Clique abaixo para visualizar a prova.
Prova bimestral - Redação
Professor Estéfani Martins
TEXTO: 1 - Comum à
questão: 1
O maiúsculo e o minúsculo
(1) É lastimável quando
alguém simplifica em demasia as realidades complexas: perde a proporção dos
fatos e se põe a fazer afirmações desprovidas de qualquer fundamento. Enquanto
essas simplificações permanecem nos limites estritos do idiossincrático, parece
não haver maiores problemas, afinal cada um acredita naquilo que bem lhe apraz.
Contudo, quando essas simplificações ultrapassam tais limites e começam a
sustentar ações com repercussão para além do idiossincrático, a situação se
torna, no mínimo, preocupante.
(2) É o que tem ocorrido
ultimamente com certa discussão em torno da língua. Nessa área, há, sem dúvida,
questões maiúsculas a serem enfrentadas. O Brasil precisa desencadear um amplo
debate com vista à elaboração de uma nova política linguística para si,
superando os efeitos deletérios de uma situação ainda muito mal resolvida entre
nós.
(3) Essa nova política
deverá, entre outros aspectos, reconhecer o caráter multilíngue do país (o fato
de o português ser hegemônico não deve nos cegar para as muitas línguas
indígenas, europeias e asiáticas que aqui se falam, multiplicidade que
constitui parte significativa do patrimônio cultural brasileiro). Ao mesmo
tempo, deverá reconhecer a grande e rica diversidade do português falado aqui,
vencendo de vez o mito da língua única e homogênea.
(4) Será preciso incluir,
nessa nova política, um combate sistemático a todos os preconceitos
linguísticos que afetam nossas relações sociais e que constituem pesado fator
de exclusão social. E incluir, ainda, um incentivo permanente à pesquisa
científica da complexa realidade linguística nacional e à ampla divulgação de
seus resultados, estimulando com isso, por exemplo, um registro mais adequado,
em gramáticas e dicionários, da norma-padrão real, bem como das demais
variedades do português, viabilizando uma comparação sistemática de todas elas,
como forma de subsidiar o acesso escolar (hoje tão precarizado) ao padrão oral
e escrito.
(5) Apesar de termos essas
tarefas maiúsculas à frente, foi uma questão minúscula que, a partir de uma
grosseira simplificação dos fatos, acabou por tomar corpo em prejuízo de todo o
resto: a presença de palavras da língua inglesa em nosso cotidiano.
(6) Uma observação
cuidadosa e honesta dos fatos nos mostra que, proporcionalmente ao tamanho do
nosso léxico (composto por cerca de 500 mil palavras), esses estrangeirismos
não passam de uma insignificante gota d’água (algumas poucas dezenas) num
imenso oceano.
(7) Mostra-nos ainda mais
(e aqui um dado fundamental): muitos deles, pelas próprias ações dos falantes,
estão já em pleno refluxo (a maioria terá, como em qualquer outra época da
história da língua, vida efêmera).
(Carlos Alberto Faraco.
Folha de S. Paulo. 13/05/2001).
1 - Analise os dois
segmentos a seguir e identifique o conectivo que seria coerente inserir entre
eles:
O Brasil precisa desencadear um amplo debate com vista à elaboração de uma nova
política linguística.
[O Brasil precisa] superar os efeitos deletérios de uma situação ainda muito
mal resolvida entre nós.
a)
não obstante
b)
uma vez que
c)
mesmo que
d)
a fim de
e)
ainda assim
TEXTO: 2 - Comum às
questões: 2 e 3.
Observe o parágrafo
abaixo:
“Em 2006, foi condenado
pelo crime em júri popular. No mesmo ano, teve a sentença confirmada pelo
Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo e, dois anos mais tarde, pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ). Como explicar o fato de que continua livre? A
resposta está, sobretudo, numa mudança ideológica que começou a tomar corpo no
Supremo Tribunal Federal (STF) no início dos anos 2000. Até a década de 90, o
STF era composto de uma maioria de ministros ditos conservadores – termo que –
em direito penal, indica aqueles que têm uma interpretação rigorosa da lei, em
oposição, por exemplo, aos ‘garantistas’, mais preocupados em assegurar os
direitos fundamentais do réu.
Grossíssimo modo,
conservadores seriam aqueles que mandam prender e garantistas, ou liberais,
aqueles que mandam soltar. A partir de 2003, o colegiado de onze magistrados do
STF sofreu sete substituições. O fato de quase todos os novos ministros serem
liberais levou a que uma tese passasse a prevalecer nas decisões do tribunal: o
princípio da presunção da inocência, segundo o qual ninguém será considerado
culpado antes que todos os recursos da defesa sejam julgados. No tempo da
supremacia conservadora no STF, entendia-se que uma condenação em segunda
instância era suficiente para que o réu pudesse ser preso. Agora, com a
hegemonia garantista, desde que ele tenha dinheiro para pagar bons advogados e
entrar com sucessivos recursos na Justiça, poderá ficar solto até a palavra
final do STF, ainda que isso leve quase uma década – como no caso de Pimenta
Neves.”
(DINIS, L. Quase uma
década de impunidade. Veja,
São Paulo, 23 set. 2009. Brasil, p. 74)
2 - Em qual das expressões
abaixo, a jornalista dá entrada para uma mudança de expectativa no processo de
compreensão dos termos jurídicos em foco, de forma mais clara:
a)
“no mesmo ano”
b)
“dois anos mais tarde”.
c)
“até a década de 90”.
d)
“grossíssimo modo”
e)
“no tempo da supremacia conservadora”.
3 - No trecho da
reportagem acima, a jornalista procura mostrar os mecanismos de funcionamento
da justiça brasileira, a partir de um crime bárbaro e que, quase uma década
depois, continua impune. A maneira como ela desenvolve a sua argumentação leva
em conta algumas minúcias, por meio de termos, que procuram driblar um pouco o
peso da linguagem técnica para entender a nossa atual cultura jurídica da
impunidade. Isso acontece porque:
a)
diante do fato inaceitável de um assassino continuar livre, ficaria mais fácil
para o leitor compreender fatos que, no fundo, só aumentam a nossa indignação,
já que favorecem os criminosos endinheirados.
b)
no entendimento da repórter, os criminosos, de alguma maneira, serão seriamente
punidos.
c)
o leitor presumível é ingênuo, a ponto de aceitar a impunidade como algo
normal.
d)
investe-se, no final das contas, numa maneira de descrição inteiramente voltada
para a própria supremacia da linguagem técnico-jurídica.
e)
indiferente ao que acontecer, as tendências conservadoras ou garantistas serão
legitimadas, simplesmente, na total capacidade de auto-ajuste do nosso sistema
jurídico.
TEXTO: 3 - Comum à
questão: 4.
Leia o poema a seguir.
LITANIA DOS POBRES
Os miseráveis, os rotos
são as flores dos esgotos.
São espectros implacáveis
os rotos, os miseráveis.
São prantos negros de
furnas
caladas, mudas, soturnas.
São os grandes visionários
dos abismos tumultuários.
As sombras das sombras
mortas,
cegos, a tatear nas
portas.
Procurando o céu, aflitos
e varando o céu de gritos.
Faróis à noite apagados
por ventos desesperados.
Inúteis, cansados braços
pedindo amor aos Espaços.
Mãos inquietas, estendidas
ao vão deserto das vidas.
Figuras que o Santo Ofício
condena a feroz suplício.
Arcas soltas ao nevoento
dilúvio do Esquecimento.
Perdidas na correnteza
das culpas da Natureza.
(...)
(CRUZ E SOUSA, Os melhores
poemas de Cruz e Sousa, p.89)
4 - Julgue verdadeiras (V)
ou falsas (F) as assertivas acerca da relação entre os aspectos expressivos,
gramaticais e semânticos do fragmento do poema:
(
) Na expressão “prantos negros” (v.5), o
poeta lança mão de uma figura de linguagem denominada sinestesia.
(
) O substantivo “céu”, na sexta estrofe,
tem seu sentido modificado em função dos verbos que o acompanham.
(
) O substantivo próprio “Espaços”, na
oitava estrofe, evoca um ser superior a quem se dirige a súplica justificada
pelo título do poema.
( )
A unidade de sentido do poema é perturbada pelo fenômeno da elipse, cujo
referente não é recuperado no próprio texto.
A sequência correta é:
a)
V, V, F, F.
b) V, F, F, V.
c) F, V, F, V.
d)
V, V, V, F.
e)
V, F, V, V.
TEXTO: 4 - Comum à
questão: 5.
Remorso
1Às vezes, uma dor me
desespera. . .
2Nestas ânsias e dúvidas em
que ando,
3Cismo e padeço, neste
outono, quando
4Calculo o que perdi na
primavera.
6Versos e amores sufoquei
calando,
7Sem os gozar numa explosão
sincera. . .
8Ah! mais cem vidas! com
que ardor quisera
9Mais viver, mais penar e
amar cantando!
11Sinto o que esperdicei na
juventude;
12Choro, neste começo de
velhice,
13Mártir da hipocrisia ou da
virtude,
15Os beijos que não tive por
tolice,
16Por timidez o que sofrer
não pude,
17E por pudor os versos que
não disse!
BILAC, Olavo. Melhores
poemas de Olavo Bilac/Seleção de Marisa Lajolo. 4ª ed. São Paulo: Global, 2003,
p. 106. (Melhores poemas: 16)
5 - Nos versos “Cismo e
padeço, neste outono, quando/Calculo o que
perdi na primavera”, os termos destacados
a)
referem-se, denotativamente, às estações do ano, que são marcadas por
características bem específicas.
b)
expressam fases da vida do eu lírico, apresentadas por meio de antítese.
c)
constituem exemplos de metonímias, expressando, respectivamente, a velhice e a
juventude.
d)
referem-se às etapas da vida do eu lírico, representadas pelo eufemismo.
e)
são usados de forma conotativa apenas para satisfazer as exigências da estética
parnasiana.
TEXTO: 5 - Comum à
questão: 6.
Mais de 25 séculos após
Heráclito de Éfeso dizer que
Não se toma banho duas
vezes no mesmo rio,
Raul Seixas declarou
Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha
opinião
Formada sobre tudo
(Metamorfose ambulante – Raul Seixas)
E Lulu Santos comparou a
vida a uma onda:
Nada do que foi será
De novo do jeito que já
foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
(Como Uma Onda - Lulu Santos / Nelson Motta)
6 - A intertextualidade
evidente entre o pensamento de Heráclito e as letras das músicas de Raul Seixas
e Lulu Santos se realiza por:
a)
Alusão.
b)
Paráfrase.
c)
Pastiche.
d)
Paródia.
e)
Citação
TEXTO: 6 - Comum à
questão: 7.
O que está acontecendo no
Congresso Nacional é uma verdadeira vergonha para o Brasil. Todos esses
parlamentares, que deveriam ser os verdadeiros guardiões da ética, demonstram
total imoralidade pela maneira como usam o dinheiro público para financiar os
seus próprios benefícios. O pior de toda essa situação é que, no momento de
apurar o caso, ninguém é culpado. Afinal, todos eles são amparados por leis que
favorecem esses desmandos. Esses senhores não sabem respeitar a
população (grifos nossos).
Carta enviada à revista ISTOÉ, publicada no n° 2061,
Ano 32.
7 - “Esses desmandos”, no
próprio texto, retoma
a) todos eles são amparados por.
b) deveriam ser os verdadeiros
guardiões da ética.
c) o pior de toda essa situação é que
ninguém é culpado.
d) a maneira como os parlamentares
usam o dinheiro público.
e) o que está acontecendo no Congresso
Nacional é uma verdadeira vergonha.
8 - Parabéns.
Estou encantado com seu sucesso. Chegar aqui não foi fácil, eu sei. Na verdade,
suspeito que foi um pouco mais difícil do que você imagina. Para início de
conversa, para você estar aqui agora, trilhões de átomos agitados tiveram de se
reunir de uma maneira intrincada e intrigantemente providencial a fim de
criá-lo. Essa é uma organização tão especializada e particular que nunca antes
foi tentada e só existirá desta vez. Nos próximos anos, essas partículas
minúsculas se dedicarão totalmente aos bilhões de esforços jeitosos e
cooperativos necessários para mantê-lo intacto e deixá-lo experimentar o estado
agradabilíssimo, mas ao qual não damos o devido valor, conhecido como
existência.
Adaptado de Bill
Bryson
Essa é uma
organização tão especializada e particular que nunca antes foi tentada e só
existirá desta vez. Considerado o período acima, é correto afirmar que
a) o termo só
foi empregado com o mesmo sentido que se nota em “Enfrentava o cotidiano só e
resignado”.
b) o segmento e
só existirá desta vez reforça, na argumentação, o que se afirma na oração
inicial.
c) o pronome
Essa se refere àquilo que vai ser caracterizado na seqüência da frase.
d) o termo tão é
usado com valor comparativo, como em “Ele é tão simpático quanto o irmão”.
e) o
deslocamento de antes, na construção “Nunca foi tentada antes”, altera o
sentido em que o termo é usado no texto.
9 - Examine os textos:
(...)
Há uma parada instantânea. Entre batem-se, enredam-se, trançam-se e alteiam-se
fisgando vivamente o espaço, e inclinam-se, embaralham-se milhares de chifres.
Vibra uma trepidação no solo; e a boiada estoura ...
A
boiada arranca.
(Os
Sertões, de Euclides da Cunha)
As
ancas balançam e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas,
mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estalos de guampas,
estrondos de baques, e o berro queixoso do gado Junqueira, de chifres imensos,
com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos, de lá do sertão
...
(O
Burrinho Pedrês, de Guimarães Rosa)
Marque
a afirmação incorreta sobre os textos apresentados:
a) Um
elemento comum em ambos os fragmentos é a enumeração das ações do rebanho
durante a condução da boiada.
b) Há
recursos de musicalidade (aliterações) nas palavras (“milhares de chifres.
Vibra uma trepidação”, “dos pastos, de lá do sertão”).
c)
Guimarães Rosa preocupa-se com o ritmo e a reorganização da linguagem no
fragmento.
d) O
interesse principal na obra de Euclides da Cunha é a apresentação lírica dos
hábitos sertanejos e a denúncia do sofrimento pelo trabalho exaustivo de
vaqueiro.
e) A
ambientação sertaneja e seus elementos caracterizadores estão presentes em
ambos os fragmentos, sem preocupação com juízos sociais.
10 - Pudor (Fragmento)
Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca.
“Sílfide”, por exemplo. É dizer “Sílfide” e ficar vendo suas evoluções no ar,
como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa.
“Sílfide”, eu sei, é o feminino de “silfo”, o espírito do ar, e quer mesmo
dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer “silfo”.
Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, “silfo” não voa. Tem o alcance
máximo de uma cuspida. “Silfo”, zupt, ploft. A própria palavra “borboleta” não
voa, ou voa mal. Bate as asas, tenta se manter aérea mas choca-se contra a
parede. Sempre achei que a palavra mais bonita da língua portuguesa é
“sobrancelha”. Esta não voa mas paira no ar, como a neblina das manhãs até ser
desmanchada pelo sol. Já a terrível palavra “seborréia” escorre pelos cantos
da boca e pinga no tapete. [...]
(VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001, p. 69).
Considere as expressões abaixo:
I. “certas palavras” (linha 1)
II. “coisa diáfana” (linha 7)
III. “alcance máximo” (linha 10)
Invertendo-se, em cada
uma delas, a ordem da palavra destacada, ocorrerá alteração de sentido, apenas
em:
a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) I e III
Gabarito
1 - D
2 - D
3 - A
4 - A
5 - B (anulada)
6 - B
7 - D
8 - C
9 - D
10 - A
Nenhum comentário:
Postar um comentário