Linguagem
(do lat. lingua) - “Em um sentido genérico, pode-se definir a linguagem como um
sistema de signos convencionais que pretende representar a realidade e que é
usado na comunicação humana. Distinguem-se, em algumas teorias, a língua
empírica, concreta (por exemplo, o português, o inglês, etc.) da linguagem como
estrutura lógica, formal e abstrata, subjacente a todas as línguas.”
(Dicionário de Filosofia - Japiassu e Marcondes)
A
linguagem é “todo sistema de signos que serve de meio de comunicação entre
indivíduos e pode ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva
a distinguir-se uma linguagem visual, uma linguagem auditiva, uma linguagem
tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de
elementos diversos.”
(Dicionário Digital Aurélio XXI)
A capacidade de se
comunicar por meio das mais variadas linguagens é uma das principais
características que nos distinguem dos animais. Ainda que eles tenham tipos
rudimentares dessa faculdade, nenhum deles alcançou refino, diversidade e
complexidade linguística como a espécie humana, tanto no campo verbal como no
não verbal, até porque, diferente deles, nossa linguagem é fruto de esforços
produtivos fundamentados no raciocínio, na abstração, no aprendizado
sistemático ou espontâneo e na criatividade. As razões dessa significativa
diferença entre o homem e os demais animais são explicadas desde por questões
de caráter fisiológico como o dedo opositor, o tamanho do cérebro, as consequências
de mudanças na dieta alimentar, etc., até por determinados processos técnicos e
de socialização intensificados pelo domínio da produção do fogo, pelo
sedentarismo e pela Revolução Agrária.
Em virtude dessa
importância incontestável que a linguagem assume como condição para o
desenvolvimento intelectual, político, ético, econômico, social e cultural da
humanidade, fazem-se razoáveis e previsíveis todos os estudos focados nessa
competência humana. Além disso, quanto mais usada e estudada, mais é aprimorada,
construindo-se a partir de um processo contínuo e crítico de revisões,
renovações e inter-relações responsáveis por modificá-la continuamente.
Assim, o estudo desse
campo riquíssimo da atuação humana torna-se necessário, tanto para a melhoria
das relações estabelecidas com o outro em sociedade, como para desenvolvermos
nossa sensibilidade para apreciarmos e analisarmos uma obra de arte, uma
música, um filme, uma peça de teatro, uma ópera, um espetáculo de dança, um
discurso, etc.
Outro aspecto importante
dos estudos linguísticos é a preparação para o Enem e vestibulares que, atentos
a essas questões, fazem com que, nas provas da área de Códigos e Linguagens e de
Redação, sejam exigidas aptidões linguísticas capazes de demonstrar - muito
além do puro conhecimento gramatical, mas sem jamais desprezá-lo - a
competência do candidato para ser um leitor crítico de muitos tipos de
linguagens verbais e não verbais, além de mostrar-se um produtor linguístico
articulado, no caso, de textos verbais, capazes de expressar qualquer conteúdo ou
opinião de forma clara, objetiva e precisa. Tais preocupações justificam-se em
função das Orientações Curriculares do Ensino Médio produzidas pelo Ministério
da Educação (MEC) que ressaltam que:
“A lógica de uma proposta de ensino e de
aprendizagem que busque promover letramentos múltiplos pressupõe conceber a
leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusão social.
Some-se a isso que as práticas de linguagem a serem tomadas no espaço da escola
não se restringem à palavra escrita nem se fi liam apenas aos padrões
socioculturais hegemônicos. Isso significa que o professor deve procurar,
também, resgatar do contexto das comunidades em que a escola está inserida as
práticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua
realidade.
Dando sequência a esse
raciocínio, defende-se que a abordagem do letramento deve, portanto, considerar
as práticas de linguagem que envolvem a palavra escrita e/ou diferentes
sistemas semióticos – seja em contextos escolares seja em contextos não
escolares –, prevendo, assim, diferentes níveis e tipos de habilidades, bem
como diferentes formas de interação e, consequentemente, pressupondo as
implicações ideológicas daí decorrentes.”
Em razão dessas
demandas, o domínio de muitos conceitos associados ao amplo universo da
linguagem é fundamental, os quais serão abordados nos tópicos seguintes.
:::::Comunicação
Comunicação
é, segundo o Dicionário Aurélio XXI, o “ato ou efeito de emitir, transmitir e
receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer
através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou
símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual.”
A comunicação é um
processo pelo qual se almeja a troca de informações, por meio de sistemas
simbólicos como suporte para esse fim. Especialmente quando se faz referência
aos processos comunicativos humanos, convém citar uma infinidade de maneiras de
comunicar-se, tais como o diálogo, a pantomima ou mesmo qualquer tipo de
comunicação gestual; a escrita; a linguagem artística ou mesmo o silêncio, que
pode ser compreendido das mais variadas formas em um processo comunicativo. Há
ainda a comunicação mediada, quando meios e artifícios técnicos são usados para
estabelecer contato entre interlocutores, como são os casos do envio de
“e-mails” (correio eletrônico); dos comunicadores instantâneos virtuais como o
Google Talk ou o Messenger; da conversa telefônica; dos meios de comunicação de
massa; etc.
:::::Linguagem
“A
linguagem permite ao homem exprimir-se e é isso que torna possível a vida
social.”
Aristóteles
(384-322 a.C.)
“A
linguagem é a capacidade humana de articular significados coletivos e
compartilhá-los.”
“A
principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido.”
Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs)
A
linguagem é qualquer forma sistemática e convencionada de comunicar estados,
ideias ou sentimentos por meios sonoros, gráficos, gestuais, táteis, etc. Segundo
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, no material da área de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, produzido pelo Ministério da Educação
(MEC), “...a linguagem é uma capacidade humana de simbolizar e de interagir e,
por essa via, condição para que se construam as realidades, não se pode dizer
que entre os signos que constituem os diferentes sistemas semióticos e o mundo
haja de fato uma relação direta. Assume-se, portanto, o pressuposto de que as
relações entre mundo e linguagem são convencionais, nascem das demandas das sociedades
e de seus grupos sociais, e das transformações pelas quais passam em razão de
novos usos, que emergem de novas demandas.”
Sobre
a função e a importância da linguagem, esse importante documento de referência
para o Ensino Médio afirma que:
“...os conhecimentos são elaborados, sempre,
por formas de linguagem, sendo fruto de ações intersubjetivas, geradas em
atividades coletivas, pelas quais as ações dos sujeitos são reguladas por
outros sujeitos.
Seguindo esse
raciocínio, pode-se concluir, também, que o processo de desenvolvimento do
sujeito está intimamente associado ao seu processo de socialização. Dito de
outro modo, é na interação em diferentes instituições sociais (a família, o
grupo de amigos, as comunidades de bairro, as igrejas, a escola, o trabalho, as
associações, etc.) que o sujeito aprende e apreende as formas de funcionamento
da língua e os modos de manifestação da linguagem; ao fazê-lo, vai construindo
seus conhecimentos relativos aos usos da língua e da linguagem em diferentes
situações. Também nessas instâncias sociais o sujeito constrói um conjunto de
representações sobre o que são os sistemas semióticos, o que são as variações
de uso da língua e da linguagem, bem como qual seu valor social.
Em síntese, por ser uma
atividade de natureza ao mesmo tempo social e cognitiva, pode-se dizer que toda
e qualquer situação de interação é co-construída entre os sujeitos. Pode-se
ainda complementar dizendo que, como somos sujeitos cujas experiências se
constroem num espaço social e num tempo histórico, as nossas atividades de uso
da língua e da linguagem, que assumem propósitos distintos e, consequentemente,
diferentes configurações, são sempre marcadas pelo contexto social e histórico.
Mas o fato de que tais atividades recebam seu significado e seus sentidos
singulares em relação aos contextos mais imediatos em que ocorrem e ao contexto
social e histórico mais amplo não elimina a nossa condição para agir e
transformar essa história, para ressignificá-la, enfim.”
Sob
outra perspectiva e sobre a mesma questão, o importante linguista dinamarquês
Louis Trolle Hjelmslev escreveu:
“A linguagem é uma inesgotável riqueza de
múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os
seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu
pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus
atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base
última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o recurso último e
indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta
contra a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na
meditação do pensador.”
:::::Linguagem
verbal e linguagem não-verbal
“Note
que a leitura não-verbal é uma maneira peculiar de ler: visão / leitura,
espécie de olhar tátil, multissensível (...) Não se ensina como ler o
não-verbal: exige uma leitura, se não desorganizada, pelo menos sem ordem
estabelecida, convencional ou sistematizada.”
(Lucrécia
D’Aléssio)
“As
línguas constituem sistemas de comunicação verbal. Conquanto a fala seja da
maior importância, fator fundamental de humanidade do homem, a nossa capacidade
de comunicar conteúdos expressivos não se restringe às palavras; nem são elas o
único modo de comunicação simbólica. Existem, na faixa de mediação
significativa entre nosso mundo interno e o externo, outras linguagens além das
verbais.”
(Fayga
Ostrowe. “Criatividade e processos de criação”)
Toda linguagem é uma
forma de enunciar uma informação com uma determinada intencionalidade
comunicativa capaz de ser manifestada com ou sem o auxílio das palavras. Em
função dessas características, podemos estabelecer a existência de dois tipos
de linguagem: a verbal e a não verbal.
A linguagem verbal
utiliza como código a língua na forma oral ou escrita; já a linguagem não
verbal faz uso de outros códigos, diferentes da palavra, tais como a cor, a
forma, o movimento, o gesto, o cheiro, etc. Como exemplos concretos de
linguagem não verbal podem ser citadas as artes pictóricas, a pantomima, a
cenografia, a música, etc. A linguagem verbal também é farta de exemplos como
as conversas do cotidiano, os romances, os livros didáticos, os poemas, os
bilhetes, etc.
Linguagem
verbal
“Ora, a mente é dita sã”, escreveu Erasmo em “O
elogio da loucura” (1509), “desde que controle adequadamente todos os órgãos do
corpo”. Embora escrita quase 500 anos atrás num tratado em defesa do
cristianismo, essa frase expressa mais ou menos nossas suposições modernas
sobre a sanidade. Em primeiro lugar, que a sanidade é uma qualidade da mente,
não do corpo (não descrevemos os corpos das pessoas como sãos ou insanos). Em
segundo lugar, que é a função da mente sã controlar o corpo, e portanto que o
corpo ficaria descontrolado — ou pelo menos fazendo coisas proibidas — se não
estivesse sob a égide da mente. Em terceiro lugar, que o corpo é não só o tipo
de objeto que pode ser controlado, como também o tipo de objeto que pode ser
adequada ou inadequadamente controlado; portanto, o que a mente sã implica
acima de tudo é adequação. E por fim, mas não menos importante, há um fator
temporal envolvido. Para ter sanidade precisamos de uma mente, e precisamos de
uma mente para controlar um corpo que de outro modo seria insano, mas a mente é
dita sã, como dizia Erasmo, apenas “desde que” controle os órgãos do corpo. A
sugestão é que a sanidade é precária, não uma condição permanente. A questão
passa a ser não só se a mente sã pode controlar o corpo, mas por quanto tempo.
(“Louco para ser normal”, Adam Phillips)
Linguagem
não verbal
Fonte: Salão de Humor de Piracicaba
:::::Linguagem
denotativa e linguagem conotativa
(André Gide)
Todo texto baseado em
linguagem denotativa é caracterizado pelo uso de palavras tal como elas estão
previstas no dicionário na sua acepção mais usada e previsível socialmente, de
forma objetiva e desprovida de emoção, para que o texto tenha univocidade de
sentido e seja, sobretudo, informativo.
Já os textos conotativos
são baseados numa linguagem caracterizada pelo uso de palavras subjetivas e
plurais quanto ao sentido, por isso entende-se que elas foram submetidas a um
estilo individual de produção, que possibilita também a individualização da
compreensão desse discurso. Isso gera a plurissignificação do texto. Logo,
ultrapassa-se a intenção informativa de um texto por causa da amplificação e da
pluralização dos sentidos e das interpretações desenvolvidas pelo interlocutor
sobre o que lê, ouve ou vê, com o objetivo de que o texto possa ser
compreendido também sob uma perspectiva estética.
Dessa forma, é
predominantemente denotativa a maioria dos textos científicos, jornalísticos,
didáticos e instrucionais; enquanto são conotativos os textos literários,
muitas propagandas, alguns tipos de cartas, etc.
“A linguagem é todo sistema capaz de servir à
comunicação entre os indivíduos. Torna possível o desenvolvimento e a
transmissão de culturas, bem como o funcionamento eficiente e o controle de
grupos sociais. A linguagem é um fato exclusivamente humano, um método de
comunicação racional de idéias, emoções e desejos por meio de símbolos
produzidos de maneira deliberada. ” (Dicionário
de Comunicação. SP. Ática, 1987, p.367)
“Se naturezas grosseiras e embrutecidas pelo trabalho diário e sem
encanto encontram no ópio grande consolo qual não será então o seu efeito num
espírito sutil e letrado, numa imaginação ardente e cultivada?” (Charles
Baudelaire, “Paraísos artificiais”)
“Quarenta e quatro americanos já fizeram o juramento presidencial. As
palavras já foram pronunciadas durante marés crescentes de prosperidade e nas
águas tranqüilas da paz. Ainda assim, com muita freqüência o juramento é
pronunciado em meio a nuvens que se aproximam e tempestades ferozes. Nesses
momentos, a América seguiu em frente não apenas devido à habilidade e visão
daqueles em posição de poder, mas porque Nós, o Povo, continuamos fiéis aos
ideais de nossos fundadores e aos documentos de nossa fundação.
Tem sido assim. E assim deve ser com esta geração
de americanos.
Que estamos no meio de uma crise agora já se sabe
muito bem. Nossa nação está em guerra contra uma extensa rede de ódio e
violência. Nossa economia está muito enfraquecida, uma consequência da ganância
e irresponsabilidade por parte de alguns, mas também de nossa falha coletiva em
fazer escolhas difíceis e em preparar a nação para uma nova era. Lares foram
perdidos; empregos cortados; empresas fechadas. Nosso sistema de saúde é caro
demais; nossas escolas falham demais; e cada dia traz mais provas de que a
maneira como utilizamos energia fortalece nossos adversários e ameaça nosso
planeta.” (Barack Obama, trecho do discurso de posse, 2009)
“A linguagem, portanto, é a terceira margem
do rio, confluência do sonho e da realidade, núpcias da pulsão e do Logos, que,
no transporte da paixão, engendra o verbo. Há quem pense que, com a dominância
do princípio da realidade, o sonho se acabe. Em verdade, não acaba nunca. O
sonho é centelha que salta do desejo e é através dela que vou acender as
fogueiras através das quais o rosto do mundo se ilumina. O sonho, levado aos
ombros da realidade, que o simboliza, é o projeto profundo do homem e a
teologia da história. O sonho vivido, enraizado no real, que o suporta, vai ser
a matriz da utopia, o eixo das grandes transformações, que fazem a grandeza do
processo civilizatório.” (Hélio Pellegrino. “Édipo e Paixão” do livro “Os
Sentidos da Paixão”)
Epílogo
Não, o melhor é não falares, não explicares
coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada agüenta mais nada. E sabe Deus o
que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas!
Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca... Outras
vezes senta uma mosca e desaba uma cidade. (Mario Quintana)
“Saudade é um pouco como fome. Só passa
quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença
é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na
vida.” (Clarice Lispector)
:::::A
língua
A
língua é “um sistema de representação por palavras e por regras que as combinam
em frases que os indivíduos de uma comunidade linguística usam como principal
meio de comunicação e expressão, falado ou escrito. Também pode ser entendida
como forma de agregação.”
(Dicionário Hoauiss)
“A
língua é uma razão humana que tem suas razões, e que o homem não conhece.”
(Lévi-Strauss)
“Quem deseja ter razão de
certo a terá com o mero fato de possuir língua.”
(Goethe)
A língua é um produto
das interações sociais, por isso suas regras são convencionadas entre os
membros de uma determinada sociedade. Isso ocorre para que tais normas sejam
acatadas por todos os indivíduos de uma comunidade com o intuito de que eles
possam entender-se, para tanto fazer esse grupo progredir cultural e
tecnologicamente quanto interagir das mais variadas e produtivas formas, ou até
para que construam preconceitos e pré-julgamentos em função da forma como um
indivíduo usa a língua na sua modalidade oral ou escrita.
Essa faculdade humana
pode ser entendida também como forma de reconhecimento entre pessoas
originárias de uma determinada região, o que contribui para o estabelecimento
de identidades nacionais. Isso reafirma o caráter em princípio social da
língua, ainda que questões de ordem cultural, política e econômica interajam
ativamente para o estabelecimento, a mudança ou o prestígio de uma determinada
tradição linguística inscrita em um espaço específico em determinado tempo numa
dada sociedade.
É importante ressaltar
que, a despeito da existência de um sistema de comunicação de regras
socializadas e aceitas por dada comunidade, há a presença de um estilo
individual submetido às escolhas linguísticas de um determinado indivíduo no
que tange aos aspectos léxicos, sintáticos, semânticos, fonéticos, etc., de uma
língua, sem, contudo, na maioria das vezes, inviabilizar a comunicação dele com
falantes do seu próprio idioma.
:::::Língua
e signo linguístico
“O
signo é o elemento fundamental da comunicação.”
(Ferdinand
Saussure. Curso de linguística geral.)
“Só
pensamos através de signos.”
(Peirce)
“...
a língua é uma das formas de manifestação da linguagem, é um entre os sistemas
semióticos construídos histórica e socialmente pelo homem.”
(Orientações
Curriculares para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
A
linguagem verbal, que tem a língua como código, é construída a partir de signos
linguísticos, os quais são responsáveis pela representação de ideias e são as
unidades mínimas da língua. Tais signos podem ser vistos como as próprias
palavras escritas ou faladas que são associadas a determinadas ideias,
conceitos, sentimentos, objetos, etc. Por isso, diz-se que o signo linguístico
apresenta três componentes: o significante, que é a parte concreta e material
(som, letras, ideogramas, etc.); o significado, que é a parte abstrata e conceitual
(objeto, ideia, etc.), e o referente, que é objeto, processo, atitude, pessoa
ou coisa em questão representada por meio do significante e explicada por meio
do significado. Portanto, signo linguístico é qualquer forma significativa, de
qualquer linguagem, resultado de uma conexão arbitrária e pública entre um
significado e um significante. Segue um exemplo dessa relação de
complementaridade:
Significante: sequência sonora: /kakaw/ ou
representação gráfica: cacau.
Referente
Fonte: internet
Significado (conceito): “fruto do cacaueiro,
com polpa adocicada, comestível, tb. us. em refrescos e doces.” (Dicionário Houaiss)
A
fala “...é sempre individual e dela o indivíduo é sempre senhor. A língua é
necessária para que a fala seja inteligível e produza seus efeitos; mas é tão
necessária para que a língua se estabeleça; historicamente, o fato da fala vem
sempre antes.”.
(Ferdinand
Saussure. Curso de linguística geral.)
“...
se é pelas atividades de linguagem que o homem se constitui sujeito, só por
intermédio delas é que tem condições de refletir sobre si mesmo.”
(Orientações
Curriculares para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
A linguagem é um
sistema composto de signos convencionados entre os membros de uma dada
comunidade ou grupo, a língua inscreve-se nesse vasto universo como um código
verbal de um determinado grupo, nação ou comunidade, baseado em um sistema de
representação convencional do que se quer comunicar, ainda que cada língua tenha suas próprias
regras para ser organizada. Já a fala é o uso individual escrito ou falado que
se faz das possibilidades comunicativas representadas pela língua.
::::Língua,
discurso e enunciação
A
língua “...é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si
só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma
espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.”. (Ferdinand
Saussure. Curso de linguística geral.)
“A
língua não exprime só o pensamento, mas o homem todo; seus sentimentos, sua
vontade, suas oscilações.”
(Charles
Bally)
“As
vivências do homem se projetam na língua.”
(Charles
Bally)
Enunciação
“...é uma atualização temporal e espacial do locutor em seu discurso.”
(Orlandi)
A
língua é um tipo de linguagem verbal convencionada, que passa a ser vista como
discurso quando avaliada no momento da enunciação, visto como o contexto em que
uma situação comunicativa estabelece-se. Este é influenciado por variáveis como
o tempo histórico, o espaço, o nível de relação entre os interlocutores, as
relações sociais e culturais entre eles, as intenções comunicativas, o nível de
conhecimento de língua dos interlocutores, etc.
Portanto,
discurso é todo texto verbal ou não verbal em que seu produtor emprega recursos
e estratégias linguísticas com o intuito de produzir, evocar, induzir, etc.,
alguma atitude ou resposta por parte de seu interlocutor.
:::::Língua falada e língua escrita
“...o
homem, em suas práticas orais e escritas de interação, recorre ao sistema
lingüístico – com suas regras fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas
e com seu léxico.”
(Orientações
Curriculares para o Ensino Médio; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
Pode-se
dizer que as expressões de uma língua em suas modalidades faladas e escritas
respeitam variáveis significativamente distintas, tanto no que concerne a
preparação do que será dito ou escrito quanto na própria conformação gramatical
e discursiva do que foi comunicado. Isso ocorre porque tais possibilidades de
expressão atendem a objetivos específicos em contextos igualmente singulares, o
que exige níveis e maneiras diferentes de organizar e expressar um determinado
conteúdo. Para facilitar a compreensão dessas diferenças, segue estudo sobre as
características de cada uma dessas modalidades de expressão da língua.
Modalidade
falada
_Forte dependência contextual.
_Planejamento precário ou simultâneo em
relação à produção da fala, pautado na espontaneidade, o que pode gerar: fluxo
fragmentado, mudança abrupta de construção, frases quebradas, hesitações, etc.
_Coesão por meio de recursos paralinguísticos
(entonação, gestos, olhares, etc.).
_Predomínio de frases curtas, ordem direta do
discurso, período simples e orações coordenadas.
_Presença de elementos fáticos que mantêm ou
não a conversação aberta: "cê tá me ouvindo?", "Alô",
“ahã”, “hum”, “né”, “tá”, etc.
Modalidade
escrita
_Pouca dependência contextual.
_Permite planejamento prévio; fluxo das
informações organizado e contínuo.
_Coesão por meio de conectivos, de estruturas
sintáticas, etc.
_Períodos longos com forte presença de
orações subordinadas, frases com estrutura complexa e encadeamento de várias
orações sucessivas.
_Forte influência das convenções
linguísticas, técnicas, estruturais, etc., ou seja, respeita de forma mais
abrangente a norma padrão da língua.
:::::Texto
verbal e linguagem
“Nem
tudo que escrevo resulta numa realização;
Resulta
mais numa tentativa,
O
que também é um prazer.
Pois
nem tudo eu quero pegar.
Às
vezes, eu quero apenas tocar.
Depois,
o que toco às vezes floresce,
E
os outros podem pegar com as duas mãos.”
(Clarice
Lispector)
“Todo
texto quer que alguém o ajude a funcionar.”
(Umberto
Eco)
“Qualquer
objeto de produção cultural ou prática social passível de interpretação e
reinterpretação simbólica pode ser considerado um texto.”
(Roland
Barthes)
O
texto verbal, nas suas múltiplas formas faladas ou escritas, é uma unidade de
sentido em que se ambiciona comunicar uma informação, um sentimento, uma ideia,
etc., com qualquer extensão e algum intuito, ou seja, é uma unidade linguística
comunicativa básica. Segundo Beaugrande e Dressler, “um documento de
procedimentos de decisão, seleção e combinação”. Além disso, a noção de
discurso prevê uma série de questões associadas à enunciação de um texto, tais
como entonação; as relações sociais, psicológicas e estéticas entre os
interlocutores; a origem dos interlocutores; a situação de enunciação; etc.
:::::Texto
em prosa e em verso
"A poética é
a atividade lingüística que tem um objetivo de arte e procura criar com a
linguagem um estado psíquico de emoção estética por meio da aplicação sistemática
de processos de estilística. (...) A expressão lingüística tende a organizar-se
em frases ritmadas, na base da entonação, do número de sílabas, da distribuição
mais ou menos regular das sílabas acentuadas, constituindo-se séries de versos;
mas a poesia, ou atividade poética em sentido lato, se faz também em prosa,
isto é, sem essa organização rítmica das frases."
(Mattoso
Câmara Júnior)
São
muitas as possibilidades de abordagem dos conceitos de prosa e verso. Quanto às
características editoriais e estruturais, pode-se dizer que a prosa é comumente
organizada em parágrafos de extensão variada, que ocupam uma mancha tipográfica
de forma comumente horizontal. Já o verso é cada uma das linhas do poema, por
isso é considerado uma unidade rítmica de um texto poético, são dispostos
geralmente em estrofes, que podem assumir as mais variadas formas e tamanhos. O
verso é musical por excelência, já que altera e artificializa o ritmo natural
da fala.
A
prosa, ainda, pode ser entendida como imitação do ritmo natural da fala, ou
seja, o texto em que a musicalidade não é comum, até porque, quando ela ocorre,
vê-se isso como um equívoco ou deslize do produtor. O texto em prosa é contínuo
e não fragmentado e tende a ter mais períodos na ordem direta. Já o verso pode
ser visto como a criação de um ritmo estranho à fala, porque é musical e, por
vezes, metrificado, em função dos recursos rítmicos necessários para determinadas
obras poéticas. São exemplos de texto em verso o cordel, o poema, o “jingle”, a
letra de música, etc. Quanto à prosa, os exemplos são os romances, o discurso
jornalístico, o discurso didático, o texto científico, etc.
Texto
em prosa
“Só a Antropofagia nos une. Socialmente.
Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos
os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos
os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos
fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud
acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. O que
atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o
mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e
amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos
traficados e pelos touristes. No país
da cobra grande. Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos
vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e
continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma consciência participante,
uma rítmica religiosa.” (Oswald de Andrade, “Manifesto antropofágico”)
Texto
em verso
Filosofia
O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia. (Noel Rosa)
::::Texto
literário (ficcional) e não literário (não ficcional)
“A
poesia não se entrega a quem a define.”
(Mario
Quintana)
A língua, entendida como
matéria para a arte e para a elaboração estética, tem como realização o texto
literário, que é uma forma linguística espontânea encontrada das sociedades
mais primitivas até as mais avançadas. Ainda que haja uma hierarquia entre elas
quanto ao desenvolvimento tecnológico, a produção artística delas não deve ser
hierarquizada, justamente porque tal produção, por ser fundamentada na
conotação e na subjetividade, também é de forma subjetiva recebida por
diferentes indivíduos de modos igualmente diversos. Por outro lado, o uso da
língua centrado na informação e na denotação serve a um propósito claro e
objetivo, o de garantir a transmissão de conhecimento entre pessoas, povos e
gerações. Daí sua especificidade de servir à ciência, ao jornalismo e à
produção e à transmissão de conhecimento.
O
texto literário, em prosa ou em verso, é geralmente construído sem o
estabelecimento de compromisso com o que é visto como expressão da realidade
pela maioria das pessoas, além disso, por causa da presença constante de
recursos linguísticos subjetivos ou conotativos, permite-se a possibilidade de
que ele seja plurissignificativo. Isso ocorre também em virtude da invenção e
da criatividade, que são premissas fundamentais para a construção de textos
literários, os quais permitem ao autor deles recriar a realidade a partir de
seu ponto de vista, levando em consideração a sua idiossincrasia. Nesse tipo de
texto, é amplo o uso de figuras de linguagem. Quanto às funções da linguagem,
as mais comuns são a metalinguística, a emotiva, a conativa e, em especial, a
poética. São exemplos desse tipo de texto os romances, os poemas, as peças de
teatro, etc.
Por
outro lado, o texto não literário, geralmente em prosa, tem compromisso com a
realidade imediata, tende a explicá-la, descrevê-la, discuti-la, etc. Por isso,
a linguagem denotativa é muito presente nesse tipo de texto em virtude de seus
objetivos, comumente comprometidos com o fato, o dado, o que faz a função
referencial ser predominante nessa forma de produção textual. São exemplos desse
tipo de texto as receitas, os manuais, as dissertações, os textos didáticos e
jornalísticos, etc.
Texto
não literário
“Historicamente, a matemática é extremamente eficiente
na descrição dos fenômenos naturais. O prêmio Nobel Eugene Wigner escreveu sobre
a “surpreendente eficácia da matemática na formulação das leis da física, algo
que nem compreendemos nem merecemos”. Toquei outro dia na questão de a
matemática ser uma descoberta ou uma invenção humana.
Aqueles que defendem que
ela seja uma descoberta creem que existem verdades universais inalteráveis,
independentes da criatividade humana. Nossa pesquisa simplesmente desvenda as
leis e teoremas que estão por aí, existindo em algum metaespaço das ideias, como
dizia Platão.
Nesse caso, uma
civilização alienígena descobriria a mesma matemática, mesmo se a representasse
com símbolos distintos. Se a matemática for uma descoberta, todas as inteligências
cósmicas (se existirem) vão obter os mesmos resultados. Assim, ela seria uma língua
universal e única.
Os que creem que a
matemática é inventada, como eu, argumentam que nosso cérebro é produto de
milhões de anos de evolução em circunstâncias bem particulares, que definiram o
progresso da vida no nosso planeta.
Conexões entre a
realidade que percebemos e abstrações geométricas e algébricas são resultado de
como vemos e interpretamos o mundo.
Em outras palavras, a
matemática humana é produto da nossa história evolutiva. (Marcelo Gleiser.
Folha de S. Paulo, Caderno Mais! 31/05/09)
Texto
literário
“Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio
e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada. Mergulho enfim em mim até o
nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo
porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu
espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele
vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando,
sem depois eu falar ou escrever – esse meu pensamento de palavras é precedido
por uma instantânea visão sem palavras, do pensamento – palavra que se seguirá,
quase imediatamente – diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de
pensar, pois, eu já pensei.” (Clarice Lispector. “Um sopro de vida”)
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