Novo de novo
Por Estéfani Martins para o zine Páginas Vazias
Coluna Ouvidosnegros
sambluesoul.blogspot.com
Versões de músicas
consagradas já proporcionaram a humanidade momentos únicos tanto de horror tacanho
e descartável como de prazer estético incomparável. Exemplificam a primeira
tradição, as versões de gosto duvidoso de sambas históricos assassinados pelas
interpretações de Emílio Santiago e Simone. Do outro lado, merecem honrosa
lembrança as muitas versões inspiradas de velhos blues interpretados por bandas
como Rolling Stones, Canned Heat, Cream, etc. Outra lembrança imediata é a
versão do clássico “Maracatu atômico” do trovador moderno Jorge Mautner
orquestrada pela banda símbolo do manguebeat Chico Science e Nação Zumbi, ou
ainda a versão de “Bullet blue Sky” do U2 feita com a dureza e a potência do
Sepultura, que, aliás, deu mais consistência à música do que seus autores
conseguiram. Vale lembrar também as versões do Metallica feitas pelo ótimo
quarteto Apocalyptica, especialmente a já antes belíssima “Fade to Black”, que
ganhou uma versão irretocável, sem dizer nas versões arrebatadoras de “Master
of Puppets”, “Seek and destroy”, entre outras. Outro grande momento em que
músicas já excelentes foram reinventadas por obra de gênios como Elis Regina e
Hermeto Pascoal foi no Festival de Montreaux, em 1979, quando eles deram cores
novas a clássicos da música brasileira com interpretações maravilhosas e no
improviso de “Corcovado”, “Asa branca” e “Garota de Ipanema”.
Sobre o mesmo tema, sempre
ficava desconfiado de versões que muito modificaram especialmente o estilo
original da música, mas tenho ficado surpreso com pancadas como “Killing in the
name of” da sempre saudosa banda Rage Against the Machine, reinterpretada pelo
inventivo grupo The Apples; ou “War Pigs” e “The Wizard” do eterno Black
Sabbath, ou a quebradeira total do clássico “Moby Dick” do Led, ou ainda
“Crostown traffic” do deus Jimi Hendrix e “Helter Skelter”, do álbum branco dos
Beatles convertidas em petardos funk pela excelente e criativa banda Bonerama.
Enfim, versões ou
regravações são formas de sentirmos novidade no que se imortalizou pela
qualidade e pela atemporalidade e, assim, ficamos com dois ou mais olhares
sobre uma mesma obra. Claro que isso pode também servir como caça-níqueis ou
mesmo como “solução” para a falta de inspiração sempre a espreita até de
grandes bandas. Entretanto, esses são os riscos necessários de se lidar com a
novidade, especialmente quando o novo visita a maravilha dos velhos e
monumentais long plays na estante.
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