Caras e caros,
Eis mais uma lista para a leitura de todos. Nesta, há um um texto fundamental sobre a velhice e o futuro inexorável e positivamente possível de todos nós, além de um documentário fantástico sobre a cidade de São Paulo. Boa semana a todos.
Abraços,
Professor Estéfani Martins
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1 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
EUA e a guerra
2 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
Texto longo, mas fundamental para compreender o inexorável no envelhecimento
3 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
Vídeo espetacular sobre São Paulo, sobre a ideia de cidade e de cidadania.
4 - 2º anos, 3º anos e PV
Quando o visível não vê o invisível
5 - 2º anos, 3º anos e PV
A Palestina como nação, país e povo
6 - 3º anos e PV
Futebol, corrupção e Fifa
7 - 3º anos e PV
A década que definiu o século XXI e os EUA
Dez anos depois, traumas do 11 de setembro ainda atormentam os norte-americanos
Anemona HartocollisEm Nova York (Estados Unidos)
- Homem caminha entre cerca de 3000 mil bandeiras posicionadas por estudantes e membros da Universidade Pepperdine, em Malibu, nos Estados Unidos, em memória das vítimas do atentado ocorrido em 11 de setembro de 2001, em Nova York
Na segurança do consultório do seu psicoterapeuta, no final de 2001, a médica Margaret Dessau gravou uma fita na qual ela revivia a sensação de olhar através da janela da sua sala de estar após ter ouvido, a oito quarteirões de distância, a explosão de um avião sequestrado.
Correndo nua do banheiro, ela viu pombos e pedaços de papel voando.
“A cena é de certa forma bonita”, recorda Dessau na gravação, que ela fez e ouviu diversas vezes como parte do seu tratamento. “Há muitas partículas prateadas flutuando no ar”.
Ela viu o buraco em uma das torres do World Trade Center.
“As chamas aumentam, e eu começo a ver um monte de pessoas dependuradas no prédio. Um homem está agitando uma toalha branca”, diz ela.
Ele pula. Crianças em uma escola próxima gritam.
“Como você está se sentindo?”, ouve-se o psicoterapeuta, David Bricker, perguntar na gravação.
“Eu começo a chorar”, responde ela.
O marido de Dessau grita para ela. “Pare de olhar, pare de olhar”. Mas ela diz: “Eu não consigo desviar os meus olhos da cena”.
Uma indicação da magnitude do impacto psicológico provocado pelos episódios de 11 de setembro de 2001 é o fato de ter sido descoberto que pelo menos 10 mil bombeiros, policiais e civis que foram expostos aos ataques terroristas contra o World Trade Center apresentaram um quadro de transtorno do estresse pós-traumático e que, imersos em uma espécie de luto coletivo, muitos deles ainda não se recuperaram, segundo dados compilados pelos três programas de saúde da prefeitura de Nova York dirigidos especificamente às vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Em entrevistas no decorrer dos últimos meses, Dessau e outros indivíduos revelaram que sofrem de um conjunto amplo mas consistente de sintomas. Esses indivíduos não conseguem dormir; revivem o desastre em suas mentes ou em pesadelos; têm dificuldades para se concentrar; sentem-se nervosos e reagem de forma exagerada a alarmes ou ruídos altos, sentem-se impotentes, desesperançados, culpados e desconectados das pessoas que lhes são caras. Eles evitam tudo que lhes faça lembrar aquele dia terrível.
Milhões de dólares serão gastos com o tratamento dessas pessoas durante os próximos anos, por meio da Lei James Zadroga de Compensação e Saúde para as Vítimas do 11 de Setembro, que foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em dezembro do ano passado, e que aloca uma verba de US$ 4,3 bilhões para indenizar e tratar as pessoas que padecem de doenças vinculadas ao 11 de setembro.
O financiamento federal do tratamento do transtorno por estresse pós-traumático restringia-se a bombeiros; policiais; funcionários do departamento de medicina legal da Prefeitura de Nova York que lidaram com pedaços de corpos humanos; trabalhadores de resgate, recuperação, limpeza e apoio que atuaram no local em que ficava o World Trade Center, nas barcas que transportaram os destroços e no depósito de entulho em Staten Island, no qual os fragmentos das Torres Gêmeas foram enterrados; equipes que trabalharam nos locais em que ocorreram os ataques terroristas no Pentágono e em Shanksville, no Estado da Pensilvânia; e pessoas que foram expostas à poeira quando os edifícios desmoronaram, ou que moravam, trabalhavam ou estudavam ao sul da Rua Houston, em Manhattan, e em áreas do centro do Brooklyn que podem ter sido invadidas pela poeira.
Familiares dos bombeiros de Nova York que morreram recebem assistência devido à continuidade de um programa de aconselhamento do Departamento do Corpo de Bombeiros que já existia, mas os familiares de outras vítimas não contam com tal benefício. A deputada Carolyn B. Maloney, democrata pelo Estado de Nova York e principal patrocinadora da Lei Zadroga na Câmara dos Deputados, diz que, como as famílias das vítimas foram cobertas pelo fundo original de indenização das vítimas do 11 de setembro, que pagou em média US$ 2,1 milhões a cada família, o objetivo passou a ser prestar ajuda a outros indivíduos que também sofreram com os ataques.
“Nós nos concentramos em ajudar as pessoas que não morreram no 11 de setembro, mas que estavam morrendo ou que se encontravam doentes por causa dos atentados”, explica a deputada.
A lei tem o nome de um policial de Nova York que participou dos trabalhos de resgate e que mais tarde teve complicações respiratórias. A causa da morte dele, em 2006, transformou-se em uma fonte de debates.
John Howard, que fiscaliza programas vinculados ao 11 de setembro como diretor do Instituto Nacional para Segurança e Saúde Ocupacional, disse em uma entrevista que está disposto a conceder às pessoas o benefício da dúvida em relação ao transtorno do estresse pós-traumático, mesmo que elas sofram de outros estresses.
“O desabamento de 220 andares contendo uma grande quantidade de materiais em uma das cidades mais densamente povoadas do mundo é de fato um acontecimento bastante singular”, disse Howard. “Na área de saúde mental, é preciso tratar a pessoa como um todo, e não dá para desvincular isso de outras influências porventura presentes, fatores pessoais de estresse e problemas de ordem econômica. As pessoas estão vivendo as suas vidas”.
Devido às questões pendentes no que se refere aos critérios para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático, que começou a ser feito há apenas três décadas, as pessoas que têm problemas mentais podem pleitear apenas assistência específica para tratamento, enquanto que os indivíduos que padecem de doenças físicas, na maioria dos casos dificuldades para respirar, podem receber tanto tratamento quanto indenização monetária. E o dinheiro disponível para tratar os pacientes que sofrem de transtornos de estresse poderá diminuir ainda mais caso o governo conclua que existe um vinculo entre certos tipos de câncer e os ataques de 11 de setembro de 2001, o que poderia fazer com que os pacientes de câncer também tivessem acesso a essa mesma verba, que ficaria mais fragmentada. Os médicos estão esperando um grande aumento do número de pacientes com transtorno do estresse pós-traumático no décimo aniversário dos ataques terroristas, como vem acontecendo a cada 11 de setembro.
Charles Figley, professor de saúde mental de vítimas de desastres na Escola de Serviço Social da Universidade Tulane e ex-fuzileiro naval, apresentou o conceito de transtorno do estresse pós-traumático em um livro de 1978 sobre ex-combatentes da Guerra do Vietnã. Ele disse que um dos motivos pelos quais é tão difícil se livrar do trauma é o fato de o problema danificar os aspectos mais triviais da vida cotidiana.
O ponto de referência não é uma colina distante no Afeganistão que o indivíduo jamais voltará a ver.
“Tais pontos de referência são os locais que o indivíduo vê todos os dias, lugares como aquele onde ele pediu a mão da esposa, recebeu a notícia de que havia sido promovido ou onde os filhos pequenos brincavam”, explica Figley. “O soldado é enviado para uma zona de combate, mas depois sai de lá. Ele não deixa o lar, mas, na verdade, retorna a todo momento”.
Doença antiga, mas em evolução
A Ilíada descreve guerreiros consumidos por sentimentos de culpa, ódio e pesar. A Primeira Guerra Mundial provocou casos de “traumatismo de guerra” e na Segunda Guerra viu-se a “fadiga de combate”. O transtorno do estresse pós-traumático foi presenciado em sobreviventes de campos de concentração nazistas, de incêndios e de acidentes ferroviários. Mas foi só em 1980, após a Guerra do Vietnã, que o transtorno do estresse pós-traumático passou a integrar a bíblia da psiquiatria, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (em inglês, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM).
O manual atual, o DSM-IV, afirma que o transtorno do estresse pós-traumático pode surgir devido a vários tipos de exposição à morte ou a lesões: envolvimento pessoal direto, presenciar tais fatos ou, caso estes fatos digam respeito a uma pessoa próxima, simplesmente ficar sabendo do acontecido. Poucos diagnósticos psiquiátricos provocaram tamanha controvérsia, segundo Robert L. Spitzer, professor aposentado de psiquiatria da Universidade Columbia e especialista em classificações de desordens mentais. O diagnóstico desse transtorno tornou-se tão vago que até mesmo estudantes universitários estressados e pessoas que assistiram a filmes de terror poderiam se encaixar no perfil, escreveram Spitzer e outros dois especialistas em um artigo publicado em um periódico especializado.
“Essa é uma maneira de dizer que algo de terrível aconteceu com o indivíduo e que ele foi prejudicado de alguma forma, mas isso não significa necessariamente que estamos falando de uma doença”, disse em uma entrevista Spitzer, que é favorável à adoção de critérios mais rígidos para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático.
Alguns especialistas têm demonstrando ceticismo em relação a estudos que alegam que certas pessoas sofreram desse transtorno pelo fato de assistirem à cobertura televisiva dos ataques de 11 de setembro de 2001 (o Congresso dos Estados Unidos excluiu efetivamente tais telespectadores do seu programa de tratamento, impondo o critério de que a suposta vítima precisaria ter morado ou trabalhado dentro de certas áreas geográficas).
Amy Cushing-Savvi, assistente social do Centro Médico Monte Sinai, em Nova York, que gerencia o maior programa voltado para esse setor, diz que um tópico frequente que surge nas reuniões da sua equipe é, “O que é e o que não é 11 de setembro?” - ou, em outras palavras, a questão estranhamente embaraçosa de como fazer uma distinção entre os efeitos dos atentados de 11 de setembro e os traumas da vida cotidiana.
Os pacientes do Centro Médico Monte Sinai deparam-se com uma ala movimentada cheia de quartos na qual eles são divididos em três categorias: verde (não existe necessidade de mais avaliações), amarela (potencialmente assintomático) e vermelho (sintomas tão graves que o paciente poderá apresentar tendências suicidas). O processo de avaliação tem início em casa, com o preenchimento de um questionário de 11 páginas que faz indagações sobre o nível de energia do paciente, a frequência com que ele se sente “calmo e pacífico” e experiências de vida recente como a perda de um emprego ou o término de um relacionamento afetivo ou amoroso. Em uma seção do questionário intitulada “Lembranças do 11 de setembro”, pergunta-se ao paciente se ele tem pensamentos recorrentes relativos ao desastre e se ele sente-se emocionalmente desvinculado das pessoas que lhe são próximas.
Em uma entrevista com um especialista, é indagado ao paciente se este “acredita com frequência que estaria em uma situação melhor se estivesse morto”, se ele “sente-se inútil” ou se “sente-se culpado, mesmo que não mereça sentir tal culpa”.
Se padecer de fato do transtorno do estresse pós-traumático, o paciente geralmente recebe um tratamento conjunto que consiste de psicoterapia e medicamentos, tipicamente antidepressivos, e às vezes comprimidos para dormir. Muitos pacientes são encorajados a registrar as suas memórias, conforme fez Dessau, ou a escrever sobre elas até que essas memórias percam o seu poder. Essa estratégia é conhecida como terapia de exposição.
Um número desconhecido
É impossível determinar com certeza quantas pessoas sofrem do transtorno do estresse pós-traumático provocado pelos ataques de 11 de setembro de 2001. Os três programas oficiais de Nova York não contabilizam pessoas que, como Dessau, consultam-se com médicos particulares – ou aquelas que não receberam tratamento algum.
Segundo as estatísticas fornecidas pelos programas administrados pelo Departamento de Bombeiros, que trata os seus próprios funcionários; por um consórcio de hospitais liderados pelo Centro Médico Monte Sinai, que trata policiais e trabalhadores de resgate e recuperação; e pelo sistema de hospitais públicos municipais, que trata civis, pelo menos 10 mil pacientes atenderam aos critérios de diagnóstico nos últimos dez anos, e pelo menos 3.000 ainda apresentam sintomas. Mas até mesmo esses números exatos são relativos: 3.000 dos 10 mil pacientes foram tratados em hospitais públicos, cujas estatísticas não diferenciam entre transtorno do estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. O programa Zadroga cobre esses três problemas, bem como desordem do pânico, uso abusivo de drogas e alguns outros distúrbios.
Fazendo uma extrapolação a partir de um registro do número de pessoas que foram expostas ao ataque, o departamento municipal de saúde estima que 61 mil das 409 mil pessoas que encontravam-se na área do desastre experimentaram um “provável” transtorno do estresse pós-traumático em um período de seis anos após o 11 de setembro. Mas esses números foram apresentados por instituições e por um governo municipal com dois objetivos principais: fazer com que o maior número possível de pessoas se sinta melhor e persuadir o Congresso a liberar uma verba constante para tratamento. Os programas de saúde municipais para as vítimas do 11 de setembro criaram um enorme sistema de atendimento que avalia todo paciente para determinar se ele sofre de males mentais e físicos, e os hospitais públicos abordaram os novaiorquinos com propagandas que dizem: “Morava lá? Trabalhava lá? Você merece tratamento”.
Ninguém pode afirmar com certeza quantas pessoas exatamente foram expostas aos ataques, e quantas acabaram apresentando doenças físicas ou mentais. O governo federal permitirá que o Centro Médico Monte Sinai e outros programas de hospitais públicos recebam, cada um, mais 25 mil pacientes nos próximos cinco anos. Caberá a cada programa decidir quem atende aos requisitos para receber tratamento, mas eles terão que utilizar critérios uniformes aprovados pelo governo. Uma sessão semanal de psicoterapia com a duração de 45 minutos pode custar US$ 135 se feita por um psicólogo e US$ 165 se por um psiquiatra.
Existe uma preocupação quanto à possibilidade de que falte verbas para tais programas, caso o governo descubra um vínculo entre a poeira produzida pelos ataques de 11 de setembro e casos de câncer. O dinheiro do programa Zadroga deverá ser fornecido por uma fonte secundária, cobrindo aquilo que os seguros e as indenizações a trabalhadores não cobrem.
Howard, o administrador federal de programas de saúde para as vítimas do 11 de setembro, diz que o governo “tratará as pessoas conforme elas procurarem ajuda e na medida do possível”.
O jornalista Alain Delaqueriere contribuiu para esta matéria.
Tradução: UOL
Fonte:
Estéfani, o link do texto 7 parace estar restrito aos assisnantes uol, se possível, por favor, disponibilize-o de outra forma. Obrigada!
ResponderExcluirBruna, resolvido. Texto disponibilizado. Abraço.
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