Caras e
caros,
Eis a
nossa décima sexta coletânea, nesta semana vale nossa atenção à situação das
CPMIs do Poder Legislativo e aos depoimentos dos governadores de Goiás e do DF.
Além disso, os textos da coletânea que tratam de assuntos abordados em sala em
outros tempos como a “ditadura branca” de Putin, o crescimento do neonazismo na
Alemanha Oriental, etc.
Abraços e
boa leitura,
Professor
Estéfani Martins
opera10.blogspot.com
sambluesoul.blogspot.com
idearium.com.br
Twitter -
@opera10
Facebook
e Orkut - Estéfani Martins
1 - 1ª
anos, 2º anos, 3º anos e PV
Discussão ampla e interessante sobre tabagismo
2 - 1ª
anos, 2º anos, 3º anos e PV
Corrupção, um mal brasileiro?
3 - 1ª
anos, 2º anos, 3º anos e PV
Sobre ser multi e inter num mundo plural
4 - 2º
anos, 3º anos e PV
Um escolha pragmática, mas não humana
5 - 2º anos, 3º anos e PV
Por uma democracia de verdade
http://educacao.uol.com.br/atualidades/comissao-da-verdade-grupo-investigara-crimes-da-ditadura.jhtm
6 - 2º
anos, 3º anos e PV
Absurdo
Nazistas prosperam
livremente em partes da Alemanha Oriental
Maximilian Popp
A Alemanha prometeu reprimir
extremistas de direita após a exposição de uma célula terrorista de extrema
direita, no ano passado. Mas nas zonas rurais do Estado da Saxônia, no Leste,
os neonazistas permanecem bem estabelecidos nos conselhos locais e continuam a
intimidar as pessoas à vontade, sem nenhum impedimento por parte da polícia.
Maio de 2012, Saxônia: na
cidade de Bautzen, dois homens agrediram um estudante colombiano, chutando-o e
xingando-o. Em Hoyersweda, extremistas de direita cercaram o escritório de um
membro do Bundestag, o parlamento alemão, quebrando janelas e atacando um
funcionário. Em Limbach-Oberfrohna, neonazistas atacaram um centro de educação
alternativa. Em Geithain, um dispositivo explosivo foi detonado em frente à
Pizzeria Bollywood, um restaurante de propriedade de um paquistanês.
"O inferno é assim",
disse Kerstin Krumbholz, 50, sentada em sua sala em Geithain, uma pequena
cidade situada na Saxônia, no Leste da Alemanha. Espalhados sobre a mesa diante
dela, estão artigos de jornais sobre neonazistas, propagandas e cartazes que
registram o terrorismo de extrema direita que atormenta sua vida
cotidianamente. "As pessoas que moram nas cidades não têm ideia do que
está acontecendo aqui no interior", diz Krumbholz.
Ela e seu marido se mudaram
para Geithain há 19 anos. Eles moravam em Leipzig, que fica em torno de 40
quilômetros de Geithain, mas quiseram que seus filhos crescessem em um ambiente
seguro, livre de criminalidade e drogas, e longe dos perigos de uma cidade
grande. Lutz Krumbholz é limpador de chaminés profissional, enquanto Kerstin
Krumbholz cuida da contabilidade da companhia, e eles compartilham as
responsabilidades da educação dos filhos.
Antes, Kerstin Krumbholz não
sabia muito sobre o extremismo de direita, nada além do que escutava no
noticiário. Coisas como um incêndio na casa que abriga aqueles que pedem asilo
ou a entrada do Partido Nacional Democrático (NPD) em alguma câmara legislativa
estadual.
Mas aquelas coisas tinham
pouco a ver com suas próprias vidas -até que um neonazista feriu o filho dela
de uma maneira tão grave que o menino quase morreu. Um extremista de direita
atacou Florian, então com 15 anos de idade e membro da turma punk, num posto de
gasolina em maio de 2010, fraturando seu crânio. Florian hoje vive com uma
placa de titânio na cabeça e mudou-se de Geithain.
Sua mãe não era uma pessoa
politizada antes do ataque a Florian, mas agora ela estuda blogs e fóruns na
Internet de extrema direita, participa de manifestações e fundou um grupo
chamado Iniciativa para que Geithain tenha a Mente Aberta. Krumbholz
transformou a batalha contra os neonazistas no trabalho de sua vida –mas é uma
batalha perdida aqui nesta zona rural da Saxônia.
"O que está acontecendo na Saxônia é um
escândalo"
Sete meses se passaram desde
que veio à tona que as autoridades alemãs por anos não souberam da existência
de uma célula terrorista de extrema direita que se autodenominava
"Nacional Socialismo Subterrâneo" (NSU) que assassinou 10 pessoas, na
maior parte, imigrantes turcos, em uma onda de homicídios nacional que foi de
2000 até 2007. Quando este grupo, baseado em Zwickau, Saxônia, foi exposto, os
políticos declararam sua intenção de reprimir e extirpar o problema da extrema
direita, mas nada de concreto foi feito. "O que está acontecendo na
Saxônia é um escândalo", diz Hajo Funke, cientista político em Berlim. Não
há outro Estado alemão onde os neonazistas tiveram tanta influência, diz ele,
acrescentando que o governo regional estava se recusando a agir contra eles.
Os membros da Iniciativa para
que Geithain tenha a Mente Aberta reuniram-se hoje na prefeitura. Krumbholz
convidou para o encontro Mohammad Sayal, o proprietário da Pizzeria Bollywood,
restaurante local atacado no final de semana anterior. Sayal descreveu a
violência que sofreu por parte dos neonazistas nos cinco meses desde que abriu
seu restaurante. Na primeira noite mesmo, eles destruíram suas vitrines. Em
maio, um grupo de 10 deles apareceu na frente do restaurante, usando máscaras e
facas. Eles chutaram a porta, jogaram uma pedra na janela e gritaram "Seu
estrangeiro de merda, vamos te pegar. Se você não sair daqui, vamos chutar
você". Uma semana depois, um explosivo destruiu o restaurante.
Os assassinatos cometidos pelo
NSU permaneceram sem resolução por tanto tempo em parte porque tanto as
autoridades quanto o público assumiram que os assassinos vinham do mesmo
segmento da sociedade que suas vítimas. Em Geithain, também, muitas pessoas
alegam que não foram radicais de direita que atacaram o restaurante de Sayal,
mas sim outros paquistaneses, reagindo a discordâncias por dinheiro ou brigas
de família.
Neonazistas no conselho da cidade
Na Alemanha Oriental
comunista, Geithain era o centro administrativo do distrito rural a sua volta.
Esta foi uma região carvoeira, mas hoje apenas cerca de 6.000 moradores vivem
em Geithain. A praça da cidade foi agradavelmente reformada desde a unificação,
mas suas ruas permanecem vazias. Os jovens em busca de trabalho mudam-se para
Leipzig, ou diretamente para o Oeste. Os partidos políticos estabelecidos
reduziram sua presença aqui, enquanto os extremistas de direita expandiram sua
influência, especialmente desde que o neonazista Manuel Tripp, membro do NPD,
entrou para o conselho da cidade, em 2009.
Tripp, 23, estudou em Leipzig
e transmite uma imagem de homem que cuida de seus eleitores. O povo de Geithain
pode entrar em contato com ele a qualquer hora do dia, por meio de sua página
na Web. Ele envia tweets sobre as reuniões do conselho da cidade e publica o
"Geithain Mouthpiece", um jornal local com artigos sobre a falta de
médicos no Leste da Alemanha, ou sobre o festival anual de caça. Ele trabalha
em defesa do zoológico e, junto com outros de seu partido, organiza torneios de
futebol e acampamentos onde as crianças podem caminhar pelo campo usando
uniformes militares.
Suas verdadeiras motivações,
contudo, surgem quando faz declarações que violam a constituição alemã, por
exemplo: "O socialismo nacional não pode ser eleito ou implorado. Só pode
ser alcançado pelo caminho da revolução". Tripp é uma figura importante na
rede de grupos militantes de extrema direita "Free Network"(FN).
A FN surgiu de um grupo de
neonazistas, a "Liga de Proteção da Pátria da Turíngia", que também
inclui três terroristas do NSU. O ramo da FN da Saxônia é liderado por Maik
Scheffer, que também é vice-líder do partido NPD no Estado. Scheffler tem um
histórico criminal por dano corporal grave e por posse ilegal de arma.
Junto com Tripp, Scheffler
conseguiu, no espaço de apenas alguns anos, estabelecer estruturas neonazistas
firmemente enraizadas na região rural entre as cidades de Chemnitz e Leipzig.
Ao mesmo tempo, os Kameradschafen estão expandindo sua influência.
"Membros da FN estiveram repetidamente por trás de atos de terrorismo na
Saxônia", diz Kerstin Köditz, do Partido da Esquerda, que analisa as
tendências da extrema direita.
O Estado da Baviera está
querendo banir a filial "FN Sul", mas aqui na Saxônia -o mesmo Estado
onde o trio de assassinos do NSU pôde ficar por mais de 10 anos sem serem
incomodados- o governo está fazendo corpo mole. O ministro do Interior da
Saxônia, Markus Ulbig, da União Democrática Cristã, de centro direita (CDU),
considera a FN nada mais do que um "portal da Internet", uma espécie
de Facebook para nazistas. E o governador Stanislaw Tillich, também do CDU,
afirmou que a Saxônia não tem um problema significativo com o extremismo de
direita.
"Vai se ferrar, seu turco"
Enquanto Kerstin Krumbholz e
outros membros da iniciativa antinazista estão discutindo a violência de
extrema direita na cidade de Geithain, uma espécie diferente de reunião está
ocorrendo na frente do posto de gasolina Total, nos limites da cidade. Aqui, os
jovens estão jogando conversa fora e acelerando os motores dos carros, ouvindo
rock neonazista alto e bebendo cerveja. Com o avanço da hora, chegam outros,
alguns fazendo a saudação nazista. Se um cliente do posto olhar para eles um
pouco mais demoradamente, eles gritam: "Merda de judeu porco, vou te
chutar daqui!"
Na escola de ensino médio de
Geithain, os extremistas de direita são tidos como os bacanas, os rebeldes. As
crianças que rejeitam os neonazistas são recebidas no pátio da escola com
"Heil Hitler" ou "Vai se ferrar, seu turco". Algumas das
garotas usam filtro solar para desenhar suásticas em sua pele, quando viajam
com a escola.
Qualquer um que se oponha a
essa ideologia é intimidado e perseguido. Quando o jornalista investigativo
alemão Günter Wallraf fez uma leitura em Geithain em abril, os neonazistas
gritaram "Mandem Wallraff para a África!", na rua na frente da
prefeitura, e fizeram ameaças ao prefeito de Geithain e a um político do
Partido da Esquerda. Um padre local respondeu aos extremistas de direita com
uma carta aberta e, na manhã seguinte, encontrou os muros de sua igreja
cobertos de pichações.
Os neonazistas divulgam online
os nomes de seus adversários, com endereços e retratos. Os grupos extremistas
de direita que se opõem ao movimento "Antifa", ou antifascistas, são
chamados de "Antiantifa". Pois o grupo local antiantifa publicou que
as pessoas de esquerda em Geithain podem esperar "medidas disciplinares,
telefonemas e danos aos carros". Os neonazistas também anunciaram o ataque
a Florian Krumbholz online, usando um vídeo como chamada de violência contra
ele: "Os esquerdistas têm nomes, eles têm endereços. Vamos marchar e
mostrar nossa força". Poucas semanas antes do ataque, na Sexta-feira Santa
de 2010, neonazistas picharam a garagem da família de Krumbholz com "Morte
à Frente Vermelha" e "Vamos pegar você, Florian".
O ataque no posto de gasolina
durou apenas alguns segundos. As gravações das câmeras de segurança mostram o
atacante atingindo Florian no peito, depois socando sua testa. O atacante,
Albert R., recebeu apenas uma sentença muito leve em seu julgamento inicial,
apesar de ter um histórico criminal considerável. O caso foi para uma corte de
recursos, onde ele recebeu uma sentença mais pesada.
Cidadãos sentem-se abandonados pela polícia
Enquanto isso, Albert R. já
está enfrentando um inquérito por outro crime: ele e dois amigos são acusados
de atacarem um grupo de jovens e jogarem gás lacrimogêneo na cara deles. R.
atacou uma das vítimas com uma garrafa de cerveja.
Muitas pessoas aqui se sentem
abandonadas pelas autoridades. Nos últimos anos, delegacias de polícia foram
fechadas e distritos policiais foram fundidos, e o Ministério do Interior da
Saxônia planeja mais cortes. Os registros na polícia criminal do Estado revelam
uma atitude de resignação e indiferença entre os policiais.
Um desses registros descreve
um ataque por extremistas de direita violentos contra um prédio comercial em
Colditz, cidade vizinha a Geithain, há quatro anos. As transcrições das
chamadas de emergência mostram que a polícia na Saxônia Ocidental começou a
receber ligações dos cidadãos preocupados no final da tarde. À noite, já tinha
recebido mais de uma dúzia de chamadas.
19h49, ligação de uma mulher:
- Algo vai acontecer em Sophienplatz, em Colditz".
- O que está havendo?
- Tem um monte de homens mascarados aqui.
- E daí?
- Estão chutando tudo até quebrar.
19h51, ligação de um homem:
- Há mais de 50 pessoas aqui em Sophienplatz, Colditz,
usando máscaras.
- E por que o senhor está ligando?
- Porque esses caras aqui estão chutando um prédio,
batendo nas coisas, jogando explosivos.
20h04, chamada de uma mulher:
-Eles destruíram tudo em Sophienplatz. E eles também
queriam colocar fogo em alguma coisa aqui no clube de jovens, pelo menos foi o
que ouvi.
- Bem, se você observar danos, você pode vir para a
delegacia de polícia a qualquer momento para dar queixa.
20h43, chamada de uma mulher:
- Olha, liguei antes e preciso da polícia aqui. Já
pedimos a vocês para enviar alguém.
- Sim, mas não há ninguém disponível.
- Por favor, por favor, envie alguém.
20h44, chamada de um homem:
- Eles bateram nas janelas quatro vezes já.
- E o que o senhor espera que eu faça? Devo ir e ficar na
frente das janelas, ou o que?
Poucas pessoas ousam
confrontar os neonazistas em Colditz. Uwe L., por exemplo, vendedor de
aparelhos eletrônicos, fez uma tentativa ao fundar a "Aliança Contra a
Extrema Direita", que organizava shows. Mas os neonazistas atacaram sua
loja várias vezes, quebraram as vitrines, destruíram as paredes, danificaram seu
carro e ameaçaram seu filho. L. Desistiu. "Eu não teria sobrevivido,
financeira e psicologicamente", diz ele.
"Os neonazistas já controlam tudo"
O NPD também tem assentos no
conselho da cidade de Colditz. Extremistas de direita estão envolvidos em uma
associação que apoia o ensino médio. Eles também ajudam a administrar um clube
de futebol e um clube de canoagem. O clube de jovens local é dirigido pelo
filho do prefeito, junto com um famoso neonazista. Os pais aparecem nos
festivais usando camisetas com lemas como "Viagem cênica de trem para
Auschwitz". Frank Hammer, que trabalha para uma organização chamada
"Aconselhamento móvel contra o extremismo de direita", diz: "As
coisas estão calmas nesta região. Mas apenas porque os neonazistas já controlam
tudo".
Quando Geithain celebrou seu
825º aniversário em junho, a prefeita Romy Bauer (CDU) deu aos neonazistas
permissão para montarem uma barraca no festival. Tripp e seus colegas
distribuíram pedaços de bolo, instalaram uma roda da fortuna e marcharam na
frente da parada. Se ela tivesse se recusado a dar licença, a violência poderia
ter irrompido durante o festival, disse Bauer. A prefeita também recusou-se a
participar na manifestação contra a extrema direita organizada pela Iniciativa
para que Geithain tenha a Mente Aberta.
Os que tentam combater o
extremismo de direita na Saxônia reclamam de falta de apoio. Kerstin Krumbholtz
tem dificuldades para encontrar pessoas dispostas a participar de sua
iniciativa, que no momento tem apenas oito membros. Quando organizaram um festival
contra o extremismo de direita no ano passado, conta Krumbholz, eles não
encontraram uma única padaria em Geithain disposta a vender-lhes bolo para o
evento.
Após o fim do encontro da
iniciativa, Krumbholz acende um cigarro com as mãos trêmulas, na rua na frente
da prefeitura. Memórias do ataque contra seu filho ainda a perseguem. Ainda
assim, até hoje, nenhum dos vizinhos levantou o assunto com ela. Não houve uma
palavra de simpatia, nem uma palavra de remorso. Todos em Geithain, diz
Krumbholz, agem como se o ataque nunca tivesse ocorrido.
Krumbholz seca as lágrimas e
pensa alto: "As pessoas têm que morrer para alguma coisa mudar por
aqui?"
Tradutor: Deborah Weinberg
7 - 3º
anos e PV
As contradições da
"democracia" russa
Enquanto Putin endure regras contra manifestantes,
oposição conquista cada vez mais apoio na Rússia
Agora que ele voltou
oficialmente ao comando do seu país, o presidente russo Vladimir Putin está
perseguindo vingativamente os seus oponentes. Mas atualmente ele não anda se
desentendendo apenas com os diplomatas ocidentais. A colunista social mais
famosa de Moscou também está na alça de mira de Putin.
Bozhena, um nome que ela
escolheu para si por achar que o seu nome de batismo original, Yevgenia, era
muito maçante, é uma heroína inesperada na rebelião contra Vladimir Putin. A
administração do presidente possibilitou à Rússia estabilidade e crescimento
econômico – bem como fama e fortuna para a própria Bozhena (que significa
"A Divina"). Ela, que é a mais famosa colunista social especializada
em fofocas de Moscou, escreveu durante vários anos para o jornal governista
"Izvestia", foi modelo de propagandas de lingeries e teve
relacionamentos com indivíduos ricos e bonitos da Rússia.
"Eu tinha casos amorosos
para me entreter", explica ela no bar de um hotel de luxo de Moscou.
"Foi quando eu acordei para o fato de que o Kremlin está em meio a um
processo que tem como objetivo destruir a Rússia".
Bozhena está usando um
conjunto esportivo tão comum que faz com que se tenha a impressão de que ela se
cansou dos colares de pérolas e dos vestidos sofisticados. Até recentemente,
ela estava romanticamente envolvida com uma oligarquia cujo passado encontra-se
enraizado na KGB e que tem influência sobre a indústria metalúrgica da Rússia.
Nos círculos da alta sociedade de Moscou, ela era conhecida pelo apelido
"kitten" ("gatinha"). O apelido dava a entender que esta
mulher pequena era bonita, fofa e – caso fossem ignoradas todas as fofocas que
ela escrevia sobre que roupas os novos ricos estavam usando – completamente
inofensiva.
Mas recentemente Rynska
comparou Putin e os seus aliados a nazistas no seu blog, cujo título pode ser
traduzido como "Cão Agressivo". Ela inseriu no blog uma foto que
mostra um policial russo arrastando uma manifestante de 18 anos de idade
enquanto a imobiliza com uma gravata. Ao lado desta foto ela publicou outra
mostrando soldados nazistas enforcando uma mulher na União Soviética durante a
Segunda Guerra Mundial. Sob as imagens, ela escreveu a frase: "Eu estava
apenas cumprindo ordens".
A trajetória de Rynska de
garota glamourosa a oponente de Putin ilustra bem como os políticos russos se
radicalizaram desde que Putin retornou ao Kremlin no início de maio. O escritor
Igor Malyshev fala desdenhosamente sobre "um emparelhamento sadomasoquista
de um governo destrutivo e de uma oposição repleta de indivíduos inúteis".
Setores da oposição desejam
derrubar o recém-eleito Putin, assim como foi feito com líderes de outros
países durante a Primavera Árabe do ano passado e a Revolução Laranja de 2004
na Ucrânia. Os oposicionistas anunciaram uma manifestação maciça para esta
terça-feira (12), o feriado nacional da independência russa.
A contrarrevolução de Putin
A equipe de Putin não tem
perdido tempo. Logo após a posse do novo presidente, no dia 7 de maio, ela
iniciou uma genuína contrarrevolução. O porta-voz de Putin afirmou que, em vez
de manifestar qualquer simpatia pelos manifestantes, o que se deve fazer é
"esmagar os fígados deles no asfalto". Na semana passada, o partido
de Putin, o Rússia Unida, que possui a maioria no parlamento, apresentou um
projeto de lei para aumentar as multas a serem pagas por pessoas que participem
de manifestações não autorizadas de 5.000 para 300 mil rublos (7.400 euros, ou
US$ 9.300). Além do mais, basta que um manifestante ajude a bloquear o trânsito
de veículos ou use uma máscara para ser condenado. Putin transformou
rapidamente o projeto em lei, que foi assinada por ele na última semana.
O Ocidente está indignado.
Andreas Schockenhoff, o comissário para a cooperação alemã-russa da chanceler
alemã Angela Merkel, condenou a nova lei, e uma comissão do Conselho da Europa
declarou: "A atividade dinâmica da sociedade russa deveria ser utilizada
para a implementação de reformas em vez de ser suprimida".
Putin tem perseguido
obstinadamente figuras proeminentes da oposição. Em dezembro do ano passado,
Rynska foi temporariamente detida por participar de uma manifestação não
autorizada de protesto contra uma suposta fraude eleitoral nas eleições
parlamentares. "Da próxima vez eu talvez leve um prego comigo para
arranhar os olhos dos policiais", escreveu Rynska na época no seu blogue,
acrescentando que quem mexesse com ela seria estraçalhado "como se por um
cão de ataque". No início de junho, essa manifestação pública de ira fez
com que Rynska fosse submetida a uma investigação judicial preliminar sob a
acusação de ter possivelmente "insultado uma autoridade pública".
Caso for considerada culpada, ela poderá ser condenada a até um ano de prisão.
As autoridades governamentais
também cancelaram a autorização para que Gennady Gudkov, um membro proeminente
do partido oposicionista Rússia Justa, operasse a sua firma de segurança
particular depois que ele organizou protestos de rua contra Putin.
Agentes de inteligência também
grampearam as comunicações de oponentes de Putin como o defensor de direitos
humanos Lev Ponomaryov e o popular blogueiro denunciador de casos de corrupção
Alexei Navalny, quando eles se reuniam com diplomatas e políticos importantes
do Ocidente, incluindo o ministro das Relações Exteriores sueco Carl Bildt.
Pouco depois disso, o jornal "Komsomolskaya Pravda", que é
pró-Kremlin, publicou trechos de conversas secretamente gravadas que fazem com
que se tenha a impressão de que os oponentes de Putin estavam aceitando
dinheiro de organizações ocidentais.
Putin não está mais sequer
tentando esconder o fato de que a batalha contra os seus oponentes está sendo
travada de uma maneira ilegal. Ele não se importa com o que o Ocidente possa
pensar, e não vê problema no fato de os seus serviços de inteligência não só
grampearem as comunicações de autoridades importantes da União Europeia, como
Bildt, mas também divulgarem o conteúdo das gravações publicamente.
Um dia antes dos planejados
protestos, autoridades russas revistaram as casas de vários membros importantes
da oposição, incluindo Navalny, o blogueiro que combate a corrupção, segundo
anunciou a agência de investigação criminal do país. A ação foi parte de uma
investigação de atos de violência contra a polícia ocorridos durante uma
manifestação no dia 6 de maio.
Acusações fabricadas
Rynska acha que não faria
sentido a oposição e o governo negociarem. "O desejo do outro lado sempre
é o de nos espancar com um cassetete", diz ela. Na semana passada, ela
deixou Moscou e viajou para um festival de cinema na cidade de Sochi, no Mar
Negro. A resposta de Rynska ao processo aberto contra ela foi publicar o texto
da acusação no seu blog.
Além do mais, Rynska não tem
medo de deixar que outras pessoas fiquem sabendo de todas as características da
Rússia de Putin que a incomodam. Rynska certa vez contou como ela – sim, ela, a
divina – teve que esperar na fila durante seis longas horas para pegar alguns
pacotes em uma agência de correios de Moscou. Ela escreveu que "não havia
cadeira, nem ar", mas apenas "um único e lento funcionário".
Segundo Rynska, ela primeiro colocou os braços em torno do guarda uniformizado,
e depois pediu que alguns homens que estavam na fila o imobilizassem enquanto
ela mesmo pegava os pacotes. "Em uma hora nós resolvemos o problema",
diz ela.
A resistência contra o Estado
autoritário começou a aumentar nas províncias russas. Na remota cidade
siberiana de Irkutsk, um furioso comandante de uma aeronave da companhia aérea
estatal Aeroflot usou os alto-falantes de bordo para informar aos passageiros
que a decolagem não poderia ocorrer no horário programado porque ele estava
sendo obrigado a esperar o embarque do arrogante governador. Já em uma cidade
no interior da Rússia, os moradores usaram troncos de árvores para bloquear uma
rua por não suportarem mais o barulho, os engarrafamentos constantes e a
poluição.
Enquanto isso, policiais
denunciaram abertamente a forma como os seus superiores os obrigam a fabricar
acusações e a engajar-se em práticas de corrupção. Durante o seu tempo livre,
os médicos organizam campanhas para a arrecadação de verbas para a aquisição de
equipamentos, já que os seus superiores estão desviando as verbas públicas
destinadas a isso para os seus próprios bolsos.
Durante a abertura do festival
de cinema em Sochi, os participantes enviaram uma mensagem ao governo ao
escolherem uma imagem que incluía Bozhena Rynska como a fotografia do dia.
Nela, Rynska está caminhando sobre um tapete de boas vindas, usando um vestido azul-claro,
enquanto policiais sorridentes, usando camisas brancas de manga curta, a
observam atentamente.
Mas se a Divina participar dos
protestos contra Putin nesta terça-feira, ela lidará com policiais de um tipo
inteiramente diferente. Os policiais que ela enfrentará serão musculosos,
estarão usando capacetes pretos e empunhando cassetetes.
Tradutor: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário