma ou duas vezes por mês”, sugere.
            (...) Tem razão, as crianças às vezes vencem pelo cansaço. Para o bem delas, resista, explique, eduque. A nutricionista Tânia Rodrigues, da RG Nutri Consultoria Nutricional, em São Paulo, ensina o caminho das pedras:
1. Lanchonete todos os dias, só em sonhos. Deixe isso muito claro.
2. Sugira lanches sem muito recheio, como o cheeseburguer ou o cheese-salada. Se puder, suma com a maionese, muito rica em gordura. O cachorro-quente é uma boa pedida, desde que venha com pouco acompanhamento.
3. Uma generosa porção de fritas pode perfeitamente ser compartilhada por duas ou três pessoas. Não precisa mais do que isso para matar a vontade.
4. Se o pequeno insistir no refrigerante, tudo bem. Mas proponha substituí-lo por suco de frutas ou água.
5. Outra troca justa: a maionese pelo trio ketchup, mostarda e picles para incrementar o sanduíche.
6. É milk-shake ou batata frita. Ambos é overdose de calorias.

Fast food, obesidade e colesterol
            Para verificar os efeitos de uma dieta baseada em fast-food, o norte-americano Morgan Spurlock decidiu passar um mês se alimentando exclusivamente de hambúrgueres, batatas fritas e refrigerantes – de preferência com as maiores porções disponíveis no cardápio. O resultado foram 11 quilos a mais, aumento do colesterol e sintomas variados como náuseas e fraqueza. A gordurosa saga foi registrada em “Super size me - A dieta do palhaço” (2004), filme que divertiu ao mesmo tempo em que chocou platéias em todo o mundo.
            Um estudo feito por pesquisadores de diversas instituições norte-americanas, publicado na revista médica “The Lancet”, mostra de forma categórica que tal dieta realmente faz mal à saúde.
 Agencia Fapesp, 04/01/2005

Texto 3.

Proposta
O índice de obesidade entre adultos e crianças cresce todos os anos e, diante disso, é possível perguntar: o Governo deveria criar alguma lei para controlar as propagandas das redes de fast-food? A quem cabe, afinal, a responsabilidade sobre a escolha alimentar da população? Ao Governo, à família, à sociedade? Agora, faça uma dissertação como resposta para essas perguntas.

Instruções:

1. Dê um título para a sua redação.
2. Não copie ou parafraseie trechos da coletânea de textos.
3. Respeite as características definidoras do gênero dissertativo.

4. Escreva, no mínimo, 25 linhas e, no máximo, 30.