Proposta de redação
Texto 1
Fonte: internet
Texto 2
França passa a prender mulheres que usem niqab, o véu islâmico
12 abril 2011
Juliana Cesar
Duas mulheres usando o niqab foram detidas em Paris nesta segunda, quando entrou em vigor a lei que proíbe o uso de véus islâmicos que cubram parcialmente ou totalmente o rosto de mulheres em locais públicos do país.
As duas participavam de um protesto contra a nova lei em frente à catedral Notre-Dame. Segundo a polícia, elas foram detidas porque participavam de uma manifestação que não havia sido informada previamente às autoridades, e que, portanto, não havia sido autorizada. Segundo a polícia, a detenção não estava ligada ao uso do niqab – véu islâmico que deixa apenas os olhos à mostra.
“A detenção ocorreu devido ao desrespeito da obrigatoriedade de informar sobre a realização de manifestações”, afirmou o delegado Alexis Marsans, da seção responsável pela ordem pública.
A organização de protestos deve ser informada às autoridades francesas, sobretudo quando há necessidade de bloquear o trânsito – o que não era o caso da manifestação desta segunda-feira. No entanto, é algo totalmente atípico na França prender pessoas que participam de protestos pacíficos, ainda mais em pequenos grupos.
Com a medida que entrou em vigor nesta segunda-feira, a França se tornou a primeira nação da Europa a adotar um veto dessa natureza.
Segundo a lei, as pessoas que esconderem seu rosto em “locais abertos ao público”, como repartições, meios de transporte, estabelecimentos comerciais, parques e cinemas, estão sujeitas a multas de 150 euros (cerca de R$ 345).
Já pessoas que obrigarem uma mulher a usar o niqab ou a burca (que cobre integralmente o rosto, com uma tela para os olhos) podem ser multados em até 30 mil euros ( cerca de R$ 68 mil) e condenados a um ano de prisão.
Tensões
A medida corre o risco de acirrar as tensões com a comunidade muçulmana do país, a maior da Europa, estimada em 6 milhões de pessoas.
O número de mulheres que cobririam o rosto no país, segundo diferentes estatísticas, é, no entanto, baixíssimo, estimado entre 800 e duas mil no máximo.
“A lei vai isolar ainda mais as mulheres que usam esse tipo de vestimenta”, disse à BBC Brasil Noura Jaballah, presidente do Fórum Europeu das Mulheres Muçulmanas, em Paris.
“São os muçulmanos que devem discutir entre eles para adotar suas próprias práticas. Essa lei é uma intrusão em um assunto que não diz respeito ao Estado”, afirma Jaballah, questionando ainda a necessidade de se fazer uma lei para um número tão restrito de pessoas.
Em sua associação, nenhuma mulher usa o niqab. Ela diz que as mulheres devem respeitar a obrigação de mostrar seus rostos para se identificar, quando solicitadas, em aeroportos, bancos ou repartições públicas, por exemplo.
“Mas esta lei já está provocando desvios na interpretação da medida. Há casos de mães que utilizam apenas o véu que cobre os cabelos e que estão sendo impedidas de participar de reuniões ou atividades escolares”, diz ela.
Aprovação
Segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos divulgada no ano passado, 57% dos franceses aprovam a lei que proíbe o véu integral.
O médico aposentado Jean-Noël Haudecoeur vive em um bairro popular no norte de Paris, onde é mais comum ver mulheres com niqab nas ruas.
“Se essas pessoas quiseram vir morar na França, elas precisam se adaptar às leis do país”, afirma.
Vários representantes muçulmanos se opuseram à lei, afirmando que ela estigmatiza a comunidade. Mas homens muçulmanos ouvidos pela BBC afirmam que o Alcorão não obriga o uso do niqab e que esse comportamento é defendido por grupos radicais.
A lei entra em vigor pouco após declarações polêmicas do ministro do Interior, Claude Guéant, que afirmou que “o aumento do número de muçulmanos na França e que certas práticas ligadas a essa religião representam um problema”.
O veto passa a ser adotado também no momento em que o partido de extrema-direita Frente Nacional vem ganhando destaque nas sondagens das eleições presidenciais de 2012.
No sábado, 58 pessoas foram detidas em uma manifestação organizada por associações islâmicas, não autorizada pelas autoridades.
Havia apenas cerca de 200 participantes, a grande maioria homens, que vieram inclusive de outros países europeus.
Novos protestos contra a lei estão previstos nesta segunda-feira em frente à catedral Notre-Dame.
Fonte: BBC Brasil
Texto 3
Fetiche intelectual
Há duas semanas (A burca), eu disse que era a favor da lei francesa contra a burca (que muita gente confunde com o véu, que não é proibido na França). Aliás, com aquele véu, a mulher muçulmana parece uma Afrodite em versão corânica. Uma deusa de sensualidade. Andam pelas ruas juntas, como um vento que varre nossos olhos com seus olhos.
São a prova viva de que a invisibilidade da forma do corpo (ou a visibilidade apenas pressentida) é muito mais sensual do que a obscena explicitação da forma.
Um mar de e-mails e protestos contra a minha "intolerância com o outro". Obrigado.
Mas adianto: de todos os argumentos dos tranquilos defensores do "direito à burca" (acho a expressão engraçada por si só), um me parece o mais absurdo. Já vou dizer qual é.
Digo àqueles que discursam a favor da burca desde seus apartamentos com TV a cabo, de seus cursos de história da arte, de seus direitos de ir e vir e praticar sexo sadomasô, se assim o quiser, enfim, da condição de adorar Elvis, ETs, o nada, a mãe-natureza (pra mim está mais pra madrasta) ou seu próprio e pequeno "eu", que não acredito que nenhuma mulher use uma burca porque "quer".
O argumento mais absurdo é "as mulheres usam a burca porque querem". Não acredito nesse papinho multiculturalista.
O argumento "fulana nasceu na cultura X, a cultura X implica Y, logo fulana quer Y" é um sofisma barato. Quer ver? Leia mais...
Acho que um desses assinantes de TV a cabo, defensores do "direito à burca" provavelmente defenderia hoje o direito a "ser escravo" na medida em que "alguém foi acostumado pela cultura a isso". Será?
Que tal a "lapidação" (corte ritual do clitóris) que alguns praticam por aí? Também algo que devemos "achar objeto do direito da cultura". Azar de quem nasceu num lugar desses?
O debate contemporâneo é como uma guerra de trincheiras. Ninguém consegue ver muito longe, não existe mais nenhuma teoria grandiosa e definitiva, mas nem por isso é menos sangrento e sério. De minha parte, não tenho dúvida de qual lado da trincheira estou: daquele contra o fundamentalismo religioso seja qual ele for.
E fundamentalismo não é a mesma coisa que terrorismo islâmico (que alguns dizem que está acabando...). Muitas vezes o fundamentalismo é silencioso e invisível em seus modos de tortura. Fundamentalismo religioso é uma forma de reação aos "costumes modernos".
Nos dias seguintes a esse meu texto sobre a burca, uma mulher me abordou contando o seguinte. Em férias num país de maioria muçulmana, ela vira lado a lado uma alemã de férias com um shortinho desses de parar o trânsito e uma mulher com uma dessas burcas de mau gosto (o "de mau gosto" é por minha conta, ou melhor, minha culpa, minha máxima culpa).
Isso seria índice de como as "culturas" são diferentes. Uso as aspas aqui para a palavra "culturas" porque "cultura" virou um segundo grande fetiche da burguesia (o primeiro, segundo Theodor Adorno, seria a ciência). A inteligência burguesa blasé gosta de citar a "cultura" como prova de sua "generosa aceitação do outro" e de ausência de preconceitos. Quem diz que não tem preconceito é mentiroso.
A questão, caros defensores do "direito à burca", é que, no mundo do fundamentalismo religioso (e tem gente que acha que não existe fundamentalismo religioso...), a menina alemã não teria o direito de usar seu shortinho que para o transito. Ela também teria que usar a burca (claro, mas ela aceitaria porque afinal, a "cultura" a faria aceitar, ou a sua filha, no futuro).
A burca é o fundamentalismo religioso. Só cego não vê isso. Os talibãs (essa gente democrática, doce e respeitadora do "outro") adoravam as burcas e, de certa forma, a "inventaram".
Mas esses relativistas assinantes de TV a cabo, na realidade, são como gente de 18 anos que diz para o professor "cada um é cada um" a fim de que ele pare de encher o saco com perguntas difíceis.
No fundo, o segredo de dizer "é a cultura dela", ou "cada um tem um ponto de vista", é soar chique. É posar de estar em dia com o "respeito ao outro". Puro fetiche.
Luiz Felipe Pondé é filósofo, psicanalista, professor da PUC-SP e articulista da Folha de São Paulo
Fonte: FSP - 09/05/11
Faça uma dissertação de 25 a 30 linhas sobre a sua opinião acerca da proibição do uso da burca e do niqab por mulheres muçulmanas na França e em algumas cidades de outros países europeus.
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