Proposta de redação 2011-S6
Professor Estéfani Martins
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TEXTO 1. Fukushima provoca revisão nuclear em escala global
Wilson Sobrinho (*)
Enquanto a crise dos reatores atômicos de Fukushima cresce de modo a ofuscar os devastadores efeitos da maior tsunami a atingir um país de primeiro mundo no auge da era tecnológica, um planeta com crescentes demandas por energia começa a se questionar o que deu errado e qual o futuro das usinas nucleares.
Muito antes do evento japonês ter sido elevado para a categoria cinco, de sete possíveis, na Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radioativos (o que objetivamente significa que as consequências do acidente têm implicações que vão além dos limites regionais), a crise já havia cruzado fronteiras.
No início da semana passada, a chanceler alemã Angela Merkel anunciou planos de desativar temporariamente sete dos mais antigos reatores nucleares em operação no país. Na China, em cujo solo estão 40% das usinas nucleares atualmente em construção no planeta, a aprovação de novos projetos foi suspensa. Movimentos semelhantes ocorreram em países como Suíça, Israel, Malásia, Tailândia e Filipinas, além de uma série de ordens de inspeção e revisão dos sistemas de segurança mundo a fora.
O movimento é bem recebido por Keith Harmon Snow, um engenheiro norte-americano tornado-jornalista e pesquisador. Em um artigo tão pessimista quanto longo, publicado pelo site canadense Global Research, Snow afirma que o desenrolar dos fatos no Japão -- um país reconhecidamente líder em tecnologia – mostra a dimensão dos riscos de gerar energia em usinas nucleares.
“Os japoneses são gênios da técnica”, diz esse engenheiro, que nos anos 1990 trabalhou para a General Electric, empresa que projetou os reatores avariados no país asiático. “Se os japoneses não podem fazer algo, ninguém pode. Porém o Japão hoje está em chamas”, constata o pesquisador e jornalista cujo trabalho ganhou reconhecimento por diversos anos do Project Censored, uma organização que publica anualmente um livro dedicado à divulgação das histórias veiculadas em meios alternativos e que não ganham destaque na grande imprensa.
Snow é particularmente feroz contra os “esforços intencionais para desconsiderar as dimensões dessa catástrofe”, que segundo ele “revelam a imaturidade da civilização ocidental e uma de nossas mais agudas patologias, incluindo a devoção à tecnologia e psicopatologia da negação”.
Ele argumenta que usina alguma estaria segura em função das dificuldades japonesas não serem necessariamente decorrentes de “terremotos ou tsunamis – e sim de perda de energia no local, falha dos geradores e dos sistemas de emergência”. “O mundo está testemunhando mais e mais eventos climáticos extremos e imprevistos. Alegar que um acidente nuclear sério não pode acontecer nos EUA, na Europa, no Canadá, é falso e os executivos sabem disso.”
Stuart Parkinson, diretor executivo da organização inglesa Cientistas por Responsabilidade Global (CRG), argumenta na mesma linha. “Toda a evidência disponível mostra que, apesar do terremoto ter sido um dos maiores na história recente do Japão, muito da infraestrutura se manteve firme depois do choque inicial”, escreveu em um artigo publicado no site da ONG nesta semana.
“A indústria nuclear irá sem dúvidas argumentar que tais riscos foram previstos e que é possível lidar com eles, mas a emergência de Fukushima mostra o quão difícil é planejar todas as possíveis eventualidades”, afirma o físico e engenheiro eletrônico britânico. Ele lembra que uma porção de quase 40% do litoral japonês já conta com barreiras marítimas, e que agregar mais proteção irá “rapidamente aumentar os custos da energia nuclear”.
A CRG de Parkinson assinou nesta semana uma convocatória para uma manifestação de movimentos sociais ingleses pedindo que o governo “abandone os planos de novas usinas nucleares no Reino Unido”.
Ele aposta em mudanças “sócio-econômicas, que priorizem a conservação de energia, junto com um papel maior do uso das energias renováveis”.
Para o engenheiro inglês, é preciso “colocar em prática medidas que cortem as emissões de carbono rapidamente para que possamos combater o aquecimento global. Os preços do petróleo estão altos e devem se manter assim conforme os recursos restantes ficam cada vez mais escassos e concentrados nas mãos de países instáveis”, analisa.
“Por vinte e cinco anos”, diz Harvey Wasserman, um dos maiores nomes do ativismo anti-nuclear norte-americano, “a indústria nuclear tem nos dito que Chernobil não era relevante pois envolvia tecnologia soviética. Um acidente como esse 'não poderia acontecer aqui'. Mas agora são os japoneses, que no mínimo sabem operar reatores nucleares melhor que os norte-americanos”, escreveu esse conselheiro do Greenpeace na revista eletrônica Znet.
Ativista desde 1973, Wasserman ajudou a organizar um concerto em Nova York em protesto contra o uso de energia nuclear logo depois do acidente de Three Mile Island em 1979 – o último a alcançar o nível cinco na escala internacional. Ele lembra que existem quatro reatores nucleares na costa da Califórnia, localizada dentro do mesmo cinturão que chacoalhou o Japão dias atrás, a Nova Zelândia há semanas e o Chile recentemente. “Se esse sismo tivesse acontecido no nosso lado do Pacífico, estaríamos assistindo a noticiários noturnos sobre as vítimas em San Luis Obispo, as perdas catastróficas da insubstituível cadeia alimentar de Central Valley, e fazendo cálculos sobre evacuações forçadas de Los Angeles e San Diego”.
Posição diferente tem o jornalista britânico George Monbiot. Para ele, o fechamento de usinas nucleares pode ser trágico, caso o fornecimento de energia seja substituído por carvão. O uso de carvão para gerar energia elétrica é um método muito pior que o empregado em usinas nucleares, sustenta Monbiot, baseando seu argumento no problema do aquecimento global.
“Enquanto [a energia] nuclear causa calamidades quando dá errado, o carvão causa calamidades quando funciona bem”, escreveu em um artigo publicado pelo The Guardian nessa semana, referindo-se às emissões de CO2 originárias do uso do carvão como combustível. “E o carvão”, continua seu argumento, “funciona com muito mais frequência que a energia nuclear apresenta problemas”.
A posição de Monbiot não pode ser confundida, porém, já que se trata de um jornalista que sempre teve comprometimento com a justiça social e o ambientalismo. Como ele faz questão de reforçar no mesmo artigo. “Eu não gosto e temo a indústria nuclear tanto quanto qualquer outro verde: toda experiência tem mostrado, na maior parte dos países, que as empresas que tocam o negócio são um bando de cafajestes (…) Mas não podemos permitir que sentimentos históricos nos impeçam de ver a coisa como um todo. Mesmo quando algo dá horrivelmente errado nas usinas nucleares, elas causam menos mal ao planeta do que as que usinas que queimam carvão operando normalmente”.
A preocupação com o aquecimento global é compartilhada pela Union of Concerned Scientists, com sede nos EUA, país que reúne mais de uma centena de usinas nucleares em seu território. A UCS divulgou em seu website uma declaração informando a sua posição sobre o assunto. Eles admitem “a expansão da energia nuclear”, caso “outros meios de produção de energia neutros se mostrarem inadequados”. A pesquisa deve continuar “com foco no aumento da segurança”, defende a UCS.
(*) Correspondente da Carta Maior em Londres.
Fonte: cartamaior.com.br
PROPOSTA: Escreva uma dissertação em que você posicione-se a respeito da revisão das concepções sobre o uso de energia nuclear como alternativa energética para o planeta. O texto deve ter entre 25 e 30 linhas.
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