Arte africana e afro-brasileira
Por Estéfani Martins
- A Arte Africana é a base fundadora da
chamada Arte Afro-brasileira. Por isso, é importante salientar algumas das
diversas manifestações artísticas do rico e diverso continente africano, a
saber: esculturas em marfim, metal ou madeira; tecelagem; cerâmica variada;
vários tipos de utensílios e adornos feitos com fibras naturais, pedras,
sementes e madeiras; máscaras; etc. De origem pré-histórica, a arte africana
passou por um longo período de intensas trocas culturais internas ao continente
africano, posteriormente passou a comunicar-se de forma intensa com a Europa
escravocrata e católica, o que dialética e paradoxalmente deu a ela uma
visibilidade cada vez mais internacional, ainda que não sem prejuízos.
- As manifestações artísticas africanas
deram-se predominantemente em áreas rurais, submetidas a uma consciência tribal
e a um senso estético derivado em grande medida de aspectos espirituais da vida
comunal. A Arte Africana despreocupa-se com a reprodução mimética da realidade
em favor de um ponto de vista estilizado acerca dela. O aspecto comunal dessa
arte tem como intuito o reforço de um coletivismo ligado à imposição de
saberes, de valores e de estéticas entre os membros da comunidade.
- Essa forma artística tem, portanto, um
forte apelo religioso na maioria das comunidades e tribos africanas, pois tem
um papel crucial no culto dos Orixás, nos ritos de passagem, etc.
- Uma das peculiaridades da Arte Africana é o
fato das cabeças em esculturas e máscaras serem representadas hiperbolicamente,
porque simbolizam a personalidade, o saber e a experiência, que muito são
valorizados pelas culturas africanas. Outro exemplo relevante é o hábito de
representar línguas de forma desproporcional em relação à boca que as contêm, o
que alude à fala, que é fundamental em culturas muito alicerçadas na tradição
oral. Os pés também são representados em desproporção em relação aos corpos aos
quais estão relacionados, o que aponta para tanto uma valorização da terra numa
dimensão geográfica quanto espiritual.
- Essa Arte Africana, rural e comunitária era
antagônica em relação ao individualismo urbano europeu, em especial a partir da
segunda metade do século XIX. A despeito disso, pintores como Picasso e Braque
usaram essa estética africana como base para concepções cubistas.
- A Arte Afro-brasileira desenvolveu-se sob o
signo da recriação feita por africanos desterrados que nada ou pouco trouxeram
do seu patrimônio cultural físico, por causa da truculência do tráfico
negreiro. Em função disso, como meio de existir estética e culturalmente, os
africanos que no Brasil aportaram - depois da sufocante viagem - rapidamente de
formas muitas vezes furtivas desenvolveram expressões artísticas que uniram
referências africanas, portuguesas e indígenas, entremeadas pelo culto dos
Orixás e pelo Catolicismo. Daí, Gilberto Freyre considerar o negro como “um
co-colonizador, apesar da sua condição de escravo”.
- A participação do negro no panorama da arte
brasileira é reduzida, especialmente quando são analisados o século XX e o XXI,
o que reflete um aspecto latente da sociedade brasileira: o preconceito étnico.
Muito embora haja uma relevante e significativa produção artística por parte de
negros no Brasil, ela não foi considerada de forma justa e razoável nos últimos
100 anos, quanto mais nos períodos anteriores ao século XIX.
- Uma dimensão importante da Arte
Afro-Brasileira é o período barroco, pela participação importante de artistas
negros em cidades de Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. No
século XVIII, o auge do Barroco brasileiro deu-se da fusão das referências
barrocas italiana e francesa (Rococó), somada às aspirações e às limitações dos
artistas brasileiros que produziram uma forma singular do estilo barroco.
Dentre os mestres do Barroco Brasileiro, estão dois grandes artistas mulatos,
filhos de pai português e mãe escrava: o arquiteto e escultor Aleijadinho e o
arquiteto Mestre Valentim. O inusitado do trabalho desses dois gênios da arte
brasileira define-se pela força expressionista, pela talha geométrica e
angulosa de certa inspiração africana na obra de Aleijadinho; de outro lado os
traços negróides atribuídos a santos pelo Mestre Valentim dão um toque único e
africano ao Barroco Brasileiro.
- Outro artista de origem africana muito
representativo para o Barroco Brasileiro foi Manuel da Costa Ataíde,
considerado o maior pintor sacro do século XVIII. O estilo barroco de Mestre
Ataíde, também influenciado pelo Barroco Europeu, era igualmente permeado pela sua
ancestralidade africana, tanto nos rostos das figuras pintadas como na escolha
das cores em suas obras.
- No século XIX, em pleno período Neoclássico,
em função do estilo acadêmico e elitista que se impõe sobre a cultura
brasileira, o artista negro tem pouco espaço. Embora artistas negros como Firmino
Monteiro, Estevão Silva, Fernando Pinto Bandeira e Artur Timóteo da Costa
tenham tido alguma projeção.
- No século XX, com um crescente espaço nos
círculos artísticos, os artistas negros resumem a maior parte da sua produção
na arte religiosa afro-brasileira ou na arte naif. São exemplos Heitor dos Prazeres e Mestre Didi.
- A Arte Afro-brasileira só passou a ser justamente
valorizada como expressão autêntica da arte brasileira, quando as ideias
revolucionárias e avançadas do Movimento Modernista passaram a sistematicamente
auxiliar na revisão dos conceitos de arte no Brasil, antes movidos por ideais
comprometidos pelo racismo e por uma visão eurocêntrica importada.
- São exemplos de artistas negros brasileiros
da modernidade e da contemporaneidade: Heitor dos Prazeres (1898-1966); Mestre
Didi (1917); Djanira da Motta e Silva (1914-1979); José de Dome (1921-1982); Rubem
Valentim (1922-91); Antônio Bandeira (1922-1967); Otávio Araújo (1926); Maria
Auxiliadora (1938-1974); Emanoel Araújo (1940); entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário