domingo, 26 de junho de 2011

20ª lista de indicações - Discussão na semana de 3 a 8 de julho de 2011 (P2)


Caras e caros,

Eis mais alguns textos para serem lidos. Em tempo, meus agradecimentos aos alunos Ruben Gondim Fonseca e Danilo Herrera pelas contribuições para esta lista. Boa leitura a todos.

Abraços,

Professor Estéfani Martins
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opera10.blogspot.com
sambluesoul.blogspot.com
idearium.com.br
Twitter - @opera10
Facebook e Orkut - Estéfani Martins





1 - 2º anos, 3º anos e PV
O povo Brasileiro de Darcy Ribeiro

2 - 2º anos, 3º anos e PV
Sonhos, futebol e elefantes brancos

3 - 2º anos, 3º anos e PV
A origem da crise grega

4 - 2º anos, 3º anos e PV
Dissidente chinês sai da prisão num silêncio pouco característico
The New York Times
Andrew Jacobs Pequim (China)
Depois de 80 dias preso sem acusação, o crítico mais volúvel do governo chinês, o artista Ai Weiwei, foi solto tarde da noite de quarta-feira, agradecendo aos repórteres por sua preocupação e depois fazendo uma coisa quase inimaginável – recusando-se a dizer qualquer coisa.
“Não posso falar sobre o caso”, disse ele na tarde de quinta-feira, falando do lado de fora de sua casa, com sua cintura generosa visivelmente reduzida pelos meses de prisão. “Não posso dizer nada.” Então ele pediu educadamente que o rebanho de quase duas dúzias de jornalistas o deixasse em paz.
Embora Ai tenha sido solto como uma espécie de condicional que impõe uma restrição de um ano sobre seus movimentos e o proíbe de interferir com o que as autoridades descrevem como uma investigação por sonegação de impostos, a lei chinesa não o proíbe explicitamente de falar sobre sua provação – ou sobre qualquer outro assunto.
Mas Ai, 54, que nos últimos anos havia se tornado um crítico destemido do governo do Partido Comunista, quase certamente foi instruído de que sua liberdade depende em parte de sua habilidade de censurar a si mesmo. Até 3 de abril, quando a polícia o removeu do Aeroporto Internacional de Beijing quando ele tentava embarcar num avião para Hong Kong, Ai era um usuário ávido do Twitter e uma fonte sempre disponível para jornalistas estrangeiros em busca de uma citação mordaz anti-establishment. Seu trabalho artístico, exibido em Nova York, Londres e Berlim, também fornece críticas ácidas da negligência e dos erros do governo.
A questão que muitos de seus amigos e admiradores se fizeram na quinta-feira é se a predisposição aparentemente genética de Ai para ridicularizar o governo foi subjugada pela violência. “Ele tem uma Espada de Demócles pendurada sobre a cabeça”, disse Nicholas Bequelin, pesquisador da Human Rights Watch em Hong Kong. “Isso significa que sempre que ele abrir a boca, coloca a si mesmo em perigo.”
O governo não reconheceu publicamente qualquer restrição ao direito de Ai se expressar. Respondendo a perguntas dos repórteres na quinta-feira, o porta-voz do ministério de Exterior, Hong Lei, disse que as condições de libertação de Ai aplicavam-se apenas à sua liberdade de movimentação – ele precisa de permissão para sair de Pequim – e qualquer interferência potencial na investigação em andamento. “A China é um país regido pela lei”, disse Hong. “Esperamos que países relevantes respeitem a soberania judicial chinesa.”
Mas os contornos do sistema legal chinês, como advogados de direitos daqui sabem bem, tendem a ser confusos. Autores de petições costumam ser jogados em celas extra-legais conhecidas como “prisões negras”, dissidentes são frequentemente confinados às suas casas por meses a fio e os agentes de segurança domésticos têm uma variedade de meios para manter os agitadores na linha.
Gao Zhisheng, um defensor de direitos legais autodidata, está desaparecido desde abril do ano passado, logo depois de ter desafiado as autoridades contando a um repórter sobre a tortura que ele sofreu numa detenção anterior. Liu Xia, a mulher do Nobel da Paz encarcerado Liu Xiaobo, é mantida sem comunicações desde outubro passado. E no início deste mês, um grupo de defesa de direitos norte-americano divulgou uma carta da mulher de um advogado, Chen Guangcheng, que é cega, que descrevia como o casal apanhou durante meses de confinamente forçado em seu vialarejo rural na província de Shandong.
“Não há nada na lei criminal chinesa que diga que o governo pode tratá-lo duramente ou restringir sua liberdade uma vez que você tenha sido liberado da custódia”, disse Liu Xiaoyuan, advogado de defesa que forneceu aconselhamento legal para a família de Ai no passado.
Para aqueles que se acostumaram a dizer o que pensam, as restrições podem ser duras de engolir. Zhao Lianhai, attivista de Pequim que buscou uma compensação maior para as vítimas de um escândalo de leite contaminado, foi solto antes do prazo de uma sentença de prisão de dois anos depois de ter prometido cessar seus protestos públicos, segundo reportagens. “Eu apoio o governo e o agradeço, e me arrependo profundamente das críticas que fiz contra o governo no passado”, escreveu Zhao numa mensagem online para apoiadores depois de sua condicional em dezembro.
Mas três meses depois, por conta da detenção de Ai, ele quebrou o silêncio com uma torrente de comentários no Twitter que se tornaram cada vez mais frequentes e ferozes. “Tenho vergonha de mim mesmo por não falar nada até agora”, escreveu em uma de suas primeiras mensagens. “Não posso mais ficar em silêncio. Estou pronto para voltar para a prisão. Eu preferiria morrer a desistir.”
Wu Lihong, ambientalista da província de Jiangsu que passou três anos na prisão depois de denunciar oficiais locais cujas maquinações permitiram que um lago fosse inundado de poluição industrial, foi informado de que seria preso novamente se revelasse em público os detalhes dos maus-tratos que sofreu em custódia, que segundo ele incluíram chibatadas e queimaduras de cigarro.
Em entrevista por telefone na quinta-feira, Wu descreveu a série de outras restrições que lhe foram impostas pela polícia desde sua libertação no ano passado: nada de acesso à internet, entrevistas para a mídia e, em nenhuma circunstância, ele deveria fotografar o lago. Dada sua ansiedade para falar com a reportagem, Wu claramente não cumpriu com seu lado da barganha. “Eu simplesmente não posso ceder a eles”, disse ele sobre os homens que o vigiam, frequentemente seguindo-o com uma van, interceptando sua correspondência e monitorando suas ligações telefônicas. “Temos leis nesse país e as autoridades não as obedecem.”
Embora ele continue livre, Wu, originalmente um vendedor de máquinas, diz que pagou um preço alto por sua intransigência. Cada vez que ele encontra um emprego, diz que a polícia arranja para que ele seja prontamente demitido. Nos últimos meses, ele disse que sobreviveu plantando vegetais no pequeno terreno ao lado de sua casa.
É muito cedo para dizer que tipos de restrições Ai poderá enfrentar para trabalhar, socializar ou se comunicar com o mundo lá fora. Qualquer impulso para falar poderá também ser temperado pelo fato de que três de seus associados – um designer, um contador e um de seus assistentes – continuam presos como parte do inquérito financeiro que sua família diz ser infundado.
Mesmo enquanto celebravam sua libertação na quinta-feira, alguns defensores dos direitos humanos disseram temer que o governo possa ter conseguido emudecer uma das mais renomadas “vozes da consciência” do país.
“Um poder político pode facilmente silenciar um indivíduo”, disse Pu Zhiqiang, advogado de direitos em Pequim. “Mas ao fazer isso, ele também mostra seu medo e falta de confiança. E ele também mostra ao mundo as falhas do sistema legal da China.”

(Mia Li contribuiu com a pesquisa)
Tradução: Eloise De Vylder

5 - 2º anos, 3º anos e PV
Pálpebras de Neblina
Caio Fernando Abreu

Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono. Da praça Roosevelt, fui subindo pela Augusta, enquanto lembrava uns versos de Cecília Meireles, dos Cânticos: "Não digas 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? / Que foi que te ensinaram/ que era sofrer ?" Mas não conseguia parar. Surdo a qualquer zen-budismo, o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem família, quem sabe nem moradia - coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban - filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia Tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás. Foi então que a vi. Estava encostada na porta de um bar. Um bar brega - aqueles da Augusta-cidade, não Augusta-jardins. Uma prostituta, isso era o mais visível nela. Cabelo malpintado, cara muito maquiada, minissaia, decote fundo. Explícita, nada sutil, puro lugar comum patético. Em pé, de costas para o bar, encostada na porta, ela olhava a rua. Na mão direita tinha um cigarro, na esquerda um copo de cerveja.
E chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemidos nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar - exposta, imoral, escandalosa - sem se importar que a vissem sofrendo. Eu vi. Ela não me viu. Não via ninguém, acho. Tão voltada para a própria dor que estava, também, meio cega. Via pra dentro: charco, arame farpado, grades. Ninguém parou. Eu, também, não. Não era um espetáculo imperdível, não era uma dor reluzente de néon, não estava enquadrada ou decupada. Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca grossa da vida. Sem o recurso dessas benditas levezas de cada dia - uma dúzia de rosas, uma música de Caetano, uma caixa de figos. Comecei a emergir. Comparada à dor dela, que ridícula a minha, dor de brasileiro-médio-privilegiado. Fui caminhando mais leve. Mas só quando cheguei à Paulista compreendi um pouco mais. Aquela prostituta chorando, além de eu mesmo, era também o Brasil. Brasil 87: explorado, humilhado, pobre, escroto, vulgar, maltratado, abandonado, sem um tostão, cheio de dívidas, solidão, doença e medo. Cerveja e cigarro na porta do boteco vagabundo: carnaval, futebol. E lágrimas. Quem consola aquela prostituta? Quem me consola? Quem consola você, que me lê agora e talvez sinta coisas semelhantes? Quem consola este país tristíssimo? Vim pra casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu me esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "porquê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?

(in: Pequenas Epifanias)

6 - 2º anos, 3º anos e PV
Professores israelenses desafiam governo e ensinam tragédia palestina
Mais de cem professores secundários de Israel estão desafiando instruções do ministério da Educação ao ensinar seus alunos sobre as perdas sofridas pelos palestinos em 1948, ano da fundação do Estado de Israel.

Para o professor de História Iddo Felsenthal, os fatos que ocorreram durante a guerra de 1948, na qual cerca de 700 mil palestinos perderam suas casas e tornaram-se refugiados, fazem parte da história do país e devem ser ensinados nas escolas de Israel.
"Criou-se um clima geral de demagogia em Israel, no qual qualquer pessoa que mencione a Nakba (tragédia ou catástrofe, em árabe) dos palestinos é vista como se fosse contra o Estado de Israel. Muitos professores têm medo", disse o professor à BBC Brasil.
O tema da Nakba é um tabu na sociedade israelense, grande parte do público interpreta a própria menção do termo como uma posição contra a própria existência do Estado de Israel. No entanto, existe um setor significativo da sociedade israelense que aceita iniciativas como o ensino do que ocorreu com os palestinos em 1948. Em geral, os filhos de pessoas com essa posição estudam em escolas seculares e pluralistas.

Anonimato
Vários professores que ensinam a Nakba vêm falando à mídia israelense sobre o assunto em condição de anonimato, pois receiam perder o emprego ou ter sua carreira prejudicada.
Para Felsenthal, que leciona em um colégio de Jerusalém, os professores não deveriam se esconder.
"Não estamos fazendo nada de mal, muito pelo contrário. Estamos dando a nossos alunos instrumentos de raciocínio critico, para que possam entender melhor a história do nosso país e do conflito. Assim os alunos poderão analisar, eles mesmos, as diversas narrativas históricas e formar sua opinião de forma independente", afirmou.
"A identidade de um povo não pode se basear em esquecer, recalcar ou esconder fatos históricos básicos, como a expulsão dos palestinos", acrescentou.

Kit Nakba
De acordo com a versão oficial do governo israelense, em 1948 os palestinos não foram expulsos, mas fugiram, seguindo os chamados dos países árabes.
A ONG israelense Zochrot ("Lembramos", em tradução livre), que se dedica a preservar e divulgar a memória das perdas sofridas pelos palestinos, produziu um "kit Nakba", especialmente para professores interessados em mostrar aos alunos um capítulo da história do país que não é incluído no currículo escolar oficial.

Eitan Bronstein, fundador e diretor da Zochrot, disse à BBC Brasil que o kit já está sendo utilizado por mais de cem professores secundários e que "a demanda pelos kits continua crescendo".
O kit pedagógico, com textos, fotos e um DVD, inclui testemunhos de palestinos que perderam suas propriedades em 1948, mapas, e as diversas versões oficiais dos fatos históricos - do governo israelense, da liderança palestina e da ONU.

Aldeias destruídas
Durante a guerra de 1948, à qual Israel chama de Guerra da Independência e os palestinos chamam de Nakba, mais de 400 aldeias palestinas foram destruídas.
"Em todo o país há ruínas das centenas de aldeias que foram destruídas, mas a maioria do público não sabe que havia aldeias palestinas nesses lugares e o que aconteceu com os moradores", afirmou Bronstein.
A ONG já organizou visitas a mais de 50 locais onde no passado havia aldeias palestinas e colocou placas em hebraico, árabe e inglês, com os nomes das aldeias.
No entanto, de acordo com Bronstein, em geral as placas são imediatamente retiradas dos locais.
"Para muitos israelenses é difícil admitir que temos capítulos feios em nossa historia", disse. "Mas a única maneira de construir um futuro melhor é, antes de tudo, olhar com coragem para o nosso passado e não tentar negar o que aconteceu aqui em 1948".
"A Nakba não é só a tragédia dos palestinos. Nós, israelenses, também somos vitimas dela, pois desde a fundação do Estado vivemos em guerras, e qualquer cidadão israelense, desde a infância, começa a ser preparado para tornar-se um soldado", acrescentou Bronstein.

Questão espinhosa
O problema dos refugiados, que hoje em dia são cerca de 4,5 milhões de pessoas dispersas em vários países do Oriente Médio, é considerado a questão mais espinhosa do conflito israelense-palestino, e as versões contraditórias sobre o que ocorreu em 1948 alimentam até hoje os discursos dos dois lados.
Em 2009, o ministro da Educação, Gidon Saar, proibiu o ensino da Nakba em escolas árabes-israelenses e mandou recolher livros escolares que incluíam informações sobre a expulsão dos palestinos.
O Ministério da Educação afirmou que "os professores não têm permissão para ensinar conteúdos que não foram autorizados pelo ministério, sejam quais forem os temas".
Segundo o ministério, "os professores que ensinam conteúdos não autorizados agem de forma que contradiz os regulamentos".

7 - 3º anos e PV
Sobre a universalidade de um modelo em crise


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