Aula introdutória para o curso de redação dos terceiros anos de Uberaba e Uberlândia e Extensivo Uberaba.
Linguagem (do lat.
lingua) - “Em um sentido genérico, pode-se definir a linguagem como um sistema de
signos convencionais que pretende representar a realidade e que é usado na
comunicação humana. Distinguem-se, em algumas teorias, a língua empírica,
concreta (por exemplo, o português, o inglês, etc.) da linguagem como estrutura
lógica, formal e abstrata, subjacente a todas as línguas.”
(Dicionário
de Filosofia - Japiassu e Marcondes)
A linguagem é “todo sistema de signos que serve de
meio de comunicação entre indivíduos e pode ser percebido pelos diversos órgãos
dos sentidos, o que leva a distinguir-se uma linguagem visual, uma linguagem
auditiva, uma linguagem tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas,
constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos.”
(Dicionário
Digital Aurélio XXI)
A capacidade de se comunicar por meio das mais variadas linguagens é uma
das principais características que nos distinguem dos animais. Ainda que eles
tenham tipos rudimentares dessa faculdade, na ampla maioria das vezes, nenhum
deles alcançou refino, diversidade e complexidade linguística como a espécie
humana, tanto no campo verbal como no não verbal, até porque, diferente deles,
nossa linguagem é fruto de esforços produtivos fundamentados no raciocínio, na
abstração e na criatividade. As razões dessa significativa diferença entre nós
e os demais animais são explicadas desde por questões de caráter fisiológico, como dedo opositor, tamanho do cérebro, consequências
da mudança da dieta alimentar, etc. até por determinados processos técnicos e de
socialização intensificados pelo domínio da produção do fogo, pelo sedentarismo
e pela Revolução Agrária.
Em virtude dessa importância incontestável que a linguagem assume como
condição para o desenvolvimento intelectual, político, ético, econômico, social
e cultural da humanidade, fazem-se razoáveis e previsíveis todos os estudos
focados nessa competência humana. Além disso, quanto mais usada e estudada,
mais é aprimorada, construindo-se a partir de um processo contínuo e crítico de
revisões, renovações e inter-relações responsáveis por modificá-la
continuamente.
Assim, o estudo desse campo riquíssimo da atuação humana torna-se
necessário, tanto para a melhoria das relações estabelecidas com o outro em
sociedade quanto para desenvolvermos nossa sensibilidade para
apreciarmos e analisarmos uma obra de arte, uma música, um filme, uma peça de
teatro, uma ópera, um espetáculo de dança, um discurso, etc.
Outro aspecto importante dos estudos linguísticos é a preparação para o
vestibular que, atento a essas questões, faz com que, nas provas de Língua
Portuguesa, Literatura e Redação, sejam exigidas aptidões linguísticas capazes
de demonstrar - muito além do puro conhecimento gramatical, mas sem jamais
desprezá-lo - a competência do candidato para ser um leitor crítico de muitos
tipos de linguagens verbais e não verbais, além de mostrar-se um produtor linguístico
articulado, no caso, de textos verbais, capazes de expressar qualquer conteúdo
de forma clara, objetiva e precisa. Ou seja, segundo as Orientações
Curriculares do Ensino Médio produzidas pelo Ministério da Educação (MEC):
“A lógica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover
letramentos múltiplos pressupõe conceber a leitura e a escrita como ferramentas
de empoderamento e inclusão social. Some-se a isso que as práticas de linguagem
a serem tomadas no espaço da escola não se restringem à palavra escrita nem se filiam apenas aos padrões socioculturais hegemônicos. Isso
significa que o professor deve procurar, também, resgatar do contexto das
comunidades em que a escola está inserida as práticas de linguagem e os
respectivos textos que melhor representam sua realidade.
Dando sequência a esse raciocínio, defende-se que a abordagem do
letramento deve, portanto, considerar as práticas de linguagem que envolvem a
palavra escrita e/ou diferentes sistemas semióticos – seja em contextos
escolares seja em contextos não escolares –, prevendo, assim, diferentes níveis
e tipos de habilidades, bem como diferentes formas de interação e, consequentemente,
pressupondo as implicações ideológicas daí decorrentes.”
Em razão dessas demandas, o domínio de muitos conceitos associados ao
amplo universo da linguagem é fundamental, os quais serão abordados nos tópicos
seguintes.
:::::Comunicação
Comunicação é, segundo o Dicionário Aurélio XXI, o
“ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos
e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita,
quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico
especializado, sonoro e/ou visual. “
A comunicação é um processo
pelo qual se almeja a troca de informações, por meio de sistemas simbólicos
como suporte para esse fim. Especialmente quando se faz referência aos
processos comunicativos humanos, por isso,
convém citar uma infinidade de maneiras de se comunicar, tais como o diálogo, a
pantomima ou mesmo qualquer tipo de comunicação gestual; a escrita; a linguagem
artística ou mesmo o silêncio, que pode ser compreendido das mais variadas formas
em um processo comunicativo. Há ainda a comunicação
mediada, quando meios e artifícios técnicos são usados para estabelecer contato
entre interlocutores, como são os casos do envio de “e-mails” (correio
eletrônico); dos comunicadores instantâneos virtuais como o Google Talk ou o
Messenger; da conversa telefônica; dos meios de comunicação de massa; etc.
:::::Linguagem
“A linguagem permite ao homem exprimir-se e é isso
que torna possível a vida social.”
Aristóteles (384-322 a.C.)
“A linguagem é a capacidade humana de articular
significados coletivos e compartilhá-los.”
“A principal razão de qualquer ato de linguagem é a
produção de sentido.”
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
A linguagem é qualquer forma
sistemática e convencionada de comunicar estados, ideias ou sentimentos por
meios sonoros, gráficos, gestuais, táteis, entre
outros. Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, no material da área de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias, produzido pelo Ministério da Educação (MEC), “...a
linguagem é uma capacidade humana de simbolizar e de interagir e, por essa via,
condição para que se construam as realidades, não se pode dizer que entre os
signos que constituem os diferentes sistemas semióticos e o mundo haja de fato
uma relação direta. Assume-se, portanto, o pressuposto de que as relações entre
mundo e linguagem são convencionais, nascem das demandas das sociedades e de
seus grupos sociais, e das transformações pelas quais passam em razão de novos
usos, que emergem de novas demandas.”
Sobre a função e a
importância da linguagem, esse importante documento de referência para o Ensino
Médio afirma que:
“...os conhecimentos são elaborados, sempre, por formas de linguagem,
sendo fruto de ações intersubjetivas, geradas em atividades coletivas, pelas
quais as ações dos sujeitos são reguladas por outros sujeitos.
Seguindo esse raciocínio, pode-se concluir, também, que o processo de
desenvolvimento do sujeito está imbricado em seu processo de socialização. Dito
de outro modo, é na interação em diferentes instituições sociais (a família, o
grupo de amigos, as comunidades de bairro, as igrejas, a escola, o trabalho, as
associações, etc.) que o sujeito aprende e apreende as formas de funcionamento
da língua e os modos de manifestação da linguagem; ao fazê-lo, vai construindo
seus conhecimentos relativos aos usos da língua e da linguagem em diferentes
situações. Também nessas instâncias sociais o sujeito constrói um conjunto de
representações sobre o que são os sistemas semióticos, o que são as variações
de uso da língua e da linguagem, bem como qual seu valor social.
Em síntese, por ser uma atividade de natureza ao mesmo tempo social e
cognitiva, pode-se dizer que toda e qualquer situação de interação é
co-construída entre os sujeitos. Pode-se ainda complementar dizendo que, como
somos sujeitos cujas experiências se constroem num espaço social e num tempo
histórico, as nossas atividades de uso da língua e da linguagem, que assumem
propósitos distintos e, consequentemente, diferentes configurações, são sempre
marcadas pelo contexto social e histórico. Mas o fato de que tais atividades
recebam seu significado e seus sentidos singulares em relação aos contextos
mais imediatos em que ocorrem e ao contexto social e histórico mais amplo não
elimina a nossa condição para agir e transformar essa história, para
ressignificá-la, enfim.”
Sob outra perspectiva e
sobre a mesma questão, o importante linguista dinamarquês Louis Trolle
Hjelmslev escreveu:
“A linguagem é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem
é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o
instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos,
suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao
qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da
sociedade humana. Mas é também o recurso último e indispensável do homem, seu
refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta contra a existência, e
quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador.”
:::::Linguagem verbal e linguagem não-verbal
“Note que a leitura não-verbal é uma maneira
peculiar de ler: visão / leitura, espécie de olhar tátil, multissensível (...)
Não se ensina como ler o não-verbal: exige uma leitura, se não desorganizada,
pelo menos sem ordem estabelecida, convencional ou sistematizada.”
(Lucrécia D’Aléssio)
“As línguas constituem sistemas de comunicação
verbal. Conquanto a fala seja da maior importância, fator fundamental de
humanidade do homem, a nossa capacidade de comunicar conteúdos expressivos não
se restringe às palavras; nem são elas o único modo de comunicação simbólica.
Existem, na faixa de mediação significativa entre nosso mundo interno e o
externo, outras linguagens além das verbais.”
(Fayga Ostrowe. Criatividade
e processos de criação.)
Toda linguagem é uma forma de enunciar uma informação com uma determinada
intencionalidade comunicativa capaz de ser manifestada com ou sem o auxílio das
palavras. Em função dessas características, pode-se
estabelecer a existência de dois tipos de linguagem: a verbal e a não verbal.
A linguagem verbal utiliza como código a língua na forma oral ou
escrita; já a linguagem não verbal faz uso de outros códigos, diferentes da
palavra, tais como a cor, a forma, o movimento, o gesto, o cheiro, etc. Como
exemplos concretos de linguagem não verbal podem ser citadas as artes pictóricas,
a pantomima, a cenografia, a música, etc. A linguagem verbal também é farta de
exemplos como as conversas do cotidiano, os romances, os livros didáticos, os
poemas, os bilhetes, etc.
:::::Linguagem denotativa e linguagem conotativa
(André Gide)
Todo texto baseado em linguagem denotativa é caracterizado pelo uso de
palavras tal como elas estão previstas no dicionário na sua acepção mais usada e previsível socialmente, de forma objetiva e desprovida de emoção, para que o
texto tenha univocidade de sentido e seja, sobretudo, informativo.
Já os textos conotativos são baseados numa linguagem caracterizada pelo
uso de palavras subjetivas e plurais quanto ao sentido delas, por isso, entende-se que elas foram submetidas a um estilo
individual de produção, que possibilita também a individualização da
compreensão desse discurso. Isso gera a plurissignificação do texto. Logo,
ultrapassa-se a intenção informativa de um texto por causa da amplificação e da
pluralização dos sentidos e das interpretações desenvolvidas pelo interlocutor
sobre o que lê, ouve ou vê, com o objetivo de que o texto possa ser
compreendido também sob uma perspectiva estética.
Dessa forma, é predominantemente denotativa a maioria dos textos
científicos, jornalísticos, didáticos e informativos; enquanto são conotativos
os textos literários, muitas propagandas, alguns tipos de cartas, etc. Para
melhor diferenciar esses dois tipos de linguagens, leia com atenção os exemplos
a seguir:
“A linguagem é todo sistema capaz de servir à comunicação entre os
indivíduos. Torna possível o desenvolvimento e a transmissão de culturas, bem
como o funcionamento eficiente e o controle de grupos sociais. A linguagem é um
fato exclusivamente humano, um método de comunicação racional de idéias,
emoções e desejos por meio de símbolos produzidos de maneira deliberada. ” (Dicionário de Comunicação. SP. Ática, 1987, p.367)
“A Propaganda pode ser definida como divulgação intencional e constante
de mensagens destinadas a um determinado auditório visando criar uma imagem
positiva ou negativa de determinados fenômenos. A Propaganda está muitas vezes
ligada à idéia de manipulação de grandes massas por parte de pequenos grupos.
Alguns princípios da Propaganda são: o princípio da simplificação, da
saturação, da deformação e da parcialidade.” (Adaptado de Norberto
Bobbio, Dicionário de Política)
“A linguagem, portanto, é a terceira margem do rio, confluência do sonho
e da realidade, núpcias da pulsão e do Logos, que, no transporte da paixão,
engendra o verbo. Há quem pense que, com a dominância do princípio da
realidade, o sonho se acabe. Em verdade, não acaba nunca. O sonho é centelha
que salta do desejo e é através dela que vou acender as fogueiras através das
quais o rosto do mundo se ilumina. O sonho, levado aos ombros da realidade, que
o simboliza, é o projeto profundo do homem e a teologia da história. O sonho
vivido, enraizado no real, que o suporta, vai ser a matriz da utopia, o eixo
das grandes transformações, que fazem a grandeza do processo civilizatório.” (Hélio Pellegrino. Édipo e
Paixão. In: Os Sentidos da Paixão.)
Epílogo
Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora
está suspenso. Nada agüenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as
catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas
vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca... Outras vezes senta uma mosca
e desaba uma cidade. (Mario Quintana)
:::::A língua
A língua é “um sistema de representação por
palavras e por regras que as combinam em frases que os indivíduos de uma
comunidade linguística usam como principal meio de comunicação e expressão,
falado ou escrito. Também pode ser entendida como forma de agregação.”
(Dicionário
Hoauiss)
“A língua é uma razão humana que tem suas razões, e
que o homem não conhece.”
(Lévi-Strauss)
A língua é um produto das interações sociais, por isso suas regras são
convencionadas entre os membros de uma determinada sociedade. Isso ocorre para
que tais normas sejam acatadas por todos os indivíduos de uma comunidade com o
intuito de que eles possam entender-se, para tanto fazer esse grupo progredir
cultural e tecnologicamente quanto interagir das mais variadas e produtivas
formas, ou até para que construam preconceitos e pré-julgamentos em função da
forma como um indivíduo usa a língua na sua modalidade oral ou escrita.
Essa faculdade humana pode ser entendida também como forma de
reconhecimento entre pessoas originárias de uma determinada região, o que
contribui para o estabelecimento de identidades nacionais. Isso reafirma o
caráter em princípio social da língua, ainda que questões de ordem cultural,
política e econômica interajam ativamente para o estabelecimento, a mudança ou
o prestígio de uma determinada tradição linguística inscrita em um espaço
específico em determinado tempo numa dada sociedade.
É importante ressaltar que, a despeito da existência de um sistema de
comunicação de regras socializadas e aceitas por dada comunidade, há a presença
de um estilo individual submetido às escolhas linguísticas de um determinado
indivíduo no que tange aos aspectos léxicos, sintáticos, semânticos, fonéticos,
etc., de uma língua, sem, contudo, na maioria das vezes, inviabilizar a
comunicação dele com falantes do seu próprio idioma.
:::::Língua e signo
linguístico
“O signo é o elemento fundamental da comunicação.”
(Ferdinand Saussure. Curso de linguística geral.)
“só pensamos através de signos.”
(Peirce)
“... a língua é uma das
formas de manifestação da linguagem, é um entre os sistemas semióticos construídos
histórica e socialmente pelo homem.”
(Orientações Curriculares
para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
A linguagem verbal, que
tem a língua como código, é construída a partir de signos linguísticos, os
quais são responsáveis pela representação de ideias e são as unidades mínimas
da língua. Tais signos podem ser vistos como as próprias palavras escritas ou
faladas que são associadas a determinadas ideias, conceitos, sentimentos,
objetos, etc. Por isso, diz-se que o signo linguístico apresenta três componentes:
o significante, que é a parte concreta e material (som, letras, ideogramas,
etc.); o significado, que é a parte abstrata e conceitual (objeto, idéia), e o
referente, que é objeto, pessoa ou coisa em questão representada por meio do
significante e explicada por meio do significado. Portanto, signo linguístico é
qualquer forma significativa, de qualquer linguagem, resultado de uma conexão
arbitrária e pública entre um significado e um significante. Segue
um exemplo dessa relação de complementaridade:
Significante: sequência sonora: /kakaw/ ou representação gráfica: cacau.
Referente
Fonte: internet
Significado (conceito): “fruto do cacaueiro, com polpa adocicada,
comestível, tb. us. em refrescos e doces.” (Dicionário Houaiss)
A fala “...é sempre individual e dela o indivíduo é
sempre senhor. A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza
seus efeitos; mas é tão necessária para que a língua se estabeleça;
historicamente, o fato da fala vem sempre antes.”.
(Ferdinand Saussure. Curso de linguística geral.)
“... se é
pelas atividades de linguagem que o homem se constitui sujeito, só por
intermédio delas é que tem condições de refletir sobre si mesmo.”
(Orientações Curriculares
para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
A linguagem é um sistema composto de signos convencionados entre os
membros de uma dada comunidade ou grupo, a língua inscreve-se nesse vasto
universo como um código verbal de um determinado grupo, nação ou comunidade,
baseado em um sistema de representação convencional do que se quer
comunicar, ainda que cada língua tenha
suas próprias regras para ser organizada. Já a fala é o uso individual que se
faz das possibilidades comunicativas representadas pela língua.
::::Língua, discurso e
enunciação
A língua “...é a parte social da linguagem,
exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la;
ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os
membros da comunidade.”. (Ferdinand Saussure. Curso de linguística geral.)
“A língua não exprime só o pensamento, mas o homem
todo; seus sentimentos, sua vontade, suas oscilações.”
(Charles Bally)
“As vivências do homem se projetam na língua.”
(Charles Bally)
Enunciação “...é uma atualização temporal e
espacial do locutor em seu discurso.”
(Orlandi)
A língua é um tipo de
linguagem verbal convencionada, que passa a ser vista como discurso quando
avaliada no momento da enunciação, visto como o contexto em que uma situação
comunicativa estabelece-se. Este é influenciado por variáveis como o tempo
histórico, o espaço, o nível de relação entre os interlocutores, as relações
sociais e culturais entre eles, as intenções comunicativas, o nível de
conhecimento de língua dos interlocutores, etc.
Portanto, discurso é
todo texto verbal ou não-verbal em que seu produtor emprega recursos e
estratégias linguísticas com o intuito de produzir, evocar, induzir, etc.
alguma atitude ou resposta por parte de seu interlocutor.
:::::Língua falada e língua escrita
“...o homem, em suas práticas orais e escritas de
interação, recorre ao sistema lingüístico – com suas regras fonológicas,
morfológicas, sintáticas, semânticas e com seu léxico.”
(Orientações Curriculares
para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
Pode-se dizer que as
expressões de uma língua em suas modalidades faladas e escritas respeitam
variáveis significativamente distintas, tanto no que concerne a preparação do
que será dito ou escrito quanto na própria conformação gramatical e discursiva
do que foi comunicado. Isso ocorre porque tais possibilidades de expressão
atendem a objetivos específicos em contextos igualmente singulares, o que exige
níveis e maneiras diferentes de organizar e expressar um determinado conteúdo.
Para facilitar a compreensão dessas diferenças, segue estudo sobre as
características de cada uma dessas modalidades de expressão da língua.
Modalidade falada
_Forte dependência contextual.
_Pouco planejamento ou planejamento simultâneo à produção da fala,
pautado na espontaneidade, o que pode gerar: fluxo fragmentado, mudança abrupta
de construção, frases quebradas, hesitações, etc.
_Coesão por meio de recursos paralinguísticos (entonação, gestos,
olhares, etc.).
_Predomínio de frases curtas, ordem direta do discurso, período simples
e orações coordenadas.
_Presença de elementos fáticos que mantêm ou não a conversação aberta:
"cê tá me ouvindo?", "Alô", “ahã”, “hum”, “né”, “tá”, etc.
Modalidade escrita
_Pouca dependência contextual.
_Permite planejamento prévio; fluxo das informações organizado e contínuo.
_Coesão por meio de conectivos, de estruturas sintáticas, etc.
_Períodos longos com forte presença de orações subordinadas, frases com
estrutura complexa e encadeamento de várias orações sucessivas.
_Forte influência das convenções linguísticas, técnicas, estruturais, etc.,
ou seja, respeita de forma mais abrangente a norma padrão da língua.
Exercícios de sala
1 - Fuvest
Examine esta
propaganda de uma empresa de certificação digital (mecanismo de segurança que
garante autenticidade, confidenciabilidade e integridade às informações
eletrônicas).
a) Aponte a
relação de sentido que existe entre a mensagem verbal e a imagem.
b) Forme uma
frase correta e coerente com base em um verbo derivado da palavra “burocracia”.
c) “Estar com os dias contados” é uma das
dezenas de locuções formadas a partir do substantivo “dia”. Crie uma frase em
que apareça uma dessas locuções (sem repetir, é claro, a locução utilizada na
propaganda acima).
2 – Opera10
Leia o trecho abaixo de um romance do
escritor moçambicano Mia Couto.
"Falo
muito do mar? Me deixe explicar, senhor inspector: eu sou como o salmão. Vivo
no mar mas estou sempre de regresso ao lugar da minha origem, vencendo a corrente,
saltando cascata. Retorno ao rio onde nasci para deixar meu sémen e depois
morrer. Todavia, eu sou peixe que perdeu a memória." (A Varanda do
Frangipani. Maputo: Ndjira, 2001, pág. 50).
a)
Qual o recurso estilístico usado por Mia Couto
no trecho acima. Justifique sua resposta.
b)
No contexto do trecho o que significa a
expressão “...eu sou peixe que perdeu
a memória.”.
Exercícios
complementares
3 – Fuvest
Leia o seguinte texto.
Flagrado na Ilha de Caras, Fernando Pessoa disse que está bem
mais leve depois que passou a ser um só.
LISBOA – Em pronunciamento que
pegou de surpresa o mercado editorial, o poeta e investidor Fernando Pessoa
anunciou ontem a fusão dos seus heterônimos. Com o enxugamento, as marcas
Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro passam a fazer parte da
holding* Fernando Pessoa S.A. “É uma reengenharia”, explicou o assessor e
empresário Mário Sá Carneiro. Pessoa confessou que a decisão foi tomada “de
coração pesado”: “Drummond sempre foi um só. A operação dele é enxutinha. Como
competir?”, indagou. O poeta chegou a
pensar em terceirizar os
heterônimos através de um call-center** em Goa, mas questões de gramática e
semântica acabaram inviabilizando as negociações. “Eles não usam mesóclise”,
explicou Pessoa.
http://www.revistapiaui.com.br. Adaptado.
*Holding [holding company]: empresa criada para controlar outras
empresas.
**Call-center: central de atendimento telefônico.
a) Esse texto tem apenas
finalidade humorística ou comporta também finalidade crítica? Justifique sua
resposta.
b) Por que o “call-center”
mencionado no texto seria localizado especificamente em Goa?
4 – Enem
O “politicamente correto” tem seus exageros,
como chamar baixinho de “verticalmente prejudicado”, mas, no fundo, vem de uma
louvável preocupação em não ofender os diferentes. É muito mais gentil chamar estrabismo
de “idiossincrasia ótica” do que de vesguice. O linguajar brasileiro está cheio
de expressões racistas e preconceituosas que precisam de uma correção, e até as
várias denominações para bêbado (pinguço, bebo, pé-de-cana) poderiam ser
substituídas por algo como “contumaz etílico”, para lhe poupar os sentimentos. O
tratamento verbal dado aos negros é o melhor exemplo da condescendência que
passa por tolerância
racial no Brasil. Termos como “crioulo”,
“negão” etc. são até considerados carinhosos, do tipo de carinho que se dá a
inferiores, e, felizmente, cada vez menos ouvidos. “Negro” também não é mais
correto. Foi substituído por Foi substituído por afrodescendente, por
influência de “afro-americans”, num caso de colonialismo cultural positivo.
Está certo. Enquanto o racismo que não quer dizer seu nome continua no Brasil,
uma integração real pode começar pela linguagem.
VERÍSSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de
Pernambuco. 10 jun. 2006 (adaptado).
Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada
no Brasil e as exigências do comportamento “politicamente correto”, o autor tem
a intenção de
a)
criticar
o racismo declarado do brasileiro, que convive com a discriminação camuflada em
certas expressões linguísticas.
b)
defender
o uso de termos que revelam a despreocupação do brasileiro quanto ao
preconceito racial, que inexiste no Brasil.
c)
mostrar
que os problemas de intolerância racial, no Brasil, já estão superados, o que
se evidencia na linguagem cotidiana.
d)
questionar
a condenação de certas expressões consideradas “politicamente incorretas”, o
que impede os falantes de usarem a linguagem espontaneamente.
e)
sugerir
que o país adote, além de uma postura linguística “politicamente correta”, uma
política de convivência sem preconceito racial.
Estéfani é a Mariana do extensivo COC Uberaba.Tudo bem?
ResponderExcluirNão estou conseguindo abrir esse link.
Caro Estéfani, não estamos conseguindo abrir o arquivo!
ResponderExcluirabraços!