Caras e caros,
Do diálogo e da competição entre os tipos musicais nasce uma enorme diversidade de estilos ou gêneros musicais, que aumenta quanto mais eles se relacionam para produzir subestilos, novos movimentos ou mesmo tendências tão fugazes quanto bem sucedidas, ainda que por um verão apenas. Seguem breves considerações sobre alguns gêneros musicais relevantes para a construção da identidade musical brasileira na segunda metade do século XX.
Lembrem-se que praticamente todos os exemplos citados podem ser ouvidos e vistos no Youtube.
Blues
Ritmo nascido no chamado “sul profundo” dos EUA, na área do Delta do Mississipi e nas imediações também rurais desse local. O Blues constituiu-se como crônica musical da vida de trabalho, pequenas alegrias, humilhações e preconceito dos negros norte-americanos na virada do século XIX para o XX. Além desse, outros temas dominavam as predileções dos primeiros “bluesmen”, a saber: o sexo, o demônio, a bebida, a noite e os relacionamentos afetivos. De modo geral, o Blues é uma música de harmonia simples, de ritmo melancólico e solos de guitarra, gaita e piano comumente, que simulavam um lamento, um choro ancestral – a famosa “blue note” - vindo da África manifestando-se contra a violência, o degredo e as muitas tentativas de aculturamento sofridas pelos negros chegados nos EUA por parte dos brancos norte-americanos. Desenvolveu-se e urbanizou-se a partir da ida em massa de negros para as metrópoles do norte, como Chicago. Nesta cidade entre outras da parte mais desenvolvida e liberal dos EUA, muitos negros do sul procuravam melhores condições de vida e trabalho, além de uma sociedade menos preconceituosa, entretanto quase sempre não a achavam, porque eram obrigados - por questões econômicas - a morarem em guetos pobres e, portanto, continuavam de certa forma marginalizados na sociedade. A partir de então e com sua aceleração e eletrificação, o Blues passou a influenciar de forma mais contundente no desenvolvimento de ritmos derivados e dependentes dele, tais como: o Jazz, o R&B, o Rock, o Funk, o Soul e o RAP, os quais são consequências estéticas desse primordial gênero musical da música norte-americana, que, junto ao samba, influenciou a música mundial numa proporção e abrangência incomparável. O blues ao longo da primeira metade do século XX foi diversificando-se em muitos estilos tais como o Delta Blues, o Piedmont Blues, o Country Blues, o Chicago Blues, o Detroit Blues, o Jump Blues, o Rhythm and Blues, etc.
Exemplos: Son House, Leadbelly, Robert Johnson, Willie Dixon, Muddy Waters, B.B. King, Buddy Guy, Charlie Paton, Pinetop Perkins, Hound Dog Taylor, Koko Taylor, Blind Wille McTell, Blind Lemon Jefferson, Arthur “Big Boy” Crudup, Blind Willie Johnson, Big Mama Thornton, Eddie Boyd, Sonny Terry, Elmore James, Willian Clarke, Fenton Robinson, Howlin' Wolf, J. B. Lenoir, John Lee Hooker, etc.
Jazz
O Jazz é um estilo musical estadunidense oriundo do sul do país e que se consolidou na transição do século XIX para o XX. Grosso modo, é um processo de urbanização e requintamento do Blues rural tocado nos arredores rurais de cidade como New Orleans. Os pilares dessa expressão artística fundam-se nas tradições musicais afro-americanas e nas europeias desenvolvidas pela inventividade da cultura popular de comunidades negras e mestiças (“creoles”) de cidades do sul dos EUA. dos Estados Unidos. Tal manifestação teria surgido por volta do início do século XX na região de Nova Orleães e em suas proximidades, tendo na cultura popular e na criatividade das comunidades negras que ali viviam um de seus espaços de desenvolvimento mais importantes. Esta ousadia estética gestada por negros muitas vezes com educação musical formal incorporava elementos do canto tribal africano como o canto-resposta, a “blue note” do Blues, o ritmo sincopado herdado dos tambores africanos, a polirritmia, a improvisação e alguns elementos do Ragtime e do Gospel. Os instrumentos usados no Jazz são de espectro amplo, desde o violino de Stephane Grappelli à guitarra de Wes Montgomery, por isso os mais variados instrumentos têm sido empregados na execução desse estilo musical, especialmente, metais e piano.
Desde sua origem, o Jazz não limitou-se a ser uma manifestação artística monocórdica, previsível ou estagnada, por isso, ao longo do século XX, foram muitas as mudanças, rupturas e fusões pelas quais passou esse estilo, dentre as quais destaca-se: o Dixieland de New Orleans, o Swing das Big Bands, o Bebop das grandes metrópoles, o Cool Jazz, o Free Jazz, o Fusion (Samba jazz, Funk Jazz, Latin Jazz, Acid Jazz, etc.), além, evidentemente, das cada vez mais imprevisíveis tendências contemporâneas.
Exemplos: Miles Davis, John Coltrane, Charles Mingus, Herbie Hancock, Horace Silver, Os Cobras, Copa 5, Brasil 66, Moacir Santos, Bill Evans, Milt Jackson, Herbie Mann, Jim Hall, Ron Carter, Jaco Pastorious, Gene Krupa, Hermeto Pascoal, Groove Holmes, Gerry Mulligan, Chet Baker, Buddy Rich, Sivuca, Kenny Burrell, Sonny Rollins, Dexter Gordon, Wynton Marsalis, Ron Carter, US3, James Taylor Quartet, Charlie Parker, Oscar Peterson, Thelonious Monk, Dave Brubeck, Art Blakey, Wes Montgomery, Sonny Rollins, Ray Brown, King Oliver, Louis Armstrong, Weather Report, etc.
Soul
Da união entre as tradições africanas musicais trazidas com os escravos com a música sacra de origem protestante, mais elementos do Blues e do R&B, na transição da década de 1950 para a de 1960, desenvolveu-se uma música profana notabilizada pelas harmonias elegantes e pelos vocais angelicais, além das letras ora políticas, ora sentimentais. Portanto, o Soul é resultado da união das experiências profanas e confessas da versão acelerada e festiva do Blues, o Rhythm and Blues; com o Gospel, a música protestante negra, consequência eletrificada e pungente dos Spirituals, quase sempre cantada por coros efusivos e vibrantes com o intuito de adorar a Deus. Tal processo cultural é a prova das infinitas e imprevisíveis possibilidades de aproximação entre as referências culturais ou ideológicas mais distintas.
Exemplos: Ray Charles, Otis Redding, Sam Cooke, Curtis Mayfield, Smokey Robinson, The Temptations, The Comodores, Jackson 5, Marvin Gaye, Gladys Knight & the Pips, Martha Reeves & The Vandellas, The Marvelettes, Diana Ross (e o grupo The Supremes), Aretha Franklin, The Four Tops, Booker T and the MGs, Solomon Burke, Nina Simone, Dusty Springfield, Stevie Wonder, etc.
Funk
Ao longo da década de 1960 e 1970, o Soul foi sendo modificado por várias influências que potencializaram outro ritmo mais dançante, mais agressivo e com letras politicamente ainda mais engajadas, que passou a ser chamado mais tarde de Funk. Com batida fortemente sincopada e com grandes e agitados nipes de metais, construiu-se uma música que ao mesmo tempo era defensora da causa dos negros na década de 1960 e 1970 especialmente, era um ritmo enérgico, alegre e sedutor. Por vezes, é difícil separar as influencias Funk e Soul em uma mesma música.
Exemplos: James Brown, mestre maior desse ritmo; Sly and Family Stone; Funkadelic; Kool and the Gang; Kashmere Stage Band; The Metters; Average White Band; Maceo Parker; Hank Ballard; Jimmy "Bo" Horne; etc.
Reggae e ritmos jamaicanos
Estilo musical originário da Jamaica, caracterizado pela estrutura de banda pop; pelas letras ligadas aos movimentos de afirmação dos negros, ao amor e a paz; pela ligação com o Rastafarismo e pelo grande apelo pop. Originou-se da união de influências da música tradicional africana e caribenha (Mento), do Ska, do Rocksteady e do R&B. Posteriormente, deu origem a ritmos como o Dub, o Dancehall e o Ragga. Bob Marley é o maior representante do gênero em função da qualidade da sua vasta obra e da grande repercussão internacional dela. Exemplos: Peter Tosh, Jimmy Cliff, The Wailers, Big Mountain, etc.
RAP (“Rhythm and Poetry” ou "Rime and Poetry")
Ritmo nascido na periferia de cidades norte-americanas, especialmente New York, produto de uma cultura urbana, negra e periférica que é parte de tradições culturais caracterizadas por expressões corporais (Break), musicais (RAP) e visuais (grafite), as quais são os pilares de movimento cultural chamado Hip Hop. O RAP é resultado de várias e evidentes influências de tradições musicais e comportamentais dos “Sistemas de Som” jamaicanos. Consiste no cantar falado e ritmado de um Mestre de Cerimônia (MC) acompanhado por um Disc-jóquei (DJ) que usava bases presentes em “Long Plays” (LPs) geralmente de bandas e intérpretes clássicos do Funk como James Brown, Sly and Family Stone, The Metters, Kashmere Stage Band, etc., ainda que com a aplicação de texturas, novos andamentos e os famosos “scratches”, para que os MCs "cantassem" sobre essas construções de intenso e marcado ritmo. No início, a partir de vozes de Gil Scott-Heron e Kurtis Blow, o RAP foi uma espe´cie de porta-voz das angústias, das insatisfações e do estilo de vida dos negros das comunidades pobres dos EUA, ou seja, tinha um componente político indiscutível. Mais tarde, ao longo da década de 1990, o RAP perdeu em parte seu conteúdo eminentemente político para dar lugar a letras de caráter hedonista, revanchista, misógino, etc., que foram responsáveis pela consolidação de um sub-estilo do RAP chamado Gangsta.
Exemplos: DJ Grandmaster Flash, Afrika Bambataa, DJ Kool Herc, Public Enemy, Run DMC, De La Soul, N.W.A. - Niggas With Attitude, The Notorious B.I.G., Tupac Shakur, The Roots, Dr. Dre, etc.
Rock’n’Roll
Ritmo musical nascido da união de influências musicais negras como o Blues e, seu filho de cadência acelerada e letras subversivas, o Rhythm'n'Blues, com ritmos musicais como o Country, o Bluegrass, os quais unidos das mais diversas formas permitiriam o nascimento do Rock’n’Roll na década de 1950 com mais substância, ainda que já se pudesse antevê-lo em produções anteriores de músicos negros como Chuck Berry ou Little Richards. Quanto à expressão, ela literalmente significa "balançar e rolar" e era uma gíria dos negros norte-americanos do início do século XX, para referir-se comumente ao ato sexual. São nomes representativos do chamado Rock’n’Roll classic e do Rockabilly: Chuck Berry, Little Richards, Jerry Lee Lewis, Fats Domino, Bill Halley, Roy Orbison, Bo Diddley, Hank Willians, Muddy Waters, Buddy Holly, Johnny Cash, Elvis Presley, etc. A partir da década de 1960, com as influências do Folk, da “Invasão britânica”, do revigorado Blues, das experiências com drogas alucinógenas, do ideário Hippie, do oriente indiano, entre outras, desenvolveram-se inúmeras vertentes do rock como o o Blues Rock (Canned Heat, Yardbirds, Taste, Blue Cheer, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Bacon fat, etc.), o Folk Rock (Bob Dylan; The Band; Crosby, Stills, Nash and Young; Buffalo Springfield; etc.), o Rock Progressivo (Pink Floyd, Yes, Jethro Tull, Rush, etc.), o Rock Psicodélico (Grateful Dead, Jefferson Airplane, etc.), o Hard Rock (Led Zeppelin, Deep Purple, Humble Pie, Free, etc.), o Heavy Metal (Black Sabbath, Dust, Buffalo, etc.), o Punk Rock (Stooges, MC5), etc.
Professor Estéfani Martins
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