O moderno e as vanguardas estéticas I
"Os tempos
primitivos são líricos, os tempos antigos são épicos, os tempos modernos são
dramáticos."
(Victor Hugo)
A
aurora da Arte Moderna
Como
se sabe, os processos humanos e sociais não se desenvolvem, sucedem-se ou
revezam-se normalmente de forma estanque, precisa e bem delimitada. Isso se
intensifica no estudo da Arte, já que é evidente de que na falência ou declínio
de um estilo ou movimento gesta-se o subsequente não só por um mecanismo
simplista e maniqueísta de oposição e ruptura entre eles, mas por meios mais
afeitos ao amálgama, às trocas e aos paradoxos. Assim, deu-se ao longo do
século XIX, com algumas contribuições significativas de movimentos como o
Romantismo, o Realismo e o Simbolismo, muito dos aspectos contestatórios e
inovadores que pautariam grande parte da produção artística desde então.
Soma-se a isso o período histórico revolucionário que foram os séculos XIX e
XX, em função da velocidade vertiginosa para muitos e necessária para uns
poucos vanguardistas das mudanças em todas as esferas da experiência humana
como o novo ideário proposto pela Revolução Francesa; uma Revolução Industrial
que alterou os rumos não só do produzir, como das relações humanas e sociais; os
adventos tecnológicos como a lâmpada elétrica, o rádio, a televisão, o
telefone, a fotografia, o cinema, a internet, etc.; o desenvolvimento de ideias
deterministas na ciência; a disseminação de ideais feministas, socialistas,
comunistas, anarquistas, etc.; a urbanização acelerada; dentre muitos outros
acontecimentos e concepções que mudariam não só a forma de ver o mundo, mas
também de senti-lo.
Nesse ínterim, a arte passou à meio de expressão das ideias e sensações mais íntimas
dos artistas, até mesmo as inconfessáveis; tratou do feio, do grotesco, do
incomum, do assimétrico, etc., de uma forma inédita pela sua intensidade e
frequência; tornou-se de forma inequívoca mercadoria, mesmo quando tentava boicotar
o sistema capitalista; impôs-se como antecipadora de tendências, atitudes,
vontades, etc.; politizou-se a ponto de servir a regimes como aparato de
propaganda; flertou com o hermetismo, a inacessibilidade e a
plurissignificação; etc. Desse emaranhado de novidades, rupturas, contestações,
continuísmos, enfim, desse tempo paradoxal e vertiginoso, nasceram os
princípios estéticos e ideológicos que mais tarde com grande esforço teórico e
intelectual, por vezes, forçosamente, costuma-se nomear como Arte Moderna.
15:::Impressionismo
Arte
- O Impressionismo foi um movimento artístico
francês do fim do século XIX, focado numa representação exata da cor, da luz e
do tom, mas não necessariamente das formas. Valorizava mais o efeito do que a
causa de um estímulo sensorial, em especial, o visual. Seu marco pictórico é a
pintura “Impressão, nascer do Sol” de Claude Monet, que causou muita polêmica
entre intelectuais em função das rupturas que propunha e do ineditismo que
representava.
- As ideias precursoras do Impressionismo
baseiam-se nas paisagens e cenas do cotidiano envolto pela natureza de pintores
realistas e românticos como Courbet; nas imagens imprecisas e fortemente
cromáticas de Turner; no gosto por cenas ao ar livre pintadas “in loco” como
ensinam as obras de Constable, Corot e Daubigny; nas gravuras japonesas muito
populares na França na década de 1850, com suas cenas cotidianas feitas com
traços simples e cores vivas; entre outros.
- Na década de 1860, em Paris, artistas como
Cézanne, Monet, Pissaro e Renoir são considerados os principais produtores
dessa nova estética.
- Embora tenha sido um movimento artístico
concebido por pintores franceses, de forma muito veloz, tal como o século XIX
passava a exigir em função dos muitos adventos tecnológicos, o Impressionismo
expandiu as fronteiras da sua influência para outros países, dentre eles o
Brasil. Além disso, passou ao longo desse século a influenciar outras áreas do
fazer humano como a fotografia, a música, a literatura, etc.
- O Impressionismo foi fundamental para a eclosão
do que viria a ser chamada Arte Moderna, em razão do culto da personalidade
criadora, autônoma e individualista, além disso, conquista espaço definitivo no
universo da arte o subjetivismo e a diversidade linguística, temática e de
materiais (suportes, plataformas, etc.). Para tanto, o ideário impressionista
promoveu a ruptura gradual com a linguagem tradicional, idealizada e
pretensamente realística da produção acadêmica e oficial de então. Para tanto,
desenvolveram uma forma de representar suas impressões sensoriais baseada nos
contornos imprecisos e esfumados e na imagem mediada por uma espécie de “névoa”
ou granulação.
- A maior parte dos impressionistas aplicava
a tinta em pequenos toques de cor pura, em vez de pinceladas fortes e longas, assim
as pinturas pareciam mais luminosas do que as realizadas por outros artistas. Além
disso, as cores e tonalidades não eram construídas na paleta, mas na tela com
delicadas pinceladas que permitem o espectador fazer as suas próprias combinações
de cor, portanto a mistura de cores passa a ser um aspecto mais ótico do que
técnico.
- Os impressionistas acreditavam captar uma
particular e fugaz impressão de cor e luz ao ar livre, por isso evitavam fazer o
seu trabalho dentro de um estúdio ou mesmo da cidade. Pensavam ainda que as
figuras não devem ter contornos definidos, visto que a linha não é um fato, mas
uma abstração do ser humano para representar as imagens.
- Para os impressionistas, mesmo as sombras
devem ser luminosas e coloridas, e não escuras e sóbrias como pintores do Barroco
e do Romantismo preferiram.
- O Impressionismo primou pela não
“intelectualização” da produção artística, para focar nas sensações e na
representação intimista, autoral e luminosa dos temas a serem pintados, quase
sempre associados a momentos de alegria, relaxamento e lazer.
- Com esta determinação de trabalhar sobre um
tema ao ar livre, os impressionistas usaram amplamente o tempo na pintura em
todas as suas dimensões ao escolher como motivo para pintar o lazer, a
natureza, o movimento, etc.
- O Impressionismo, portanto, é uma estética
artística dominada pelas impressões fugazes ou pouco duráveis sobre a realidade
ou a memória que se tem dela, mas especialmente sobre a impressão impregnada no
cérebro do artista que se eternizou por sua luminosidade, emoção e coloração,
muito acima dos detalhes ou de quaisquer preocupações com a reprodução
fidedigna e previsível da realidade. Em suma, a estética impressionista, que se
desenvolveu fundamentalmente na pintura, é definida por certa fragmentação dos
objetos, paisagens e figuras representadas; pela textura densa e intensa das
imagens; pelo uso racional e quase científico das cores; pela dedicação
metódica à representação da luz; pela predileção por temas leves e agradáveis;
pela pintura ao ar livre, bucólica e campestre; pelo gosto por pintar a vida
cotidiana e simples e pelo otimismo.
- A partir da década de 1870, ocorre uma
dupla dispersão, por um lado as teses impressionistas alcançam muitas regiões
além das fronteiras francesas como a América, por outro os próprios
impressionistas dispersam-se ao procurar caminhos mais autorais que mesmo os do
Impressionismo daquele momento, assim se distanciam do programa estético que
organizou e conduziu muito da produção deles na década anterior. Um dos
exemplos desse processo é a obra de jovens pintores como Seurat, Gaughin,
Toulose-Lautrec, Van Gogh, etc.
- Apesar de sucedido por movimentos, por
vezes, antagônicos as suas propostas, o Impressionismo foi peça fundamental
para o estabelecimento da modernidade na arte e para as mais importantes
vanguardas e movimentos artísticos do final do século XIX e da primeira metade
do século XX.
Impressionismo
no Brasil
- O Impressionismo é percebido no Brasil na
transição do século XIX para o XX, especialmente na obra de Eliseu Visconti,
que foi entre os brasileiros o artista com a obra mais fortemente marcada por
esse movimento. Também são considerados artistas impressionistas ou que
passaram por uma fase impressionista Almeida Júnior, Timótheo da Costa,
Henrique Cavaleiro e Vicente do Rego Monteiro.
Exemplos
de obras impressionistas
- Monet, Claude (1840-1926) pintor francês
impressionista - 1872 - óleo sobre tela - “Impressão, nascer do Sol”.
- Monet, Claude (1840-1926) pintor francês
impressionista - 1892-94 - “Catedral de Rouen (efeito da manhã)”.
- Monet, Claude (1840-1926) pintor francês
impressionista - 1892-94 - “Catedral de Rouen (pôr-do-sol)”.
- Renoir, Pierre-Auguste (1841-1919) pintor francês
impressionista - 1879-80 - “Velejando no Sena”.
- Renoir, Pierre-Auguste (1841-1919) pintor
francês impressionista - 1876 - ost - “Baile no Moulin de la Galette”.
- Pissarro, Jacob Camille (1830-1903) pintor
francês impressionista - 1877 - “Os telhados vermelhos”.
- Degas, Edgar Hilaire Germain (1834-1917)
gravurista, pintor e escultor francês impressionista - 1874 - “Aula de dança”.
- Degas, Edgar Hilaire Germain (1834-1917)
gravurista, pintor e escultor francês impressionista - 1876 - “O absinto”.
- Morisot, Berthe (1841-1895) pintora
impressionista francesa - 1872 - “O berço”.
- Visconti, Eliseu (1866-1944) pintor
italiano naturalizado brasileiro - 1894 - óleo sobre tela - “No verão”.
- Visconti, Eliseu (1866-1944) pintor
italiano naturalizado brasileiro - 1898 - óleo sobre tela - “Gioventú”.
16:::Pós-Impressionismo
- Os movimentos pós-impressionistas são
produtos de um processo de elaboração racional e calculada do Impressionismo,
além de orientações decorrentes da própria estética impressionista no sentido de
desenvolvê-la, superá-la ou mesmo de romper com ela. Soma-se a essas intenções
a fusão delas com ideias oriundas do Simbolismo, de tradições culturais
populares, de impulsos autorais, etc., para combinados produzirem o
multifacetado Pós-Impressionismo.
- Seus principais expoentes são Van Gogh, Cézanne
e Gaughin, em função de sua dominante participação na exposição “Manet e os
Pós-Impressionistas” ocorrida entre 1910 e 1911 em Londres na galeria Grafton. Ainda
que Seurat e seu Pontilhismo tenha uma fundamental importância no entendimento
do Pós-Impressionismo, tanto quanto Toulouse-Lautrec, que, com seu desenho
esboçado e despretensioso, emprestou suavidade para a agitada vida noturna de
Paris, seu principal tema; além, evidentemente, da tensão e da angústia
transformadas em imagens da obra de Edvard Munch.
- Em termos gerais, o Pós- Impressionismo
caracterizou-se pelo uso de linhas e contornos em detrimento das sombras impressionistas
como forma de composição de figuras nas telas. Também foi marcado pelo uso mais
vivaz e agressivo da cor e dos efeitos de luz, por vezes as composições ganham até
ares delirantes ou oníricos.
- Sobre seus principais expoentes, pode-se
dizer que a contribuição de Van Gogh foi a expressividade tensa e angustiada,
às vezes, onírica da cor e da pincelada em seus quadros, daí ser uma das
principais referências para o Expressionismo; já Cézanne estudou a estrutura
pictórica como forma de emprestar ao movimento um tom sólido e duradouro, a
partir de uma representação objetiva e mais racional que tendia à geometrização
e estilização dos elementos formais da composição artística; Gauguin, por sua
vez, renunciou completamente ao naturalismo ao representar a vida de forma
intensa com cores e linhas que assumiam tons simbólicos, fortes e inusitados; o
boêmio Toulouse-Lautrec fez da sua arte um testemunho fantástico da sua devassa
vida em cabarés parisienses até a morte precoce, o estilo desse precursor do
design gráfico notabilizou-se pelo fervor e decadência com que representava
seus temas construídos, paradoxalmente, com uma pincelada leve e com cores
suaves; Munch, antecipou o Expressionismo com sua temática severa e
transtornada e sua pincelada tensa e farta em tinta; Seurat e Paul Signac foram
fundamentais no desenvolvimento do Pontilhismo (Neo-Impressionismo ou
Divisionismo) que se caracteriza por um estudo metódico do uso da tinta
misturada sobre a paleta e aplicada à tela em pequenos pontos de tamanhos
variados, jamais com o uso de pinceladas largas ou contínuas, o que configurava
a chamada “pintura ótica”, pois a imagem vista de perto não se realizava
integral e plenamente, mas a certa distância compunha um todo inteligível por
meio de uma espécie de mistura ótica e de fusão dos pontos pintados na tela na
retina, que resultava em imagens granuladas ligadas ao sonho, à memória e a uma
sensação de pulverização e forte granulação nas figuras.
Arte
Pós-Impressionista
- Cézanne, Paul (1839-1906) pintor francês
(Pós-Impressionismo, Cubismo) - 1873-74 - “Olímpia Moderna”.
- Cézanne, Paul (1839-1906) pintor francês
(Pós-Impressionismo, Cubismo) - 1875-80 - “Bacanal”.
- Cézanne, Paul (1839-1906) pintor francês
(Pós-Impressionismo, Cubismo) - 1892-95 - “Os jogadores de cartas”.
- Gogh, Vincent Willem van (1853-1890) pintor
pós-impressionista holandês - 1887 - óleo sobre tela - “Os comedores de batata”.
- Gogh, Vincent Willem van (1853-1890) pintor
pós-impressionista holandês - 1889 - óleo sobre tela - “Auto-Retrato com a
Orelha Enfaixada”.
- Gogh, Vincent Willem van (1853-1890) pintor
pós-impressionista holandês - 1890 - óleo sobre tela - “Campo de trigo com
corvos”.
- Gauguin, Eugène-Henri-Paul (1848-1903)
pintor francês pós-impressionista e fovista - 1888 - “Vincent van Gogh pinta
girassóis”.
- Gauguin, Eugène-Henri-Paul (1848-1903)
pintor francês pós-impressionista e fovista - 1889 - “O Cristo Amarelo”.
- Seurat, Georges - Georges-Pierre Seurat
(1859-1891) pintor pontilhista (divisionista) francês - 1884 - “Tarde de
domingo na Ilha de Grande Jatte”.
- Seurat, Georges - Georges-Pierre Seurat
(1859-1891) pintor pontilhista (divisionista) francês - 1885 - “New York”.
- Seurat, Georges - Georges-Pierre Seurat
(1859-1891) pintor pontilhista (divisionista) francês - 1887-88 - “As modelos”.
- Signac, Paul (1863-1935) pintor e denhista francês
(Impressionismo,Neo-Impressionismo,Pontilhismo) - 1890 - óleo sobre tela - “Retrato
de Félix Fénéon”.
- Toulouse-Lautrec, Henri Marie Raymond de
Toulouse-Lautrec Monfa (1864-1901) pintor pós-impressionista e litógrafo
francês - 1893 - “Jane Avril”.
- Toulouse-Lautrec, Henri Marie Raymond de
Toulouse-Lautrec Monfa (1864-1901) pintor pós-impressionista e litógrafo
francês - 1894 - “A Inspeção Médica no Prostíbulo da Rue des Moulins”.
- Toulouse-Lautrec, Henri Marie Raymond de
Toulouse-Lautrec Monfa (1864-1901) pintor pós-impressionista e litógrafo
francês - 1896 - “Só”.
- Munch, Edvard (1863-1944) pintor norueguês
pós-impressionista - 1893 – “O grito”.
- Munch, Edvard (1863-1944) pintor norueguês
pós-impressionista - 1907 – “A criança enferma”.
- Munch, Edvard (1863-1944) pintor norueguês
pós-impressionista - 1899-1900 – “A dança da vida”.
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