Eis a primeira lista do segundo semestre. Esta é a primeira lista para todas as séries do EM. A partir de agora, os 3 primeiros textos são obrigatórios para os primeiros anos, os 5 primeiros para segundo ano e todos para o terceiro ano.
Abraços,
Professor Estéfani Martins opera10@gmail.com opera10.blogspot.com sambluesoul.blogspot.com idearium.com.br Twitter - @opera10
1 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
Um visão oportuna sobre um hábito nada inofensivo.http://www.tecmundo.com.br/2570-lixo-eletronico-o-que-fazer-apos-o-termino-da-vida-util-dos-seus-aparelhos-.htm
2 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
Um olhar maduro sobre o jovemhttp://www.cartacapital.com.br/sociedade/cultura-e-juventude
3 - 1ª anos, 2º anos, 3º anos e PV
Uma indicação de filme, daqueles capazes de mudar vidas, fazer rever concepções, enfim, de nos fazer melhores, para além das obviedades, dos preconceitos, da auto-ajuda, da pena, dos sentimentalismos baratos pelos outros ou mesmo por nós mesmos. Um soco de resistência, alegria e honradez numa forma possível de vida plena. Indicadíssimo.http://www.youtube.com/watch?v=_kaT5dDiISw
4 - 2º anos, 3º anos e PV
A tragédia da Noruega e a extrema direita europeiaLuiz Felipe de Alencastro
Breivik tinha alvos precisos: o bairro governamental de Oslo e o acampamento dos jovens na ilha de Utoya. Foi pouco notado que a ilha pertence ao próprio partido trabalhista (social-democrata) que atualmente governa a Noruega, e que ela tem servido, há vários anos, de sede para as chamadas Universidades de Verão, onde jovens socialistas debatem temas políticos e sociais da atualidade.O atentado e o massacre de 77 pessoas perpetrados por Anders Behring Breivik em Oslo e na ilha de Utoya causaram horror e estupefação na Noruega e no resto do mundo. Mas levantaram também polêmicas sobre as atividades dos grupos e partidos de extrema-direita em diversos países europeus.
Ao contrário dos autores do massacre da Columbine School em 1999 (15 mortos) e da Virginia Tech University em 2007 (32 mortos), Breivik não é um maluco que saiu atirando ao acaso em meio a um surto assassino. Mais próximo do ideário racista e extremista de Tim McVeigh e Terry Nichols, autores do atentado a uma agência federal de Oklahoma em 1995 (168 mortos), ele preparou longamente os ataques que atingiram o governo social-democrata e os jovens militantes trabalhistas reunidos em Utoya. No entanto, a mixórdia ideológica que serviu para justificar seus atos criminosos -- sintetizada no seu texto de 1.600 páginas que circula na internet -- tem mais a ver com o contexto europeu do que com o americano.
Identificado pela mídia como "fundamentalista cristão" ou como protestante tradicionalista, Breivik não cita a Bíblia nem personagens do Velho Testamento e se concentra noutro referencial ideológico. Suas principais obsessões são o ódio aos muçulmanos, ao multiculturalismo e à mestiçagem étnica e cultura que, segundo ele, são protegidas pelo "marxismo cultural" e pelos trabalhistas noruegueses. Ora, estes delírios, por mais maníacos que sejam, também alimentam movimentos de extrema-direita em vários países europeus.
Neste contexto, na França, onde o partido de extrema-direita Front National é um dos mais estruturados e eleitoralmente mais fortes dentre os que se alinham ao extremismo europeu, o debate sobre a tragédia da Noruega tomou uma feição particular. Qual o impacto da propaganda anti-islâmica do Front National na criação de um clima hostil, e de eventuais atentados, contra os musulmanos franceses? Este caldo cultural islamofóbico pode fazer surgir na França um terrorista isolado, outro "lobo solitário" como Anders Breivik, disposto a atacar os muçulmanos ou seus alegados "aliados" de esquerda ?
Tais são as questões que foram debatidas por vários editorialistas e, em particular, por Laurent Joffrin, da revista parisiense de esquerda "Le Nouvel Observateur". Observe-se que o Islã aparece atualmente como a segunda religião na França, atrás do catolicismo, mas na frente das duas outras religiões tradicionais do país, o judaísmo e o protestantismo. Além do mais, um terço dos 5 ou 6 milhões de muçulmanos residentes na França têm cidadania francesa. Assim, as discussões vão além do tema imigração dos países muçulmanos da África ou do Oriente Médio e concernem diretamente a questão da identidade nacional francesa.
É preciso também lembrar que a candidata do Front National, Marine Le Pen, pesará nas presidenciais de abril/maio de 2012, nas quais, segundo as sondagens, ela já tem um mínimo de 20% de votos. Atualmente, ela aparece em terceiro lugar entre os presidenciáveis, atrás do candidato socialista (Martine Aubry ou François Hollande) e do presidente Sarkozy.
Segundo os especialistas, as peripécias da campanha eleitoral e o declínio do prestígio de Sarkozy podem, talvez, levar Marine Le Pen ao segundo turno da presidencial, fazendo-a assim igualar a performance de seu pai, Jean-Marie Le Pen, nas presidenciais de 2002. Desse modo, o tema do Islã e do anti-islamismo estará em pauta na campanha eleitoral francesa de 2012. No curto prazo, os serviços de segurança franceses e europeus tem outras preocupações.
De fato, como observou no "Le Monde" o politólogo francês François-Bernard Huyghe, a ação solitária e maníaca de Anders Breivik demonstrou que indivíduos de extrema-direita, isolados, mas imbuídos de racismo anti-islâmico, podem praticar tragédias de grande porte. Este novo fato, conclui Huyghe, "muda singularmente as perspectivas das políticas anti-terroristas, até agora orientadas para o perigo islamistas e Al Qaeda".
Fonte: http://noticias.uol.com.br/blogs-colunas/colunas/luiz-felipe-alencastro/2011/07/30/a-tragedia-da-noruega-e-a-extrema-direita-europeia.jhtm5 - 2º anos, 3º anos e PV
Conto
Segregacionita
1102008- Ele está pronto? – disse o cirurgião levantando o olhar inexpressivo.
- Pronto é um termo relativo – disse o engemédico. – Estamos prontos. Ele está inquieto.
- Eles sempre estão… Bem, é uma operação séria.
- Séria ou não ele deve estar agradecido. Ele foi escolhido dentre um número enorme e, francamente, não penso que…
- Não diga nada – disse o cirurgião. – Não nos cabe tomar a decisão.
- Aceitamos, mas temos que concordar?
- Sim – disse o cirurgião, ríspido. – Concordamos, completamente e de todo o coração. A operação é demasiadamente intrincada para ser encarada com restrições intelectuais. Este homem provou o seu valor de muitas maneiras e o seu perfil é adequado para o Conselho da Moralidade.
- Está bem – disse o engemédico, pouco convencido.
- Vê-lo-ei aqui mesmo, assim penso – disse o cirurgião. – Esta sala é bastante pequena e íntima para ser confortável.
- Não ajudará. Ele está nervoso e mudou de idéia.
- Realmente?
- Sim. Ele prefere metal. Eles sempre preferem.
O rosto do cirurgião não apresentou mudança de expressão. Contemplou as próprias mãos.
- Algumas vezes podemos dissuadi-los.
- Por que se preocupar? – disse o engemédico, indiferente.
- Se quer que seja metal, que seja metal.
- Você não se importa?
- Por que deveria? – e o engemédico fez a pergunta quase que brutalmente. – De qualquer modo, trata-se de um problema da engenharia médica e eu sou um engenheiro médico. Posso tratar do assunto de qualquer forma. Por que deveria ir além disso?
- Para mim, é uma questão de adequação – disse o cirurgião, imperturbável.
- Adequação! Não pode usar isso como argumento. Que importa ao paciente a adequação das coisas?
- A mim, importa.
- O seu cuidado é o de uma minoria. A maioria é contra você. Não tem chance.
- Tenho que tentar – e o cirurgião reduziu o engemédico ao silêncio, com um rápido aceno de mão que revelava não impaciência, mas, sim, pressa. Já havia informado a enfermeira e já recebera o sinal de que ela se aproximava. Pressionou um botão e uma porta dupla abriu-se silenciosamente. O paciente entrou na sala na sua cadeira motorizada, com a enfermeira caminhando apressadamente a seu lado.
- Pode ir, enfermeira – disse o cirurgião -, mas espere lá fora. Poderei chamá-la. – Fez um aceno de cabeça ao engemédico que deixou a sala juntamente com a enfermeira e a porta se fechou atrás deles.
O homem na cadeira olhou por cima do ombro, observando a saída deles. Tinha uma nuca esquelética e pequenas rugas em volta dos olhos. Barbeara-se recentemente e os dedos das mãos, que seguravam os braços da cadeira fortemente, apresentavam unhas manicuradas. Era um paciente de alta prioridade e ele estava sendo tratado… Mas em seu rosto havia uma expressão de decidida impertinência.
- Vamos começar hoje? – disse ele.
- Esta tarde, Senador – disse o cirurgião balançando a cabeça.
- Pelo que entendo, levará semanas.
- Não a operação em si, Senador. Mas existe um certo número de pontos subsidiários que devem ser cuidados. Existem algumas renovações de circulação que devem ser realizadas, assim como ajustamentos hormonais. São coisas complicadas.
- E são perigosas? – E então, como se sentisse a necessidade de estabelecer uma relação amigável, mas patentemente contra a sua vontade, acrescentou – … doutor?
O cirurgião não deu atenção às mudanças de expressão. Disse francamente: – Tudo é perigoso. Demoramos para que seja menos perigoso. É o tempo requerido, a habilidade de uma equipe, a instrumentação, que tomam tais operações possíveis somente para tão poucos…
- Sei disso – interrompeu o paciente, com brusquidão. – Recuso-me a sentir culpa quanto a isto. Ou posso deduzir que há alguma pressão imprópria?
- De modo algum, Senador. As decisões do Conselho nunca foram questionadas. Menciono adifículdadee a complicação da operação, simplesmente para expressar meu desejo de que seja conduzida da melhor maneira possível.
- Bem, vá adiante, então. É o meu desejo também.
- Então devo pedir-lhe para tomar uma decisão. É possível dar-lhe um dos dois tipos de cibercorações, em metal ou…
- Plástico! – disse o paciente, irritado. – Não é esta a alternativa que me ia oferecer, doutor? Plástico barato. Não quero. Já fiz minha escolha. Quero metal.
- Mas…
- Escute aqui. Fui informado de que a escolha seria minha. Não é assim?
- Quando dois procedimentos alternativos são de igual valor sob o ponto de vista médico, a escolha recai sobre o paciente. Na prática real, a escolha é do cliente, ainda que os procedimentos alternativos não sejam de igual valor, como no presente caso.
- Está tentando me dizer que o coração de plástico é superior? – indagou o paciente, estreitando os olhos.
- Depende do paciente. Na minha opinião, no seu caso individual, o plástico é superior. E preferimos não usar o termo “plástico”. Dizemos cibercoração fibroso.
- Para mim é plástico de qualquer maneira.
- Senador – disse o cirurgião infinitamente paciente – não se trata de material plástico no sentido comum da palavra. É um material polimérico, sim, mas de um tipo muito mais complexo do que o plástico ordinário. É uma fibra complexa semelhante à proteína, destinada a imitar, tanto quanto possível, a estrutura natural do coração humano que agora está dentro do seu tórax.
- Exatamente, e o coração humano que agora está dentro do meu peito está gasto, embora não tenha atingido ainda os sessenta anos. Não quero outro igual, obrigado. Quero algo melhor.
- Todos nós desejamos o melhor para o senhor, Senador. O cibercoração de fibra será o melhor. Tem uma vida potencial de séculos. É inteiramente não-alérgico…
- Mas não acontece o mesmo com o coração de metal?
- Sim, realmente – disse o cirurgião. – O cibermetálico é de liga de titânio…
- E não se gasta? É mais forte do que o plástico? Ou fibra, ou seja qual for o nome?
- O metal é fisicamente mais forte, sim, mas a resistência mecânica não é o ponto em questão. A resistência mecânica não lhe fará nenhum bem em particular, uma vez que o coração é bem protegido. Qualquer coisa capaz de atingir o coração o matara por outras razões, ainda que o coração possa enfrentar manipulação manual.
- Se alguma vez quebrar uma costela eu a terei substituída por titânio também – disse o paciente dando de ombros. – A substituição de ossos é fácil. Qualquer um pode fazer, em qualquer ocasião. Serei tão metálico quanto desejar, doutor.
- Está no seu direito, se assim prefere. Entretanto, é apenas justo dizer-lhe que, embora nenhum cibercoração metálico tenha quebrado mecanicamente, um certo número quebrou-se eletronicamente.
- O que isto significa?
- Significa que todo cibercoração contém um marcapasso como parte de sua estrutura. No caso da variedade metálica, é um dispositivo eletrônico que mantém o cíber no ritmo. Significa que uma bateria completa de equipamento miniaturizado deve ser incluída para alterar o ritmo do coração, para adequar-se ao estado emocional e físico do indivíduo. Ocasionalmente algo errado acontece e pessoas têm morrido antes de qualquer correção.
- Nunca ouvi falar disso.
- Mas posso assegurar-lhe que acontece.
- Está me dizendo que acontece com freqüência?
- De modo algum. Acontece raramente.
- Bem, então correrei o risco. E quanto ao coração de plástico? Também contém um marcapasso?
- Naturalmente, Senador. Mas a estrutura química de um cibercoração fibroso é muito aproximada da do tecido humano. Responde aos controles iônico e hormonal do próprio corpo. O complexo total que deve ser inserido é muito mais simples do que cibermetálico.
- Mas o coração de plástico nunca se desligou de repente do controle hormonal?
- Nunca se registrou um caso destes.
- Porque vocês não têm estado trabalhando com eles por bastante tempo. Não é verdade?
O cirurgião hesitou.
- É verdade que cíber fibrosos não têm sido tão usados como os metálicos.
- Aí está. Mas o que é que há, doutor? Está com receio que esteja me transformando num robô… um Metallo, como são chamados, desde que a cidadania lhes foi concedida?
- Não há nada de errado com um Metallo, enquanto Metallo. Como o senhor disse, são cidadãos. Mas acontece que o senhor não é um Metallo. É um ser humano. Por que não continuar humano?
- Porque eu quero o melhor e o melhor é um coração metálico. Providencie o resto.
- Muito bem – disse o cirurgião, assentindo. – Será solicitado a assinar as permissões necessárias e em seguida será equipado com um coração de metal.
- E o senhor será o cirurgião responsável? Disseram-me que é o melhor.
- Farei o que puder para facilitar o transplante.
A porta se abriu e a cadeira levou o paciente ao encontro da enfermeira.
O engemédico entrou, olhando por sobre o ombro para o paciente que se retirava até que a porta voltou a fechar-se.
Voltou-se para o cirurgião:
- Bem, não posso dizer o que aconteceu apenas olhando para você. Qual foi a decisão dele?
O cirurgião inclinou-se sobre a mesa, escrevendo os últimos itens do seu relatório.
- O que você predisse. Insiste num cibercoração metálico.
- Afinal de contas, são os melhores.
- Não tanto. Vêm sendo usados há muito tempo, só isso. É uma mania que caiu como uma praga sobre a humanidade, desde que os Metallos tomaram-se cidadãos. Os homens foram tomados pelo estranho desejo de se transformarem em Metallos. Anseiam pela força física e pela resistência associadas a eles.
- Mas tal desejo não é unilateral, doutor. Você não trabalha com os Metallos, mas eu sim. Os últimos dois que me apareceram para reparos solicitaram elementos fibrosos.
- E os obtiveram?
- Em um caso, tratava-se de fornecer tendões e não fazia muita diferença se fosse metal ou fibra. O outro desejava um sistema sangüíneo ou seu equivalente. Disse-lhe que não podia, isto é, não sem uma completa reconstrução da estrutura do seu corpo em material fibroso… Suponho que chegaremos a isso algum dia. Metallos que não serão realmente Metallos, inteiramente, mas compostos de carne e sangue.
- E você não se incomoda com a idéia?
- E por que deveria? E quanto a seres humanos metalizados também? Temos agora duas variedades de inteligência na Terra, e por que me preocupar com as duas? Deixemos que se aproximem uma da outra e, eventualmente, não saberemos dizer qual a diferença. O que deveríamos desejar? Temos o melhor de dois mundos: as vantagens do homem, combinadas com as do robô.
- Tudo o que vai conseguir é um híbrido – disse o cirurgião num tom que se aproximava da violência. – Obterá algo que não será ambos, mas nem um nem outro. Não é lógico supor-se que um indivíduo se orgulhe tanto da sua estrutura e da sua identidade que não possa vir a desejar que elas se diluam em alguma coisa estranha? Será que ele quer a hibridização?
- Isto é conversa de segregacionista.
- Então, que seja – e o cirurgião-acrescentou com ênfase, porém calmo. – Acredito em ser o que se é. Não trocaria uma parcela sequer da minha própria estrutura, por nenhuma razão. Se algo em mim exigisse, realmente, substituição, faria com que tal se realizasse do modo mais aproximado possível da minha natureza original. Eu sou eu mesmo. Contente de ser como sou. E de modo algum seria diferente.
Agora havia terminado, finalmente, e tinha que se preparar para a operação. Colocou as mãos fortes dentro do forno e deixou que atingissem o brilho rubro que as esterilizaria completamente. Com todas as suas palavras apaixonadas, a sua voz nunca se elevou e no seu rosto de metal brunido nunca houve (como sempre) o menor sinal de expressão.
Isaac AsimovPublicado originalmente no livro Nós, Robôs, Hemus Editora
Uma visão didática sobre a recente crise política e econômica nos EUA
http://educacao.uol.com.br/atualidades/divida-americana-estados-unidos-afastam-risco-de-calote.jhtm
7 - 3º anos e PV
Cubanos se preparam para guinada na direção do capitalismoDamien Cave
Em Havana (Cuba)
José é um ávido quase empreendedor com grandes planos para os imóveis cubanos. No momento, ele trabalha ilegalmente em trocas, colocando em contato famílias que desejam trocar imóveis e pagar um extra pelo que houver de melhor.
Mas quando Cuba legalizar a compra e venda no final do ano –como o governo prometeu novamente nesta semana– José e muitos outros esperam uma cascata de mudanças: preços mais altos, deslocamento em massa, impostos sobre propriedades e uma enxurrada de dinheiro de cubanos nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
“Haverá uma demanda imensa”, disse José, 36 anos, que se recusou a dizer seu sobrenome. “Está proibido há muito tempo.”
Propriedade privada é o núcleo do capitalismo, é claro, de modo que o plano para legitimá-la aqui, em um país de slogans como “socialismo ou morte”, é de cair o queixo para muitos cubanos. De fato, muitas pessoas esperam regulamentações onerosas e até já existe um plano traçado pela imprensa estatal, que reprimiria o mercado ao limitar os cubanos a uma casa ou apartamento, e exigindo moradia em tempo integral.
Mas mesmo com algum controle do Estado, dizem os especialistas, as vendas de imóveis poderiam transformar Cuba mais do que qualquer outra reforma econômica anunciada pelo governo do presidente Raúl Castro, algumas delas apresentadas na Assembleia Nacional na segunda-feira. Em comparação às mudanças já aprovadas (mais trabalhadores autônomos e propriedade de celulares) ou propostas (venda de carros e relaxamento das regras de emigração), “nada é tão grande quanto isso”, disse Philip Peters, um analista do Instituto Lexington.
As oportunidades de lucros e empréstimos seriam muito maiores do que as pequenas empresas de Cuba oferecem, dizem os especialistas, criando potencialmente as disparidades de riqueza que acompanharam a propriedade de imóveis em lugares como o Leste Europeu e a China.
Havana, em particular, pode estar prestes a voltar no tempo, para quando era uma cidade mais segregada por classe.
“Haverá uma reorganização imensa”, disse Mario Coyula, diretor de urbanismo e arquitetura de Havana nos anos 70 e 80. “Ocorrerá a valorização.”
Efeitos mais amplos poderão se seguir. As vendas encorajariam as reformas muito necessárias, criando empregos. O setor bancário expandiria porque, segundo as regras recém-anunciadas, os pagamentos viriam das contas dos compradores. Enquanto isso, o governo, que atualmente é dono de todos os imóveis, entregaria as casas e apartamentos para seus moradores em troca de impostos sobre as vendas –algo impossível no atual mercado de troca, onde o dinheiro é transferido às escondidas.
E há o papel dos emigrantes cubanos. Apesar de o plano parecer proibir a propriedade por estrangeiros, os cubanos-americanos poderiam tirar proveito das regras do governo Obama, que permitem que enviem quanto dinheiro quiserem para parentes na ilha, alimentando as compras e lhes dando uma participação no sucesso econômico de Cuba.
“Politicamente, este é um desenvolvimento extremamente poderoso”, disse Peters, argumentando que poderia provocar mudanças políticas em ambos os países.
A taxa de mudança, entretanto, provavelmente dependerá das complicações peculiares de Cuba. A chamada Pérola das Antilhas sofria com moradias pobres antes mesmo da revolução de 1959, mas a deterioração, as regras rígidas e gambiarras criativas criaram o atual amontoado de estranhezas.
Não há imóveis vagos em Havana, apontou Coyula, o planejador urbano. Toda moradia tem alguém morando nela. A maioria dos cubanos está basicamente presa onde está.
Na orla marítima no centro de Havana, as crianças espiam de prédios que deveriam ser condenados, com um terço da fachada faltando.
A poucas quadras no sentido do interior, cubanos como Elena Acea, 40 anos, subdividiram os apartamentos a proporções de Alice no País das Maravilhas. Seu imóvel de dois quartos agora tem quatro quartos, com um mezanino de compensado onde dois enteados moram um sobre o outro, mal capazes de ficarem em pé em seus próprios quartos.
Como muitos cubanos, ela espera se mudar –trocar seu apartamento por três lugares menores, para que seu filho mais velho, com 29 anos, possa começar sua própria família.
“Ele vai se casar”, ela disse. “Ele precisa se mudar.”
Mas apesar das garantias –na segunda-feira, Marino Murillo, o ministro da Economia, disse que a venda não precisará de aprovação prévia do governo– Acea e muitos vizinhos parecem desconfiados da promessa do governo de abrir mão. Alguns cubanos esperam regras forçando os compradores a manterem os imóveis por cinco ou 10 anos. Outros dizem que o governo dificultará para que os lucros saiam da ilha, por meio de impostos exorbitantes ou limites cambiais.
Outros, como Ernesto Benitez, um artista de 37 anos, não consegue imaginar um mercado realmente aberto.
“Eles vão estabelecer um preço, por metro quadrado, e pronto”, ele disse.
É claro, ele acrescentou, os cubanos responderiam estabelecendo seus próprios preços. E isso poderia ser suficiente para estimular um movimento, ele disse.
Ele certamente espera que sim. Benitez e a mulher com quem viveu por quase uma década se separaram há 18 meses. Cada um deles está agora namorando uma nova pessoa e há noites, eles reconhecem, em que a situação fica um tanto incômoda. Apenas um banheiro estreito separa seus quartos.
Katia Gonzalez, 48 anos, cujos pais passaram para ela o apartamento antes de morrerem (algo que Cuba permite), disse que consideraria vendê-lo por um preço justo. O quanto ela pensa que vale seu imóvel com dois quartos, a apenas duas quadras do oceano, no melhor bairro de Havana?
“Ah, US$ 25 mil”, ela disse. “Um pouco mais, talvez US$ 30 mil.”
Em Miami, um apartamento semelhante poderia custar quase 10 vezes mais do que isso –algo que muitos cubanos-americanos parecem estar pensando. José e vários outros corretores em Havana disseram que transações imobiliárias no mercado negro rotineiramente envolvem dinheiro dos cubanos no exterior, especialmente na Flórida.
“Há sempre dinheiro vindo de Miami”, disse Gerardo, um corretor que não quis que seu nome inteiro fosse citado. “O cubano em Miami compra uma casa para seu primo em Cuba, e quando ele vem passar o verão aqui por dois meses, ele fica hospedado naquela casa.”
Tecnicamente, isso é uma violação do embargo comercial iniciado sob o presidente Dwight D. Eisenhower. Segundo o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, negócios ou investimentos com cubanos são proibidos. Receber dinheiro ou lucro de Cuba também é ilegal.
Mas as regras são turvas na prática. Transações familiares –muitas envolvendo emigrantes recentes– parecem estar expandindo com um piscar da Casa Branca. O apoio aos negócios privados agora é encorajado segundo a licença geral que permite que cubanos-americanos visitem seus parentes, e em 2009, o presidente Barack Obama estabeleceu uma política permitindo que cubanos-americanos visitem a ilha sempre que quiserem e enviem remessas de dinheiro sem limites para parentes.
Além disso, a fiscalização contra indivíduos, diferente de empresas, é praticamente inexistente: nos últimos 18 meses, apenas um americano foi penalizado por violar as sanções, com uma multa de US$ 525, segundo um relatório do Congresso publicado no mês passado.
Os especialistas dizem que a diáspora cubana já começou a criar classes sociais em Cuba. Os emigrantes cubanos enviaram de volta ao país aproximadamente US$ 1 bilhão em remessas de dinheiro no ano passado, como mostram estudos, com uma proporção cada vez maior desse dinheiro financiando novos capitalistas que precisam de um forno de pizza ou outros equipamentos para trabalharem de modo privado. Os imóveis apenas expandirão isso, dizem os especialistas, e ofertas já estão chegando.
Ilda, 69 anos, mora sozinha em um apartamento com cinco quartos, no 9º andar, com vista para o mar. Neste mês, um casal cubano-americano em visita –“chique, bem vestido”, ela disse– fez uma oferta de US$ 150 mil pelo apartamento, sem se preocupar com qualquer proibição de propriedade de imóveis por estrangeiros.
“Eu disse a eles que não podia”, disse Ilda “Nós estamos aguardando pela lei.”
Mesmo quando a lei mudar, ela disse, ela preferiria uma “permuta”, porque isso lhe garantiria um lugar para morar.
O medo dela de não ter para onde ir é comum. Um recente estudo, de autoria de Sergio Diaz-Briquets, um especialista em demografia em Washington, apontou que Cuba tem um déficit de 1,6 milhão de moradias. O governo diz que o número é mais próximo de 500 mil, ainda assim um problema sério.
Coyula disse que o dinheiro das vendas pode não ser suficiente para consertar a situação, já que praticamente não há um setor de construção, processos para emissão de licenças ou materiais de construção.
Outros problemas também poderiam precisar ser revistos.
“Não acontecem despejos aqui desde 1939”, ele disse. “Há uma lei que os proíbe.”
Há também a questão de como compradores e vendedores se encontrarão. Classificados são ilegais em Cuba, o que explica o motivo de corretores como José passarem seus dias circulando em feiras ao ar livres com cadernos, anotando os apartamentos oferecidos e desejados.
Ele já tem dois funcionários, e quando a nova lei chegar, independente de seus serviços serem legalizados ou não, ele espera contratar mais.
“Nós precisamos de coordenação”, ele disse. “Isso virá.”
Mas quando Cuba legalizar a compra e venda no final do ano –como o governo prometeu novamente nesta semana– José e muitos outros esperam uma cascata de mudanças: preços mais altos, deslocamento em massa, impostos sobre propriedades e uma enxurrada de dinheiro de cubanos nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
“Haverá uma demanda imensa”, disse José, 36 anos, que se recusou a dizer seu sobrenome. “Está proibido há muito tempo.”
Propriedade privada é o núcleo do capitalismo, é claro, de modo que o plano para legitimá-la aqui, em um país de slogans como “socialismo ou morte”, é de cair o queixo para muitos cubanos. De fato, muitas pessoas esperam regulamentações onerosas e até já existe um plano traçado pela imprensa estatal, que reprimiria o mercado ao limitar os cubanos a uma casa ou apartamento, e exigindo moradia em tempo integral.
Mas mesmo com algum controle do Estado, dizem os especialistas, as vendas de imóveis poderiam transformar Cuba mais do que qualquer outra reforma econômica anunciada pelo governo do presidente Raúl Castro, algumas delas apresentadas na Assembleia Nacional na segunda-feira. Em comparação às mudanças já aprovadas (mais trabalhadores autônomos e propriedade de celulares) ou propostas (venda de carros e relaxamento das regras de emigração), “nada é tão grande quanto isso”, disse Philip Peters, um analista do Instituto Lexington.
As oportunidades de lucros e empréstimos seriam muito maiores do que as pequenas empresas de Cuba oferecem, dizem os especialistas, criando potencialmente as disparidades de riqueza que acompanharam a propriedade de imóveis em lugares como o Leste Europeu e a China.
Havana, em particular, pode estar prestes a voltar no tempo, para quando era uma cidade mais segregada por classe.
“Haverá uma reorganização imensa”, disse Mario Coyula, diretor de urbanismo e arquitetura de Havana nos anos 70 e 80. “Ocorrerá a valorização.”
Efeitos mais amplos poderão se seguir. As vendas encorajariam as reformas muito necessárias, criando empregos. O setor bancário expandiria porque, segundo as regras recém-anunciadas, os pagamentos viriam das contas dos compradores. Enquanto isso, o governo, que atualmente é dono de todos os imóveis, entregaria as casas e apartamentos para seus moradores em troca de impostos sobre as vendas –algo impossível no atual mercado de troca, onde o dinheiro é transferido às escondidas.
E há o papel dos emigrantes cubanos. Apesar de o plano parecer proibir a propriedade por estrangeiros, os cubanos-americanos poderiam tirar proveito das regras do governo Obama, que permitem que enviem quanto dinheiro quiserem para parentes na ilha, alimentando as compras e lhes dando uma participação no sucesso econômico de Cuba.
“Politicamente, este é um desenvolvimento extremamente poderoso”, disse Peters, argumentando que poderia provocar mudanças políticas em ambos os países.
A taxa de mudança, entretanto, provavelmente dependerá das complicações peculiares de Cuba. A chamada Pérola das Antilhas sofria com moradias pobres antes mesmo da revolução de 1959, mas a deterioração, as regras rígidas e gambiarras criativas criaram o atual amontoado de estranhezas.
Não há imóveis vagos em Havana, apontou Coyula, o planejador urbano. Toda moradia tem alguém morando nela. A maioria dos cubanos está basicamente presa onde está.
Na orla marítima no centro de Havana, as crianças espiam de prédios que deveriam ser condenados, com um terço da fachada faltando.
A poucas quadras no sentido do interior, cubanos como Elena Acea, 40 anos, subdividiram os apartamentos a proporções de Alice no País das Maravilhas. Seu imóvel de dois quartos agora tem quatro quartos, com um mezanino de compensado onde dois enteados moram um sobre o outro, mal capazes de ficarem em pé em seus próprios quartos.
Como muitos cubanos, ela espera se mudar –trocar seu apartamento por três lugares menores, para que seu filho mais velho, com 29 anos, possa começar sua própria família.
“Ele vai se casar”, ela disse. “Ele precisa se mudar.”
Mas apesar das garantias –na segunda-feira, Marino Murillo, o ministro da Economia, disse que a venda não precisará de aprovação prévia do governo– Acea e muitos vizinhos parecem desconfiados da promessa do governo de abrir mão. Alguns cubanos esperam regras forçando os compradores a manterem os imóveis por cinco ou 10 anos. Outros dizem que o governo dificultará para que os lucros saiam da ilha, por meio de impostos exorbitantes ou limites cambiais.
Outros, como Ernesto Benitez, um artista de 37 anos, não consegue imaginar um mercado realmente aberto.
“Eles vão estabelecer um preço, por metro quadrado, e pronto”, ele disse.
É claro, ele acrescentou, os cubanos responderiam estabelecendo seus próprios preços. E isso poderia ser suficiente para estimular um movimento, ele disse.
Ele certamente espera que sim. Benitez e a mulher com quem viveu por quase uma década se separaram há 18 meses. Cada um deles está agora namorando uma nova pessoa e há noites, eles reconhecem, em que a situação fica um tanto incômoda. Apenas um banheiro estreito separa seus quartos.
Katia Gonzalez, 48 anos, cujos pais passaram para ela o apartamento antes de morrerem (algo que Cuba permite), disse que consideraria vendê-lo por um preço justo. O quanto ela pensa que vale seu imóvel com dois quartos, a apenas duas quadras do oceano, no melhor bairro de Havana?
“Ah, US$ 25 mil”, ela disse. “Um pouco mais, talvez US$ 30 mil.”
Em Miami, um apartamento semelhante poderia custar quase 10 vezes mais do que isso –algo que muitos cubanos-americanos parecem estar pensando. José e vários outros corretores em Havana disseram que transações imobiliárias no mercado negro rotineiramente envolvem dinheiro dos cubanos no exterior, especialmente na Flórida.
“Há sempre dinheiro vindo de Miami”, disse Gerardo, um corretor que não quis que seu nome inteiro fosse citado. “O cubano em Miami compra uma casa para seu primo em Cuba, e quando ele vem passar o verão aqui por dois meses, ele fica hospedado naquela casa.”
Tecnicamente, isso é uma violação do embargo comercial iniciado sob o presidente Dwight D. Eisenhower. Segundo o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, negócios ou investimentos com cubanos são proibidos. Receber dinheiro ou lucro de Cuba também é ilegal.
Mas as regras são turvas na prática. Transações familiares –muitas envolvendo emigrantes recentes– parecem estar expandindo com um piscar da Casa Branca. O apoio aos negócios privados agora é encorajado segundo a licença geral que permite que cubanos-americanos visitem seus parentes, e em 2009, o presidente Barack Obama estabeleceu uma política permitindo que cubanos-americanos visitem a ilha sempre que quiserem e enviem remessas de dinheiro sem limites para parentes.
Além disso, a fiscalização contra indivíduos, diferente de empresas, é praticamente inexistente: nos últimos 18 meses, apenas um americano foi penalizado por violar as sanções, com uma multa de US$ 525, segundo um relatório do Congresso publicado no mês passado.
Os especialistas dizem que a diáspora cubana já começou a criar classes sociais em Cuba. Os emigrantes cubanos enviaram de volta ao país aproximadamente US$ 1 bilhão em remessas de dinheiro no ano passado, como mostram estudos, com uma proporção cada vez maior desse dinheiro financiando novos capitalistas que precisam de um forno de pizza ou outros equipamentos para trabalharem de modo privado. Os imóveis apenas expandirão isso, dizem os especialistas, e ofertas já estão chegando.
Ilda, 69 anos, mora sozinha em um apartamento com cinco quartos, no 9º andar, com vista para o mar. Neste mês, um casal cubano-americano em visita –“chique, bem vestido”, ela disse– fez uma oferta de US$ 150 mil pelo apartamento, sem se preocupar com qualquer proibição de propriedade de imóveis por estrangeiros.
“Eu disse a eles que não podia”, disse Ilda “Nós estamos aguardando pela lei.”
Mesmo quando a lei mudar, ela disse, ela preferiria uma “permuta”, porque isso lhe garantiria um lugar para morar.
O medo dela de não ter para onde ir é comum. Um recente estudo, de autoria de Sergio Diaz-Briquets, um especialista em demografia em Washington, apontou que Cuba tem um déficit de 1,6 milhão de moradias. O governo diz que o número é mais próximo de 500 mil, ainda assim um problema sério.
Coyula disse que o dinheiro das vendas pode não ser suficiente para consertar a situação, já que praticamente não há um setor de construção, processos para emissão de licenças ou materiais de construção.
Outros problemas também poderiam precisar ser revistos.
“Não acontecem despejos aqui desde 1939”, ele disse. “Há uma lei que os proíbe.”
Há também a questão de como compradores e vendedores se encontrarão. Classificados são ilegais em Cuba, o que explica o motivo de corretores como José passarem seus dias circulando em feiras ao ar livres com cadernos, anotando os apartamentos oferecidos e desejados.
Ele já tem dois funcionários, e quando a nova lei chegar, independente de seus serviços serem legalizados ou não, ele espera contratar mais.
“Nós precisamos de coordenação”, ele disse. “Isso virá.”
Tradução: George El Khouri Andolfato
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