Módulo 1 - A
música
“A vida sem música seria um erro.”
(Nietzsche)
“Sem música para decorar, tempo é só a monotonia de prazos de entregas e contas a pagar.”
(Frank Zappa)
“A música, traduzindo idéias e sentimentos na linguagem dos sons, é um meio de expressão;
portanto produto da vida social. (...)
Música é movimento. Música é vida. (...).”
(Manifesto 1946: Declaração de Princípios. Rio de Janeiro, 1º de novembro de 1946)
Há
evidências de que a música é conhecida e praticada por humanos desde a
Pré-História, pois se sugere por meio de alguns indícios arqueológicos que
existem relações diretas e intensas entre ela e o desenvolvimento da linguagem
e da produção cultural humana. O primeiro impulso de criação ou mesmo imitação
de uma música deve ter ocorrido por causa da percepção dos sons da natureza,
especialmente de aves, ou mesmo do próprio corpo humano em um passado que é
difícil precisar exatamente.
A
música é uma prática cultural humana, vista na maioria das vezes como um ato
associado ao prazer estético, ainda que em várias sociedades ela possa ter uma
função meramente pragmática ou utilitária. Essa é uma forma de arte composta
basicamente de uma sucessão de sons e silêncios organizada ao longo de um
determinado tempo, motivada por uma ideia ou sentimento e submetida a
determinadas percepções e estruturações estéticas. Diante disso, não se sabe de
nenhuma civilização ou sociedade desprovida de manifestações musicais.
A
obra de arte musical é dividida em dois momentos: criação e “performance”. O
primeiro inscreve-se de forma semelhante no campo das linguagens artísticas
como produto do invento, da inspiração, do trabalho “e/ou” da educação formal.
Quanto ao segundo momento, pode-se dizer que a música aproxima-se do teatro e
da dança em função de que a plenitude dessas três formas de arte dá-se no
espetáculo, na execução pública, na interação com o espectador. Embora seja
sabido que essas linguagens artísticas possam ser documentadas em vídeo e
áudio, a realização plena dessas artes é alcançada na execução presencial das
obras que as definem e as compõem.
Dentre as linguagens artísticas, a música é uma das mais profundamente associadas ao tempo, ao espaço e à subdivisão em estilos, o que confere a ela uma condição diferenciada entre as artes em função de suas conexões intensas com os contextos sociais e culturais em que é inserida, mesmo no sentido de contrariá-los, o que produz infinitas possibilidades de análise e ilustração sobre como a sociedade tem se modificado culturalmente, como são os casos de jovens de classe média e alta do Rio de Janeiro serem ouvintes de funk carioca, ou mesmo de projetos associados ao que se convencionou chamar arte erudita tais como música clássica ou balé oferecidos em comunidades carentes de grandes cidades brasileiras com grande interesse por parte dos jovens dessas regiões. Sobre essa questão vale ressaltar o processo de ruptura sistemático do conceber e do fazer artístico ocorrido ao longo do século XX com os chamados cânones clássicos, o que na música tanto, por exemplo, consubstanciou-se em movimentos de ruptura com a música clássica tradicional como são os casos do Dedecafonismo e do Atonalismo de Arnold Schoenberg quanto do distanciamento da música contemporânea, em especial no seu viés mais popular ou pop, das regras e referenciais estéticos europeus.
No Brasil, podem-se destacar como essenciais para entender esse processo de trocas culturais e mesmo o próprio conceito diverso, transitório e sempre inacabado de música brasileira, ritmos como o Samba, o Maracatu, o Baião, o Xote, a Bossa Nova, o Axé, a Música Sertaneja, a Moda de Viola, o Choro, o Frevo, o Funk Carioca, o Brega, a Jovem Guarda, o Mangue Beat, a Marchinha, o Maxixe, o Pagode, a MPB, etc., além evidentemente dos muitos desdobramentos, uniões e mixagens entre ritmos brasileiros e estrangeiros, que se desenvolveram no Brasil.
Dentre desse contexto, os estilos musicais de origem estrangeira mais influentes na música brasileira e que merecem nota em função disso são o Blues, o Jazz, o Reggae, o Funk, o RAP, o Rock, a música étnica africana, a Música Eletrônica, os ritmos caribenhos, o tango e a Música Clássica europeia.
Dentre as linguagens artísticas, a música é uma das mais profundamente associadas ao tempo, ao espaço e à subdivisão em estilos, o que confere a ela uma condição diferenciada entre as artes em função de suas conexões intensas com os contextos sociais e culturais em que é inserida, mesmo no sentido de contrariá-los, o que produz infinitas possibilidades de análise e ilustração sobre como a sociedade tem se modificado culturalmente, como são os casos de jovens de classe média e alta do Rio de Janeiro serem ouvintes de funk carioca, ou mesmo de projetos associados ao que se convencionou chamar arte erudita tais como música clássica ou balé oferecidos em comunidades carentes de grandes cidades brasileiras com grande interesse por parte dos jovens dessas regiões. Sobre essa questão vale ressaltar o processo de ruptura sistemático do conceber e do fazer artístico ocorrido ao longo do século XX com os chamados cânones clássicos, o que na música tanto, por exemplo, consubstanciou-se em movimentos de ruptura com a música clássica tradicional como são os casos do Dedecafonismo e do Atonalismo de Arnold Schoenberg quanto do distanciamento da música contemporânea, em especial no seu viés mais popular ou pop, das regras e referenciais estéticos europeus.
No Brasil, podem-se destacar como essenciais para entender esse processo de trocas culturais e mesmo o próprio conceito diverso, transitório e sempre inacabado de música brasileira, ritmos como o Samba, o Maracatu, o Baião, o Xote, a Bossa Nova, o Axé, a Música Sertaneja, a Moda de Viola, o Choro, o Frevo, o Funk Carioca, o Brega, a Jovem Guarda, o Mangue Beat, a Marchinha, o Maxixe, o Pagode, a MPB, etc., além evidentemente dos muitos desdobramentos, uniões e mixagens entre ritmos brasileiros e estrangeiros, que se desenvolveram no Brasil.
Dentre desse contexto, os estilos musicais de origem estrangeira mais influentes na música brasileira e que merecem nota em função disso são o Blues, o Jazz, o Reggae, o Funk, o RAP, o Rock, a música étnica africana, a Música Eletrônica, os ritmos caribenhos, o tango e a Música Clássica europeia.
Importante
salientar que, muitas vezes, as fronteiras entre esses ritmos são sutis e
transitórias, já que a música é uma das formas de arte passíveis das
modificações mais velozes, o que torna difícil poder acompanhá-las, no sentido
de categorizá-las em virtude do volume de novas e mutáveis possibilidades.
Sobre
as funções da música, além da prioritariamente artística, é possível perceber
usos militares, por razões motivacionais; educacionais ou pedagógicas;
didáticas; terapêuticas (musicoterapia); religiosas, como forma de adoração,
transe ou evangelização; festivas, em festas e celebrações; funerárias, como
forma de dar pompa, solenidade ou importância ao evento; ou até mesmo como
música ambiente.
Como
forma de aprofundamento, seguem trechos sobre o estudo da música presentes nas
Orientações Educacionais do Ensino Médio confeccionadas pelo MEC:
“MÚSICA
3.3.1
Código
Estruturas
morfológicas
O
som. O silêncio e seus recursos expressivos. Qualidades sonoras (alturas,
timbres, intensidades, durações). Movimento. Imaginação sonora; ideia de
música.
Estruturas
sintáticas
Modalidades
de organização musical. Organizações sucessivas: de sons e/ou ruídos, linhas
rítmicas, melódicas, tímbricas, etc.
Organizações
simultâneas: de sons e/ou ruídos, sobreposições rítmicas, melódicas, harmonias,
clusters, contrapontos, granular, etc.
Estruturas
musicais: células, repetições, variações, frases, formas, blocos, etc. Texturas
sonoras: melodias acompanhadas, polifonias, polirritmia, pontilhismos, etc.
sonoras: melodias acompanhadas, polifonias, polirritmia, pontilhismos, etc.
Estéticas,
estilos e gêneros de organização sonora criados ao longo da história humana nas
diversas sociedades e culturas. Criação, execução e escuta de músicas.
Tomando
como base o processo de comunicação que sustenta a estrutura deste documento,
produzir música e interpretar música implica ações musicais como criar
(improvisar, compor, fazer arranjos), executar (cantar, tocar, dançar) e
escutar. Assim, as estruturas mencionadas anteriormente podem ser trabalhadas
tendo como base a produção e a interpretação musicais. Essas estruturas
constituem materiais e possibilidades de organização de vários idiomas, estilos
ou gêneros musicais. Podem, portanto, ser estudadas a partir de uma ampla gama
de músicas. Por exemplo, explorar a linha rítmica do canto falado do rap; as
sobreposições rítmicas de uma bateria de escola de samba.
Outro
aspecto a ser considerado reporta-se ao trabalho com essas estruturas. No cerne
das várias tendências pedagógicas no ensino da Música, há algumas práticas que
se consagraram, mas de modo algum significam a melhor possibilidade, dependendo
do contexto de ensino e aprendizagem. Por exemplo, da proposta das oficinas de
música vem a idéia de iniciar o trabalho com a exploração sonora e as
qualidades desses sons (altura, timbres, intensidades, durações). Qualquer
estrutura pode ser desencadeadora de um processo de aprendizagem musical. O que
se procura garantir nas tendências pedagógicas atuais é que a aprendizagem seja
significativa, isto é, que tenha sentido para quem aprende.
Outra tendência refere-se ao trabalho no contexto e a partir de contextos musicais, e não a partir de estruturas isoladas. Trabalhar no contexto musical implica processos musicais. Por exemplo, improvisar com ritmos; explorar nessa improvisação, além de estruturas rítmicas, diferentes timbres. Trabalhar a partir do contexto musical implica partir de produtos musicais. Por exemplo: depois da escuta de determinada música, discutir seus vários níveis de organização. Como se espera que o ensino médio seja uma continuidade do ensino fundamental, é importante avaliar que conhecimentos e habilidades musicais os alunos já construíram. Mesmo que eles não se tenham envolvido com o ensino de Música anteriormente, suas vivências cotidianas proporcionam lhes conhecimentos que devem ser considerados nas aulas.
Outra tendência refere-se ao trabalho no contexto e a partir de contextos musicais, e não a partir de estruturas isoladas. Trabalhar no contexto musical implica processos musicais. Por exemplo, improvisar com ritmos; explorar nessa improvisação, além de estruturas rítmicas, diferentes timbres. Trabalhar a partir do contexto musical implica partir de produtos musicais. Por exemplo: depois da escuta de determinada música, discutir seus vários níveis de organização. Como se espera que o ensino médio seja uma continuidade do ensino fundamental, é importante avaliar que conhecimentos e habilidades musicais os alunos já construíram. Mesmo que eles não se tenham envolvido com o ensino de Música anteriormente, suas vivências cotidianas proporcionam lhes conhecimentos que devem ser considerados nas aulas.
3.3.2
Canal
Diversas
fontes de criação musical:
-
o corpo, a voz;
-
sons da natureza; sons do cotidiano, paisagens sonoras;
-
objetos sonoros diversos, movimentos, texturas;
-
instrumentos musicais nas diversas culturas: acústicos, eletroacústicos,
eletrônicos, novas mídias;
-
criação de novas fontes sonoras nas várias estéticas e estilos musicais:
instrumentos no rock, no RAP, na orquestra, na capoeira, no samba, no choro,
etc.
Os materiais, os suportes e os veículos de criação musical são tantos quanto a imaginação e a sensibilidade inventiva puderem conceber. Em diferentes momentos históricos e em diversas culturas, foram eleitos materiais, suportes e veículos que implicaram o tipo de criação musical e foram, por sua vez, eleitos pelas próprias criações musicais. A música concreta elegeu ruídos e sons do cotidiano que resultaram numa nova estética. O mesmo pode ser observado no RAP, no tecno e em outras estéticas.
Os materiais, os suportes e os veículos de criação musical são tantos quanto a imaginação e a sensibilidade inventiva puderem conceber. Em diferentes momentos históricos e em diversas culturas, foram eleitos materiais, suportes e veículos que implicaram o tipo de criação musical e foram, por sua vez, eleitos pelas próprias criações musicais. A música concreta elegeu ruídos e sons do cotidiano que resultaram numa nova estética. O mesmo pode ser observado no RAP, no tecno e em outras estéticas.
3.3.3 Contexto
Das
músicas
Considerar
e compreender em que contexto as músicas são criadas, praticadas e consumidas
torna-se extremamente relevante em uma abordagem pedagógica que valoriza a
diversidade da produção humana. Assim, as perguntas a serem feitas com relação
a um produto musical são: quem os produziu? Quando? Onde? Com que finalidade?
As idéias, os valores, as crenças, os conhecimentos e intenções dos produtores
e dos consumidores de música são importantes para se compreender a diversidade
humana. Igualmente importante é estar atento para as novas possibilidades de
recepção de música, já que os significados não estão preestabelecidos, mas são
construídos no momento da própria ação musical (criar, executar, escutar).
Do aluno, do professor, da escola, da comunidade
A música é uma das formas mais significativas das culturas jovens. Ouvir música, tocar, cantar, criar, falar sobre música, ir a shows, fazer parte de um grupo musical são algumas das maneiras mediante as quais acontece a interação entre jovens e música. Jovens com condições economicamente favoráveis utilizam-se de internet, MP3 e demais equipamentos que veiculam e produzem música. Jovens sem poder aquisitivo participam de outras redes de prática musical: dançam nos bailes funk, tocam na bateria da escola de samba, são “rappers”, consomem o que a televisão e as rádios veiculam. Assim, as experiências musicais dos adolescentes são variadas. O ensino de Música também deve ser construído tendo em vista o contexto e as características da escola e da região em que está situada.
Do aluno, do professor, da escola, da comunidade
A música é uma das formas mais significativas das culturas jovens. Ouvir música, tocar, cantar, criar, falar sobre música, ir a shows, fazer parte de um grupo musical são algumas das maneiras mediante as quais acontece a interação entre jovens e música. Jovens com condições economicamente favoráveis utilizam-se de internet, MP3 e demais equipamentos que veiculam e produzem música. Jovens sem poder aquisitivo participam de outras redes de prática musical: dançam nos bailes funk, tocam na bateria da escola de samba, são “rappers”, consomem o que a televisão e as rádios veiculam. Assim, as experiências musicais dos adolescentes são variadas. O ensino de Música também deve ser construído tendo em vista o contexto e as características da escola e da região em que está situada.
Do
ensino médio
A
construção coletiva do currículo que se busca no novo ensino médio encontra na
música uma forte aliada. Em razão do interesse que os jovens têm por música, a
escolha coletiva de temas sobre música a serem trabalhados nas aulas constitui
uma possibilidade interessante.”
Tipos de música
“O
problema de apreciar música é que em geral as pessoas são ensinadas a ter
excessivo respeito por ela; em vez disso, deveriam ser ensinadas a amá-las.” (Igor
Istravinsky)
“O
irromper da atonalidade adveio como um passo necessário na crescentemente
penetrante revelação de emoções interiores por Schoenberg, pois a exposição das
fontes mais profundas da personalidade requeria meios musicais de um tipo
profundamente pessoal, não aqueles aprendidos com a tradição. A atonalidade era
o único meio possível para o expressionismo musical.” (Paul Griffths, Música
Moderna: uma história concisa)
A
faceta mais importante da música como expressão artística é a execução ou a
reprodução dela. As formas de executar uma obra musical podem ser as mais
diversas como o caso da improvisação simples e espontânea dos cantos de
trabalho das lavadeiras de várias regiões brasileiras e das “worksongs” dos
negros norte-americanos do século XIX e primeira metade do XX. Por outro lado,
pode ser produto de uma organização elaborada antecipadamente como no concerto
clássico, no evento de música pop, no coro das igrejas protestantes negras dos
EUA, etc.
A
música constrói-se em torno do trabalho do compositor e do intérprete, mas em
última instância do músico ou da banda que produz ritmo, interpretação e senso
estético a um conjunto de sons, que serve muitas vezes como acompanhamento para
um texto de caráter poético o qual chamamos comumente “letra”.
Essa forma de arte ainda pode ser produzida a partir de um improviso como nas “jams” ou “scats” típicos do Jazz ou executada em função de uma partitura elaborada meticulosa e previamente por um compositor centrado em um tema perseguido ao longo de toda uma obra sinfônica.
Os três elementos organizacionais da produção musical são melodia, harmonia e ritmo, embora se possa também pensar em altura, timbre, intensidade e duração, quando avaliado o som como parte constitutiva de qualquer música. A combinação desses elementos construtores da obra musical permitirá que seja reconhecida em uma música a estrutura, a textura e o tipo dela, além de ser recurso muito importante na dança.
Quanto aos tipos, gêneros e períodos musicais, pode-se constatar facilmente que eles são derivados das combinações mais ou menos estáveis dos elementos que constituem a música. Como tipos musicais podem ser citados, não sem controvérsias, alguns grandes grupos:
Essa forma de arte ainda pode ser produzida a partir de um improviso como nas “jams” ou “scats” típicos do Jazz ou executada em função de uma partitura elaborada meticulosa e previamente por um compositor centrado em um tema perseguido ao longo de toda uma obra sinfônica.
Os três elementos organizacionais da produção musical são melodia, harmonia e ritmo, embora se possa também pensar em altura, timbre, intensidade e duração, quando avaliado o som como parte constitutiva de qualquer música. A combinação desses elementos construtores da obra musical permitirá que seja reconhecida em uma música a estrutura, a textura e o tipo dela, além de ser recurso muito importante na dança.
Quanto aos tipos, gêneros e períodos musicais, pode-se constatar facilmente que eles são derivados das combinações mais ou menos estáveis dos elementos que constituem a música. Como tipos musicais podem ser citados, não sem controvérsias, alguns grandes grupos:
Música folclórica – produção cultural fortemente atrelada às tradições orais, costumes e preferências estéticas e temáticas que delineiam a cultura de um determinado grupo social ou de uma determinada região. Comumente confundida com a música popular ou religiosa, por ser muitas vezes origem dessas e mesmo parte integrante de muitas composições tornadas populares como algumas variantes do samba. Geralmente, recolhida e mantida por décadas, centenas ou até milhares de anos por força das tradições sociais, religiosas e orais de um povo. De caráter normalmente rural ou ligado a pequenas comunidades, tem produção associada a festas folclóricas (cavalgada, maracatu, etc.), a procedimentos específicos (fertilidade, colheita, jogo, brincadeira, diversão, etc.), ou a aspectos funcionais e cotidianos da vida das pessoas (canções de trabalho, cantigas de ninar, etc.).
Música religiosa ou sacra – parte importante ou central de diversas liturgias
religiosas específicas e estabelecidas a partir de códigos e textos que fixam
essas práticas, como é o caso do papel da música em cerimônias religiosas
cristãs, como funerais e cultos. As religiões têm suas formas fixas e
estabelecidas de música religiosa, são exemplos o Canto Gregoriano da Igreja
Católica Apostólica Romana; o Gospel das igrejas protestantes brasileiras e
norte-americanas; os batuques e cantos das religiões afro-brasileiras como o
Candomblé, a Umbanda e o Tambor de Mina; o canto do muezim, nos minaretes das
mesquitas islâmicas; as “ladainhas” do Santo Daime; etc.
Música militar – música de caráter pragmático e utilitarista que tem como intuito motivar, disciplinar, instruir, ameaçar, organizar, etc., tropas em diversos países e culturas. São exemplos as canções dos Fuzileiros Navais e dos Paraquedistas norte-americanos; o Haka dos Maoris e da seleção neozelandesa de rúgbi; as gaitas de fole do exército escocês; as trombas e tambores das legiões romanas; a flauta e a caixa dos exércitos napoleônicos; a corneta das unidades de cavalaria do exército estadunidense; etc.
Música terapêutica – uso medicinal da música como meio de se combater ou mesmo remediar
doenças em especial de caráter psicológico ou psiquiátrico a fim de reabilitar
pessoas de quaisquer idades. O processo visa individualmente ou em grupo
facilitar e promover comunicação, vivências, aprendizado, experiências, além de
outros objetivos terapêuticos relevantes, com o intuito de atender às necessidades
físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas, além de objetivar a melhor
qualidade de vida, por intermédio de prevenção, reabilitação ou tratamento dos
atendidos por essa prática. Entre os potenciais pacientes beneficiados pela
musicoterapia estão os autistas, as pessoas com restrições motoras ou mentais,
os pacientes psiquiátricos, as gestantes, os idosos, etc. Normalmente, as
músicas mais utilizadas para esse fim são outros tipos de música como a indiana,
a clássica, a indígena, etc.
Música erudita ou clássica – é vista por muitos como uma forma superior de arte
musical, por seu pretenso academicismo ou pela própria erudição de suas
composições e execuções. Essa visão não só é preconceituosa como é equivocada,
já que os próprios autores de música erudita, ou mesmo seus maestros e músicos,
têm mostrado cada vez mais uma inclinação pela música popular, folclórica ou
mesmo pop. Desde Villa-Lobos, por conta da paixão dele pela música popular
brasileira que foi tema e inspiração para muitas de suas obras, até versões
sinfônicas da obra de bandas como Deep Purple ou Metallica, ou mesmo a paixão
confessa pelo Choro que muitos músicos eruditos demonstram com trabalhos
musicais paralelos. Assim, a música erudita é tecnicamente a expressão musical
baseada em instrumentos clássicos europeus; composta para orquestras ou grupos
pequenos de cordas ou mesmo violão; elaborada e executada de forma muito
apurada tecnicamente; registrada de forma documental e, para muitos, é uma
forma de arte atemporal.
Música popular –
é a produção musical individual ou coletiva associada à cultura popular, ao
improviso, a espontaneidade e a cultura oral em certa medida. Muito dependente
da urbanização e industrialização da sociedade que permitiu a concentração de
público nas cidades para que o próprio nome dela se justificasse em função de
sua massificação. De tipificação vasta e em contínuo processo de mudança, é
muito dependente da cultura da periferia que abastece a sociedade de forma
contínua e perene com novos ritmos e tendências desde o Samba ao Tecnobrega,
produtos de diversas regiões periféricas de grandes cidades brasileiras. No
campo das suas escolhas estéticas e temáticas, aponta e é muito suscetível a
novas tendências ideológicas, comportamentais e culturais, portanto está em
constante diálogo com todos os setores da sociedade: dos meios de comunicação à
vida social e particular das pessoas. Em vários momentos intercambia
informações com outros tipos musicais como a música erudita, folclórica, de
massa, religiosa, etc., para transformá-las em experiências artísticas mais
afeitas ao cotidiano, às preferências estéticas e temáticas e aos desejos da
maioria das pessoas.
Música experimental – como concepção estética e de vanguarda, é uma forma musical que se desenvolveu ao longo do século XX na perspectiva de questionar o gosto popular ou mesmo erudito mais convencional. Para tanto, seus entusiastas investiram em instrumentações inusitadas; efeitos sonoros pouco comuns na música como ruídos industriais ou de multidões; experimentações eletrônicas; dissonâncias; etc. Importante salientar que algumas dessas propostas foram posteriormente absorvidas ou mesmo foram influências para manifestações musicais mais bem aceitas por um significativo número de ouvintes. São exemplos o trabalho de grupos ou compositores como Satanique Samba Trio, Karlheinz Stockhausen, Cecil Taylor, Anton Webern, Arnold Schönberg, etc.
Música pop ou de massa – é a produção musical que permite combinações entre
todos os outros tipos de música com o intuito de dar a eles uma roupagem
estética que os permita alcançar grande público tendo como plataforma meios de
comunicação de massa como a televisão, o rádio, o cinema, etc. Para tanto, seus
artistas muitas vezes submetem suas escolhas estéticas não só aos ditames
desses meios como às potenciais preferências de seus admiradores, ou seja, o
sucesso não ocorre naturalmente, mas de forma pretensamente calculada e
planejada. De outro lado, esse tipo de música é muito ouvido porque ele garante
a socialização do indivíduo que se inscreve numa grande comunidade ao ouvir
essas produções musicais. Como é muito dependente das circunstâncias que
envolvem o difícil equilíbrio entre necessidades de mercado, preferências
coletivas e o desejo de novidade, a música pop é alvo de um processo de
descarte e esquecimento veloz, porque, na razão de um sucesso, num dado
momento, está a certeza de seu descarte no futuro. Assim, simula a produção
industrial numa escala em que o produto deixa de ser dotado de significado para
ter apenas função, o que o torna alvo do mesmo pragmatismo responsável pela sua
concepção. São exemplos desse processo a música sertaneja a partir da década de
1980 sob influência da estrutura de banda pop e do afastamento das temáticas e
estéticas tradicionais da Moda de Viola; o Pagode que deixou de ser evento para
ser subestilo do samba com a estrutura de banda pop e o som eletrificado, os
passos de dança combinados e as letras exacerbadamente sentimentais; etc.
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