Texto 1: Quem quer ser professor?
Historicamente pressionados por salários baixos, condições adversas
de trabalho e sem um plano de carreira efetivo, cursos de Pedagogia e
Licenciatura – como Português ou Matemática – são cada vez menos procurados por
jovens recém-saídos do Ensino Médio. Em sete anos, nos cursos de formação em
Educação Básica, o número de matriculados caiu 58%, ao passar de 101.276 para
42.441.
Atrair novas gerações para a carreira de professor está se
firmando como um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Educação no Brasil.
Não por acaso, a valorização do educador é uma das principais metas do novo
Plano Nacional de Educação. Uma olhadela na história da educação mostra que não
é de hoje que a figura do professor é institucionalmente desvalorizada. “Há
textos de governadores de província do século XIX que já falavam que ia ser professor
aquele que não sabia ser outra coisa”, explica Bernardete Gatti, da Fundação
Carlos Chagas, coordenadora da pesquisa Professores do Brasil: Impasses e
desafios. No entanto, entre as décadas de 1930 e 1950, a figura do professor
passou a ter um valor social maior. Tal perspectiva, porém, modificou-se
novamente a partir da expansão do sistema de ensino no Brasil, que deixou de
atender apenas a elite e passou a buscar uma universalização da educação.
Desordenada, a expansão acabou aligeirando a formação do professor, recrutando
muitos docentes leigos e achatando brutalmente os salários da categoria como um
todo.
[...] Essa visão enraizada na cultura brasileira
de que ser professor é uma missão ou vocação – e não uma profissão – acaba
contribuindo para a desvalorização do profissional. “Socialmente, a
representação do professor não é a de um profissional. É a de um cuidador,
quase um sacerdote, que faz seu trabalho por amor. Claro que todo mundo tem de
ter amor, mas é preciso aliar isso a uma competência específica para a função,
ou seja, uma profissionalização”, resume Bernardete.
Contra a corrente
Ainda assim, o idealismo e a vontade de mudar o mundo ainda
permanecem como fortes componentes na hora de optar pelo magistério. Anderson
Mizael, de 32 anos, teve uma trajetória diferente da maioria dos seus colegas
da PUC-SP. Criado na periferia de São Paulo, Anderson sempre estudou em escolas
públicas. Adulto, trabalhou durante cinco anos como designer gráfico antes de
resolver voltar a estudar. Bolsista do ProUni, que ajuda a financiar a
mensalidade, Anderson é um dos poucos do curso de Letras que almejam a posição
de professor de Literatura. “Eu tenho esse lado social da profissão. O ensino
público está precisando de bons professores, de gente nova”, explica ele, que
acaba de conseguir o primeiro estágio em sala de aula, em uma escola no Campo
Limpo, zona sul da capital. Ana, que hoje trabalha em uma escola de elite,
sonha em dar aula na rede pública. “São os que mais precisam.” “Eu sempre quis
ser professora, desde criança”, arremata Ligia.
A empolgação é atenuada pela realidade da escola – com as já
conhecidas salas lotadas, falta de material e muita burocracia. Ligia Reis
reclama. “Cheguei, ganhei um apagador e só. Não existe nenhum roteiro, nenhum
amparo”, conta. “Às vezes, você é um ótimo professor, tem várias ideias, mas a
escola não ajuda em nada”, desabafa. Ligia também conta que, para grande parte
de seus colegas de graduação, dar aula é a última opção. “A maioria quer ser
tradutor ou trabalhar em editoras. É um quadro muito triste.”
A busca pela valorização da carreira de professor passa também,
mas não somente, por políticas de aumento salarial. Além de pagar mais, é
preciso que o magistério tenha uma formação mais sólida e, principalmente, um
plano de carreira efetivo. “Um plano em que o professor sinta que pode
progredir salarialmente, a partir de alguns quesitos. Mas que ele, com essa
dedicação, possa vir a ter uma recompensa salarial forte”, conclui a
pesquisadora.
Tory Oliveira. Carta Capital.
26/04/2011.
Texto 2: Assessor de tucano provoca
professores em MG: “Se eu ganhasse 712, ia ser servente de pedreiro”
O jornalista
Flávio Castro, assessor do deputado estadual Luis Humberto Carneiro (PSDB),
provocou os professores acampados na Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG), dizendo: “Se eu ganhasse 712 [reais], ia ser servente de
pedreiro”.
De quebra,
ofendeu os professores — há mais de 100 dias em greve pelo pagamento do piso da
categoria estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC) — e os serventes de
pedreiro.
O jornalista
Flávio Pena é tucano e o deputado Luis Humberto Carneiro, o líder do governo
Antonio Anastasia na Assembleia Legislativa mineira.
Conceição
Lemes. Viomundo. 23/09/2011.
Texto
3: O professor
está sempre errado...
Jô Soares
O material
escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!
Proposta: Após analisar o tema acima, escreva uma dissertação
sobre: quais são as razões que
contribuem para a desvalorização do professor, de modo que a procura pelos
cursos de licenciatura e pela efetiva realização desse trabalho tenham sido tão
minimizadas?
ou
medidas a serem tomadas para tornar a carreira de professor novamente atrativa para jovens brasileiros.
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