Módulo 2 - A língua e a linguagem - variações linguísticas, funções e
figuras da linguagem
Por Estéfani Martins
Variação linguística
Mateus enter(Intro)
Eu vim com a nação zumbi
ao seu ouvido falar
quero ver a poesia subir
e muita fumaça no ar
cheguei com meu universo
e aterriso no seu pensamento
trago as luzes dos postes nos olhos
rios e pontes no coração
Pernambuco em baixo dos pés
e minha mente na imensidão.
(Chico Science)
“... as práticas de linguagem a serem tomadas
no espaço da escola não se restringem à palavra escrita nem se filiam apenas
aos padrões socioculturais hegemônicos.”
(Orientações Curriculares para o Ensino Médio;
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, MEC)
A
linguagem é como uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu
tivesse palavras em vez de dedos, ou dedos na ponta das palavras."
(Roland Barthes)
Toda língua é um sistema variável quanto ao tempo,
ao espaço geográfico, às transformações sociais e culturais, à faixa etária, à
profissão, ao nível de escolaridade de um indivíduo ou de um grupo e à situação
comunicativa em que é utilizada, por isso ela é usada de modo heterogêneo,
mutante e dinâmico. Assim, pode-se dizer que existem variantes acerca do uso da Língua
Portuguesa na sociedade brasileira e que é preconceituoso o estabelecimento de
qualquer forma de hierarquia para que as pessoas tenham sua capacidade
intelectual, suas referências culturais e suas possibilidades julgadas por
intermédio da variante da língua usada por elas.
Cada variante linguística constitui uma forma
específica e com muitas regras próprias da língua, ainda que essas diferenças
não possam fazer com que os usuários dela não se entendam. Entretanto,
descrever tais variações não é uma tarefa simples, visto que as fronteiras
entre elas não são muitas vezes claras e objetivas.
Essas variações são as chamadas Variações
Linguísticas, as quais estão diretamente relacionadas às condições sociais e ao
contexto cultural, regional e histórico a que são aplicadas e, quase sempre,
submetidas. Tais processos linguísticos determinam-se por diversidades
lexicais, rítmicas, sintáticas, entre outras, as quais caracterizarão cada uma
das variedades.
O referencial para se compreender as diferenças e
as nuances dessas variações é a chamada norma padrão, que é regulada por
princípios gramaticais rígidos e normativos, utilizada na maioria dos documentos
legais, informativos e científicos e normalmente adquirida em processos sólidos
de educação formal. Além disso, para muitos, a norma padrão da Língua
Portuguesa pode ser chamada também de norma culta, entretanto esse não é um
conceito adequado, porque se mostra preconceituoso em relação àqueles que não
tiveram a oportunidade de serem formados para dominá-la, o que os torna,
portanto, usuários da “norma inculta” da língua.
Pode-se dizer ainda que norma padrão (ou culta) não
é o emprego da língua de forma rebuscada, erudita, empolada ou mesmo arcaica,
cuja compreensão estaria restrita apenas a um grupo seleto de pessoas com uma
formação acadêmica e um repertório cultural incomum. Ao contrário, é a
expressão de um indivíduo qualquer em Língua Portuguesa usual, de acordo com as
Normas Gramaticais Brasileiras e em sintonia com os padrões estéticos e
culturais responsáveis por fazer um dado discurso tornar-se objetivo, claro e
coerente com o tempo histórico de enunciação dele.
As demais variedades, como a regional,
a social, a profissional e a histórica, são, em linhas gerais, chamadas de
norma popular. Diante disso, é fato que qualquer língua contém variações no uso
que se faz dela, a esses fenômenos dá-se o nome de variações linguísticas. Tais
possibilidades de utilização de uma língua podem ocorrer devido a
condicionantes de ordem temporal (histórica), espacial (regional), social e
estilística. A partir dessas considerações, pode-se perceber que, em
possivelmente todas as sociedades, interagem e convivem variedades linguísticas
distintas, as quais são empregadas por diferentes pessoas ou grupos sociais,
com diferentes acessos à educação formal, de forma consciente ou não, de acordo
com a situação social em que o processo comunicativo está inserido, etc. É importante
ressaltar que tais variantes de uma mesma língua são mais facilmente percebidas
em formas orais de expressão, ainda que possam ser também vistas em formas
escritas.
Dessa forma, pode-se inferir que a língua não é una
e imutável, por isso ela pode ser considerada um conjunto de dialetos ou
variações. Um exemplo dessa afirmativa é o Brasil, com seus muitos falares
regionais com alterações léxicas, prosódicas ou mesmo sintáticas, além,
evidentemente, das variações sociais, profissionais e contextuais típicas dos
usuários de qualquer língua.
:::::Dialeto
O dialeto é um conjunto de marcas linguísticas
de caráter semântico-lexical, morfossintático e fonético-morfológico, típicas
de uma determinada comunidade de fala (grupo, tribo, etc.) inserida numa
comunidade maior de usuários da mesma língua, ainda que tais diferenças não
impeçam a intercomunicação entre os grupos de falantes de, em última instância,
um mesmo idioma. São exemplos a gíria, o jargão, etc. Pode também ser visto
como uma variedade linguística coexistente com outra, ainda que sejam
consideradas formas de uma mesma língua, em função de não haver diferenças o
bastante entre elas, são exemplos no português do Brasil: o linguajar caipira, o falar gaúcho, entre muitos outros.
Outro conceito sobre a questão do dialeto, ainda
que muito menos usado atualmente, é o que o vê como uma modalidade circunscrita
a um determinado espaço em que se fala uma língua sem versão escrita (povos
ágrafos), o que a faz predominantemente oral; ou mesmo pode se referir a uma
língua que, ainda que tenha uma expressão escrita, não é língua oficial de
nenhum país, como o catalão, o basco, o galego, etc.
De outra perspectiva,
pode ser visto ainda como uma variante regional de uma determinada língua em
que, em função das muitas e severas diferenças entre falares de regiões
distintas, há grande
dificuldade de intercomunicação entre seus falantes, como é o caso do
siciliano, do calabrês, etc. em relação ao idioma italiano.
Tipos de variação linguística
A
variação histórica é produto do processo histórico, assim recursos linguísticos
muito usados no passado são gradativamente abandonados para dar lugar a novos
recursos mais afinados com o tempo, a vida, as necessidades
de seus usuários. Um exemplo ilustrativo desse processo é a presença
massiva de estrangeirismos originários do francês ao longo do século XIX e do
início do XX no Brasil, que foram se tornando obsoletos ou pouco usados. Mais
tarde, em função do resultado da Segunda Guerra Mundial e de
questões de ordem política e econômica, o inglês ocupou esse lugar e ampliou a
abrangência do uso desses recursos, já que mesmo pessoas humildes
apropriaram-se de termos provenientes desse idioma graças a referências vindas
dos meios de comunicação de massa ou até do jargão computacional e da internet.
Pode-se ainda perceber as muitas mudanças no uso de pronomes de tratamento,
quase sempre no sentido de tornar as relações interpessoais menos formais e,
muitas vezes, menos respeitosas, por exemplo, quando uma pessoa desconhecida é
tratada com tamanha informalidade por alguém a ponto de soar grosseira e
inconveniente a abordagem.
O ritmo comum a esse tipo de mudança é lento e
gradativo. Isso é perceptível em situações em que uma expressão linguística
típica de um grupo restrito de pessoas passa a ser adotada por um grupo maior
até se popularizar, ou mesmo uma forma arcaica de uso da língua permanece ainda
frequente no repertorio linguístico de idosos, enquanto gerações mais jovens
usam outros meios mais contemporâneos para se comunicar, ainda que seja uma
questão de tempo para aquela forma ser considerada um arcaísmo, enquanto esta é
consagrada pela quantidade de usuários e pela entrada em dicionários ou no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Carlos Drummond de Andrade bem soube mostrar a
variação histórica em vários momentos de sua obra, é um exemplo:
"Antigamente,
as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não
faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses
debaixo do balaio."
Trata das
diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática percebidas
entre falantes de uma língua entre as regiões de um país, isso ocorre em função
da origem ou do tempo que um indivíduo passou em uma região a ponto de
assimilar as nuances do falar característico de um determinado espaço. Com isso, ocorre a formação de
comunidades linguísticas menores interiores a uma comunidade linguística maior,
como é o caso do linguajar gaúcho diante da comunidade de brasileiros falantes
da Língua Portuguesa. As variantes geográficas dão-se pelas diferentes
pronúncias para uma mesma palavra (como é o caso do “r” retroflexo dos falantes
do interior de São Paulo e do Triângulo Mineiro); pelos diferentes nomes para o
mesmo objeto, fruto, ação, tipo físico, etc. (tangerina, vergamota, mexerica,
mandarina, mimosa, etc.); ou mesmo pelas diferentes formas de estruturar a
oração (no Maranhão e no Rio Grande do Sul, uma pessoa diria: “Tu estás
nervoso?”, enquanto na maioria dos outros estados, seria mais comum ouvir:
“Você está nervoso”?).
Essas variantes linguísticas geográficas são, em
grande parte, determinadas por diferenças étnicas, culturais, geográficas,
naturais entre as regiões, o que confere aos falantes de diversas regiões de um
país modos diferentes de usar a língua materna, ainda que sejam mantidas as
condições de eles se entenderem. As diferenças linguísticas regionais são
graduais, o que as faz nem sempre respeitar fronteiras espaciais, como é o caso
da região norte de Minas Gerais, a qual tem um modo de falar muito mais
assemelhado ao linguajar nordestino do que a variantes típicas do Sudeste.
Guimarães Rosa, em sua vasta e fundamental obra,
ilustra de forma irretocável as muitas possibilidades de expressão
condicionadas à variação linguística geográfica como nos muitos nomes dados ao
diabo no sertão brasileiro presentes na obra Grande sertão: veredas.
“Demo,
Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal,
Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O
Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O
Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O
Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O
Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.”
A
variação social é determinada por muitos condicionantes, tais como os sociais,
os profissionais, os etários, os educacionais, os de gênero, etc. Em função
disso, entende-se que uma mesma pessoa usa diversas variações sociais ao longo
da vida, em contextos de enunciação diferentes, em função disso agrupa-se ou é
agrupado consciente ou inconscientemente em função da forma como interage com o
outro por meio da língua. Nessa variação, a norma padrão é o referencial mais
importante, já que ele se torna visivelmente uma baliza para se reconhecer e
classificar as outras. Por isso, a variação social pode comprometer, por
exemplo, o entendimento de um idoso sobre as gírias usadas por um jovem, ainda
que no passado aquele também possa ter usado do mesmo expediente para
integrar-se em um determinado grupo social. O entendimento de um indivíduo
leigo em economia sobre o texto de um economista num jornal especializado em
bolsa de valores ou mesmo a decodificação de um contrato de aluguel por um
adulto recentemente alfabetizado são outros exemplos de dificuldades de comunicação
geradas por essa variação.
Dentro das possibilidades de variação social, é
notória e facilmente perceptível a que corresponde à camada social da qual o
indivíduo faz parte. O falar de um cidadão é subordinado na maioria das vezes
ao nível socioeconômico e cultural dele. Quanto mais estudo tiver, mais bem
trabalhadas serão suas frases. Quanto mais livros ler, mais cultura terá.
Quanto mais exemplos tiver de seus pais e professores, mais facilmente se
comunicará com os demais.
É importante salientar ainda que as gírias são um
processo de reconhecimento social entre os jovens e de exclusão, ao mesmo
tempo, dos mais velhos. Já os jargões, do Direito, da Economia, da Medicina,
etc., são tanto uma forma de mediar certa relação de hierarquia e de dependência
em favor de muitos advogados, médicos, etc., em relação aos seus clientes
quanto uma necessidade linguística de mostrar de forma objetiva as
especificidades de cada um desses saberes ou ciências.
Exemplo da variação social e também do preconceito
produzido a partir de características linguísticas de um indivíduo ou grupo é a
obra do mestre Patativa do Assaré, que, por causa das muitas características
que aproximam sua poética da oralidade, ainda é alvo de julgamentos
depreciativos por parte de determinados indivíduos em função da sua origem e do
uso que ele faz da língua. Eis um exemplo de um poema do mestre Patativa:
O Poeta
da Roça
Sou fio
das mata, canto da mão grossa,
Trabáio
na roça, de inverno e de estio.
A minha
chupana é tapada de barro,
Só fumo
cigarro de paia de mío.
Sou poeta
das brenha, não faço o papé
De argun
menestré, ou errante canto
Que veve
vagando, com sua viola,
Cantando,
pachola, à percura de amô.
Não tenho
sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu
sei o meu nome assiná.
Meu pai,
coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio
do pobre não pode estudá.
Meu verso
rastero, singelo e sem graça,
Não entra
na praça, no rico salão,
Meu verso
só entra no campo e na roça
Nas pobre
paioça, da serra ao sertão.
(...)
Considerações finais
Sobre a questão das variações linguísticas, pode-se
ainda discutir a existência de uma no campo do estilo individual submetido a
distintas situações comunicativas, determinadas pela percepção por parte do
locutor do ambiente onde ocorre a enunciação (familiar, profissional, formal,
informal, etc.), do grau de intimidade com o interlocutor, do tipo de
informação, de quem são os interlocutores, de qual a intenção comunicativa,
etc. Pode-se afirmar ainda que esse tipo de variação realiza-se mais na fala,
porque essas condições de enunciação são mais fácil e frequentemente percebidas
nela.
Outra consideração importante diz respeito às
relações dinâmicas entre as variações linguísticas: quando uma variante
histórica pode ser vista como sociocultural, em virtude do prestígio social que
variantes atuais e presentes nos meios de comunicação de massa têm em relação a
variantes vistas como antigas ou anacrônicas. Esse fato pode entrecruzar-se com
a existência no meio rural - menos influenciado pela sociedade da informação e
do entretenimento - de tais variantes antigas. Soma-se a isso o processo
histórico do êxodo rural, que tornou também sociocultural uma variante
geográfica, já que, nas grandes cidades, aquela variante é vista como de menor
prestígio.
Os meios de comunicação de massa foram muito
responsáveis pela construção de diversos tipos de preconceitos relativos às
variações linguísticas no Brasil, porque impuseram ao público, especialmente no
caso da televisão, um falar neutralizado de sotaque, próximo à norma padrão e a
determinadas características presentes nos falantes da Língua Portuguesa nas
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
A negação de uma tradição cultural e linguística em
relação a outras variantes é o resultado de todo esse processo de afirmação
exagerada da norma padrão e de determinadas variações regionais. Esse processo
intensifica-se quando são rejeitadas algumas tradições linguísticas, porque são
consideradas deficiências intelectuais do usuário delas, o que não pode ocorrer
sob diversos pontos de vista éticos, políticos, antropológicos, etc.
Preconceitos linguísticos não são aceitáveis porque a linguagem deveria ser
veículo de interação com o outro e de transformações nos indivíduos que os
faria ver o óbvio: no falar de um caipira de um confim do Brasil pode haver
conhecimento aplicado à agricultura, ou mesmo ao clima, similar em qualidade de
análise e de observação ao de um cientista, muitas vezes. Portanto, a forma
como uma pessoa fala ou escreve não pode ser usada como limite das suas
possibilidades, mas como ponto de partida delas.
Outra questão a considerar é a de que nessas
inter-relações entre as variações, especialmente entre aquelas medidas pela
competição e pelo preconceito, são estabelecidas relações de poder, quase
sempre ditadas pelo domínio da norma padrão e pelo acesso à educação formal, as
quais possibilitam aos indivíduos que as dominam moldar seu discurso às mais
variadas situações de enunciação, das mais informais e corriqueiras às mais
formais e eruditas. Isso é poder: comunicar-se de forma adequada aos seus
interlocutores, à situação em que eles se inscrevem, ao assunto em questão,
mas, especialmente, à intenção comunicativa. Tais habilidades permitem a
quaisquer pessoas ampla vantagem sobre os outros que não conseguem moldar seus discursos
em função da demanda imediata, porque, pela linguagem e pelo conhecimento,
relações de poder em todos os níveis são estabelecidas, consolidadas e
determinantes dos limites da atuação social, cultural, econômica e política de
cada indivíduo.
Funções da linguagem
“A linguagem é um jogo conjunto, de quem fala
e de quem ouve, contra as forças da confusão.”
(Norbert Wiener)
O estudo da situação
comunicativa e, especialmente, de suas implicações no estudo das funções da
linguagem é fundamental para se entender as muitas intenções implícitas e
explícitas no processo de produção textual oral ou escrita. Seguem definições e
exemplos capazes de ampliar e clarear essa discussão.
A
situação comunicativa
Uma situação comunicativa deve ser compreendida
como a união de características extralinguísticas e intralinguísticas capazes
de influenciar na transmissão de informações, sentimentos, etc., num
determinado processo comunicativo estabelecido por meio do uso de uma ou mais
linguagens. Entende-se por extralinguísticas as condições de realização do
discurso que compreendem a finalidade dele, as características dos
participantes, o conhecimento dos interlocutores sobre o assunto, o contexto
histórico, as relações afetivas, sociais e culturais pré-existentes entre os
interlocutores, etc. Sob outro ponto de vista, as intralinguísticas remetem ao
domínio da norma padrão, à objetividade ou subjetividade da linguagem
empregada, ao uso de recursos verbais e não-verbais no discurso, etc. Como uma
forma esquemática de se compreender tal processo, têm-se os chamados elementos
da situação comunicativa detalhados abaixo.
Elementos
da situação comunicativa
Emissor (locutor) - emite, codifica a
mensagem. Aquele que comunica algo a alguém.
Receptor (interlocutor) - recebe,
decodifica a mensagem. Aquele com quem o locutor comunica-se.
Mensagem - conteúdo transmitido pelo
emissor.
Código - conjunto de signos usado na
transmissão e recepção da mensagem. Convenção linguística social que permite
aos interlocutores entenderem-se.
Canal (meio) - meio pelo qual é
veiculada a mensagem. Voz, carta, etc.
Referente (contexto) - contexto
relacionado ao emissor, ao receptor e à situação comunicativa como um todo.
Variáveis, quase sempre extralinguísticas, que atrapalham ou favorecem o
adequado entendimento de uma informação dada.
Funções
da Linguagem
“O meio é a mensagem.”
(Marshall McLuhan)
“Com o telefone e a TV, o que está sendo
transmitido é mais a pessoa do que a mensagem.”
(Marshall McLuhan)
As funções da linguagem são recursos
empregados para se estabelecer uma comunicação eficiente em função do objetivo
de um locutor em uma determinada situação comunicativa. Todo texto ou discurso
funda-se em um elemento da situação comunicativa, em vista disso, uma função da
linguagem predominará nesse processo comunicativo, ainda que várias possam
conviver em um mesmo texto.
O emprego e o estudo das funções da linguagem
objetiva a adaptação da intenção comunicativa aos diversos contextos e
necessidades que se apresentam para todo usuário de uma determinada língua nas
mais variadas situações.
1 - A função emotiva ou expressiva traduz
opiniões ou emoções do emissor. Caracteriza-se pela expressão da opinião ou da
observação de alguém sobre determinado assunto, ou seja, é empregada em
situações nas quais o emissor expõe sua intimidade discursivamente. Geralmente,
textos em que essa função predomina são realizados em primeira pessoa do
discurso no singular. Os principais exemplos desse tipo de texto são as cartas,
os depoimentos, os poemas líricos, as memórias e as autobiografias. Exemplos:
“Prefiro tirar nota baixa .
Descobri que a vida
fica mais fácil
quando os outros
não têm muitas expectativas sobre a gente .”
(Bill Waterson)
Cogito
eu sou
como eu sou pronome pessoal intransferível do
homem que
iniciei na medida do impossível eu sou
como eu
sou agora sem grandes segredos dantes sem
novos
secretos dentes nesta hora eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente feito um pedaço de
mim eu
sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente
todas as
horas do fim. (Torquato
Neto)
Com o passar dos anos
Quando a
velhice em mim chegar
Quero ser
o que sonhei na juventude
Sonhando
o que serei na juventude que virá.
E o que
sou hoje lá não serei mais
Enquanto
estarei deixando de ser
Aquilo
que deixei e que fui, atrás.
Dos meus
amores, quero as cartas
E as
doces lembranças dos beijos
E dos
pecados que não vivemos.
Quando a
velhice chegar, não quero sofrer
Pelos
amores que não vivi por covardia
Ou pêlos
que tive quando não os queria.
Ah,
quando a velhice chegar
Quero
dizer aos meus amigos:
- Fomos
mais do que pensávamos.
E se não
formos ainda assim direi:
-
Sonhamos muito mais que fomos
E vivemos
muito mais, porque sonhamos.
Serei
doce pelas palavras e lembranças
Forte
pelas duras batalhas vencidas
E ditoso
pela bem cumprida jornada.
E ainda
assim se eu nada dizer, ao morrer
E nada
mais de mim restar quero apenas que
Digam que
eu era alguém que sonhava. (Lígia Prado)
"nunca
cometo o mesmo erro
duas
vezes
já cometo
duas três
quatro
cinco seis
até esse
erro aprender
que só o
erro tem vez" (Paulo
Leminski)
Vim, vi e
perdi meus óculos. (Fábio Assis)
2 - A função fática tem por objetivo
prolongar ou não o contato com o interlocutor ou mesmo iniciar uma conversa.
Caracteriza-se pela repetição de interjeições ou de termos próximos do valor
semântico e estilístico da interjeição. A função fática também ocorre quando o
locutor testa o canal de comunicação a fim de observar se está sendo
compreendido pelo interlocutor. Nesse contexto, são frequentes perguntas como
"não é mesmo?", "você entendeu?", "cê tá
ligado?", "ouviram?", ou frases como "alô!",
"oi", “Bom dia”, etc.
Perguntas direcionadas ao receptor da mensagem
também podem caracterizar a função fática, quando são feitas para confirmar o
interesse do interlocutor no assunto que está sendo discutido, o que é muito
comum em comunicações não presenciais, como é o caso de perguntas como:
“Concorda?”, “O que acha?”, etc.
Podem ser entendidas como recursos fáticos as
frases que perderam seu valor semântico original para dar lugar a sentidos que
comuniquem emoções simples como o espanto, o susto, o exagero, etc., em
determinadas situações comunicativas. São exemplos: “Nossa senhora!”, “Meu
Deus!”, etc.
A seguir, há um exemplo de texto com
forte presença de elementos fáticos em sua composição:
“— Como
vai, Maria?
— Vou
bem. E você?
— Você
vai bem, Maria?
— Já
disse que sim!
— Eu
também. Está tão bonita!
— Ah,
bem, é que eu...
— Ah, é.”
(Dalton
Trevisan)
3 - A função poética predomina nos textos em
que a mensagem é construída de modo a elaborar esteticamente tanto o conteúdo
quanto a forma do texto. Ao utilizar essa função, o autor dá mais atenção a
estruturas linguísticas escolhidas por razões estéticas e subjetivas, daí a
grande importância dada à maneira de estruturar a mensagem com o intuito de
singularizá-la por meio da invenção e da sensibilidade. Embora seja mais comum em
obras literárias, essa função pode estar presente em qualquer tipo de discurso.
Nos textos centrados nessa função da linguagem são comuns recursos expressivos
da língua como as figuras de linguagem. Exemplos:
“Ficar neutra é tapar um olho quando tapam a vista
de outra pessoa.” (Jeannine
Luczack)
“A árvore, quando está sendo cortada, observa com
tristeza que o cabo do machado é de madeira.” (Provérbio Árabe)
“Não te
cases por dinheiro ,
podes conseguir um
empréstimo mais
barato.” (Provérbio
escocês)
Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.
(Cíntia
Moscovich)
- Que dor nas costas - dizia o
porco-espinho ao acupunturista. (Rafael Reinehr)
Lembrava mais do passado que do presente. Morreu
empoeirado. (Roberto
Prado)
Pegou a mulher com outro, largou a mulher, ficou
com o outro. (Victor
Az)
Nada pior que gente boazinha: santos são
tediosos... (Maria
Carolina Marzagão Jimenez)
“O ser humano é resultado do que viu com o que
sonha.” (Lirinha)
Maracatu Silêncio
Lampiões
carregados
Porta
estandarte, o rei e a rainha
Os
tambores quando batem
Acorda o
povo da Vila Maria
Os
cordões que invadem
Os
carnavais cheios de alegria
Vou
dançar no pátio
Até o dia
raiar
Meu
maracatu
Vivendo
sempre a lembrar
Morros,
alagados
O
interior do lugar. (Lenine)
Zona e progresso
eu digo
dioniso é o deus da zona
abençoa
essa zona imortal
que eu
faço vir à tona
zona
sagrada
zen do
gen genial
lugar do
bem e do mal
tudo pode
ser
tudo pode
ver
quase
tudo eu via ali
zona do
nada
vento vem
criação
farol
brilha a escuridão
tudo pode
ser
tudo pode
ver
quase
tudo eu via ali. (Suely
Mesquita, Pedro Luís e Arícia Mess)
Exemplos:
Porcas borboletas, Mundo Livre S/A, Cansei de ser sexy, Berimbrown, Móveis
coloniais de Acaju, Velhas virgens, Matuto moderno, Acústicos e valvulados,
Cordel do Fogo Encantado, Pequena Morte, entre tanto outros nomes de bandas.
4 - A função metalinguística ocorre quando o
código é utilizado para explicar a si próprio. Um bom exemplo dessa função são
os dicionários da Língua Portuguesa, chamados de lexicográficos, ou ainda,
poemas que tratem do ato de fazer poemas ou mesmo da própria poesia. São
exemplos do emprego da função metalinguística da linguagem: uma pessoa falando
do ato de falar, outra escrevendo sobre o ato de escrever, palavras que
explicam o significado de outra palavra, metaliteratura, etc.
Era um
conto muito velho, que só queria acabar. (Herbert Farias)
Língua
torta:
Portão
menor que porta. (Millôr
Fernandes)
“As
palavras são a sombra das coisas”. (Demócrito)
Os versos que te fiz
Deixa
dizer-te os lindos versos raros
Que a
minha boca tem pra te dizer!
São
talhados em mármore de Paros
Cinzelados
por mim pra te oferecer.
Têm
dolência de veludos caros,
São como
sedas pálidas a arder...
Deixa
dizer-te os lindos versos raros
Que foram
feitos pra te endoidecer!
Mas, meu
Amor, eu não tos digo ainda...
Que a
boca da mulher é sempre linda
Se dentro
guarda um verso que não diz!
Amo-te
tanto! E nunca te beijei...
E nesse
beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os
versos mais lindos que te fiz! (Florbela Espanca)
Os poemas
Os poemas
são pássaros que chegam
não se
sabe de onde e pousam
no livro
que lês.
Quando
fechas o livro, eles alçam vôo
como de
um alçapão.
Eles não
têm pouso
nem porto
alimentam-se
um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas,
então, essas tuas mãos vazias,
no
maravilhoso espanto de saberes
que o
alimento deles já estava em ti... (Mario Quintana)
Gramática [Do lat. grammatica < gr. grammatiké,
‘arte de ler e de escrever’, f. subst. de grammatikós.]
Subst. feminino
1) A arte de falar e de escrever bem
em uma língua.
2) E. Ling. Estudo ou tratado que
expõe as regras da língua-padrão (q. v.).
3) Obra em que se expõem essas
regras.
4) Exemplar de uma dessas obras.
5) E. Ling. Estudo da morfologia e
da sintaxe de uma língua.
6) E. Ling. Conhecimento
internalizado dos princípios e regras de uma língua particular. (Dicionário Digital Aurélio XXI)
5 - A função conativa ou apelativa tem como
intuito influir no comportamento do receptor, por meio de um apelo, um
conselho, uma sugestão ou uma ordem transmitida de forma explícita ou
implícita. Para tanto, o texto é endereçado aos anseios, desejos e fraquezas do
receptor/interlocutor. Naturalmente, por causa disso, tem como principal
expressão o discurso publicitário. Caracteriza-se pelo uso, geralmente, da
segunda pessoa do discurso e da linguagem imperativa, com o intuito de tentar
convencer o receptor a praticar determinada ação ou pensar de determinada
forma. Exemplos:
“Educai
as crianças e não será preciso punir os homens.” (Pitágoras)
“Não
haverá entre vós quem, ao acender uma vela, não desdenhe os astros?” (Gibran)
“Senta-te
a tua porta e verás passar o cadáver do teu inimigo.” (Provérbio indiano)
“Slogans”
publicitários, tais como: “Porque nós somos mamíferos.”, para a Parmalat; “Não
temos música ao vivo. Sorte sua.”, para o Taco Del Maestro, restaurante de
comida mexicana; “Beba-o com respeito. É provável que ele seja mais velho que
você.”, para o Conhaque Martell; “Não servimos almoço. Levamos o dia inteiro
para preparar o seu jantar.”, para o restaurante D'Amico Cucina; “A crítica
adorou. Mas pode assistir que é bom.”, para a Semp Toshiba.
6 - A Função referencial, denotativa ou
informativa ocorre quando o objetivo do emissor é informar com precisão e
objetividade um determinado fato, acontecimento ou conhecimento, tanto
linguística quanto conceitualmente. Essa é a função que predomina nos textos de
caráter científico ou didático (com destaque para a linguagem dissertativa) e
que muitos textos jornalísticos ambicionam privilegiar. Exemplos:
“Na velocidade da luz, ideologias e
partidos políticos são substituídos por imagens carismáticas.” (Marshall McLuhan)
“Na nossa civilização, os homens têm medo de não
serem considerados homens o bastante, e as mulheres têm medo de serem
consideradas apenas mulheres.” (Theodor Reik)
“Os programas sensacionalistas do
rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam
curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de
cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos
crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e
cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima
renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro,
ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de
fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.”.
(Eugênio
Bucci)
"A trajetória de nossa vida
pode parecer definitivamente marcada por certas situações. Nossa vida,
entretanto, conserva sempre todas as possibilidades de mudança e conversão que
estiverem ao nosso alcance. E tais possibilidades são tanto maiores, quanto
mais abrigarmos em nós de infância, de gratidão, de capacidade de amar." (Herman Hesse)
Observação:
em um mesmo texto, duas ou mais funções
podem ocorrer simultaneamente: uma poesia em que o autor discorra sobre o que
ele sente ao escrever poesias tem muitas vezes as linguagens poética, emotiva e
metalinguística ao mesmo tempo. Contudo, uma das funções da linguagem será
sempre predominante. Sobre isso, Roman Jakobson afirmou que "dificilmente
lograríamos (...) encontrar mensagens verbais que preenchem uma única função...
A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente da função
predominante". Nos exemplos abaixo, há a presença das funções da linguagem
emotiva e poética simultaneamente:
“Cada vez
mais gosto dos homens.” (Canibal
anônimo)
“Não me
considere o chefe; considere-me um colega de trabalho que tem sempre razão.” (Bob Thaves)
Figuras de linguagem
"Em meus
textos, quero chocar o leitor, não deixar que ele repouse na bengala dos
lugares-comuns, das expressões acostumadas e domesticadas. Quero obrigá-lo a
sentir uma novidade nas palavras!"
(João Guimarães Rosa)
“Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.”
(Mário Quintana)
“Não se cria nada com um texto que se compreende com excessiva
exatidão.”
(Miguel de Unamuno)
"As palavras fazem um efeito na boca e outro nos ouvidos."
(A. Manzoni)
As figuras
de linguagem são
criadas na maioria das vezes a partir da experiência
cotidiana , pragmática
e estética do homem
com a língua
e com o outro. Além disso, “linguagens
auxiliares”, como a gestual, a de sinais, a das cores, etc., são fundamentais
para a construção dessas sentenças. Daí ser possível
inferir que a
inventividade é imprescindível
para a construção da
maioria das figuras de linguagem, tanto
no âmbito do uso literário delas quanto no uso cotidiano desses recursos.
Para tanto, a linguagem conotativa e o arranjo meticuloso e criativo das palavras
constituem, muitas vezes , uma espécie de jogo
de interpretação, em que , por várias
razões , cooperam ou
concorrem um locutor
e um interlocutor
inseridos num dado contexto de enunciação, influenciados por uma determinada e
sempre distinta experiência cultural, e munidos de intenções
relativas àquela situação comunicativa.
Quanto ao uso desse tipo de recurso nas tipologias
e gêneros textuais, é notória e facilmente observada a utilização de
praticamente todas as figuras de linguagem em textos narrativos, injuntivos e
dialogais, por razões ligadas às liberdades estéticas constituintes dessas
modalidades de texto; no caso dos descritivos, o uso torna-se mais focado em
figuras como a metáfora, a prosopopéia, a catacrese e a onomatopéia; já no caso
dos gêneros textuais expositivo e argumentativo, as figuras de linguagem
apresentam-se de forma muitas vezes pontual, porque as exigências acerca da
objetividade, clareza e informatividade, tão comuns em relação a essas
tipologias, limita sensivelmente o uso desses recursos. Embora textos
argumentativos, como os sermões, possam fazer amplo uso de figuras, são casos
relativamente raros dentro do universo dos textos exigidos em provas ou vestibulares.
Seguem algumas figuras de linguagem mais comumente
presentes em vestibulares e, em especial, em provas de disciplinas como
Redação, Literatura e Língua Portuguesa.
Figuras de palavras (tropos)
1 - Comparação
metafórica ou símile: consiste no uso
de um termo
comparador para estabelecer uma relação conotativa entre dois elementos de universos
diferentes ou mesmo pouco semelhantes, quando observados sob critérios que
organizam e orientam o uso objetivo da linguagem e do raciocínio.
Exemplos:
A atriz é bela
como
uma manhã ensolarada de verão.
A casa
dela é escura feito a treva da noite.
Ele
chorou que nem
uma carpideira.
“Eu faço
versos como quem chora
De
desalento... de desencanto...” (Manuel Bandeira)
“Amava a
natureza como um monge calmo a
Cristo.” (Alberto
Caeiro)
“Meu amor
me ensinou a ser simples como um
largo de igreja.” (Oswald
de Andrade)
Obs.: Outros termos
comparadores são assim como , tal , tal qual , qual ,
etc.
2 - Metáfora: diferencia-se da comparação
metafórica apenas porque não tem termo
comparador nem explicita a característica comparada nos elementos
entre os quais se estabeleceu conotativamente uma determinada relação. Isso se
deve ao intuito de produzir ,
por analogia
ou semelhança ,
de forma subjetiva e mais velada, um meio de
expressar uma sensação , um pensamento ou uma emoção para as quais a linguagem
denotativa não é adequada ou que não é
capaz de comunicar .
Dessa forma, garante que o leitor ou ouvinte possa
interferir no sentido da expressão em virtude de ela ser construída na
perspectiva da polissemia, da multiplicidade do sentido e da interação entre as
idiossincrasias do produtor e do receptor da metáfora.
Exemplos:
Aquela atriz é uma manhã ensolarada de verão.
“Meu
pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)
“Meu coração
é um balde despejado.” (Fernando Pessoa)
"Veja bem, nosso caso é uma porta
entreaberta" (Luiz
Gonzaga Jr.)
“O Pão de
Açúcar era um teorema geométrico.” (Oswald de Andrade)
“Amar é
mudar a alma de casa.” (Mario
Quintana)
“Solidão
é uma ilha com saudade de barco.” (Adriana Falcão)
"A
noite é luz sonhando." (C. Drummond de Andrade)
“O pavão
é um arco-íris de plumas.” (Rubem Braga)
“O mundo
é um moinho.”
(Cartola)
“Lá fora
a noite é um pulmão ofegante.” (Fernando Namora)
"A filosofia
é o moinho de vento
da razão que
gira em
torno de si
mesma ." (F.
Mezzina)
Sugestão: O livro O carteiro e o poeta e posteriormente
sua adaptação homônima para o cinema mostram diálogos interessantes entre Pablo
Neruda e o carteiro Mario Ruoppolo a respeito das metáforas.
3 - Metonímia ou
sinédoque: é a troca
de um termo por outro em virtude de haver entre eles alguma relação ou
associação que permita a um deles ser evocado pelo outro. É
classificada pelo tipo de relação que associa um termo ou palavra a outra. Eis
alguns casos mais comuns:
a) O autor pela obra:
Ler
Torquato Neto.
Na minha
casa, há um Rodin no canto da sala.
b) O possuidor pelo possuído, ou
vice-versa:
Ir ao
açougueiro.
c) O lugar pela coisa ou pelo
produto:
A
população deve ir à Câmara protestar.
d) A causa pela consequência, ou
vice-versa:
Soldados
são os mensageiros da morte.
Sócrates
tomou a morte.
e) O continente pelo conteúdo:
Bebi
vários copos de água por causa do ar seco daquela região.
f) O instrumento pela causa
ativa:
Meu primo
era muito bom de garfo, por isso morreu.
g) O sinal pela ideia
significada:
O trono
esteve em perigo naqueles tempos.
h) A parte pelo todo
Depois
daquele furacão, muitas famílias ficaram sem teto.
i) A espécie pelo indivíduo
Na década
de 1960, muitos duvidaram que o homem foi à Lua.
j) A coisa por seu símbolo
A cruz
ainda é a maior religião do mundo.
4 - Antonomásia: é
um tipo de metonímia em que se substitui o nome de alguém para
designá-lo por uma qualidade, atributo ou feito que o diferencia dos outros.
Exemplos:
o Poeta Negro
(Cruz e Sousa), o Rei
do Futebol (Pelé), um
Nero (um homem
cruel ), um
Romeu (um homem
apaixonado), o pai dos burros (dicionário ), o rei das selvas
(leão ), o pai da aviação (Santos
Dumont), O herói sem nenhum caráter (Macunaíma), o cavaleiro das trevas
(Batman), etc.
5 - Catacrese: caracteriza-se pela nomeação ou caracterização
de algum objeto
ou ação, que
não tenha vocábulo
próprio, por analogia, semelhança
física ou material com outro (cabelo de
milho, cabeça de alfinete, etc.); ou mesmo pelo desconhecimento do nome a ele
conferido pela ciência (palato por céu da boca, panturrilha por barriga da
perna, etc.); ou por
uma espécie de abuso
no emprego da palavra
a ser “transferida” (sacar dinheiro
no banco , encaixar
uma ideia na cabeça , etc.). Por isso , a catacrese
em muito
se assemelha à metáfora , porém elas diferem pelo uso corrente, habitual
e unívoco de sentido daquela.
Exemplos:
mão de pilão , pena
de aço , andar a cavalo
numa vassoura , prateleira
cheia de livros ,
embarcar no trem ,
árvore genealógica, aterrissar no mar , amolar a paciência , folha
de zinco , torrar
a paciência , maçã do rosto , dente de
alho , pé da página, dente do serrote,
pescoço de garrafa, nariz do avião, etc.
“Redondos
tomates de pele quase estalando.” (Clarice Lispector)
6 - Sinestesia: consiste
na utilização
de duas percepções sensoriais ou mais, contanto que combinadas, na exposição de
uma sensação , objeto ,
circunstância , situação ,
etc.
Exemplos:
cheiro gostoso, voz macia, voz aveludada, som claro ,
gosto áspero, perfume doce, olhar gelado, etc.
“Indefiníveis
músicas supremas,
Harmonias
da Cor e do Perfume...
Horas do
Ocaso, trêmulas, extremas
Réquiem
do Sol que a Dor da luz resume...” (Cruz e Sousa)
“Avista-se
o grito das araras.” (Guimarães
Rosa)
“Por uma
única janela envidraçada, entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras.” (Clarice Lispector)
“Que
gigante tentação enfeitada/Multi-cor, Ultra-som...” (Jorge Du Peixe)
Figuras de pensamento
7 - Perífrase: é o
uso de uma palavra ou
expressão no lugar do vocábulo
próprio . Designa os seres
por meio de seus atributos ,
qualidades ou
ações.
Exemplos: O primeiro presidente eleito de forma
legítima depois da ditadura militar foi cassado. (Fernando Collor)
“O maior país da América do Sul tem uma
dívida pública que faz juz ao seu tamanho.” (Brasil)
“A rede mundial de computadores tornou-se
um instrumento para a consolidação da ‘ditadura da informação’.” (Internet)
8 - Antítese: é
construída a partir do emprego de palavras ou
ideias de sentido oposto
na mesma expressão. Entretanto ,
apesar de serem opostas, as ideias são conciliáveis, verossímeis ou
possíveis, no contexto dado pela situação comunicativa em
questão, de apresentarem-se na mesma
sentença.
Exemplos:
Ela acendia uma vela
para Deus e outra
para o diabo .
“Era o porvir - em frente ao passado.” (Castro Alves)
“Museu de
grandes novidades.” (Cazuza)
“O
inferno nem é tão longe/Bem depois de onde nada se esconde/Mais perto do que
distante” (Jorge Du
Peixe)
“Ver mais
claro no escuro.” (Tim
Maia)
“Amigos e
inimigos estão, amiúde ,
em posições
trocadas. Uns nos querem mal , e fazem-nos bem . Outros nos
almejam o bem , e nos
trazem o mal.” (Rui
Barbosa)
“Só
depois de muito tempo
Fui
entender aquele homem
Eu queria
ouvir muito
Mas ele
me disse pouco...” (Edgard
Scandurra, “Dias de Luta”)
“Onde queres prazer sou o que dói
E onde queres tortura , mansidão
Onde queres um lar , revolução
E onde queres bandido sou herói ” (Caetano Veloso)
9 - Paradoxo: é uma antítese
extremada a ponto de se fundirem dois opostos em uma só ideia, o que
a torna absurda ,
ilógica , inverossímil ou inconciliável.
Exemplos:
desespero da espera , a voz
do silêncio , a inocente
culpa , etc.
“Mudaram
as estações
Nada
mudou
Mas eu sei
que
Alguma
coisa aconteceu
Tá tudo
assim
Tão
diferente...” (Renato
Russo, “Por enquanto”)
10 – Eufemismo: é
a expressão
de ideias rudes, desagradáveis ou
deselegantes, por meio
de construções suaves
e mais polidas.
Exemplos:
Uma pequena e importante parcela da população é portadora de necessidades
especiais.
O
deputado naquela ocasião foi severamente reprimido e ofendido pela platéia.
(xingado)
O
governante faltou com a verdade. (mentiu)
Ele se
apossou do alheio. (roubou)
Era um
tumor que o deixava tão abatido. (câncer)
"Era
uma estrela divina que ao firmamento voou!" (Álvares de Azevedo) (morte)
"Quando
a indesejada da gente chegar." (Manuel Bandeira) (morte)
Observação:
o contrário do eufemismo é o disfemismo,
que consiste no uso de termo rude, depreciativo, ridículo, sarcástico ou chulo,
em vez de outro considerado neutro, por exemplo, “pintor de rodapé” no lugar de “pessoa baixa” ou “rolha de poço” no lugar de “pessoa obesa”. É
importante salientar que ambas as figuras de linguagem têm uma forte
dependência do tempo histórico, dos costumes e das transformações sociais para
serem reconhecidas, porque expressões eufemísticas numa época podem ser
consideradas disfemísticas em outra, tal como a expressão “negrinho” para se
referir a pessoas de pele escura ou negra.
11 – Hipérbole: é
toda expressão
caracterizada pelo exagero ou por ênfase extremada numa característica,
consequência ou avaliação de uma pessoa, de um objeto ou mesmo de um
acontecimento.
Exemplo:
Lúcia morreu de tanto rir .
Falei a
solução do problema mil vezes.
O cérebro dele é do tamanho
de uma ervilha cortada
pela metade .
Trazem ferocidade e furor
tanto ,/Que
a vivos medo
e a mortos faz espanto.
Ele
possuía um mar
de sonho .
Ela
gastou rios de dinheiro .
“Se eu
pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que
todas as vertidas desde Adão e Eva.“ (Machado de Assis)
“Todo
sorriso é feito de mil prantos, toda vida se tece de mil mortes.” (Carlos de Laet)
12 - Prosopopéia ou personificação: caracteriza-se pela atribuição de características
humanas ou animadas ao que é inumano ou inanimado. Essa é a essência
da figura de linguagem
caracterizada pela atribuição
de capacidade de comunicação, de sentimentos, de características e de ações típicas dos seres
humanos ou
animados a seres ou
objetos , os quais não
podem, pensando-se no que é verossímil , desempenhar tais características .
Exemplos:
“O mau tempo competia contra o raiar do
sol outonal.”
“O
Governo apostou na solidez da moeda nacional .”
“As grandes cidades
já não
dormem...”
“Como o passado criou um
conjunto de fatores ...
“Entre os
meios para difundir a pedofilia, podemos citar
a Internet como
o principal , porque
é um meio
mais anônimo...”
O galo cantou ferozmente antes de entrar na rinha, onde
encontraria o seu ocaso nos esporões de oponente mais graúdo, calculista e
feroz.
“... os
rios vão carregando as queixas do caminho.” (Raul Bopp)
“Um frio
inteligente (...) percorria o jardim....” (Clarice Lispector)
“Outro
retrato em branco e preto/A maltratar meu coração.” (Chico Buarque)
“O tempo
passou na janela e só Carolina não viu.” (Chico Buarque)
“Já
apertaram o botão da folia/Terreno de alegoria maior/E as avenidas já fervendo
suadas...” (Jorge Du
Peixe)
13 – Ironia: é a expressão em
que se diz o oposto
do que se pensa com a intenção de criticar ou ridicularizar uma
ideia ou uma pessoa ,
ou seja, é uma forma
intencional de dizer
o contrário do que
se pretendia exprimir. A ironia, muitas vezes, pode ser sarcástica ou depreciativa.
Exemplos:
O aluno foi reprovado em apenas 12 matérias .
Que belo presente de aniversário ! Minha
casa foi assaltada.
Aquele
cliente foi sutil como um elefante.
“A
excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.” (Monteiro Lobato)
“Moça
linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor!” (Mário de Andrade)
Obs.: a ironia depende muito do contexto de enunciação para ser bem compreendida.
14 – Gradação: ocorre quando
há uma sequência ascendente (clímax) ou descendente (anti-clímax) de palavras
- sinônimas ou não
– que intensificam uma mesma ideia, ou
seja, é a expressão progressiva do pensamento por meio de palavras.
Exemplos:
Ele murmurou, falou, gritou e, por fim , esbravejou loucamente .
“A Clonagem nasceu como
um sonho, tornou-se uma dura realidade e, agora , constituiu-se como
o veículo do desastre.”
“Já se
supunha um príncipe, um gênio, um deus, mas que caiu das alturas, rodopiou no
ar e estatelou-se no abismo.” (Machado de Assis)
“O
trigo...nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se.” (Padre Antônio Vieira)
15 – Apóstrofe: consiste na invocação ou no chamamento de alguém
ou de algo que foi personificado, em função do objetivo de um discurso poético,
sagrado, etc. Caracteriza-se pelo chamamento do interlocutor da mensagem, seja
imaginário ou real. Para tanto, usa-se um vocativo.
Exemplos: "Liberdade, Liberdade,
Abre as
asas sobre nós,
Das
lutas, na tempestade,
Dá que
ouçamos tua voz..." (Osório
Duque Estrada)
“Ó mar
salgado, quanto do teu sal
São
lágrimas de Portugal.” (Fernando
Pessoa)
“Deus!
Deus! Onde estás que não responde? (Castro Alves)
Figuras de som ou harmonia
16 – Paronomásia:
consiste
no emprego de palavras
na mesma expressão com
som e grafia semelhante
ou idêntico ,
porém com
significação diferente.
Exemplos:
“O Brasil é um país de mandados e mandatos, estes, de corrupção, aqueles, de prisão.”
Além dos
migrantes, o Brasil deve preocupar-se com
emigrantes que
a cada dia
saem do país a procura
de melhores oportunidades
no Japão, nos EUA, etc.
Obs.: A paronímia é a relação que se
estabelece entre duas ou mais palavras que
possuem significados diferentes , mas
são muito
parecidas na pronúncia e na escrita , ou
seja, são parônimas. Exemplos: cavaleiro – cavalheiro ,
absolver – absorver, etc. Essa interação pode produzir muitos erros quando somada à desatenção
do produtor de texto, como nos exemplos seguintes :
“É ponto passivo...” (pacífico)
“Discriminar
a maconha ...” (descriminalizar)
“A individualidade destrói qualquer sonho de propostas
coletivas para a sociedade.” (individualismo)
Segue uma pequena
lista de parônimos:
Comprimento
= extensão
Cumprimento
= saudação , ato
de cumprir
Delatar =
denunciar
Dilatar =
retardar , estender
Descrição
= representação
Discrição
= reserva
Emigrante
= o que sai do próprio
país.
Imigrante
= o que entra em
país estranho.
Migrante
= o que se desloca dentro de um mesmo país.
Emergir =
vir à tona.
Imergir =
mergulhar.
Flagrante
= evidente , óbvio .
Ato em
que a pessoa
é surpreendida.
Fragrante
= perfumado , aromático .
Infligir
= aplicar ou
impor castigo .
Infringir
= transgredir , violar (leis e regras ).
Mandado =
que deve ser ,
para ser feito .
Mandato =
autorização, procuração .
Ratificar
= validar , confirmar .
Retificar
= emendar , corrigir .
Sortido =
abastecido (variadamente).
Surtido =
do verbo surtir
(resultar ).
Soar = produzir som , ecoar.
Suar =
transpirar.
Tráfego =
trânsito, fluxo.
Tráfico =
comércio ilegal.
17 - Aliteração (consoantes), assonância (vogais) e eco: são
repetições
de fonemas de mesma natureza.
Exemplos:
Ivo tardou em ver o trem, e nunca mais viu a uva. (Herbert Farias) aliteração
“A população
deve tratar a corrupção
com pressão política ....” eco
“Atualmente, o Brasil vem passando por problemas ,
unicamente, ligados a desigualdade social ,
o que desmente a máxima
popular que
esse é essencialmente o país do futuro.” eco
“Brilham
com brilhos sinistros.” (Eugénio
de Castro) assonância
“Sou Ana,
da cama
Da cana,
fulana, bacana
Sou Ana
de Amsterdam.” (Chico
Buarque) assonância
“Quando
eu morrer, não quero choro nem vela/Quero uma fita amarela gravada com o nome
dela” (Noel
Rosa) eco
18 - Onomatopéia: é a imitação
do som natural
de seres animados e inanimados, de processos,
de fenômenos de qualquer natureza, etc.
Exemplos:
tique-taque, toc-toc, tilintar , reco-reco , teco-teco, buá, beep, tssss, pum , tico-tico, bem-te-vi, ploft, bam, atchim,
chuá-chuá, zunzunzum, etc.
“E, no bramido daquele mar, os muitos sons se dissociavam – grugulejos
de redemoinhos, sussurros de remansos, chupões de panelas, chapes de encontros
de ondas...” (Guimarães Rosa)
Figuras sintáticas ou de
construção
19 - Elipse:
consiste na omissão de um ou mais termos de uma oração ,
ou mesmo
de uma oração inteira ,
que podem ser
facilmente subentendidos no contexto.
Exemplos:
“Na rua , tanto
barulho que
ficamos ensurdecidos.”
Empreste-me
essa folha.
Como
estávamos exaustos, preferi encurtar nossa viagem.
20 - Zeugma: é um tipo de elipse em que se
omite um termo anteriormente enunciado.
Exemplos:
Eu vi coisas lindas, realmente emocionantes ;
ela , coisas
abomináveis , terríveis
aos seus olhos .
Na terra dele só havia mato ; na minha, só
prédios.
Meus primos conheciam todos .
Eu , poucos.
21 - Assíndeto: é um tipo de elipse que
ocorre quando um conectivo é omitido.
Exemplos:
Todos esperamos se faça justiça.
Foi ao
“shopping”, andou como nunca, viu diversas vitrines, saiu sem comprar nada.
"Vim,
vi, venci." (Júlio
César)
"Foi
apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio
ruída pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a
fogueira." (Graciliano
Ramos)
22 - Polissíndeto: é a repetição de um
conectivo geralmente por razões estilísticas.
Exemplos:
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta,
e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)
“Para a
humanidade, nem a Nanotecnologia, nem a Física Quântica, nem a Engenharia
Genética serão capazes de reabilitar a Terra.”
"O
amor que a exalta e a pede e a chama e a implora." (Machado de Assis)
"No
aconchego
Do
claustro, na paciência e no sossego
Trabalhe,
e teima, e lima, e sofre, e sua!" (Olavo Bilac)
23 - Anáfora: é a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases,
criando, assim, um efeito sonoro, mas, antes de tudo, um recurso de ratificação
e de estabelecimento de coerência no texto. Pode ainda ser empregada como
recurso retórico, o que é muito comum em sermões.
Exemplos:"Se
você gritasse
Se você
gemesse,
Se você
tocasse
a valsa
vienense
Se você
dormisse,
Se você
cansasse,
Se você morresse...
Mas você
não morre,
Você é
duro José!" (Carlos
Drummond de Andrade)
Ilha
cheia de graça
Ilha
cheia de pássaros
Ilha
cheia de luz
Ilha
verde onde havia
mulheres
morenas e nuas" (Cassiano
Ricardo)
O que
será que será?
Que vive
nas idéias desses amantes
Que
cantam os poetas mais delirantes
Que juram
os profetas embriagados. (Chico
Buarque)
“Tudo
cura o tempo, tudo gasta, tudo digere.” (Vieira)
24 - Pleonasmo: é
também um caso de repetição. Ocorre com o emprego
de palavras ou
expressões redundantes ou desnecessárias para a completa compreensão
do enunciado (pleonasmo
vicioso e epíteto
da natureza ).
Exemplos:
há séculos atrás ,
a atual vigente, “Dorme, dorme teu sono , ó vã cidade .”, “A mim
resta-me a independência para
chorar.”, monopólio exclusivo, elo de ligação, ela via com seus próprios olhos,
“As minhas roupas, vou queimá-las”, basta apenas, etc.
"Iam
vinte anos desde aquele dia
Quando
com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em
visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira)
"Morrerás
morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
"O
cadáver de um defunto morto que já faleceu." (Roberto Gómez Bolaños)
"E
rir meu riso" (Vinícius
de Moraes)
“Ele
admirava menos a tela que a pintora, ela menos o espetáculo que o admirador, e
eu via-os com estes olhos que a terra fria há de comer.” (Machado
de Assis)
25 - Hipérbato ou inversão: consiste na alteração da ordem
natural e direta dos termos da oração ou mesmo das
orações por razões estilísticas.
Exemplos:
“Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga) (Desisti
de ter passarinho.)
“Se
morrem, descansa dos seus na lembrança .”
(Gonçalves
Dias)
(Descansa dos seus na lembrança , se morre.)
“Ouviram
do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante.” (Joaquim Osório Duque Estrada) (As margens plácidas do Ipiranga
ouviram o brado retumbante de um povo heróico.)
"Bendito
o que , na terra ,
o fogo fez, e o teto ."
(Olavo
Bilac) (Bendito o que
fez o fogo e o teto
na terra .)
“Passeiam,
à tarde , as belas na Avenida .” (Carlos Drummond de Andrade) (As belas passeiam na Avenida à tarde .)
26 - Silepse: é a concordância
que se faz com
a ideia, e não com
a palavra expressa. É também chamada
de concordância ideológica. Há três tipos de silepse : de gênero
(a concordância se faz com a ideia feminina
ou masculina); de número
(a concordância se faz com a ideia singular
ou plural );
e de pessoa (a concordância
se faz com uma pessoa
gramatical diferente
da expressa pela palavra ).
Exemplos:
São Paulo realmente é caótica. [silepse de gênero
- o adjetivo caótica ficou no feminino, porque concorda com
a ideia (a cidade de) São Paulo]
Vossa
Excelência pode ficar tranquilo e calmo. [silepse de gênero
- os adjetivos tranquilo e calmo ficaram no masculino, porque
concordam com a ideia: a pessoa
a quem se dirige o pronome
de tratamento Vossa
Excelência é homem ]
Os paulistas somos bem tratados no Paraná. [silepse de pessoa -
o verbo ser
concorda com a primeira
pessoa do plural
(nós ), apesar
de o sujeito expresso ser
“Os paulistas” (terceira pessoa
do plural ). Com
esse recurso ,
o emissor da mensagem
quis passar a ideia de que
ele também
é paulista, de que ele
se inclui entre os paulistas ]
A gente não quer só alimento . Queremos amor
e paz. [silepse de número
- o verbo querer
ficou no plural , e seu
sujeito oculto
(A gente ) é singular ]
27 - Anacoluto: é uma ruptura da ordem
lógica da frase. É a figura de linguagem que consiste na mudança da construção sintática de
forma abrupta e inesperada no meio da frase, o que faz alguns termos parecerem desligados
do resto do período.
Exemplos: “O Alexandre,
as coisas não lhe estão indo muito bem. A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)
“Essas
empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.” (Alcântara Machado)
“...umas
carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas de tão
imprestáveis.” (J. Lins
do Rego)
28 - Hipálage: é uma figura de linguagem
construída a partir da atribuição, a um termo, de uma qualidade que previsivelmente
pertence a outro termo da mesma sentença.
Exemplos:
"Fumando um pensativo cigarro." (Eça de Queirós)
"Todos
os dias de jejum come um peixe austero." (Eça de Queirós)
“..em
cada olho um grito castanho de ódio.” (Dalton Trevisan)
29 - Anadiplose: é a repetição da última
palavra ou frase de um verso ou uma sentença no início da seguinte.
Exemplo: "O córrego é o
mesmo,/Mesma, aquela árvore,/A casa, o jardim./Meus passos a esmo/(Os passos e
o espírito)/Vão pelo passado,/Ai tão
evastado, /Recolhendo triste/Tudo quanto existe/Ainda ali de mim/- Mim
daqueles tempos!" (Manuel
Bandeira)
30 - Epístrofe: consiste na repetição da
mesma palavra ou expressão no final de cada oração ou verso de um texto ou
parte dele.
Exemplos:“o
dia não veio,
o bonde
não veio,
o riso
não veio..." (Carlos
Drummond de Andrade)
"Homem!
Vive por
Deus!
Sofre por
Deus!
Morre por
Deus!" (Guerra
Junqueiro)
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