Eis a teoria relativa à aula da última semana: tipologia textual e dissertação.
Grande abraço a todos,
Professor Estéfani Martins
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Tipologia textual (protótipos textuais)
“Os textos
também podem ser classificados levando-se em consideração o caráter da
interação entre autor e leitor, pois o autor se propõe a fazer algo, e quando
essa intenção está materialmente presente no texto, através das marcas formais,
o leitor se dispõe a escutar, momentaneamente, o autor, para depois aceitar,
julgar, rejeitar. Sob esse ponto de vista da interação podemos também
distinguir os discursos narrativos, descritivos, argumentativos.”
(Kleiman)
“Gerar um texto significa executar uma
estratégia de que fazem parte as previsões dos movimentos dos outros.” (Umberto
Eco)
As
tipologias textuais ou protótipos textuais são mecanismos de construção
textual/discursiva, os quais são produtos de capacidades e necessidades humanas
usadas na interação com
o meio, com o próprio íntimo e com o
outro. Além disso, são formas de apreender, interferir e apresentar a
realidade. Assim, mesmo timidamente, elas podem ser vistas desde tempos primordiais
nas simples ações
cotidianas de contar uma história; instruir ou
ordenar; dialogar; expor um determinado conhecimento; descrever um desejo ou uma nova
experiência sensorial; ou ainda defender um posicionamento ou
uma visão de mundo.
Quanto
a questões técnicas, são sequências linguísticas com especificidades associadas
às estruturas morfológicas mais comuns usadas no texto; a determinadas escolhas
sintáticas; ao maior ou menor grau de subjetividade e conotação na linguagem
empregada; a como são utilizados os verbos quanto ao modo, tempo e aspecto; ao
uso das pessoas do discurso; etc.
Para
essas formas elementares de expressão, foram dados os nomes de narração,
injunção ou instrução, diálogo, exposição, descrição e argumentação, as quais,
de certa forma, tentam exprimir a experiência humana com o texto/discurso. Tais
tipos textuais organizam-se também em função da finalidade e das intenções pretendidas
pelos seus usuários.
Pode-se também dizer
sobre os tipos de texto que, separados ou puros, é muito difícil encontrá-los,
pois é mais comum encontrarem-se misturados na maioria dos gêneros textuais com
os quais tomamos contato em nosso cotidiano. Quanto
a essa questão, é importante ressaltar
que não há pureza na maioria dos textos
produzidos pelo homem quanto à tipologia textual, mas ,
sim , predominância
de uma em relação
à outra.
Nesse sentido , alguns
estudiosos
definem essas relações como uma forma de nomear e
hierarquizar a interação entre as tipologias
textuais a partir
de características substantivas ou
predominantes e adjetivas, tais como traços ,
recursos e ferramentas . Essas inúmeras
possibilidades de interação entre as diferentes tipologias podem classificar um
texto entre os mais variados gêneros textuais, são exemplos: a fábula, o conto,
a dissertação, a carta, o manifesto, a crônica, a notícia, o artigo, o
editorial, o sermão, etc. A seguir, seguem discussões detalhadas sobre as
tipologias ou os protótipos textuais:
Tipologia
textual descritiva
“Descrever é
perceber algo
como se dele fizéssemos parte .”
(Vitório Sá)
“Entendo que
para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado
possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas margens, e na
margem esquerda coloca-se um pescador, e esse pescador possui um temperamento
agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever,
traduzindo em palavras o que não pode deixar de acontecer.”
(Umberto Eco)
_Transforma em
linguagem aquilo que
os cinco sentidos
captam.
_Há a caracterização de pessoas ,
ambientes , objetos ,
sensações , etc., com
a utilização dos cinco
sentidos ou da imaginação
criadora.
_Adjetivos, classificações, atributos e impressões
são recursos
descritivos obrigatórios .
_Constrói “imagens ”
físicas ou psicológicas de um
determinado objeto, sensação, paisagem, pessoa, etc.
_O tempo verbal predominante é o presente.
_Recorte da realidade
a partir de um
ponto de vista
físico ou
ideológico.
_Amplo uso de verbos
de ligação, tais como ser, estar , permanecer ,
parecer , ficar , continuar , virar no sentido de tornar-se, etc.
_Amplo uso de orações nominais.
_Preferência por períodos curtos e orações
coordenadas.
_Amplo emprego
de metáforas , comparações e outras figuras de linguagem .
_O texto
descritivo prescinde de estrutura textual , a não ser pelo fato
de, normalmente , ser
estruturado de forma dedutiva, ou seja, parte de
observações mais gerais para as mais particulares.
_A descrição
pode ser objetiva
ou subjetiva, o que independe do assunto do texto.
_Normalmente, transforma-se em ferramenta
discursiva em textos
jornalísticos, literários, científicos e didáticos.
s.f. ato ou
efeito de descrever ;
reprodução , traçado, delimitação. 1 representação
fiel ; imitação ,
cópia , retrato. 2 representação oral ou escrita de; exposição. 3 estl lit desenvolvimento literário por meio do qual se
representa o aspecto exterior
de seres e coisas. 4 jur num processo ,
a enumeração circunstanciada,
detalhada dos caracteres de algo (...). (Dicionário Houaiss Digital)
Exemplos:
“Simão
Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade,
dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta
para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, -
únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de
feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco
de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar
da consorte.” (Trecho de “O Alienista”
de Machado de Assis)
“A
Wikipédia é uma enciclopédia livre que está sendo construída por milhares de
colaboradores de todo o mundo. Este é um site baseado no conceito de wiki,
o que significa que qualquer internauta, inclusive você, pode editar o conteúdo
de quase TODOS artigos acionando o link "Editar" (Nas abas de conteúdo) que é mostrado em quase todas
as páginas do site.
O projeto Wikipédia
foi iniciado em 15 de Janeiro de 2001, na versão em língua inglesa. Em apenas
um ano de existência, esta versão já possuía quase 10.000 artigos. Até hoje já foram criados mais de 5 milhões
de artigos em dezenas de línguas (246 932 artigos na versão em português).
Todos os dias, centenas de colaboradores de todas as partes do mundo editam
milhares de artigos e criam muitos artigos inteiramente novos.” Fonte: www.wikipedia.org.br
“Eu
não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechada e
cinza, aqui contra a sacada, com gotões
coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um através do
outro. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica
tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo
e balouça, já vai cair, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer
cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já
é uma gotona que se prende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf,
desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.” (Júlio Cortázar)
Tipologia
textual narrativa
“Lembrava
mais do passado que do presente. Morreu empoeirado.”
(Roberto
Prado)
“Contar histórias
para crianças
é a arte que melhor se adapta a nossa
forma de pensar : tocam o ser humano há 4000 anos e o farão no ano
6000.”
(Margaret
Read Mac Donald)
“Toda
história de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!”
(Menotti Del
Picchia)
_Respeita uma determinada
sequência no relato de fatos e acontecimentos reais
ou imaginários, portanto é um texto sequencial.
_Texto marcado por uma determinada cronologia
de eventos e acontecimentos, ou seja, é um discurso submetido a alguma noção de
temporalidade.
_Narrador, personagens ,
espaço , tempo
e enredo são tradicionalmente elementos
importantes para
a caracterização do texto narrativo.
_Geralmente, respeita
a seguinte estrutura
textual : apresentação ,
desenvolvimento , clímax
e desfecho ou ,
simplesmente , começo ,
meio e fim. Contudo, não é obrigatório
que as partes da narrativa estejam dispostas exatamente dessa forma, além de,
muitas vezes, ser comum encontrar narrativas sem apresentação ou desfecho.
_É comum a presença de personagens
que , classicamente, enquadram-se na seguinte disposição : protagonista , antagonista
e coadjuvante.
_Presença de um
conflito na narrativa
que tende ao equilíbrio
ou à solução, normalmente encontrada no clímax do texto.
_Verbos de ação ou processuais são
fundamentais para existência desse tipo de texto.
_Presença intensa de advérbios e locuções
adverbiais.
_Discurso direto ,
indireto e indireto
livre são
amplamente empregados .
_O tempo
verbal predominante é o pretérito .
_É comum a sua presença com tipologia
predominante em gêneros textuais de vários
tamanhos , temáticas
e estruturas , tais
como o romance, a novela, o micro conto, o conto, a fábula, a narrativa oral, o
cordel, etc., os quais podem ser escritos
admitindo-se eixos temáticos
que permitem classificar
as narrativas como humorísticas, de
aventura, de amor, de terror, de horror, de ficção científica, etc.
s.f. ação, processo ou efeito de narrar ; narrativa 1
exposição escrita
ou oral de um acontecimento
ou de uma série
de acontecimentos mais
ou menos
sequenciados 2 cine tv fala que
acompanha, comenta ou explica uma
sequência de imagens que expõem um acontecimento ou
uma série deles 3 o texto dessa fala
4 sequência de imagens que expõem ou
mostram um acontecimento
ou uma série
deles. (Dicionário Houaiss Digital)
Exemplos:
Prólogo
A coceira no ouvido
atormentava. Pegou o molho de chaves , enfiou a mais
fininha na cavidade . Coçou de leve o pavilhão ,
depois afundou no orifício encerado . E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude , à procura
daquele ponto exato em que cessaria
a coceira .
Até que , traque ,
ouviu o leve estalo
e, a chave enfim
no seu encaixe ,
percebeu que a cabeça
lentamente se abria. (Marina Colasanti, Contos de amor
rasgados)
70,
70, 70, 71, 95, zero. O coração parou. (Ricardo Barioni)
Pensou
em vender a alma. Buscou por dentro, não a encontrou. (Rosa Meire)
Dia dos
namorados
Ontem. Dia dos
namorados. Um casal beijava-se entregue numa praça, quando ocorreu um assalto.
Horas depois, o namorado registrava a queixa em que anunciava o roubo de uma
namorada. (Vitório Sá)
Fábula
Curta
"Ai de
mim!", disse o rato, – "o mundo vai ficando dia a dia mais
estreito". "Outrora, tão grande era que ganhei medo e corri, corri
até que finalmente fiquei contente por ver aparecerem muros de ambos os lados
do horizonte, mas estes altos muros correm tão rapidamente um ao encontro do
outro que eis-me já no fim do percurso, vendo ao fundo a ratoeira em que irei
cair". "– Mas o que tens a fazer é mudar de direção", disse o
gato, devorando-o. (Franz Kafka)
Era uma
vez
Olhei
para o espelho .
Queria que me
dissesse a verdade da minha
beleza e virtudes .
Mas , disse-me: – Você
é um nada ,
nunca irá existir !–
joguei o espelho fora .
Comprei outro .
Tipologia
textual injuntiva, prescritiva ou instrucional
“(...)Um ser ou uma coisa composta de diferentes
partes só pode ter beleza na medida em que estas partes são dispostas numa
certa ordem(...)”
(Aristóteles)
_Uso de linguagem geralmente objetiva,
precisa e clara para orientar e indicar procedimentos capazes de cumprir
determinadas ações.
_Tem como objetivo que o interlocutor
pratique uma determinada ação requerida, desejada; cumpra meticulosamente
diferentes etapas - cronologicamente ordenadas - de execução de uma ação; seja
orientado sobre o que ou como fazer determinada tarefa; seja incitado à
realização de um dado procedimento; etc.
_Muitas vezes, um texto injuntivo tem a
seguinte estruturação: 1ª parte: descrição dos materiais e circunstâncias
necessárias para a realização da uma ação; 2ª parte: enumeração de
procedimentos, os quais podem ser limitados quanto ao tempo, ao espaço, à
quantidade, á qualidade e a circunstâncias a ater-se para o adequado
desenvolvimento de algum projeto, ação ou procedimento.
_As formas verbais mais utilizadas na
injunção são a 3ª pessoa do modo imperativo: "Depois de quentes, mexa
todos os ingredientes."; o presente do indicativo com sujeito
indeterminado: "Depois de quentes, mexe-se todos os ingredientes."; o
infinitivo: "Depois de quentes, mexer todos os ingredientes.".
_Uso frequente de advérbios de modo e de negação.
_O enunciado é feito na perspectiva do fazer
posterior ao tempo da enunciação.
_São exemplos de gêneros textuais em que essa
tipologia textual é predominante: os manuais de instrução, as receitas
culinárias, as constituições, os regimentos, etc.
s.f. 1.ato de injungir, de
ordenar expressamente uma coisa; ordem precisa e formal. 2.influência
coercitiva de leis, regras, costumes ou circunstâncias; imposição, exigência,
pressão. (Dicionário Houaiss)
Exemplos:
Berinjela
recheada com atum
Ingredientes:
1 berinjela;
1 lata de atum ralado;
1 pão francês;
50g de queijo ralado (gruyère);
1 colher (sobremesa) de manteiga;
Sal, pimenta-do-reino e azeite.
Preparo:
Corte a berinjela ao meio no sentido do
comprimento. Divida cada metade em três partes e retire o miolo. Tempere e leve
ao forno preaquecido a 180° por 10 min.
Para a crosta:
Bata no liquidificador o pão picado, o queijo
e metade da manteiga. Retire a berinjela do forno, recheie com o atum
(escorrido) e cubra com queijo. Volte ao forno até dourar. Sirva com salada.
Fonte: http://www.estadao.com.br/paladar
Preâmbulo
às instruções para dar corda ao relógio
Pensa nisto: quando
te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de
rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que
te dure muitos e bons, é uma ótima marca, suíço com não sei quantos rubis, não
te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará
contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado
frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens
de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente
do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação
de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver
as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço
telefônico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao
chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior
às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios.
Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento
do relógio.
Instruções
para dar corda ao relógio
Lá bem no fundo está
a morte, mas não tenha medo. Segure o
relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar.
Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um
leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a
sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma
coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr
em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se
poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o
frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não
corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada. (Julio
Cortázar)
Tipologia
textual expositiva ou explicativa
“O escritor curto em idéias e fatos
será, naturalmente, um autor de idéias curtas, assim como de um sujeito de
escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar
senão breves análises e chochas tolices.” (Rui Barbosa)
_Uso da linguagem com o intuito de explanar,
de fazer entender ou conhecer determinado assunto, de enumerar, de definir, ou
seja, de explicar determinado tema com a pretensão de ser imparcial para que o
leitor, o ouvinte ou o interlocutor possa informar-se sobre o assunto exposto.
_Há certo distanciamento do autor do texto em
relação ao assunto por ele abordado, o que pode produzir um caráter
razoavelmente imparcial ao texto.
_Presença intensa de orações coordenadas
explicativas e subordinadas adjetivas explicativas.
_Predomínio da ordem direta na construção das
orações e frases.
_Na maioria das vezes, a exposição das ideias
e fatos respeita uma temporalidade lógica.
_A norma padrão é normalmente exigida na
confecção desse tipo de texto, em especial, nos escritos.
_Uso de conectivos de esclarecimento,
reiteração ou reformulação com o intuito de facilitar, esclarecer e explicar
mais detalhadamente o conteúdo do texto (isto é, ou seja, em outras palavras,
etc.).
_Emprego de exemplificações (por exemplo, a
saber, etc.).
_Pode-se fazer uso de comparações e analogias
para facilitar a compreensão das ideias expostas no texto.
_É possível encontrar textos expositivos
construídos com mais de uma explicação sobre um mesmo assunto, com o intuito de
que, pela enumeração de diversos pontos de vista sobre tal tema, um determinado
interlocutor se informe para melhor produzir suas próprias conclusões sobre o
assunto em questão.
_É um texto com preocupações informativas.
_São exemplos dessa tipologia textual a
notícia, muitas dissertações, o livro didático, alguns documentos científicos,
etc.
s.f. 1. apresentação
organizada de um assunto, oralmente ou por escrito; palestra, explanação. 1.1
ação de declarar, de manifestar. (Dicionário
Houaiss)
Exemplos:
De onde vem a
expressão rock and roll?
A expressão, que
literalmente significa "balançar e rolar", fazia parte da gíria dos
negros americanos desde as primeiras décadas do século XX, para referir-se ao
ato sexual. Assim, ela já aparecia em várias letras de blues e rhythm’n’blues
como "Good Rockin’ Tonight" (1947), de Roy Brown - antes de ser
adotada como nome do novo estilo musical, que surgiu nos anos 50, com Bill
Halley e Elvis Presley, e consistia basicamente na fusão desses ritmos negros
com a branquela música country. Esse batismo costuma ser atribuído ao
disc-jóquei americano Alan Freed (1922-1965), cujo programa de rádio foi um dos
principais responsáveis pela popularização da nova onda, altamente dançante,
que logo contagiou toda a juventude do país e do mundo.
Na década de 60, o
rótulo foi abreviado para rock, para abranger as mudanças provocadas por
artistas como Bob Dylan e Beatles, abrindo um leque de infinitas variações:
rock psicodélico, rock progressivo, folk rock, hard rock, heavy metal etc etc.
A partir daí, o termo rock’n’roll passou a significar exclusivamente o estilo
original, característico da década de 50.
Tipologia
textual argumentativa
"Nada é mais perigoso do que uma
idéia quando se tem apenas uma."
(Émile-Auguste Chartier)
"Não é
triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar."
(Barão de
Itararé)
_Defesa de um
ponto de vista
acerca de algum
assunto , ideia ou
conceito.
_Utilização da linguagem
com o objetivo de, por
meio de exposição
de fatos , ideias e conceitos ,
chegar a conclusões
lógicas e verossímeis que possam
convencer alguém sobre um determinado posicionamento ou opinião.
_Uso de recursos lógicos com a intenção de
fazer convencer o leitor ou o ouvinte de um determinado ponto de vista.
_Emprego de recursos retóricos para cumprir
os objetivos argumentativos do texto.
_Pode empregar até mesmo recursos emotivos
com o intuito de convencer alguém.
_Podem ser empregados recursos denotativos ou
conotativos na construção de argumentos, ainda que aqueles sejam mais
frequentemente utilizados.
_A presença de mais de um ponto de vista em
um texto argumentativo pode ser explicada pelo recurso retórico em que, para
reforçar determinada posição sobre um tema, refuta-se outras, ou seja,
constrói-se um contra-argumento.
_São exemplos dessa tipologia textual o
sermão, muitas dissertações científicas, as defesas orais de advogados em
julgamentos, etc.
s.f. 1.arte, ato ou
efeito de argumentar. 2. Derivação: por extensão de sentido. troca de palavras
em controvérsia, disputa; discussão. 3. Rubrica: termo jurídico. conjunto de
idéias, fatos que constituem os argumentos que levam ao convencimento ou
conclusão de (algo ou alguém). 4. Rubrica: literatura, estilística. no
desenvolvimento do discurso, corresponde aos recursos lógicos, como silogismos,
paradoxos etc. ger. acompanhados de exemplos, que induzem à aceitação de uma
tese e à conclusão geral e final. (Dicionário
Houaiss)
Exemplos:
“Odeio os indiferentes . Como
Friedrich Habel, acredito que viver significa tomar partido . Não
podem existir apenas
homens , estranhos
a cidade . Quem
verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário .
Indiferença é viver sem vontade , parasitismo , covardia , não é vida . Por isso odeio
os indiferentes .
A indiferença é o peso
morto da história .
É a bala de chumbo
para o inovador ,
e a matéria inerte
em que
se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos ,
o fosso que
circunda a velha cidade
e a defende melhor do que o peito dos
seus guerreiros ,
porque engole nos
seus sorvedouros
de lama os assaltantes, os dizima e
desencoraja e às vezes os leva a desistir da gesta heróica. (...)” (Antônio Gramsci)
"A poesia deixa algo em cada leitor: uma
sílaba, uma metáfora, um conceito, uma visão do universo. Cada verso é de
natural ambíguo, tem duas caras, como certas pessoas que eu conheço, ou cem, ou
mil. As palavras não dispõem apenas de uma carteira de identidade;usam várias,
como os ladrões ou os contrabandistas. Costumam sair disfarçadas, ou
incógnitas, ou fantasiadas como no Carnaval. O demónio da polissemia que habita
nelas como uma segunda natureza, torna-as verdadeiros camaleões, que tomam a
cor da paisagem ou do instante." (Ledo Ivo)
"Creio na verdade
fundamental de todas as grandes religiões
do mundo . Creio que
são todas concedidas por Deus e
creio que eram necessárias para os povos a quem essas religiões
foram reveladas. E creio que se
pudéssemos todos ler
as escrituras das diferentes
fés , sob
o ponto de vista
de seus respectivos
seguidores , haveríamos de descobrir
que , no fundo ,
foram todas a mesma coisa
e sempre úteis umas às
outras." (Mahatma Gandhi)
Tipologia textual dialogal ou
conversacional
"A
leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil; e o escrever dá-lhe precisão."
(Francis
Bacon)
“Conversa com
aqueles que possam fazer-te melhor do que és.” (Sêneca)
_Texto produzido por, ao menos, dois
interlocutores que falam preferencialmente sob a lógica dos turnos, ou seja, um
por vez.
_Quanto ao tamanho, não se pode prevê-lo,
visto que um diálogo pode se dar num rápido encontro ou mesmo num debate em um
programa como “Café filosófico” ou “Diálogos impertinentes”.
_Uso recorrente de elementos fáticos.
_Recepção imediata do ato comunicativo.
_Muitos turnos de conversação organizados sob
a lógica da pergunta e da resposta.
_Presença constante de sinais gráficos que
almejam reproduzir alguns recursos inerentes à oralidade, tais como as
reticências, os sinais de pontuação de entoação, onomatopeias, etc.
_Situação comunicativa construída na
perspectiva de uma interação entre os interlocutores. _São exemplos a conversa
telefônica, o debate, a entrevista, etc.
s.m.
1 fala em que há a
interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa. 2 contato e discussão entre duas
partes em busca de um acordo 3 conjunto das palavras trocadas pelas
personagens de um romance, filme etc.; fala que um autor atribui a cada
personagem 4 obra em forma de conversação com fins expositivos, explanatórios
ou didáticos. (Dicionário Houaiss)
Exemplos:
Casal é
tudo igual
Luís Fernando Veríssimo
Ele: – Alô?
Ela: – Pronto.
Ele: – Voz estranha… Gripada?
Ela: – Faringite.
Ele: – Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo
todas as noites pra badalar.
Ela: – E se estivesse? Algum problema?
Ele: – Não, imagina! Agora, você é uma mulher
livre.
Ela: – E você? Sua voz também está diferente.
Faringite?
Ele: – Constipado.
Ela: – Constipado? Você nunca usou esta
palavra na vida.
Ele: – A gente aprende.
Ela: – Tá vendo? A separação serviu para
alguma coisa.
Ele: – Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: – Você sempre viveu sozinho. Até quando
casado só fez o que quis.
Ele: – Maldade sua, pois deixei de lado
várias coisas quando a gente se casou.
Ela: – Evidente! Só faltava você continuar
rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: – Já você não abriu mão de nada. Não
deixou de ver novela, passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone
com as amigas durante horas…
… Silêncio ….
Ela: – Comprar jóias? De onde você tirou essa
idéia? A única coisa que comprei em quinze anos de casamento foi um par de
brincos.
Ele: – Quinze anos? Pensei que fosse bem
menos.
Ela: – A memória dos homens é um caso de
polícia!
Ele: – Mas conversar com as amigas no
telefone…
Ela: – Solidão, meu caro, cansaço… Trabalhar
fora, cuidar das crianças e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à
noite…Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções…
Ele: – Você nunca reclamou disso.
Ela: – E você me perguntou alguma vez?
Ele: – Lá vem você de novo… As poucas coisas
que eu achava que estavam certas… Isso também era errado!?
Ela – Evidente, a gente não conversava nunca…
Ele: – Faltou diálogo, é isso? Na hora,
ninguém fala nada. Aparece um impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem
que faltou diálogo. As mulheres são de Marte.
Ela: – E vocês são de Saturno!
…Silêncio…
Ele: – E aí, como vai a vida?
Ela: – Nunca estive tão bem. Livre para
pensar, ninguém pra me dizer o que devo fazer…
Ele: – E isso é bom?
Ela: – Pense o que quiser, mas quinze anos de
jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: – Eu nunca fui autoritário!
Ela: – Também nunca foi compreensivo!
Ele: – Jamais dei a entender que era
perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer mortal..
Ela: – Limitado e omisso como qualquer
mortal.
Ele: – Você nunca foi irônica.
Ela: – Isso a gente aprende também.
Ele: – Eu sempre te apoiei.
Ela: – Lógico. Se não me engano foi no
segundo mês de casamento que você lavou a única louça da tua vida. Um apoio
inestimável…Sinceramente, eu não sei o que faria sem você. Ou você acha que
fazer vinte caipirinhas numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao
jogo da Copa do Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: – Do que você está falando?
Ela: – Ah, não lembra?
Ele: – Ana, eu detesto futebol.
Ela: – Ana!? Esqueceu meu nome também?
Alexandre, você ficou louco?
Ele: – Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
…Silêncio…
Ele: – De onde está falando?
Ela: – 578 9922
Ele: – Não é o 579 9222?
Ela: – Não.
Ele: – Ah, desculpe, foi engano.
Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.
Ele: Quer dizer que você faz uma ótima
caipirinha, hein?
Ela: – Modéstia à parte… Mas não gosto,
prefiro vinho tinto.
Ele: – Mesmo? Vinho é a minha bebida
preferida!
Ela: – E detesta futebol?
Ele: – Deus me livre… 22 caras correndo atrás
de uma bola… Acho ridículo!
Ela: – Bem, você me dá licença, mas eu vou
preparar o jantar.
Ele: – Que pena… O meu já está pronto.
Risoto, minha especialidade!
Ela: – Mentira! É o meu prato predileto…
Ele: – Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e
estou abrindo um Chianti também. Você não gostaria de…
Ela: – Adoraria!
Ele dá o endereço.
Ela: – Nossa, tão pertinho! São dois
quarteirões daqui.
Ele: – Então? É pegar ou largar.
Ela: – Tô passando aí, Ronaldo.
Ele: – Combinado, vizinha.
–
Lá no caixão ...
–
Sim , paizinho.
–
...não deixe essa aí
me beijar .
(Dalton Trevisan)
Respostas
a uma entrevista:
-
Qual o maior poeta brasileiro atual?
-
Deixa disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em
primeiro lugar. (Mario Quintana)
Gêneros
textuais – Dissertação
“O
fato de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que
não seja completamente absurda; de fato, tendo-se em vista a maioria da
humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja tola do que
sensata.”
(Bertrand Russell)
“O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um
criminoso.”
(Bertolt Brecht)
Introdução
para a teoria de gêneros textuais
"A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual."
(Marcuschi)
Gêneros
textuais são meios de se comunicar produzidos a partir de necessidades de
interação social, econômica, estética e política do homem, produto de inter-relações
perceptíveis e relativamente estáveis entre as tipologias textuais. São criados
a partir de processos históricos, sociais e coletivos, ainda que possam ser
marcados por características e preferências individuais daqueles que os
utilizam para se comunicar. São ferramentas de comunicação, portanto, moldáveis
pelas escolhas individuais, mas também pelo processo histórico e de
transformações pelo qual toda sociedade, especialmente as mais industrializadas
e modernas, passam.
Os
gêneros textuais abarcam desde a simples correspondência informal enviada a um
amigo até o ensaio escrito por um crítico de arte. Enfim, a diversidade de
gêneros textuais que permeiam e definem as formas de comunicação humana,
particularmente a escrita, multiplicaram-se nos últimos anos com o advento da
internet e com as múltiplas fronteiras ultrapassadas ou ignoradas por
produtores de textos e artistas menos preocupados com a pureza e a fôrma de um
gênero textual e mais com a mensagem a ser comunicada, ou seja, na atualidade,
tais modalidades textuais passaram mais frequentemente a ser eventos de
fronteira e submetidos às necessidades de uma ideia ou conceito do que uma
exigência formal sobre como se comunicar.
Gênero
textual - Dissertação
Dissertação é um
gênero textual produto das interações entre certas tipologias textuais, em
especial a argumentação e a exposição, ainda que descrição e narração possam
ser usadas como recursos para construção particularmente de argumentos. Esse
gênero textual é empregado de forma regular para comunicar e documentar debates
de cunho científico, acadêmico, estético, etc., com o intuito de comunicar a
posição de alguém sobre determinado tema de forma organizada e respeitosa de
princípios do pensamento lógico e formal.
Estrutura textual dissertativa
A estrutura textual é
uma forma pré-concebida de organizar ideias em um texto. Um dos gêneros
textuais mais dependentes formalmente dessa premissa é a dissertação. Isso
ocorre muito em função do caráter científico dela, o que exige procedimentos
organizacionais para que a tese defendida e exposta na dissertação seja mais
compreensível para o leitor. A estrutura textual dissertativa, que é base para
a maioria dos textos argumentativos de concursos, é dividida em introdução,
desenvolvimento e conclusão.
:::Introdução: apresentação da hipótese
Exposição sucinta do assunto a ser abordado no
texto, que pode ser construída com auxílio
de uma exposição breve acerca do assunto, de uma opinião
pessoal , de uma descrição, de uma
narração, etc. É importante que qualquer uma dessas escolhas comunique de forma clara e explícita
o tema do texto em questão e o enfoque dado a ele pelo autor.
É fundamental que a introdução
esclareça para o leitor sobre qual assunto será lido, se possível, com a
focalização do tema, ou seja, o recorte temático a ser discutido pelo autor.
Pode também ser o momento de, explicitamente,
o autor do texto – mais que informar e enfocar – expor uma opinião clara e
concisa que norteará e justificará os argumentos utilizados no desenvolvimento,
o que muitos chamam de hipótese, até porque ainda é uma afirmação carente de
comprovação a ser construída no desenvolvimento, o qual a sucede e defende.
Tipos de introdução
para o texto dissertativo
_Conceito/opinião:
caracterização sintética do assunto a ser tratado , delimitando-o e explicitando a opinião do
autor acerca do tema.
Exemplo:
“A falta de interesse
pelas políticas públicas por parte da maioria das lideranças
políticas , a corrupção
na polícia e a miséria
de parte expressiva da população brasileira auxiliaram, decisivamente ,
na consolidação do auto-proclamado poder
paralelo . Esse fenômeno se soma a muitos outros para denunciar a calamidade por causa da qual
a sociedade sofre e a incompetência
do poder estatal
nas comunidades menos
favorecidas do Brasil.”
_Comparação: estabelece pontos de semelhança entre elementos
diversos. Modo associativo e analógico
de iniciar a discussão
de um tema, fazendo até mesmo que o
leitor possa ter contato com pontos de convergência entre o assunto do texto e
outros temas além do senso-comum.
Exemplo:
“O poder paralelo
não é um
problema social
e de segurança pública
exclusivo de países
subdesenvolvidos e pobres ,
ele também
assola os EUA, a Itália, a Rússia e o Japão. Estes países têm um ou vários grupos criminosos extremamente
organizados atuantes em seu próprio
território, com uma autonomia ,
algumas vezes , maior
do que a do Comando
Vermelho (CV) e a do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Brasil.”
_Indagação
(perguntas): sequência de
perguntas que, ao mesmo tempo, informa os pontos do tema que serão abordados no
texto e faz questionamentos pertinentes os quais nortearão a argumentação
posterior.
Exemplo:
“Qual a razão para
a existência de organizações
criminosas tão ou mais poderosas do que o Estado brasileiro? O que as mantém tão
atuantes? Como se consolidou na sociedade brasileira esse poder paralelo ? Eis
as perguntas mais
comuns feitas
dos bares da periferia até as salas
das universidades . Em resumo ,
como o poder paralelo suplantou o estatal
sem que
a sociedade civil
percebesse a tempo ?”
_Consideração histórica: apanhado dos
principais pontos ao longo da trajetória histórica do tema escolhido que possam
elucidar as razões, as consequências, os fatos, etc. responsáveis pela situação
atual que envolve e é envolvida pelo assunto do texto.
Exemplo: “O poder paralelo tem raízes em
tradições seculares
na Itália e no Japão, por exemplo. Nesses lugares, a despeito
das ações criminosas, ele cresceu com
o referendo de grande parte da população
carente , sem
heróis e pouco
educada, além disso, contou com períodos de
ausência do Estado
em relação
a políticas públicas e sociais. Nesse hiato , no qual, sob
outras condições, o caso brasileiro também está inserido, desenvolveu estrutura
de empresa e afirmou-se como
parte da sociedade
que não
pode, infelizmente , ser
ignorada.”
_Enumeração de ideias,
impressões ou fatos: uso de exemplos
claros, precisos e contundentes, normalmente
de conhecimento público , os quais
conduzirão as discussões posteriores ou serão recuperados em outras passagens
do texto.
Exemplo:
“A criação de leis ,
a imposição de toque
de recolher , o controle
severo e ditatorial
da vida das pessoas
e o poder de executor
de penas são
atribuições agora
de um poder
paralelo nas periferias brasileiras. As organizações criminosas são
responsáveis por tornar a vida em muitas
cidades, especialmente para os mais
pobres, caótica e violenta.”
_
Citação: opinião decorrente de experiência relatada (citação
informal ) ou
de uma passagem de livro ,
revista, etc. (citação formal ).
Exemplo:
“ ‘Paz sem voz ,
não é paz ,
é medo .’. O verso
contundente retirado de uma música do grupo O Rappa oferece uma explicação para o assombro chamado poder paralelo ; notícia
na mídia , terror
para as comunidades
mais pobres e ameaça onipresente
para as mais
favorecidas. Essa é a resposta para os séculos de omissão e silêncio
das autoridades e dos cidadãos
‘cordiais’ da sociedade brasileira .”
:::Desenvolvimento: comprovação da hipótese (argumentação )
Fundamentação racional e organizada dos pontos de vista
do autor por intermédio de argumentos validados pela razoabilidade, pela
ciência ou pela experiência coletiva. Tal procedimento confere ao texto
dissertativo a condição de espaço privilegiado de debate sobre as principais
questões de qualquer tempo.
É no desenvolvimento que se mede a capacidade
intelectual e cultural do autor do texto para, a partir de raciocínios, fatos e
analogias verossímeis, defender seu ponto de vista a respeito de um determinado
assunto.
Nessa parte do texto, é muito importante o
uso de recursos retóricos capazes de dar mais visibilidade e contundência para
o melhor da argumentação presente no texto.
Sob uma perspectiva mais formal e
mais conectada às necessidades daqueles que precisam escrever textos
argumentativos escritos, é importante perceber as diferentes formas de
construir argumentos. Tais estruturas lógico-discursivas podem ser divididas em
tipos, em função da técnica argumentativa empregada como meio de dar solidez e
coerência a um determinado argumento, o que, em última instância, deverá
contribuir positivamente para a defesa de uma tese, proposição ou ponto de
vista. Dessa maneira, eis alguns tipos de argumentos:
_Causa
e consequência: principal
meio lógico-discursivo empregado em textos argumentativos para construir um
argumento. Baseia-se na enunciação de uma causa e na discussão sobre as
potenciais consequências dessa afirmativa.
Exemplo: “O
que é preciso lembrar é que a consolidação da indústria cultural brasileira
trouxe com ela uma segmentação do mercado que não pode ser evitada. Ainda mais,
porque essa segmentação levou a uma segregação por parte dos setores dominantes
da indústria daquela parcela da MPB comprometida com a conservação e renovação
da tradição da canção.” (Coletivo
MPB, em “A morte e a morte da canção”)
_Exemplificação:
o exemplo, tomado como fidedigno à realidade, é um dos mais potentes
mecanismos argumentativos, visto que faz com que o argumento se torne mais
sólido, em princípio, porque se sustenta em fatos demonstrados com isenção.
Exemplos podem ser construídos de várias formas, desde a simples utilização de
fatos jornalísticos de conhecimento amplo até o uso de abordagens estatísticas
com as devidas referências capazes de atestar a elas a necessária
confiabilidade.
Exemplo: “A
amnésia e recusa em aceitar responsabilidades históricas, tão frequentes entre
as potências européias, é rara em países que foram derrotados de forma tão
contundente como aconteceu com o Japão. Ainda mais estranho é que essa
insensibilidade em relação às vítimas estrangeiras seja compatível com Abe e
seu governo, que fizeram do caso dos 16 cidadãos japoneses sequestrados nos
anos 1970 e 1980 pelos serviços secretos norte-coreanos, um de seus principais
temas diplomáticos.” (Rafael
Poch, La Vanguardia )
_Indução:
esse tipo
de argumento fundamenta-se em informações relativas a particularidades ou a
detalhes acerca do assunto em questão (estatísticas, dados, etc.), com o
intuito de induzir o leitor a concordar com conclusões generalistas, sempre em
sintonia com a tese defendida ao longo do processo argumentativo.
São muitos os problemas
potenciais dessa estratégia argumentativa, tais como a insuficiência
e a confiabilidade dos dados para serem acatadas determinadas conclusões a
partir deles; a escolha tendenciosa dos dados utilizados; o uso “viciado” ou
mesmo mal intencionado dos dados a fim de forçar uma conclusão impossível
segundo parâmetros racionais e científicos; etc.
Exemplo: “No Brasil,
o Funk popularizou-se com os bailes da pesada organizados pelos DJs Big Boy e
Ademir Lemos nos anos 70, no Canecão, com a popularização de alguns artistas
como Tony Tornado. Na época, a música era conhecida como soul, shaft ou
soul-funk, derivando depois para simplesmente funk. Os bailes eram conhecidos
como bailes black.” (Manoela Ebert)
_Dedução: Em tese, a dedução deve ser
entendida como o contrário da indução. Normalmente, a argumentação dedutiva é a
mais comum no discurso científico, ou seja, naqueles textos ou debates que
pretendem ser obras abertas para a crítica e a análise de quaisquer pessoas
interessadas neles.
Exemplo: “Os
novos paradigmas [da música brasileira] parecem se concentrar e se encontrar
todos no extremo norte do País, na pujante cena musical de Belém do Pará. Assim
o antropólogo Hermano Vianna descreveu o ambiente das ‘festas de aparelhagem’
que forjaram o gênero ‘tecnobrega’, uma convergência mestiça de ritmos
brasileiros e caribenhos, música tradicional, ‘cafona’ e eletrônica, romantismo
de Roberto Carlos e tecnologia de DJs: ‘Quando as novidades são apresentadas,
os fãs-clubes das aparelhagens vão ao delírio, com braços para cima, como se
estivessem saudando a aparição de uma divindade, o totem da tribo eletrônica da
periferia de Belém’.” (Pedro Alexandre Sanches, em “A música fora
do eixo”)
_Perguntas, questionamentos: o uso de perguntas como norteadoras de um argumento
tem como mais recorrente objetivo tornar a ordem das ideias em um texto mais
fácil de ser compreendida, já que a relação entre pergunta e resposta é mais
natural para quaisquer leitores, o que facilita o entendimento do leitor.
É importante apenas que sejam evitadas
perguntas muito elaboradas que não possam ser respondidas por falta de
discussão sobre o assunto pelo autor ou mesmo porque o espaço médio do
parágrafo não comportaria a resposta.
Exemplo: “Dentro desse contexto, até quando vamos
esperar para que um novo Nirvana, um novo Sex Pistols e um novo Beatles
apareça? Parece impossível, mas não é. Se não me falha a memória, o último
grande movimento que realmente redirecionou o ‘rock and roll’ para um caminho
até agora ilimitado foi o ‘grunge’. Conhecido após a ascensão do Nirvana, no
começo da década de 90, mas impulsionado anteriormente por bandas como Mother
Love Bone, L7, Mudhoney e, posteriormente, por Pearl Jam, Sound Garden, Stone
Temple Pilots e Alice In Chains, essa corrente trouxe uma nova forma peculiar
de se fazer rock, juntamente com toda uma energia acumulada de uma geração (dos
anos 80) completamente angustiada e sem rumo.” (Marina
Castellan Sinhorini)
_Analogia
(comparação, relação por semelhança ):
analogias
e comparações são construídas a fim de, por semelhança, propor que determinadas
causas ou consequências para um fato sirvam para se entender questão semelhante
noutro contexto. Tal prática tem como intuito evidenciar diferenças
ou semelhanças capazes de contribuir no
processo argumentativo do texto no sentido de se construir uma tese sólida e
confiável.
Um dos senões desse mecanismo retórico são as
inadequações quanto aos universos comparados que, em alguns casos, podem
denunciar intenções de se construir especialmente semelhanças entre pontos em
que foram ignoradas especificidades responsáveis por torná-los, muitas vezes,
tão diferentes que eles se tornam incomparáveis.
Exemplo: “A
música jovem brasileira dos anos sessenta foi marcada, principalmente, pelos
movimentos Jovem Guarda e Tropicália, ambos fundamentais para o desenvolvimento
de uma linguagem musical jovem no país. A Jovem Guarda, diretamente derivada do
rock, apesar de uma certa resistência inicial, significou a mais profunda
tradução da invasão britânica, patrocinada pelos Beatles, Rolling Stones e
companhia. A Tropicália, por sua vez, mais ampla, introduziu a guitarra na
tradicional MPB e o discurso político no rock, alargando os horizontes da
música brasileira.” (Fernando
Rosa, em “História do rock nacional”)
_Discurso
de autoridade, citação (recorrência ao testemunho de alguma autoridade no assunto em questão): nesse procedimento, destaca-se o uso, geralmente , de citação
ou da paráfrase assumida das ideias de uma autoridade
no tema em questão que possa conferir credibilidade
ao posicionamento do autor do texto.
Um dos problemas mais
comuns encontrados em argumentos sustentados por citações é a escolha
equivocada do recurso intertextual ou do autor dele, o que pode produzir inadequação do aforismo em
relação à idéia defendida no argumento, invalidação do argumento por o aforismo
ser improcedente, etc. Exemplo:
“Sobre as
origens africanas do samba, veja-se que, no início do século XX, a partir da
Bahia, circulava uma lenda, gostosamente narrada pelo cronista Francisco
Guimarães, o Vagalume, no clássico “Na roda do samba”, de 1933, segundo o qual
o vocábulo teria nascido de dois verbos da língua iorubá: “san”, pagar, e
“gbà”, receber. Depois de Vagalume, muito se tentou explicar a origem da
palavra, alguém até lhe atribuindo uma estranha procedência indígena. Mas o
vocábulo é, sem dúvida, africaníssimo. E não iorubano, mas legitimamente
banto.” (Nei
Lopes, em “A presença africana na música popular brasileira”)
:::Conclusão: resumo, reafirmação, proposição de solução ou
síntese das ideias do texto
Consiste na enunciação de uma tese defendida
ao longo de toda ou de parte da dissertação por meio do desenvolvimento
organizado em função de posturas argumentativas que permitem ao autor do texto
reafirmar, resumir ou concluir o que disse ao longo dele. Tal procedimento só é
possível graças à pertinência e à qualidade dos argumentos e das ideias
concatenadas ao longo do desenvolvimento.
Como resultado desses argumentos, também se
pode apresentar, na conclusão, uma solução viável para a questão quando solicitado
ou quando o autor julgar possível ou condizente com a discussão. É importante lembrar que as soluções
apresentadas pelo autor
não devem ser
“mágicas ”, ou
seja, devem possuir uma viabilidade
concreta .
A conclusão
é o momento em
que o autor
ratificará seu julgamento
acerca do assunto sobre o qual
dissertou. Por isso, nessa parte do texto, não são possíveis perguntas
destinadas ao leitor, até porque, no caso de processos seletivos, ele é um
corretor com o qual não se pode estabelecer qualquer tipo de comunicação.
Por causa da função clara e restrita que a
conclusão tem em relação ao restante do texto, que é, em última análise,
reafirmar, sintetizar ou ressaltar as passagens mais importantes dele, não há
razão alguma para informações novas serem incluídas justamente nessa parte da
estrutura de um texto dissertativo.
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