terça-feira, 24 de maio de 2011

Proposta de redação 2011-S14 (Uberaba - todas as turmas)

FEP

O céu é o limite


Texto 1

Em Admirável mundo novo, romance de ficção publicado em 1932, o escritor Aldous Huxley imagina um futuro hipotético em que as pessoas são condicionadas, bio e psicologicamente, a viver em harmonia com as leis e regras de uma sociedade tecnicamente programada pelo estado científico. Nesse mundo futuro, não existe mais o conceito de família nem as bases éticas da tradição; qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos é dissipada com o consumo do "soma", uma droga sem efeitos colaterais capaz de produzir uma sensação de bem-estar. Verifique, a seguir, um trecho do livro.

Nosso mundo não é o mesmo de Hamlet ou de Otelo. Não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não têm medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não têm esposas, filhos, amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados de modo a não poder deixar de se comportar como devem. E se alguma coisa não estiver bem, haverá o soma. A velha liberdade gerou uma série de equívocos e desastres; hoje temos tranquilidade, estabilidade, felicidade para todos.
(Adaptado de: HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Rio de Janeiro: Hemus, 1969. p. 272)

Texto 2

Em anos recentes, vem consolidando-se um movimento ideológico e biotecnológico autodenominado transhumanismo, fazendo eco às projeções de Huxley.

O que distingue os transhumanistas é a ideia de que a evolução da humanidade como um todo se baseará na tecnologia. O objetivo transhumanista é um autoaperfeiçoamento, interferir na evolução da espécie humana pela utilização das tecnologias que a ciência oferece. Imagine deixar de envelhecer! Imagine ter o dobro de inteligência e memória, viver num mundo que não seja devastado por doenças ou guerras! Imagine conquistar e colonizar outros planetas! Desengane-se quem pensa que esses objetivos são inatingíveis no futuro. E quando referimos “futuro”, falamos de um “futuro” que muitos de nós vamos viver.
(Adaptado de: O céu é o limite. Disponível em: <www.knol.google.com>)

David Pearce, um dos fundadores do transhumanismo, explica em seu Projeto Abolicionista:

O Projeto Abolicionista esboça uma estratégia de emancipação, visando erradicar o sofrimento em toda vida sensível. É um projeto ambicioso, implausível, mas tecnicamente praticável. É defendido aqui numa base ética e utilitária. A genética e a nanotecnologia permitem que o Homo sapiens descarte o legado mental e nervoso de seu passado evolutivo. Nossos sucessores pós-humanos (transhumanos) reescreverão o genoma vertebrado, redesenhando o ecossistema global, e abolirão o sofrimento em todo o mundo vivo. No caso do homem, o sofrimento pode ser substituído por um novo sistema motivacional com base inteiramente em gradientes de bem-estar. A felicidade, agora fisiologicamente inimaginável, pode transformar-se na norma hereditária da saúde mental. Claro que existe o perigo da manipulação genética, pelo alto grau de incerteza acerca das prováveis consequências das experiências de modificação genética nos humanos. No entanto, há possíveis saídas éticas.
(Adaptado de: Limpando os genes dos seres vivos. Disponível em: <www.transhumanismo.blogs.sapo.pt/11099.html>)

Proposta de Redação
Em termos éticos, é legítimo “interferir na evolução da espécie humana pela utilização das tecnologias que a ciência oferece”, usar essas tecnologias para “limpar os genes dos seres vivos” e “erradicar o sofrimento em toda vida sensível”, segundo o que os cientistas do transhumanismo pressupõem como “ético” e correto?
Em nome do “autoaperfeiçoamento” e da “felicidade”, até que ponto o homem teria direito de alterar sua própria natureza (física, psíquica, emocional) redesenhando sua configuração genética?
Tendo como referência a citação do romance de Huxley e as propostas dos transhumanistas, assuma um posicionamento sobre essas questões e argumente-o em parágrafos consistentes (mínimo de 25 e máximo de 30 linhas).

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