Eis a nossa
décima quinta coletânea, espero que aproveitem, especialmente, o debate fundamental
e necessário sobre a promoção de tolerância religiosa em nosso país, a fim de
que não mergulhemos no poço profundo que lamentavelmente muitos países, como a
Síria, mergulharam.
Abraços e boa
leitura,
Professor
Estéfani Martins
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- Estéfani Martins
1 - 1ª anos,
2º anos, 3º anos e PV
Uma
guerra longe de ser ganha
2 - 1ª anos,
2º anos, 3º anos e PV
Um novo
olhar sobre um velho problema
3 - 1ª anos,
2º anos, 3º anos e PV
Sobre o
diálogo imprescindível e tolerante entre as religiões
4 - 1ª anos,
2º anos, 3º anos e PV
Um dos últimos textos de um brasileiro ilustre pelo intelecto
Fim de festa
Ivan Lessa
Colunista da BBC
Brasil
Atualizado em 6
de junho, 2012 - 05:54 (Brasília) 08:54 GMT
Foram 4 jubilosos dias. Mais me parecem 40. Sou gringo, não estou
acostumado a essas coisas.
Nem fui até a esquina. Mais 40 % da vida afinal de contas se passa em
telas. De TV. De computador.
Melhor assim mesmo. Gente não tem estado puro e quando lhe bate um, sai
da frente que vem besteira.
Não teve um poeta aí que disse que a Humanidade não suporta muito a
Realidade? Os poetas manjam disso. Por isso andam de cabeça baixa na rua.
Lamentam, para
as pedras que pisam, não haver uma cuia com que encher de realidade, assim
mesmo com R minúsculo. Então eles catam rimas e métricas onde e como podem.
Terça-feira, pelas bandas londrinas, com missa e orações, foram
devidamente encerradas as comemorações do jubileu de diamantes da Rainha.
Como? Com
concerto (um piadista bilíngue chamou de "concerto sem conserto" no
Mall em frente à Família Real).
Todo mundo sabe que a Rainha não suporta música popular. Nem mesmo
Rihanna ou Robbie Williams lhe falam ao cetro.
O que fizeram então os senhores organizadores? Enfileiraram 27 atrações
pop de uma Dona Elizabeth que só faltou bater na parede e reclamar para os
vizinhos, “Olha o barulho aí, pomba!”.
Embora ache que esse “pomba” aí seja excesso de – olhaí, atenção! –
“realidade” de minha parte. Que bom não saber rimar.
Valeu-me enfim uma ignorância entre as muito que as fadas más (hoje se
pode dizer, Diana, Princesa de Gales compareceu) me contemplaram quando de meu
batizado. Virei meio, para voltar ao assunto em pauta, astro pop.
Os organizadores tacaram uma atração após outra (Aargh! Bleargh!) após
outra, popescas todas, segundo critério deles, embora todos sabedores que a
jubilada prefira ópera a Kylie Minogue, uma australiana (como se não bastasse)
bonitinha que salta, pula, mexe pra cá e pra lá, sorri mostrando a categoria da
classe dos dentistas antípodas e foi a abertura dos duros trabalhos roqueiros
que se seguiram durante horas.
Foram 27 atrações, como dizem aqui sem aspas, incluindo, e muito, Paul
McCartney e – vade retro! – Elton John.
Só tem que Rainha jubilada de diamantes tem o direito, apesar de muito
amada e festejada, de armar carranca quando quer.
A BBC TV mostrou em baita close o real rosto como se exposto ao último
dos odontologistas que sobrou do Império que foi lindo e se acabou.
Trabalhou mal a BBC. Fuçando os jornais de terça-feira, lá estavam as
críticas à rival de notícias 24 horas por dia, a Sky, do notório Ropert
Murdoch, que, segundo os críticos, em matéria de cobertura, deu de 5 a 1 na
tradicional e já quase parte da Família Real, BBC, três letrinhas que valem
quanto pesam.
Faz mal, não. Fica para a próxima. Na Sky, que foi de onde participei do
brilhante jubileu, ou jubileu de brilhante, lá estava ela, “dona” Rainha: cara
chateadérrima e, mais, segurem que essa que não foi brincadeira, tremendos
tampões nos ouvidos, ou Protetores Auriculares, conforme se diz nessas rodas.
O resto do pessoal de sangue azul ou cerúleo, fazia o que lhes fora
ensinado, sorriam, que é sempre uma forma de se lidar com simpatia com a já
muito citada realidade, ao menos nestas linhas.
Agora vivo mesmo foi o príncipe Philip. Forte e despachado, mesmo para
seus 90 anos, depois de passar não sei quantas horas na chuva, no dia anterior,
fez uma careta (diferente, bem diferente da que fez sua jubilada cara-metade
vale quanto pesa) deu uns dois grunhidos discretos, levou a mãozona de origem
grega ali por perto dos países baixos e reclamou de uma dorzinha aqui e outra
ali.
Não teve por onde. Levaram-no para um hospital onde ficará (pois essa é
sua sina na vida) em estado de observação. Mas distante do concerto pop.
Esse é vivo,
esse sabe das coisas, está por dentro dessa jóia rara que é a... pois é, como
vínhamos falando, realidade. Colou e não colou, uma vez que todos sabem que
príncipe jubilado com mais de 1m85 de altura não tem o órgão de que reclamou,
ou seja, a bexiga. Bexiga é um bairro em São Paulo ou coisa de pobre. Essa a
realidade.
5 - 2º anos,
3º anos e PV
Sempre há mais
terra para cavar para se ir mais fundo
Quinze meses de conflito acentuam divisões
religiosas na Síria
Le Monde
Boris Mabillard
Do nada, os thuwar (os revolucionários) surgem na estrada e apontam suas
kalashnikovs para o carro que eles bloquearam com um tronco de árvore. O
condutor, apavorado, tira de seu bolso uma carteira de identidade. É um cristão
de Conseba. Deixam-no ir. O sol aquece a estrada entre Kabani e Jebel Ahmar ao
longo do jebel Akrad, noroeste da Síria. Praticamente não há tráfego, uma hora
se passa antes que uma caminhonete carregada de material agrícola apareça
depois da curva. Parado no posto de controle e revistado, o motorista também é
cristão. "Que azar o meu", reclama Abu Hassan. "Dois carros,
dois cristãos". Se ele tivesse encontrado um alauíta, teria confiscado o
carro.
No final do dia, quando o combatente do Exército Sírio Livre (ESL)
relatou sua desventura, seus colegas gargalharam: um deles, Abu Bakr, teve mais
sorte. Ele parou um alauíta do vilarejo de Jebel Ahmar ao volante de um veículo
quase novo que ele logo confiscou. Um dos rebeldes presentes tentou justificar
o roubo: "Os thuwar não têm nada contra os alauítas, eles lutam contra as
chabiha [milícias pró-regime] e contra um regime político." Todos ao redor
da mesa concordaram, bebendo um chá escuro e doce em pequenos copos
arredondados. Um deles acabou dizendo: "Os alauítas de Jebel Ahmar são
todos chabiha. Prova disso é que eles estavam presentes, em apoio ao exército
regular, no saque a Kabani, em abril".
Barba à maneira
salafista
Os 500 habitantes do vilarejo de Kabani são todos sunitas; mas, a cinco
quilômetros de lá, Jebel Ahmar é 100% alauíta; e o burgo de Selma é misto,
alauíta e sunita. Quanto a Conseba, ali encontram-se cristãos, alauítas e
sunitas. Um mosaico inextricável de religiões. O ESL montou seu quartel-general
na região central do jebel Akrad, que inclui cerca de 15 vilarejos exclusivamente
sunitas. Mas ele não se aventura na periferia do maciço, onde se encontram os
povoados alauítas ou mistos que são suspeitos de ter cumplicidade com o regime.
Em 15 meses, o conflito levantou um muro em ziguezague entre as diferentes
comunidades religiosas. De ambos os lados, a desconfiança parece
irremediavelmente enraizada.
Em fila indiana, os fiéis pegam seus calçados de volta após a prece da
sexta-feira, na saída da mesquita de Akko. Durante seu sermão, o xeque abençoou
os revolucionários e lembrou que somente Deus poderia lhes dar a vitória. Ele
foi nomeado recentemente e não consegue se impor junto aos jovens, que preferem
seu antecessor, mais veemente: "O sermão de hoje foi meio mole",
lamenta Ahmed, um jovem combatente que usa uma barba preta, ainda pouco
volumosa.
Na entrada da mesquita, pequenos grupos se formam. Quase todos os velhos
estão com a barba feita ou usam um bigodinho, parecido com o de Hafez al-Assad,
o pai do tirano. Já os jovens usam barba. "A maioria dos thuwar usam barba
sem bigode, à maneira dos salafistas. Tornou-se quase um sinal de
reconhecimento", explica Ahmed, cuja barba nasceu junto com o levante:
"A revolução revelou minha fé. Entendi a importância dos valores morais.
Agora quero regular minha vida de acordo com os princípios do islamismo".
Ele vê em sua luta contra o regime de Bashar al-Assad um combate para
que os valores do islã triunfem. Mas ele recusa qualquer influência
estrangeira: "Minha evolução se deu naturalmente, conversando com outros
combatentes. Quando se tem medo, pensar em Deus tranquiliza, e vemos que nossa
vida não nos pertence".
Um combatente chega, com sua barba bem cheia. Em tom meio sério, meio de
zombaria, os outros o chamam de xeque, por causa de sua devoção. "Aí está
nosso terrorista da Al-Qaeda!", brinca Hassan, antes de explicar:
"Ele conhece o Corão melhor que nós, ele nos guia durante a prece".
Abu Mohammed, o xeque, conquistou o respeito de seus irmãos de armas
permanecendo calmo nas situações mais críticas. Mas quando ele os surpreende
olhando a tela de um celular mostrando a foto anódina de uma jovem sem véu, sua
condenação é feita com rigor: "Haram [impuros]!"
Ismail, um jovem técnico em informática de Kabani, lamenta essa falta de
tolerância. Durante seus estudos em Latakia, ele se apaixonou por uma jovem
alauíta. Ele esperava se casar com ela, mas a revolução mudou seu destino.
Obrigado a deixar Latakia, ele se juntou à sua família no jebel. "Ela
queria que ficássemos juntos, mas minha família nunca teria aceitado".
Ismail baixa o olhar, e tira seu telefone do bolso. "Nós nos falamos quase
todos os dias. Escondido. Mas um de meus irmãos me pegou, e desde então tira
sarro de mim". As mulheres alauítas, que antigamente eram cortejadas por
jovens sunitas, hoje são desdenhadas por sua suposta leviandade.
Na sexta-feira, quando o xeque interage com os moradores dos vilarejos,
Ismail aproveita uma brecha nas conversas para lhe fazer a pergunta que o
atormenta: "Casar com uma cristã não é problema", garante seu
interlocutor. "E uma mulher alauíta?" Depois de um momento de
silêncio, o xeque determina: "Isso vai contra o islamismo".
Tradutor: Lana
Lim
6 - 2º anos,
3º anos e PV
Fracassos
esperados ou a esperança de fracassos
Fracasso de estreia do Facebook na Bolsa não
diagnostica o futuro
Le Monde
Sylvain Cypel
O fracasso retumbante do Facebook em sua estreia na Bolsa não é
necessariamente um prenúncio para o futuro.
Sabemos de ofertas públicas iniciais na Bolsa (IPO, sigla em inglês) que
começaram com os melhores presságios antes de rapidamente se degradarem – a
General Motors, em 2010, que voltou a Wall Street depois de seu resgate público
dois anos antes – e de outras lançadas com dificuldades – "Eu não
compro", proclamara Stephen Wozniak, cofundador da Apple, na ocasião da
IPO do Google em 2004 – que, por fim, se revelaram notáveis sucessos. Em
compensação, o alcance do debate que se iniciou nos Estados Unidos por conta
desse fracasso é muito revelador.
De um lado, estão aqueles para quem esse revés da rede social é um
acidente de percurso devido a um erro de apreciação de seu valor na Bolsa. Um
acidente certamente desolador diante dos volumes financeiros em jogo, mas que
não muda nada na visão geral que se pode ter sobre o funcionamento dos
mercados, o futuro da internet ou o do Facebook, mais especificamente.
Do outro lado, aqueles para quem o fracasso evidencia problemas bem mais
essenciais que a conjuntura da Bolsa. Estes consideram que essa IPO fracassada
trouxe um questionamento mais global sobre o futuro das redes sociais, sobre o
lugar da internet na economia e até mesmo, para alguns, as questões
estratégicas da economia americana.
Um dos raros pontos de concordância entre os detentores dos dois pontos
de vista é que a "incerteza" sobre o Facebook começou quando este
comprou o Instagram, no dia 9 de abril. A rede social havia adquirido então por
US$ 1 bilhão essa pequena empresa de 13 funcionários que desenvolvera um
aplicativo fotográfico que a interessava. O preço foi pago sem que a novíssima
start-up tivesse qualquer receita ou lucro.
Muitos investidores consideraram que essa equação, mesmo dentro da
lógica financeira "bizarra" da internet, era insana. Como escreveu o
analista da Reuters, James Saft, "é injusto criticar o Facebook por ter
pago uma infinidade pela receita inexistente do Instagram. Isso porque o
Facebook toma decisões racionais em um contexto que essencialmente não é
racional".
O cronista conservador Ross Douthat resumiu essa ideia de um
"contexto irracional" que estaria dominando a internet da seguinte
maneira: segundo ele, duas grandes ilusões teriam marcado a primeira década do
século 21 nos Estados Unidos. Primeiro, a de que o crescimento do setor
imobiliário seria eterno. Depois, "que na era da web 2.0, finalmente
iríamos entender como ganhar muito dinheiro com a internet". Para ele, a
recente desventura do Facebook teria delimitado "os limites
comerciais" da internet ou, mais precisamente, daqueles que ali prosperam
contentando-se em oferecer um serviço "virtual", sem ter um produto
específico para comercializar, como fazem as operadoras de telefonia, a Apple
ou a Amazon.
Brett Gordon, professor associado na Business School de Columbia, em Nova
York, reconhece que de fato a aquisição do Instagram pelo Facebook
"instilou uma dúvida" entre os investidores. Mas, "por
definição, uma empresa não tem outro valor além daquele que lhe conferem
aqueles que o determinam". Acima de tudo, ele rejeita completamente a
ideia da "irracionalidade" do mercado da internet e de sua
incapacidade em gerar lucros. "Se a internet não fosse rentável, a ilusão
teria sido desfeita há muito tempo", ele argumenta. Ele se diz convencido:
para além de suas dificuldades conjunturais, o Facebook “continuará a crescer
porque sua razão de ser perdurará. A rede se tornou o lugar da socialização
mundial". E ele será altamente lucrativo: não se pode estar à beira da
ruína quando se oferece um serviço buscado universalmente por 900 milhões de
membros.
Não, responde Rich Karlgaard, editor da revista "Forbes",
pois, se perdurar da forma como é, o Facebook, que foi ainda mais
supervalorizado pela ideologia do momento do que por banqueiros de
investimentos interessados, será somente um ator menor do futuro. Seus
argumentos, apresentados no "Wall Street Journal", são os seguintes:
Um: o Vale do Silício está em
"superaquecimento". A prova: logo após a compra do Instagram e pouco
antes do episódio Facebook, outra jovem empresa local, chamada Splunk, foi
introduzida na Bolsa. Valor inicial: US$ 37 a ação. Dois dias depois, ela valia
US$ 27. "Cheirava a bolha, não?"
Dois: o ambiente será racionalizado.
"No próprio Vale do Silício, investir em mídias sociais já é coisa do
passado." A maior parte de seus atores entendeu que "foi-se o tempo
dos grandes lucros no Facebook e nesse tipo de site".
Três: o futuro está na tecnologia que produz
bens, não no laço virtual. "A última grande descoberta, para o Vale do
Silício, não é nem o Instagram nem o Splunk, é o carro robotizado do
Google". Isso, ele acredita, é algo sólido para um universo onde amanhã
será preciso transportar 9 milhões de pessoas.
E conclui:
"O made in USA terá sua grande volta. (...) Se os Estados Unidos tivessem
de escolher um único dos três – Facebook, Twitter ou as perfurações [de gás]
por fraturação – qual seria a escolha mais inteligente?"
Da introdução
fracassada da rede na Bolsa até os grandes questionamentos atuais dos Estados
Unidos (a "reindustrialização"), foi só um passo.
Tradutor: Lana
Lim
7 - 3º anos e
PV
A sombra grega
Sobrevivência do euro dependerá da forma
como a UE lidará com a Grécia
Herald Tribune
Simon Tilford
A forma como a zona do euro lidar com a Grécia determinará se a moeda
única sobreviverá –e consequentemente o futuro da União Europeia como um todo.
Se uma saída da Grécia da zona do euro for mal administrada, o contágio para
outros países membros em dificuldades poderia ser incontrolável, levando
inexoravelmente ao colapso do euro.
Mas se uma saída grega for acompanhada por grandes reformas
institucionais, a união monetária ainda poderia ser salva. De fato, uma saída
grega poderia ser positiva para a zona do euro se abrisse o espaço político
necessário para as autoridades alemãs abraçarem as reformas.
Alguns autores de políticas acreditam que uma saída da Grécia seria uma
'purificação' –que demonstraria a outras economias em dificuldades da zona do
euro os riscos de voltarem atrás em suas metas fiscais ou nos termos dos
programas de resgate. O risco de contágio seria limitado, já que os governos
não teriam opção a não ser se curvarem, o que tranquilizaria os investidores
sobre a sustentabilidade de suas finanças públicas. Segundo esse ponto de
vista, a expulsão da Grécia tornaria óbvia a necessidade de grandes reformas
institucionais na união monetária, como a mutualização da dívida ou uma
proteção bancária na zona do euro.
Mas há vários problemas nessa linha de raciocínio. Primeiro, ela presume
que a Grécia e outros países duramente atingidos da zona do euro poderiam
cumprir suas metas fiscais caso se esforçassem. Esse é um exemplo do raciocínio
falho que é responsável pela crise ter saído de controle.
A suposição é a de que se os gregos quiserem permanecer na união
monetária, eles sabem o que têm que fazer: uma política fiscal tão dura quanto
for necessário e a aprovação das reformas econômicas acertadas. A Grécia é
reconhecidamente muito mal administrada. Mas essa narrativa ainda assim é
enganadora, porque a austeridade fiscal exigida dos gregos tem se mostrado
autodestrutiva, levando a economia a uma profunda recessão e causando um
aumento dramático da dívida pública.
O segundo problema é que essa análise subestima o risco de contágio
apresentado por uma saída grega. A crise grega já levou a um aumento acentuado
dos custos de tomada de empréstimo para as economias mais fracas da zona do
euro e causou uma maior perda de confiança dos investidores em seus bancos.
Os motivos para isso são óbvios: assim que fica claro que a associação à
zona do euro não é para sempre, os riscos de emprestar para outros países
membros (ou aos seus bancos) que enfrentam estagnação econômica e metas fiscais
inatingíveis dentro da união monetária aumentarão ainda mais. A fuga de capital
aceleraria, enfraquecendo os bancos e os governos que os apoiam.
O terceiro problema com a crença de que uma saída da Grécia de alguma
forma seria uma experiência purificadora é a suposição de que a Grécia poderia
ser simplesmente afastada e abandonada à própria sorte, como um trágico exemplo
dos riscos do não cumprimento dos programas de resgate. Mas não é isso o que
aconteceria. Além de ter que aceitar uma imensa baixa contábil nos empréstimos,
o restante da zona do euro teria que fornecer apoio contínuo à Grécia visando
escorar seus bancos e finanças públicas. A alternativa seria um colapso
econômico e social.
Com a ajuda da zona do euro e do FMI, a Grécia poderia se recuperar de
forma relativamente rápida fora da zona do euro, tornando a opção de saída
atraente para outros países enfrentando depressão e uma erosão da soberania
dentro da união monetária.
A melhor forma de limitar o contágio seria manter a Grécia na zona do
euro. Mas os obstáculos políticos para a continuidade da Grécia no euro são
quase intransponíveis. É verdade que a situação difícil da Grécia se deve muito
às políticas que foi obrigada a adotar pela zona do euro, pelo FMI e pelo Banco
Central Europeu.
Mas a corrupção do sistema político grego compreensivelmente dificulta
para outros países fazerem concessões aos gregos ou se sentirem confiantes em
compartilhar uma moeda comum com eles. As reformas necessárias para salvar o
euro exigirão um grau elevado de solidariedade, algo que será difícil com a
Grécia ainda na união monetária.
A questão, portanto, é como tornar a expulsão da Grécia compatível com a
sobrevivência da moeda única.
A exclusão da Grécia claramente teria que ser acompanhada pela criação
de um fundo de resgate muito maior, visando aumentar o tamanho do chamado
"firewall" em torno de outros países vulneráveis.
Mas conter o
contágio causado pela saída da Grécia do euro exigiria muito mais do que isso;
ela exigiria três grandes reformas:
Primeiro, um acordo para mutualizar –isto é, assumir a responsabilidade
conjunta por– uma proporção da dívida pública de cada país membro. Segundo, a
introdução de uma proteção aos bancos da zona do euro, sob a qual a
responsabilidade de escorar os bancos seria transferida dos governos nacionais
para a zona do euro como um todo. Terceiro, um acordo para ampliar o mandato do
Banco Central Europeu, abrindo o caminho para que ele assuma plenamente as
funções de credor de último recurso exigidas de um banco central.
Uma saída da Grécia aumentaria, e não diminuiria, os desafios diante da
moeda única. Longe de reduzir a necessidade de reformas institucionais
fundamentais, uma saída da Grécia aumentaria a necessidade delas.
Se a união
monetária quiser evitar o contágio, ela precisaria acompanhar a perda de seu
membro mais controverso com medidas às quais países membros chave
persistentemente se opõem.
A probabilidade disso acontecer dependerá em grande parte da Alemanha.
As autoridades alemãs calcularão que as reformas fundamentais são de interesse
político e econômico da Alemanha? E, se forem, elas conseguirão persuadir um
país cético de que é o caso?
* Simon
Tilford é o economista-chefe do Centro para Reforma Europeia.
Tradutor: George
El Khouri Andolfato
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